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3.1 Panorama da literatura jurídica

3.2.2 Serviço público

3.2.2.1 Funcionamento do Poder Judiciário

Dos 8 (oito) acórdãos sobre o funcionamento do Poder Judiciário, 2 (dois) não têm dados úteis para a compreensão do sentido de eficiência. O acórdão do MS nº 27958 / DF, que trata de inamovibilidade de juiz substituto244, e o acórdão da Recl nº 9970 ED-AgR / SP, que trata de cabimento de Reclamação no STF245, trazem informações úteis apenas com relação ao tipo de norma e à estrutura argumentativa para aplicação da norma, assuntos que serão tratados em capítulo próprio.

No acórdão do HC nº 122694 / SP, que trata de prescrição penal, o Min. Marco Aurélio refere-se à eficiência no sentido viabilização material do funcionamento do Estado:

Tendo em conta a prática criminosa, os elementos envolvendo-a, tudo recomenda que o Estado seja eficiente, quer sob o ângulo da polícia, quer sob o ângulo da persecução criminal, e, presentes os elementos do delito, implemente a investigação. Pagam-se tributos suficientes para ter-se o Estado aparelhado. Aparelhado no bom sentido, porque esse vocábulo tem sido utilizado para finalidades espúrias. Aparelhado o Estado no bom sentido, ou seja, para atender aos anseios sociais quanto à paz, quanto à segurança jurídica246.

244 STF, MS 27958 / DF, Plenário, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 17.5.2012. 245 STF, Recl 9970 ED-AgR / SP, 1ª Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 5.6.2012. 246 STF, HC 122694 / SP, Plenário, Rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 10.12.2014, p. 67

No caso, a ordem foi negada, mantendo-se o entendimento de que não teria ocorrido prescrição.

No acórdão do HC nº 82490 / RN, que trata de execução penal provisória, o Min. Sepúlveda Pertence atribui à eficiência o sentido de celeridade da atividade administrativa – da administração da Justiça, quando se trata do funcionamento do Poder Judiciário:

A crítica ao relator que aplica a jurisprudência do Tribunal, com ressalva de sua firme convicção pessoal em contrário trai a confusão recorrente entre os tribunais e as academias: é próprio das últimas a eternização das controvérsias; a Justiça, contudo, é um serviço público, em favor de cuja eficiência – sobretudo em temos de congestionamento, como o que vivemos -, a convicção vencida tem muitas vezes de ceder a vez ao imperativo de poupar o pouco tempo disponível para as questões ainda à espera de solução247.

Foi negado provimento ao habeas corpus, reconhecendo-se que o princípio constitucional da não culpabilidade não inibe execução provisória de sentença penal condenatória.

No acórdão da ADC nº 19 / DF, que trata de repressão à violência doméstica e da constitucionalidade de aspectos da Lei “Maria da Penha”, a Min. Rosa Weber atribui à eficiência o sentido de vedação de consequências discriminatórias indiretas da atividade administrativa: “A ineficiência seletiva do sistema judicial brasileiro, em relação à violência doméstica, foi tida como evidência de tratamento discriminatório para com a violência de gênero (Cfr. Maria da Penha v. Brasil, §§ 55 e 56)”248.

A ação declaratória foi julgada procedente para reconhecer a constitucionalidade da criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher; do afastamento, nos crimes de violência doméstica contra a mulher, da Lei nº 9.099/1995; e da diferenciação entre os gêneros.

No acórdão da ADI nº 4424 / DF, que trata de suposta inconstitucionalidade do aspecto público e incondicionado da ação penal relacionada aos crimes de violência doméstica, o Min. Luiz Fux refere-se à eficiência com sentido de celeridade da atividade administrativa e de favorecimento do acesso à Justiça:

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX – Aqui eu faço, exatamente, uma digressão sobre esse tema, que todos os Senhores já conhecem, e até um paralelismo, Ministro Ayres Britto, porque veja o seguinte. Quando o artigo 37 da Constituição Federal exige uma administração eficiente, isso também, de

247 STF, HC 82490 / RN, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 29.10.2002, pp. 1 e 11. 248 STF, ADC 19 / DF, Plenário, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 9.2.2012, p. 19.

alguma forma, atinge o Poder Judiciário, porque o Poder Judiciário se incumbe da administração da Justiça. Como é que vamos garantir um acesso a uma ordem jurídica justa, se vamos criar um obstáculo para que a mulher ofereça a sua notícia ou tenha a tutela dos seus direitos empreendida pelo Poder Judiciário? Por outro lado, não se pode imaginar o respeito à cláusula pétrea da duração razoável dos processos se o Poder Judiciário não for efetivamente um poder eficiente. Por essas razões, Senhor Presidente, trago aqui uma série de argumentos. Evidentemente que hoje a teoria argumentativa é muito importante para sopesar uma questão desta. Como Vossa Excelência mesmo trouxe à baila, é uma questão que pode gerar perplexidade, senão vai ficar pior o panorama, ou melhor, mas, de qualquer maneira, amanhã, os jornais já estarão noticiando, aos ofensores, que se eles perpetrarem qualquer violência, o problema será único e exclusivamente deles. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – É uma inibição. O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Exatamente, porque a ofendida não poderá retratar- se daquela ação penal que não pertence mais a ela, mas uma ação penal pública. O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR) – Não se exigirá que se exponha, representando contra o agressor. O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - De sorte, Senhor Presidente, que eu vou fazer a juntada do voto por escrito, mas acompanho integralmente o voto do eminente Ministro Marco Aurélio, com as observações diminutas que ora lancei249.

A ação direta foi julgada procedente para, “dando interpretação conforme aos artigos 12, inciso I, e 16, ambos da Lei nº 11.340/2006, assentar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico”.

No acórdão do RE nº 631240 / MG, que trata da necessidade de requerimento prévio de concessão de benefício previdenciário que caracterize pretensão resistida, para caracterizar interesse de agir contra a Previdência Social, o Min. Luis Roberto Barroso, embora faça referência aos princípios da eficiência e da economicidade, não os distingue, atribuindo-lhes o sentido de vedação de medidas administrativas que não tenham condições de produzir resultados – no caso, vedação ao “prosseguimento de processos que, de plano, revelem-se inúteis, inadequados ou desnecessários”:

Como se percebe, o interesse em agir é uma condição da ação essencialmente ligada aos princípios da economicidade e da eficiência. Partindo-se da premissa de que os recursos públicos são escassos, o que se traduz em limitações na estrutura e na força de trabalho do Poder Judiciário, é preciso racionalizar a demanda, de modo a não permitir o prosseguimento de processos que, de plano, revelem-se inúteis, inadequados ou desnecessários. Do contrário, o acúmulo de ações inviáveis poderia comprometer o bom funcionamento do sistema judiciário, inviabilizando a tutela efetiva das pretensões idôneas250.

249 STF, ADI 4424 / DF, Plenário, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 9.2.2012, pp. 52-53.

Foi dado parcial provimento ao recurso, reconhecendo a necessidade de requerimento prévio, mas estabelecendo-se regra de transição para ações similares em curso nas instâncias inferiores.

No acórdão do MS nº 27621 / DF, que trata da impugnação de norma do CNJ que determina que juízes com função executiva se devam cadastrar no sistema BACEN JUD251, a Min. Carmen Lúcia, em voto vencido, relaciona o princípio da eficiência aos princípios da celeridade e da razoável duração do processo, no entanto não esclarece o sentido dessas normas252. O termo economicidade, por sua vez, é relacionado com os termos efetividade, celeridade e racionalidade, carecendo também de distinção dos seus significados253.

O Min. Ayres Britto, nesse acórdão, atribui ao princípio da eficiência o sentido de efetividade da prestação jurisdicional. Dado que não atribui sentido especial a efetividade, pode-se entender que teria sentido de livre produção de efeitos das decisões judiciais:

Senhor Presidente, eu também, com a devida vênia da Relatora, acompanho a divergência inaugurada pelo Ministro Lewandowski, entendendo que se trata de uma política pública judiciária, legitimamente traçada pelo CNJ no uso das suas competências constitucionais de velar pela efetividade da jurisdição, que é o êmulo do princípio da eficiência no Direito Administrativo. O princípio da eficiência que está na cabeça do art. 37, a propósito da Administração Pública, se traduz no âmbito da prestação jurisdicional, no princípio da efetividade da prestação254.

O Min. Luiz Fux, em voto vencido nesse mesmo acórdão, atribui a eficiência o sentido de celeridade da atividade administrativa:

251 Sistema de execução de decisões com relação a dados bancários.

252 “Ainda que se reconheça como auspiciosa a iniciativa do Conselho Nacional de Justiça em estimular a concretização dos princípios da eficiência, celeridade e duração razoável do processo, a atividade administrativa daquele Conselho não pode transmudar-se em atividade legiferante a ponto dar ao fomento ares de imposição” (STF, MS 27621 / DF, Plenário, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 7.12.2011, p. 12).

253 “Se o legislador, ao disciplinar a penhora de dinheiro, previu que a requisição de informações sobre a existência de depósitos ou aplicações financeiras em nome do executado poderia ser feita pelo magistrado por outro meio que não o eletrônico, pois esse é apenas preferencial, a adoção do meio eletrônico, embora recomendável em razão de sua eficácia e celeridade, não se afigura obrigatória. É certo que os magistrados devem pautar sua atuação na busca da efetividade da prestação jurisdicional, na racionalidade, na celeridade e na economicidade dos atos processuais e, para isso, devem se valer dos recursos tecnológicos que estiverem à sua disposição. Contudo, a escolha entre os meios disponíveis compete exclusivamente ao magistrado, exceto quando a lei determinar expressamente o procedimento a ser seguido. Isso não ocorre na espécie vertente, pois a lei utilizou o termo ‘preferencialmente’” (STF, MS 27621 / DF, Plenário, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 7.12.2011, p. 10).

Senhor Presidente, assim como Vossa Excelência, nós somos juízes de carreira; nós não pegamos essa época da penhora on line de quantia certa, mas é a melhor penhora que tem, porque evita a expropriação, o dinheiro entregue para o credor. É a melhor penhora que tem, e é o que tem dado muito certo. O problema é o seguinte: procurei ouvir os juízes exatamente para não cair nessa armadilha da eficiência. O que ocorre? Nós sabemos, isso não é tarefa para juiz ficar preenchendo formulário a cada penhora on line que ele faz, em primeiro lugar. Diz que toma um tempo imenso, o formulário é enorme255.

Foi denegada a segurança no caso, entendendo-se que o ato do CNJ seria meramente regulamentar, não tendo sido exarado em exorbitância de suas competências.

São, portanto, 5 (cinco) os sentidos de eficiência e 1 (um) o sentido de eficiência e economicidade inferidos dos acórdãos sobre o tema do serviço público e sobre o subtema do funcionamento do Poder Judiciário:

a) Eficiência:

a. Viabilização material do funcionamento do Estado; b. Celeridade da atividade administrativa;

c. Vedação de consequências discriminatórias indiretas da atividade administrativa;

d. Favorecimento do acesso à Justiça; e

e. Livre produção de efeitos das decisões judiciais.

b) Eficiência e economicidade: vedação de medidas administrativas que não tenham condições de produzir resultados.