GLOBALIZAÇÃO, SERVIÇOS E O SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES
Mapa 4. Cidades com sede de empresas de Contact Center e rede de fibra ótica,
3.4 Flexibilidade locacional das operações: o uso da tecnologia VOIP (Voz Sobre Protocolo de Internet)
O uso da tecnologia VOIP (Voice Over Internet Protocol) solucionou o problema do elevado custo das chamadas de longa distância com a desconcentração espacial das unidades de Contact Center. A “transmutação por pacotes”, ou simplesmente VOIP, é um novo meio de realizar as ligações telefônicas com o uso da Internet.
Do ponto de vista organizacional, essa tecnologia tem um potencial revolucionário. A redução e até a supressão total dos custos das ligações telefônicas implica na possibilidade de flexibilidade locacional e, portanto, em um novo uso do território pelas empresas.
Enquanto na telefonia convencional, o assinante deve pagar a mensalidade, os pulsos utilizados, os minutos das ligações locais, taxas e minutos de DDD e DDI, de
horários comerciais ‐, com o VOIP, o usuário só paga os minutos utilizados, sendo gratuitas as ligações entre VOIPs, como representado na figura 4. Figura 4. Sistema de ligação gratuita entre VOIPs Fonte: socialhost.com.br A economia de custos se deve ao fato de operar voz, dados e outros serviços multimídia em uma única rede. Com isso, as empresas prestadoras do serviço VOIP podem praticar preços mais baixos quando comparados às empresas tradicionais de telefonia.
O tradicional Sistema Telefônico Fixo Comutado (STFC), diferente do VOIP, opera a partir da comutação por circuitos. Nesse sistema de telefonia, os dois pontos, de origem e destino da chamada, ficam conectados durante todo o tempo da ligação. Os atendentes ficam localizados em uma posição de atendimento (PA), utilizada para a comunicação entre a empresa e seu cliente, por meio de uma central PABX17, que é o equipamento responsável pelo fornecimento do serviço de comunicação por voz e definição dos ramais dos atendentes. Ao realizar ou atender uma chamada é estabelecida uma conexão permanente entre dois pontos. As
informações (voz) são transmitidas por redes (fios de cobre e/ou fibra óptica), utilizando‐se de um único caminho e transportando uma grande quantidade de informações desnecessárias, como ruídos e minutos de silêncio. Figura 5. Sistema de comutação por circuitos O uso de uma grande infraestrutura de cabos e o transporte de informações desnecessárias elevam os custos das ligações. A comutação por circuitos, representada na Figura 5, é um sistema rígido, que exige a concentração dos operadores em determinados locais, investimentos elevados em infraestruturas operacionais (ramais telefônicos, espaço físico, etc.) e só permite a comunicação entre dois pontos por vez.
Já a comutação por pacotes (VOIP) é considerada uma tecnologia flexível. Os dados (voz) são enviados em pequenos pacotes que percorrem diferentes caminhos via Internet (banda larga) entre dois ou mais computadores. Essa tecnologia exige uma quantidade menor de infraestrutura (computador, Internet banda larga e softwares ‐ Skype, Vox Fone, MSN, Google Talk, etc.), pois todo o trabalho dos operadores é realizado no computador (voz e dados se convergem em uma única rede), tornando a quantidade de ramais praticamente ilimitada (depende apenas da largura de banda e do dimensionamento do PABX IP).
Figura 6. Sistema de comutação por pacotes O VOIP e as tecnologias a ele associadas proporcionam a redução dos custos das operações e a aceleração da circulação do capital. Enquanto o preço médio da telefonia fixa (comutação por circuitos) é de R$0,67 por minuto, no sistema VOIP é de apenas R$0,17, isto é, uma redução de 75% no custo das ligações das empresas (NOREMBERG; MÜLLER, 2011). No que se refere à velocidade de circulação do capital, o uso do sistema VOIP permite a realização de ligações simultâneas e a diminuição do intervalo entre as chamadas.
Além de diminuir os custos com ligações e infraestrutura, o VOIP permite também a dispersão territorial dos atendentes, mantendo a centralização do controle. Essa tecnologia integra, numa mesma chamada, operadores de diferentes locais (inclusive em outros países), sem que o cliente perceba.
No que se refere à flexibilidade, a tecnologia VOIP apresenta uma nova possibilidade: a “nomadicidade” do serviço, a partir do pressuposto de que se torna possível realizar chamadas de qualquer lugar com uma conexão à Internet (World Wide Web).
Aplicada ao teleatendimento, o VOIP amplia as estratégias corporativas. As empresas podem contratar operadores que realizam suas atividades de sua própria casa (home agent) ou ainda manter centrais de atendimento distribuídas em diferentes países, realizando serviços escalonados de acordo com a complexidade.
Dessa forma, elas podem minimizar os custos com infraestrutura, mão‐de‐obra e deslocamentos, sem deixar de acompanhar de maneira remota o trabalho executado (PINHO; VARGENS, 2005).
A proclamada autonomia locacional é apresentada como uma vantagem competitiva para as empresas, tanto para as atividades desenvolvidas no território brasileiro, quanto para a exportação do atendimento, o offshore. A redistribuição territorial dos serviços é uma estratégia audaciosa, pois permite manter grupos de trabalhadores disseminados pelo globo, segundo as vantagens comparativas de cada lugar.
O uso do VOIP entre as operadoras de Contact Center brasileiras é superior a diversos outros países que possuem importantes mercados de teleatendimento, como apresentado no gráfico a seguir. Gráfico 3. Percentual de uso da tecnologia VOIP, países selecionados, 2005 Fonte: ABT/PUC‐SP, 2005 Enquanto no Brasil, 25% das operadoras usam o VOIP para a realização das chamadas, nos Estados Unidos, o percentual é de 21%, e na França e Alemanha, de 18% e 16%, respectivamente. A adaptação do território brasileiro à ordem global tem sido promovida com o objetivo central de contentamento dos interesses
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%
corporativos. Apesar de 62% dos lares brasileiros não terem acesso à Internet (TIC DOMICÍLIOS E EMPRESAS, 2011), o uso do VOIP entre as operadoras de Contact Center no território nacional é superior a todos os demais países pesquisados.
3.5 Divisão territorial do trabalho da empresa Tivit e os serviços de TI
A divisão territorial do trabalho da empresa Tivit demonstra como os investimentos em tecnologia da informação e a prestação de serviços com maior valor agregado está associada à manutenção de unidades de produção de tecnologia em lugares estratégicos, capazes de viabilizar a comunicação dos dados corporativos. Como apresentado no Mapa 3, a empresa mantém sua sede em Mogi das Cruzes (SP); os datacenters em São Paulo (SP), São José dos Campos (SP) e Rio de Janeiro (RJ); as fábricas de softwares nas três cidades anteriores mais Curitiba (PR); e as operações de teleatendimento em oito cidades diferentes. No total, a empresa possuía, em 2011, pouco mais de 23 mil funcionários nas centrais de teleatendimento (Contact Centers), quase dois mil nos datacenters e em torno de 600 nas fábricas de softwares.