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CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DA BASE TEÓRICA

2.4 FLEXIBILIDADE NOS CONTRATOS DE GÁS NATURAL

2.4.1 Flexibilidade e Provisões de Preço

As adaptações sobre a dimensão preço são necessárias, tanto para a manutenção do equilíbrio entre a oferta e demanda de curto prazo, como para a redução do incentivo ao comportamento oportunista (GOLDBERG E ERICKSON, 1987). GOLDBERG E ERICKSON (1987) e CROCKER & MASTEN (1991) mencionam os seguintes mecanismos contratuais de ajuste de preços:

i. Indexação, entre cujas vantagens estão a fácil implementação, e o fato de estar fora do controle das partes envolvidas, evitando a criação de oportunidades para barganha. A desvantagem está no fato de que o índice escolhido poderá não estar bem correlacionado com o resultado econômico desejado para os agentes envolvidos35.

ii. Renegociação, onde os agentes podem acordar em renegociar o preço em datas fixas ou por solicitação de uma das partes, por exemplo, alegando desequilíbrio financeiro. Embora a renegociação permita a utilização de uma informação mais correta na revisão do contrato, esta alternativa pode resultar no comportamento oportunista devido à reabertura do contrato.

35 Por exemplo, o índice pode não refletir a relação de competitividade do gás natural com os energéticos substitutos do consumidor ou, por outro lado, pode não refletir a variação dos custos do fornecedor.

iii. Um sistema híbrido, envolvendo a indexação e negociação, poderia utilizar um índice com limitações máxima e mínima. Se o preço indexado cai fora do intervalo determinado, as partes podem continuar a transação no preço limite ou renegociar o acordo.

iv. Uma outra forma de ajustar o preço às mudanças das condições de mercado, é a prerrogativa para que as partes solicitem ofertas externas e implementem as mesmas condições de preços obtidas nestas ofertas. Uma variação desta modalidade é a cláusula conhecida como most-favoured-nation, que amarra os preços do contrato àqueles obtidos em transações similares. Contudo, estas provisões ainda não garantem um perfeito ajuste em algumas situações de modificação nos encargos de custo36. Os quatro tipos de adaptações de preços podem ser encontrados nos contratos que governam as transações nos mercados intermediários da cadeia de fornecimento de gás natural. Contudo, nos contratos para fornecimento de gás para o consumidor industrial, normalmente ocorre apenas a indexação, o que os torna rígidos sob este aspecto. Este ponto é crítico para o entendimento posterior do valor que o consumidor atribui à flexibilidade dentro do conceitual da Teoria das Opções Reais.

Nestes contratos, o preço líquido de impostos é composto por duas parcelas bem definidas: 1. A primeira refere-se à margem de distribuição, que visa garantir uma remuneração

mínima para os investimentos na rede de distribuição. Esta margem é regulada pelo Contrato de Concessão da distribuidora de gás natural, e é reajustada anualmente por um índice de inflação. Periodicamente ela pode ser revisada com base nos investimentos realizados pela distribuidora, e pelo mercado que se espera obter com estes investimentos. Além disso, esta margem é diferenciada entre os consumidores através de uma “tabela cascata”, sendo menor na medida em que o consumo médio realizado seja maior. Esta diferenciação é função de ganhos de escala na distribuição, pelas razões apontadas na Seção 1.3.1, e também porque grandes clientes facilitam a expansão da malha de distribuição para regiões ainda não desenvolvidas.

36 Um exemplo na indústria de gás natural do Brasil foi a apelação da Transportadora do Gasoduto Bolívia- Brasil (TBG), ao órgão regulador ANP, sobre a proposta deste agente regulador no sentido de que novos contratos de transporte deveriam seguir custos marginais da oferta do serviço, o que implicaria em tarifas inferiores às dos contratos já existentes. A TBG argumentou que, caso os usuários existentes solicitassem a ativação das provisões de most-favoured-nations, a transportadora não recuperaria seus investimentos realizados. Ver histórico do processo de arbitragem entre TBG e Enersil na Nota Técnica da ANP No. 001/01 SCG/PROGE (26/Jan./2001)

2. A segunda parcela é referente ao repasse do custo de aquisição do gás a ser fornecido pela distribuidora. Este custo varia de acordo com a fonte de suprimento que atende uma determinada região. Ele pode ser indexado, nos contratos de aquisição à montante da cadeia de fornecimento, pela taxa de câmbio, inflação e / ou por uma cesta internacional de óleos combustíveis.

A Figura 4, baseada nas “tabelas cascatas” reguladas das distribuidoras, ilustra as diferenças entre o custo de aquisição médio, a margem de distribuição média e o preço médio final para o consumidor industrial, para as duas regiões contempladas nesta pesquisa. A figura apresenta também a diferenciação da margem da distribuidora para consumidores de tamanhos diferentes e a competitividade frente aos dois energéticos substitutos principais, o óleo combustível e o GLP.

Preços ao Consumidor Final (média ago - set / 2002)

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 0-10 Mm3/dia Reg.1

Media Reg.1 0-10 Mm3/dia Reg.2

Media Reg.2 GLP OC2A

P

ro

po

ão

Custo Aquisicao Margem Distrib. Preco Consumidor

Figura 4 Preços médios ao consumidor industrial de gás natural para as duas regiões que fizeram parte desta pesquisa (baseado nas tabelas reguladas das distribuidoras e ABRACE)

A política de reajuste dos combustíveis substitutos disponíveis para os consumidores, principalmente daqueles que são produtos de refino (GLP, Óleo Combustível, Coque do Petróleo), não segue as mesmas regras de indexação, tanto no preço da produção, como na margem de distribuição. Como o mercado destes energéticos não é regulado, é também comum a prática de descontos, negociados caso a caso. Para ilustrar este fato, a evolução do preço do gás natural, do óleo combustível 2A e do GLP são apresentadas na Figura 5.

Preços ao Consumidor Final - Região 1

0% 20% 40% 60% 80% 100% set/0 0 nov/0 0 jan/0 1 mar/0 1 mai/0 1 jul/01 set/0 1 nov/0 1 jan/0 2 mar/0 2 mai/0 2 jul/02 set/0 2 P ro po rç ão GN 0-10 Mm3/dia OC2A GLP

Preços ao Consumidor Final - Região 2

0% 20% 40% 60% 80% 100% set/0 0 nov/0 0 jan/0 1 mar/0 1 mai/0 1 jul/0 1 set/0 1 nov/0 1 jan/0 2 mar/0 2 mai/0 2 jul/0 2 set/0 2 P ro p o rç ã o GN 0-10 Mm3/dia OC2A GLP

Figura 5 Evolução dos preços médios ao consumidor industrial de gás natural para as duas regiões que fizeram parte desta pesquisa (baseado nas tabelas reguladas das distribuidoras e ABRACE)

Desta forma, o consumidor tem o seu valor pela flexibilidade quanto ao pagamento por quantidades mínimas ampliado pela incerteza quanto ao preço relativo entre o gás natural e seus substitutos37. Ele eventualmente poderia arbitrar entre os dois mercados, extraindo maior

valor e, ao mesmo tempo, evitando que sua competitividade, frente a concorrentes utilizando o energético substituto, fosse afetada.

Vale ressaltar que, “parte importante da demanda do setor industrial (produção de calor de processo) tem a flexibilidade [operacional] de queimar gás natural ou outros combustíveis (pode ser bi-combustível). Desta forma, este segmento de mercado pode absorver ou deixar de consumir gás natural, em função da variação da demanda em outros segmentos e da variação dos preços do gás [em relação a outros combustíveis]” (ALMEIDA, 2000, p.3).