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Entendida como a possibilidade do discente aproveitar as diversas atividades que participa enquanto está na Universidade para integralização curricular. As condições necessárias para que qualquer atividade acadêmica possa ser computada no currículo são que a mesma tenha autorização prévia do Colegiado do Curso e que tenha um processo de avaliação institucional.

As atividades acadêmicas que podem ser consideradas são: disciplinas; seminários; participação em eventos (congresso, seminários, colóquios, simpósios, encontros, festivais, palestras, exposições e cursos de curta duração); discussões

temáticas; atividades acadêmicas à distância; iniciação à pesquisa, docência e extensão; vivência profissional complementar; e estágio curricular.

É importante informar que se alguma atividade acadêmica não foi contemplada nessa lista, há a possibilidade de aproveitamento de novas atividades, caso seja demanda da comunidade universitária.

A orientação por uma flexibilização horizontal, aparentemente, possibilita um maior grau de autonomia por parte do alunado, que participará de atividades que mais lhe convir, mas não há nessa proposta um desenho claro do currículo. Além dessas orientações, a UFMG apresenta alguns exemplos de estruturas curriculares11.

Entendemos que o casamento entre a flexibilização curricular vertical e a horizontal resultará em condições mais adequadas para a possibilidade de um currículo mais flexível. E o mais importante é que não há um modelo pronto de estrutura curricular. Os colegiados e os departamentos carecem discutir para que estruturem os currículos de acordo com as necessidades do curso e do corpo discente, característica da autonomia universitária.

4.3.A ACC E A FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR

Depois da discussão sobre flexibilização curricular e como o foco principal dessa pesquisa é uma atividade extensionista, a ACC, faz-se necessário analisar os limites e as possibilidades da ACC no que tange a flexibilização curricular. Primeiro discutiremos a possibilidade de a ACC ultrapassar a concepção de disciplina, que ainda hoje tem presença garantida nos currículos de graduação do país. Depois analisaremos se a ACC atende os princípios da flexibilização curricular e como isso ocorre na prática.

A disciplina é ainda hoje a principal atividade acadêmica presente nos currículos, como forma de estruturação dos currículos de graduação brasileiros, embora haja o entendimento de que desta forma há uma forte fragmentação do conhecimento. Talvez por isso tenham surgido outras orientações na tentativa de

diminuir esse problema: interdisciplinaridade12 e transdisciplinaridade13. Ainda não

temos condições suficientes de trabalhar a partir dessas orientações, pois não estão de acordo com nossa formação acadêmica, que normalmente é especializada em determinada linha de um campo de saber, o que se traduz no pensamento de forma linear. Assim, é complexo planejar um trabalho interdisciplinar se nossas estruturas mentais estão acorrentadas pela unidade disciplinar. Esse é o desafio da educação: (des)construir a organização do saber em disciplinas, mesmo porque uma problemática não pertence exclusivamente a um único campo do saber, a uma única disciplina e sim a um emaranhado delas.

Além dessa fragmentação, o modelo atual de currículo de graduação revela certa rigidez com a presença de um núcleo específico, disciplinas obrigatórias, currículo mínimo... Ou seja, há uma formação padrão que é pensada para determinado curso, onde todos os estudantes devem adquirir. É um currículo que na maioria das vezes não tem lugar para os interesses diversos do alunado, pois não extrapola o conhecimento específico. Não estamos negando a necessidade de uma formação comum, mas não apenas se limitar a isso.

Outro agravante é o conceito que a academia ainda tem sobre sala de aula: um espaço físico dentro da Universidade com cadeiras, quadro branco, e outros recursos, com data e hora marcadas para que o processo de aprendizagem aconteça, ou que deva acontecer. Sem mencionar que os únicos atores envolvidos nessa concepção de sala de aula são os alunos devidamente matriculados e o professor responsável pela disciplina. É claro que alguns professores, considerados ousados, tentam diversificar suas metodologias realizando aulas em bibliotecas, em museus, em parques públicos, etc., ou também trabalham em parceria com outro professor e até trazem convidados para enriquecer a discussão numa mesma disciplina, mas tal prática é muito tímida.

Dessa forma, consideramos pertinente a discussão que o FORPROEX (2006) apresenta sobre a dimensão crítica do conceito de sala de aula, propiciada principalmente pela extensão universitária, que

[...] deixa de ser somente o lócus de produção teórico-abstrata para ser considerada como todo espaço, dentro ou fora da universidade,

12 É a interdependência entre campos de saber, “disciplina”. Isso permite a integração do

conhecimento em áreas afins.

13 É a possibilidade de se poder transitar de um campo de saber para outro dentro de um sistema

onde se realiza o processo histórico-social, vivido por diferentes atores. Professores e estudantes, confrontados com a realidade, são sujeitos do ato de aprender e de produzir conhecimentos. Neste sentido, a relação entre o ensino e a extensão conduz a mudanças no processo pedagógico, na medida em que ambos constituem-se em sujeitos do mesmo ato: aprender.

Essa ampliação do conceito de sala de aula é imprescindível para a flexibilização curricular, uma vez que acreditar na possibilidade do estudante vivenciar experiências de aprendizagens importantes fora da Universidade é um dos caminhos de tornar o currículo mais flexível.

Outro aspecto que está bastante relacionado a essa dimensão crítica do conceito de sala de aula é a quebra dos papéis de quem ensina e de quem aprende, pois todos os envolvidos no processo (professores, estudantes e comunidade, no caso do trabalho extensionista) aprendem e ensinam ao mesmo tempo.

Numa tentativa de amenizar a problemática dos currículos de graduação é que acreditamos que a ACC pode ser melhor aproveitada dentro do âmbito da UFBA e também das IFES que almejam a flexibilização curricular. Acreditamos nisso por três motivos básicos.

O primeiro motivo se refere a possibilidade da diminuição da fragmentação do saber, como ocorre nas disciplinas, pois o que caracteriza o trabalho de uma ACC é um tema, uma problemática14 que é trabalhado sob várias

perspectivas com a participação de estudantes de graduação oriundos de no mínimo 3 (três) cursos diferentes, sob a orientação de um professor numa determinada comunidade. Assim, a ACC trabalha de forma transdisciplinar com maior tranqüilidade do que ocorre nas disciplinas.

A segunda razão é que a ACC possibilita a concretização da dimensão crítica do conceito de sala de aula, pois as experiências de aprendizagem ocorrem em espaços diversos que transcendem os muros universitários: associações de moradores, igrejas, comunidades indígenas, sindicatos, espaços de lazer, etc. e muitas vezes as mais significativas aprendizagens ocorrem em momentos/situações que temos o hábito de não valorizar, como por exemplo, um bate-papo na mesa de um boteco após os momentos considerados de aprendizagem.

14 Na discussão do quinto capítulo podemos observar os temas ou problemáticas das ACC’s que são

perceptíveis no nome de cada uma. Igual às disciplinas, as ACC’s possuem também ementas que podem ser consultadas nos materiais de divulgação da oferta de ACC por semestre.

Um outro motivo é a característica da ACC surgir a pedido de uma comunidade, pelo desejo de um grupo de estudantes ou pelo desejo do professor. Essa possibilidade é o que consideramos mais de significativo da ACC, pois essa organização (aqui encarada como uma possível estruturação curricular) está aberta as reais necessidades da sociedade e também aos interesses de estudos tanto do alunado quanto do corpo docente que tem a possibilidade de aprofundar temas de seus interesses. Essa característica possibilita também o exercício da autonomia do estudante, pois ele tem espaço e incentivo para identificar e formular proposta de trabalho para enriquecer sua formação.

É por esses e outros motivos15 que consideramos a ACC um forte

candidato a desempenhar as mesmas funções que a disciplina hoje possui, podendo agregar outras demandas que o currículo de graduação hoje necessita.

No que tange a questão primordial se a ACC atende os princípios da flexibilização curricular, acreditamos que de certa forma já fornecemos alguns elementos para tal indagação, mas vamos analisar de forma mais cuidadosa, levando em consideração os princípios abordados pela UFRN, já citados nesse capítulo, mas não discutidos, que são: