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Composição da Câmara Municipal de Florianópolis 12ª Legislatura (1993-1996)

2.4 OS PRIMEIROS PLANOS DIRETORES DE FLORIANÓPOLIS: A TECNOCRACIA E A NÃO PARTICIPAÇÃO

2.4.1 Florianópolis e seu o primeiro Plano Diretor (1955)

A nova ordem constitucional de 1946 (BRASIL, 1946), repercutiu em Santa Catarina e em todos os seus municípios com a aprovação, pela Assembleia Legislativa, de uma nova Lei Orgânica dos Municípios de Santa Catarina, a Lei nº 22/4745 (SANTA CATARINA,

45 A Lei nº 22/47 (SANTA CATARINA, 1947), foi a lei básica de organização política e administrativa para todos os municípios de Santa Catarina, que vigorou até 1970, quando foi revogada pela Lei nº 1.084/70 (SANTA CATARINA, 1970), que posteriormente foi revogada pela Lei Complementar nº 05/75 (SANTA CATARINA, 1975), que vigorou até 1990, quando foram aprovadas as Leis Orgânicas elaboradas pelos próprios municípios, como previsto no art. 11 e parágrafo único, das

1947), definindo no inciso XXXII, do seu art. 20, dentre outras responsabilidades, a competência dos municípios para elaborarem a carta de planejamento urbano:

Art. 20 Compete ao Município prover a tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse46, e especialmente: […] XXXII – à elaboração da

carta de planejamento urbano, baseada nos

fatores que condicionam o desenvolvimento da

cidade, no que concerne à moradia recreação

trabalho e transporte; (grifos nossos).

Foi com base neste ordenamento jurídico que a Prefeitura de Florianópolis, na década de 1950, elaborou o primeiro Plano Diretor para a cidade. As providências da Prefeitura para elaboração do Plano Diretor, atendiam ao apelo desenvolvimentista da época, presente em âmbito nacional, como aponta Souza (2010):

O Estado utilizou o “planejamento urbano como instrumento para o desenvolvimento” e a “modernização” almejados na década de 50. A crença na tecnocracia que predominava no cenário do planejamento nacional credita aos Planos Diretores, elaborados por profissionais especializados, o poder de dar solução a todos os problemas das cidades. ‘Um Plano Diretor significava impulsionar o crescimento da cidade, dinamizar a vida urbana, inserir Florianópolis no contexto político do movimento pela redemocratização e pelo desenvolvimento.’ (CASTRO, 2002, p. 62 apud SOUZA, 2010, p. 54)”.

Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal (BRASIL, 1988), dispondo que, após a promulgação da Constituição Federal, os Estados teriam um ano para elaborar suas constituições a partir dos novos preceitos constitucionais e, após promulgada a Constituição Estadual, as Câmaras Municipais teriam seis meses para votar a suas respectivas Leis Orgânicas, dentro dos parâmetros da Constituição Federal e Estadual.

46 A autonomia dos Municípios para tratar de tema do “seu peculiar interesse” estava prevista no inciso II, do art. 28, da Constituição Federal de 1946 (BRASIL, 1946).

Com inspiração desenvolvimentista, a década de 1950, se inicia com providências para a elaboração do primeiro Plano Diretor da cidade de Florianópolis. Em 1951 a Câmara Municipal de Florianópolis autorizou47 a Prefeitura a contratar profissionais para elaborar um Plano Diretor da Cidade, como especificado no seu art. 1º, “com um escritório Técnico especializado ou com um Engenheiro Urbanista, o estudo e a elaboração de um Plano Diretor para a capital”. Após esta autorização, a Prefeitura contratou o escritório de arquitetura de Edvaldo Pereira Paiva, de Porto Alegre. O estudo foi iniciado em 1952 pelo escritório de urbanismo de Porto Alegre dirigido por Edvaldo Pereira Paiva48 (PEREIRA, 2007, p. 01; LOHN, 2002, p. 310). Conforme registrado pelos próprios autores:

Em janeiro de 1952, a administração de Florianópolis, depois de cumpridos os trâmites legais, contratou com a nossa equipe de urbanistas e arquitetos o estudo e elaboração de um Plano Diretor para a cidade (PAIVA; RIBEIRO; GRAEFF, 1952, p. 07).

Paiva e sua equipe iniciaram os estudos para elaboração do primeiro Plano Diretor de Florianópolis, procedimento realizado em duas etapas, uma primeira com estudos preliminares do plano ou préplano (sic) e uma segunda etapa que seria o estudo final ou o plano propriamente dito. Durante a elaboração deste plano, os estudos técnicos foram realizados e as discussões ocorreram entre a equipe técnica e, em agosto de 1952 ocorreu a entrega do primeiro “Relatório Explicativo” à

47 A autorização legislativa ocorreu como a Lei nº 79/51 (FLORIANÓPOLIS-SC), publicada no Diário Oficial de 09/05/1951 48 Conforme Lohn (2002, p. 310), Evaldo Paiva já havia sido responsável por

outros projetos de urbanização de Porto Alegre na década de 1940. Em 1959, chefiou a equipe que formulou o Plano Diretor de Porto Alegre, na Gestão do então prefeito Leonel Brizola, vindo posteriormente a presidir a Comissão de Reforma Agrária do Palácio do Planalto durante o governo de João Goulart, em 1963. Defendia o urbanismo como ferramenta de transformação social. Durante a ditadura militar iniciada em 1964, mudou- se para Montevidéu onde viveu, até a sua morte em 1981. Da mesma forma Demétrio Ribeiro, foi afastado da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul durante a vigência da ditadura.

Prefeitura Municipal de Florianópolis (PAIVA, RIBEIRO, GRAEFF, 1952, p. 7).

Em 1954, para cobrir despesas e contratar profissional para elaborar o texto do Código Municipal no qual estaria inserido o texto do Plano Direitor, a Câmara Municipal autorizou49 o Prefeito a contrair empréstimo com a finalidade de contratar a realização Plano de Urbanização de Florianópolis e também autorizou50 o Prefeito a contratar “[...] um Escritório Técnico ou com pessoa habilitada, o estudo e a elaboração de um trabalho de Planificação Administrativa e Codificação Municipal”. Segundo SOUZA (2010, p. 54), o Plano Diretor foi entregue à Prefeitura em 1952, mas somente em 1955 foi enviado para a Câmara de Vereadores, juntamente com um conjunto de outras leis que foram organizadas em um único código municipal51. O trabalho de codificação52 resultou num longo texto que foi aprovado em 1955, como Lei nº 246/55 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1955), ao qual foram incluídos não só o texto do Plano Diretor, mas outros textos de leis abordando normas de obras, regime tributário, organização da administração municipal, vigilância sanitária, cemitérios públicos e bens

49 O inciso IV, do art. 3º, a Lei nº 216/54 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1954), concedia a autorização legislativa para o Prefeito contrair empréstimo. 50 O art. 1, da Lei nº 222/1954, (FLORIANÓPOLIS-SC, 1954) “a contratar,

com um Escritório Técnico ou com pessoa habilitada, o estudo e a elaboração de um trabalho de Planificação Administrativa e Codificação Municipal.”

51 A Lei nº 246/55 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1955), foi denominada de Código Municipal de Florianópolis por disciplinar além do Plano Diretor, diversos outros temas, como normas de obras, regime tributário, organização da administração municipal, vigilância sanitária, cemitérios públicos e bens municipais.

52 Segundo SOUZA (2010, p. 54), “A codificação da legislação municipal foi executada pelo advogado mineiro Antônio Delorenzo Neto, que já havia elaborado legislações para os municípios de Guaranésia, Ourinhos, Vitória e João Pessoa. A metodologia utilizada para essa planificação estava dividida em seis etapas: estudo global da legislação; separação da legislação vigente da não vigente; classificação dos textos aproveitáveis; incorporação das inovações necessárias; crítica e comparação e redação final (DELORENZO NETO, 1957). O conjunto de leis do Plano Diretor, elaboradas em 1952, foi inserido no Código Municipal de Florianópolis, com poucas modificações do texto original.”

municipais. O texto continha mil novecentos e quarenta e um artigos, agrupados em uma única lei. Este agrupamento de normas com temas diversos em um único texto de lei não perdurou. Nos anos seguintes, as normas que abordavam estes temas distintos foram gradativamente sendo aprovadas separadamente, em leis próprias, como o Código de Obras, Código Tributário e o próprio Plano Diretor.

Este Plano Diretor elaborado pela equipe de Edvaldo Paiva, tinha, conforme Rizzo, “como principal motor para o desenvolvimento a intenção do governo do Estado em construir um porto na área do Estreito, na parte continental da cidade” (RIZZO, 2005, p. 65). Os autores do referido Plano Diretor constataram, na época, que Florianópolis estaria “atrasada do ponto de vista industrial e comercial” e concluíram que a construção de um porto moderno poderia garantir um futuro desenvolvimento da cidade, como afirma Rizzo:

Em todo esse panorama, um fator positivo capaz de transformá-lo radicalmente é a próxima construção de um porto moderno em Florianópolis. Esse é o fato mais importante a considerar para uma justa interpretação do futuro desenvolvimento da cidade. O porto será um fator importante para o seu progresso econômico. Esse progresso, significando desenvolvimento industrial e comercial, virá condicionar fundamentalmente a concepção do plano (RIZZO, 2005, p. 65).

A construção de um porto no Estreito serviria como indutor do desenvolvimento urbano e econômico para a cidade, principalmente da parte continental do município em detrimento da parte insular:

Após uma avaliação pessimista da situação urbana do município, considerado sem identidade, pré- industrializado, com um sistema viário obsoleto e um porto em decadência, a equipe apresentou um plano preliminar baseado na implantação de um

porto na parte continental da cidade que deveria

ser o elemento indutor do desenvolvimento

urbano. Ao lado do porto, deveria ser implantada

uma zona comercial e industrial e com o desenvolvimento da cidade, zonas residenciais deveriam se estabelecer no continente. Esse

conjunto exerceria uma atração sobre o centro tradicional (insular) que seguiria suas funções de centro comercial, administrativo e de zona residencial (PEREIRA, 2007, p. 02) (grifo nosso).

A proposta de implantação de um moderno porto a área continental não foi acatada pela elite local, pois a sua localização prevista no Plano Diretor de 1955, no bairro do Estreito resultaria no fomento da economia da região continental. Esta direção desagradou a políticos e empresários locais que decidiram buscar ganhos econômicos com o turismo, que possibilitaria a valorização dos imóveis do interior da Ilha, e não com a industrialização, através da construção do moderno porto na área continental, como preconizava a equipe de Edvaldo Paiva (LOHN, 2002, p. 314).

A equipe de Paiva elaborou o Plano Diretor de Florianópolis de 1955, propondo diversos caminhos novos para o desenvolvimento da cidade. A concepção deste primeiro Plano Diretor de 1955, era funcionalista e “fortemente enraizado na Carta de Atenas” (PEREIRA, 2011, p. 278) e não atingiu os seus objetivos, não tendo sido implementado, pois sua proposta central – a construção de um moderno porto - nunca saiu do papel. Entretanto, este estudo serviu de base para o segundo Plano Diretor da cidade, que começou a ser elaborado em 1967. O Plano Diretor de Florianópolis de 1955 foi feito por uma equipe técnica e aspectos centras do Plano não foram implementados. Segundo Villaça (2004, p. 218), a partir de 1930, prevaleu no urbanismo brasileiro uma visão tecnocrata, que considerava o conhecimento técnico e científico como guia da ação e, desta forma, vários estudos de planejamento urbano foram elaborados em capitais brasileiras, como em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, sobre os mais diversos aspectos e tiveram o mesmo destino, ou seja, não foram implementados.