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Composição da Câmara Municipal de Florianópolis 12ª Legislatura (1993-1996)

2.4 OS PRIMEIROS PLANOS DIRETORES DE FLORIANÓPOLIS: A TECNOCRACIA E A NÃO PARTICIPAÇÃO

2.4.3 O segundo Plano Diretor (1976)

Segundo SUGAI (1994, p. 98), a Prefeitura de Florianópolis solicitou no final da década de 1960, aos membros do CEAU, a elaboração de um novo Plano Diretor. Para atender a esta solicitação, foi organizada uma equipe coordenada por Luís Felipe Gama Logo D’Éça, que era um dos membros do CEAU. Para habilitar-se a obter os recursos federais do FIPLAN e financiar a elaboração do Plano Diretor de Florianópolis, a equipe do CEAU buscou adequar-se aos critérios exigidos pelo SERPHAU. Por isso, em 26 de agosto de 1968, foi criado em Florianópolis o Escritório Catarinense de Planejamento Integrado - ESPLAN70, uma associação civil sem finalidade lucrativa que, apesar de funcionar no prédio da administração municipal, era uma entidade privada, criada por nove pessoas, dentre as quais Luís Felipe Gama D’Éça, que passou a ser um dos seus diretores.

Para atender aos critérios do SERPHAU, a área de abrangência do Plano Diretor de Florianópolis foi ampliada para incluir o planejamento da região metropolitana (RIZZO, 1993, p. 64). Para isso, o estudo incluiu os 21 municípios próximos a Florianópolis (Ilustração 4), dentro de um raio de aproximadamente 65 km, em área que viria a ser a Região Metropolitana da Capital.

Foram elaborados dois planos, um para a região metropolitana e um outro, mais detalhado, para o centro urbano de Florianópolis. O ESPLAN ficou subordinado ao CEAU, que era orientado pelo 70 O ESPLAN- – Escritório Catarinense de Planejamento Integrado foi constituído como associação civil em 26 de agosto de 1968, em Florianópolis, conforme registro às fls. 473, do livro A-11, do Cartório Farias (Ofício de Registro Civil, Títulos e Documentos e das Pessoas Jurídicas – 1º subdistrito de Florianópolis, Santa Catarina), através de requerimento de Luiz Felipe da Gama Lobo D’Éça. Assumiram a primeira diretoria da ESPLAN Alcides Abreu e Luiz F. Gama L. D’Éça. Assinaram como membros fundadores da ESPLAN, Alcides Abreu, Luiz Felipe Gama Lobo D’Éça. Carlos José Gevaerd, João José Ramos Schaefer, Moysés Elizaldo da Silva de Lis, Madre Olma de Aquino Casso, Luiz Henrique Batista, Eurídes Antônio Severo, Nílson Paulo (estatuto publicado no DOE em 18/08/1968, p. 07). Em 1984 a Assembleia de associados de 01/06/1984 transforma a ESPLAN em uma sociedade por cota de responsabilidade limitada, decisão registrada na Junta Comercial de SC em junho de 1985.

SERFHAU71. Entretanto, o financiamento federal do FIPLAN não foi aprovado para Florianópolis72, e segundo SUGAI (1994, p. 99), o motivo teria sido em decorrência de desentendimentos entre os técnicos do SERFHAU e da Prefeitura. Em decorrência disso e para não paralisar os trabalhos já em andamento, a Prefeitura decidiu arcar com o custo da contratação da equipe do ESPLAN73 entre 1969 a 1971, para a elaboração do Plano Diretor (PEREIRA, 1992, p. 85).

71 Segundo SUGAI (1994, p. 99), “Todo trabalho inicial, de organização de equipes e estrutura de pesquisas, foi orientado pelos técnicos do SERFHAU, segundo as normas definidas pelo órgão. Foram formadas 4 equipes (Planejamento Físico, Econômico, Social e Administrativo- Institucional), constituídas por 50 profissionais de nível universitário e 70 auxiliares técnico- administrativos.

72 Apesar de Florianópolis não ser beneficiado por verbas do SERFHAU/FIPLAN em 1969/70, na mesma época, Blumenau e Joinville receberam estes financiamentos, como indicam leis municiais autorizando a Prefeitura a receber financiamento do SERPHAU. A Câmara Municipal de Blumenau, com a Lei nº 1596/69 (BLUMENAU-SC, 1969), autorizou o Prefeito de Blumenau a firmar contrato com o SERFHAU, à conta do FIPLAN, para receber um empréstimo até o montante de NCr$ 172.629,70 para o financiamento da elaboração do estudo preliminar do plano de

desenvolvimento local e projetos decorrentes deste mesmo plano.

Também a Câmara Municipal de Joinville, aprovou a Lei nº 1184/1972 (JOINVILLE-SC, 1972), autorizando o Prefeito a contrair empréstimo com o SERFHAU, no valor de Cr$ 840.000,00, destinado a atender despesas com o levantamento Aerofotogramétrico, para elaboração do projeto de esgoto da cidade, para o Cadastro Fiscal, e a implantação do

Plano Diretor e Planejamento Urbano em Geral de Joinville. Outro

exemplo foi a Cidade de Jundiaí, SP, que através da Lei nº 1954/72 (JUNDIAÍ-SP, 1972), a Câmara Municipal concedeu autorização ao Prefeito de Jundiaí para contratar com o SERFHAU um empréstimo, à conta do FIPLAN, até o montante de Cr$ 1.000.000,00 (hum milhão de cruzeiros) para financiar a elaboração do Plano de Desenvolvimento

Local Integrado de Jundiaí.

73 Luiz Felipe Gama D’Éça coordenou o ESPLAN - Escritório de Planejamento, que elaborou um estudo denominado "Plano de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Florianópolis" (1967-71), e posteriormente fez um estudo complementar deste Plano, o "Módulo Indutor - Setor Oceânico Turístico da Ilha de Santa Catarina"(1974). Estes

O ESPLAN elaborou o Plano de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Florianópolis - PDAMF, que abrangeu 20 cidades da região da grande Florianópolis. A proposta já estava elaborada como minuta de lei desde 1971, mas só foi aprovado como Lei nº 1.440/76 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1976), com algumas alterações, mas tendo sido mantido os aspectos essenciais. Dentre as alterações destacam-se:

- a exclusão da abrangência da região metropolitana;

- a recomendação da criação de região metropolitana em leis posteriores;

- a exclusão de áreas verdes em áreas privadas; - a redução do limite de pavimentos de 18 para 12; - o quadrilátero central sem exigência de afastamento;

- e a supressão da exigência de garagens (PEREIRA, 1992, p. 97).

A elaboração deste segundo Plano foi iniciado em 1967 e concluído em 1971, foi coordenado pelo urbanista Luis Felipe Gama d’Eça, que encontrou “nas premissas do CIAM74 as ferramentas para seu pensamento planificador, racionalista e desenvolvimentista (PEREIRA, 2011, p. 281) e resultou na aprovação do Plano Diretor do Distrito Sede de Florianópolis, através da Lei nº 1440/76 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1976).

Ao contrário da equipe de Edvaldo Pereira Paiva, contratada para fazer o Plano Diretor de 1955, que era Porto Alegre, o ESPLAN era uma entidade constituída juridicamente em Florianópolis, por profissionais que atuavam em Florianópolis, como o arquiteto Luiz Felipe Gama

estudos foram base para a elaboração do Plano Diretor de 1976 e outras leis de uso de solo. Esperidião Amin afirma (CORDIOLI, 1984, p. 245), que no governo municipal de Acácio Garibaldi (de 31 de janeiro de 1966 a 21 de março de 1970) foram elaborados as propostas do Plano Diretor, Lei de Loteamentos, Código de Obras, Código de Postura. As primeiras três leis foram aprovadas em 1974: sobre Loteamentos, a Lei nº1215/74 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1974), sobre o Código de Obras, a Lei nº 1246/74 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1974), sobre o Código de Postura, a Lei nº 1224/74 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1974) e o Plano Diretor só foi aprovado em 1976, como Lei nº1440/76 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1976) 74 CIAM - Congresso Internacional da Arquitetura Moderna

D’Éça. Apesar disso, concluído o trabalho do ESPLAN, que era uma entidade privada, a Prefeitura seguiu sem uma estrutura permanente, a não ser as comissões municipais do CMD e do CEAU.

Em 1969, a aprovação da Lei nº 935/69 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1969) resultou em nova reforma administrativa na Prefeitura Municipal de Florianópolis que, extinguindo diversos órgãos. Em 1972, foi criado novamente o Conselho Municipal de Desenvolvimento - CMD, com a aprovação da Lei nº 1110/72 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1972), desta vez não mais vinculado à Secretaria Municipal, mas vinculado ao Gabinete do Prefeito. Esta mesma lei extinguiu o Conselho de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo - CEAU75.

Este novo CMD, passou a ser o único órgão de assessoramento, que tinha como função opinar sobre obras e atividades relacionadas ao desenvolvimento físico social e econômico do município, como consta no art. 2 da Lei nº 1110/72 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1972):

Art. 2º - O Conselho Municipal de Desenvolvimento de Florianópolis, órgão integrante do Gabinete do Prefeito, tem por finalidade:

a) Opinar sobre matérias relacionadas com os problemas de desenvolvimento físico, social e econômico do Município;

b) Sugerir a realização de obras e a implantação de atividades que possam determinar o desenvolvimento sócio-econômico do Município. c) Colaborar no desenvolvimento de uma consciência, visando a prevalência dos interesses coletivos sobre os interesses individuais ou grupais.

Este CMD teve sua finalidade alterada para o “desenvolvimento do município” e “realização de obras”. Não havia na lei a finalidade específica de tratar sobre Plano Diretor ou urbanização de Florianópolis, como os dois conselhos anteriores, o CMD de 1964 e o CEAU de 1966.

Este CMD era composto por nove membros, o que significou uma ampliação em relação aos conselhos anteriores, e com maioria de pessoas vinculadas a órgãos públicos e sem representantes da

75 O art. 14, da Lei nº 1110/72 revogou a Lei nº 788/66 que criou o Conselho de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo – CEAU.

comunidade, caracterizando o formato de conselho de notáveis, com menciona Gohn (2002, p. 22).

A partir de 1976, os membros deste CMD passaram a receber uma gratificação por sessão76, no valor de um terço do salário-mínimo da região. O presidente do Conselho recebia, além da gratificação por sessão, uma gratificação mensal de um salário-mínimo regional. Os membros integrantes eram, em sua maioria, funcionários vinculados a órgãos ou entidades públicas municipais, estaduais e federais, como podemos observar na lista de integrantes do art. 3º da Lei nº 1110/72 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1972):

Art. 3º - O Conselho constituir-se-á de: - um representante da Câmara Municipal;

- um engenheiro ou arquiteto, representante da Secretaria de Transporte e Obras do Estado; - um economista, representante da Secretaria de Desenvolvimento do Estado;

- um Economista representante do Órgão Central do Sistema de Planejamento e Orçamento do Estado; (Redação dada pela Lei nº 1320/1975) - um representante do Conselho Metropolitano; - um sociólogo, representante da UFSC;

- um arquiteto ou engenheiro, representante do CREA;

- Secretário de Obras do Município; - Procurador Geral do Município.

A regra de pagamento da gratificação aos participantes do Conselho Municipal, estava no art. 8 da Lei nº 1110/72 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1972), cujo texto, segue abaixo:

Art. 8º - Os membros do Conselho perceberão, por sessão ordinária a que comparecerem, uma gratificação correspondente a um terço(1/3) do salário mínimo da região, a que farão jus, também, pela presença às reuniões extraordinárias expressamente convocados pelo Prefeito.

76 O pagamento de gratificação por sessão passou a correr com a modificação da Lei nº 1110/72 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1972) pela Lei nº 1457/76 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1976),

Parágrafo Único - Além do "jetton" a que se refere o "caput" da presente artigo, o Presidente do Conselho perceberá, ainda, a gratificação mensal de um salário-mínimo regional. (Redação dada pela Lei nº 1457/1976)

Em 1974, foi aprovada77 uma reforma administrativa na estrutura da Prefeitura, que manteve a estrutura do Conselho Municipal de Desenvolvimento e sua vinculação ao Gabinete do Prefeito, sem nenhuma outra estrutura de assessoramento à Prefeitura relacionado ao planejamento urbano.

O Plano Diretor da cidade de Florianópolis, foi aprovado com a Lei nº 1440/7678 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1976), que iniciou sua vigência em 4 de junho de 1976. No mês seguinte, em 29 de julho de 1976, foi criada a Comissão do Plano Diretor do Município de Florianópolis79, com o objetivo específico de propor sugestões de aperfeiçoamentos à Prefeitura sobre o Plano Diretor e outros estudos urbanísticos, como consta no seu art. 3º:

Art. 3º - Compete à Comissão:

I - Acompanhar e emitir parecer sobre a execução do Plano Diretor do Município, propondo as modificações que se tornarem necessárias à sua atualização;

II - Emitir parecer sobre todo projeto da Lei ou medida administrativa de caráter urbanístico, ou relacionado com os serviços de utilidade pública do Município;

III - Promover estudos e divulgação e conhecimentos urbanísticos e especialmente do

Plano Diretor do Município. (grifos nossos)

As finalidades da Comissão do Plano Diretor demonstram o intuito de criar um órgão específico para análise do Plano Diretor e

77 A reforma administrativa ocorreu com a aprovação da Lei nº 1289/74 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1974)

78 Lei nº 1440, de 31 de maio de 1976, iniciou sua vigência em 04 de junho de 1976, data de sua publicação no Diário Oficial do Estado – DOE 79 Comissão do Plano Diretor foi criada com a aprovação da Lei nº 1452/76

(FLORIANÓPOLIS-SC, 1976), que teve sua vigência iniciada em 29 de julho de 1976, com a publicação no Diário Oficial do Estado.

aspectos urbanísticos da cidade. Era composto por onze membros, mas sem a previsão de pagamento de gratificação por participação nas sessões. Apesar de voltar a incluir em sua composição, representantes não vinculados com a administração pública, estes ainda eram minoria, com três representantes, sendo a maioria composta de oito membros vinculados a órgãos públicos municipais ou estaduais, como se observa no art. 2º da Lei nº 1452/76 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1976), cujo texto segue:

Art. 2º - A Comissão será constituída de dez (10) membros, excetuado seu Presidente, nomeado pelo Prefeito, por indicação dos respectivos órgãos ou entidades, dentro do seguinte critério: 1 - dois representantes da Prefeitura, um engenheiro ou arquiteto e um advogado;

2 - dois representantes da Câmara de Vereadores; 3 - dois representantes do Conselho Municipal de Desenvolvimento de Florianópolis;

4 - um representante do DETRAN/SC; 5 - um representante do IAB/SC; 6 - um representante do ACE;

7 - um representante da Indústria da Construção Civil;

8 - um representante da Secretaria do Estado dos Transportes e Obras.

Analisando sua composição de onze membros, constata-se que apenas uma pequena parte da sociedade civil estava representada. Oito eram vinculados ao poder público e dois vinculados à categoria profissional (ACE e IAB) e um do setor empresarial vinculado à construção civil.

A Comissão do Plano Diretor - CPD foi criada para assessorar a Prefeitura, como se observa na leitura do texto da Lei nº 1452/76 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1976), principalmente quanto ao novo Plano Diretor da Lei nº 1440/76 e aos aspectos urbanísticos da cidade, atendendo a uma lacuna deixada pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento - CMD que havia sido criado pela Lei nº 1110/72 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1972), com finalidades mais amplas em relação ao desenvolvimento da cidade e sem objetivos específicos direcionadas ao planejamento urbano.