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Conselhos Municipais criados em Florianópolis Período 1964 a

3.2.6 O retorno da tecnocracia ou refluxo da participação

Na gestão municipal seguinte, Esperidião Amin, do PDS, assumiu pela segunda116 vez o cargo de Prefeito de Florianópolis para o mandato de 1989 a 1992, através de eleição direta. Exerceu o cargo apenas até 1990, quando renunciou para assumir o mandato de senador. Nesta gestão municipal, a Prefeitura voltou a dar ao Conselho Municipal de

115 Em consulta ao IPUF, não foram encontradas cópias de nenhuma ata das reuniões do CMD. A única ata encontrada está anexa ao PL 1902/78, disponível no arquivo da Câmara de Municipal de Florianópolis.

116 Esperidião Amin foi nomeado Prefeito de Florianópolis entre 1975 a 1978, pelo Governador do Estado Antônio Carlos Konder Reis.

Desenvolvimento – CMD o papel preponderante no planejamento urbano que tinha na década de 1970. O Projeto de Lei nº 3770/88 (FLORIANÓPOLIS), do Plano Diretor do Distrito Sede, foi retirado da Câmara Municipal para reexame a pedido do Prefeito. Após reavaliação do IPUF, a Proposta de Plano Diretor foi encaminhada ao CMD para discussão. Posteriormente seria enviado para Câmara Municipal. O Relatório de Atividades do IPUF, de 1989, descreve um resumo desta discussão sobre o Plano Diretor do Distrito Sede:

Durante três meses representantes de todos os partidos políticos de Florianópolis, Instituto dos Arquitetos do Brasil - IAB/SC, CREA, OAB, Sindicato da Construção Civil, UFSC, UDESC, FATMA, TELESC, CELESC, SEPLAN, COTESPHAN-SEPHAN, Federação de Associação de Moradores, FIESC, ACIF, CDL, Vereadores e Técnicos do IPUF sobre a coordenação do DIPRE e Prefeitura Municipal deliberaram as linhas gerais de ação para revisão

do Plano Diretor. [...] entre as alterações feitas

consta:

A. Inclusão de dispositivo sobre a cobrança do solo criado.

B. Adequações menores do zoneamento uso e ocupação

C. Revisão dos afastamentos de vias e outras.

A redação do texto final e as correções nos mapas foram feitas em setembro, e o Plano encaminhado para Câmara Municipal de Vereadores em outubro para aprovação, onde até hoje continua tramitando. (FLORIANÓPOLIS, IPUF, 1989) (grifo nosso)

O debate sobre o Plano Diretor ocorreu em um ambiente institucional que não favoreceu a participação dos movimentos sociais nas discussões sobre aquele tema, além de outros que também marcaram aquela gestão117, pois o CMD tinha a participação majoritária de

117 Segundo Agostinho (2008. p. 192) “um dos momentos mais polêmicos que marcou o início dos conflitos relacionados ao desenvolvimento da cidade” ocorreu em 1989, em relação ao Projeto de Lei nº 4102/89

representantes vinculados a entidades públicas ou relacionadas diretas ou indiretamente com o setor imobiliário. A proposta de Plano Diretor que foi discutida seria basicamente a mesma encaminhada à Câmara Municipal na gestão anterior, pelo ex-Prefeito Edison Andrino, pois estava propondo um aumento dos afastamentos laterais entre as edificações, uma redução da taxa de ocupação dos prédios mais altos e mantendo o limite de gabarito máximo de 12 andares. Após ser discutido pelo Conselho de Desenvolvimento Municipal em 13 de junho de 1989, a proposta foi protocolada na Câmara em 12 de setembro de 1989, passando a tramitar como Projeto de Lei nº 4302/89118 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1989).

Considerando a dificuldade de aprovação de alguns temas do Plano Diretor na gestão anterior, do Prefeito Edison Andrino, a Prefeitura, na Gestão de Esperidião Amin, decidiu encaminhar à Câmara esses mesmos temas em vários projetos de lei separados da proposta do Plano Diretor (AMIN... O ESTADO, 1989; GOVERNO... A Notícia,

(FLORIANÓPOLIS, 1989), de autoria do então Prefeito Esperidião Amin, encaminhado à Câmara com a proposta de doar de parte do terreno em área pública municipal, na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz, para construção de um hotel e um centro de convenções, tendo como contrapartida a construção da sede da Prefeitura. Esta era uma área verde que, desde 1986 “ambientalistas, urbanistas, artistas e poetas, amantes da cidade, 'liderados por Etienne Luiz Silva' ” (AGOSTINHO, 2008, 183) já se mobilizavam para criar um parque denominado de Parque da Luz. Em 1989, ocorreu uma grande mobilização dos movimentos sociais, culturais, ecológicos e políticos da oposição, contra a aprovação do Projeto de Lei nº 4.102/89 (FLORIANÓPOLIS, 1989). A mobilização popular não impediu a aprovação da proposta como Lei Municipal nº 3206/89 (FLORIANÓPOLIS, 1989), mas resultou em uma reação de políticos e empresários conservadores, que promoveram uma campanha na imprensa (FANTIN, 2000, p. 59; GERK, 1993, p. 48) buscando vincular aqueles manifestantes do movimento popular, ecologistas, vereadores e políticos de oposição como pessoas de fora, como pessoas contrárias à cidade. Esta campanha de perfil conservador, teria como objetivo afastar estes grupos da política local e reduzir suas chances na eleição municipal seguinte, para prefeito e vereador, que iria ocorrer em 1992.

118 A análise deste Projeto de Lei nº 4302/89 ficou prejudicada pois não foi encontrado o referido processo nos arquivos da Câmara Municipal de Florianópolis, como consta na certidão do ANEXO II, desta dissertação.

1989; PREFEITURA... Diário Catarinense, 1989). Uma das propostas mais importantes foi o Projeto de Lei nº 4359/89 (FLORIANÓPOLIS- SC, 1989), que foi rapidamente aprovado como Lei nº 3338/89 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1989) (FLORIANÓPOLIS, IPUF, 1989), que aprovou temas polêmicos que já estavam incluídos no Plano Diretor elaborado na gestão do Prefeito Andrino, dentre as quais destacamos: a) transferência do direito de construir; b) afastamentos diferenciados no triângulo central e polígono central, c) solo criado, além de outras matérias como as restrições geotécnicas, esgoto sanitário, e incentivo a hotelaria, já existente desde 1984, com a Lei nº 2090/84 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1984).

Em 1º de abril de 1990, o Esperidião Amin renunciou ao cargo de Prefeito de Florianópolis para assumir seu mandato de Senador. Desta forma, o vice-Prefeito Bulcão Vianna assumiu o cargo de Prefeito em 02 de abril de 1990. Logo após a saída do Prefeito Esperidião Amin, que foi um dos idealizadores da criação IPUF, o vereador Michel Curi protocolou o Projeto de Lei nº 4452/90 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1990), contendo proposta de extinção do IPUF e remanejamento dos funcionários do IPUF para um novo “Departamento de Planejamento Urbano”, que seria criado, e que estaria subordinado ao Gabinete de Planejamento (GAPLAN) da Prefeitura. Em 1991 foi publicada na imprensa a notícia de que os vereadores iriam aprovar o fim do IPUF e remanejar o seu pessoal durante o Carnaval de 1991 (SARDÁ... Diário Catarinense, 1991). Na Câmara Municipal o vereador Alcino Vieira, do PDS, se manifestou na Sessão Ordinária da Câmara, do dia 18/02/1991, afirmando de que esta notícia era apenas um boato:

“O Diário Catarinense do dia 30/01/1991 publicou sobre a extinção do IPUF, que seria na calada do carnaval. Caso esta Casa não se manifeste desmentindo esta matéria, o povo terá em sua mente uma inverdade.” (Arquivo da Câmara Municipal de Florianópolis, ata da Sessão Ordinária do dia 18/02/1991, livro 4, p. 107) A notícia de aprovar a matéria no carnaval era boato, porque o PL nº 4452/90 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1990) não era de autoria do Prefeito, requisito essencial para tramitação de matérias sobre organização administrativa e funcional da Prefeitura, por isso foi

arquivado119 definitivamente em 2001. Mas a proposta de extinção do IPUF repercutiu na imprensa, na Câmara e os funcionários do IPUF chegaram a elaborar textos e folders para uma campanha de esclarecimento e defesa do IPUF.

As críticas ao IPUF, no início da década de 1990, contrastaram com a importância dada a este órgão de planejamento pelos políticos e a imprensa local, após sua criação em 1977 até meados da década de 1980. Nesta época o IPUF contribuiu com a obtenção e gerenciamento de recursos para projetos urbanos de grande impacto para expansão do setor imobiliário da Capital. Um exemplo foi o caso da Plano Diretor da Trindade de 1982, que não alterou a Lei 1440/76 em relação ao Centro da Capital, evitando conflito com os interesses setor imobiliário. Outro exemplo foi a elaboração do Plano Diretor dos Balneários em 1985, que disciplinou a expansão imobiliária para os balneários e para o interior da Ilha. Entretanto, o gradativo fim do Regime Militar e a lenta democratização do país, repercutiu no planejamento urbano em Florianópolis, principalmente a partir de 1986, na gestão do Prefeito

119 Na justificativa ao PL nº 4452/90 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1990), os vereadores autores argumentaram que o IPUF estaria nos últimos dez anos extrapolando suas atribuições legais, fugindo do objetivo principal e inicial de planejamento. Os vereadores alegaram que os procedimentos do IPUF estariam gerando conflitos de ordem técnica, política, econômica e social para a cidade de Florianópolis, e que os seus técnicos teriam perdido o sentido de praticidade e viabilidade técnico-econômica do planejamento, o que estaria resultando em fuga significativa de capital para investimentos e que o IPUF teria sido tomado por técnicos oriundos dos mais diversos recantos do país, e até mesmo do exterior. Além dessas acusações, os vereadores criticaram os planos diretores e leis sugeridas aos Prefeitos e enviadas à Câmara, alegando que seriam vazios e alegam que haveria críticas da opinião pública ao IPUF. Em reposta, o então presidente do IPUF, Rodolfo Pinto da Luz critica à xenofobia do projeto (EXTINÇÃO... Jornal de Santa Catarina, 1990; e VEREADORES... A Notícia, 1990). Um ofício da Sociedade Pró-Desenvolvimento de Canasvieiras, de 08/07/90, que foi anexado ao PL nº 4452/90 (FLORIANÓPOLIS-SC, 1990), repudiou a proposta de extinção do IPUF. Apesar da polêmica que a proposta gerou, o parecer jurídico ao PL nº 4452/90 foi pelo arquivamento do mesmo por se tratar de tema de iniciativa privativa do Prefeito (art. 55, § 2º, inciso IV. da Lei Orgânica - FLORIANÓPOLIS-SC), sendo a matéria arquivada em definitivo em 02 de janeiro de 2001.

Edison Andrino, quando o IPUF defendeu nas propostas do Plano Diretor do Distrito Sede, a redução dos índices de ocupação e de adensamento e a ampliação da preservação histórica para o Centro da Capital, como ocorreu com a aprovação do Decreto nº 270/86 (FLORIANÓPOLIS, 1986). Além disso, buscou discutir a ampliação da participação popular no planejamento urbano. Estas posturas contrariaram vários setores políticos e econômicos vinculados a proprietários de imóveis e ao setor imobiliário. Na gestão municipal seguinte, de Amin/Bulcão, a partir de 1989, segundo Adams (p. 80, 2002), os imóveis tombados foram classificados em três categorias e todos os proprietários notificados para que se manifestar. Muitos recorreram do tombamento. Em resposta, o SEPHAN/IPUF realizou uma reavaliação para “preservar o que era viável naquele momento”. E que esta reavaliação resultou no Decreto nº 190/90 (FLORIANÓPOLIS, 1990), que excluiu 278 imóveis tombados pelo Decreto nº. 270/86 (FLORIANÓPOLIS, 1986). Na avaliação de Adams este processo:

“representou um avanço definitivo na credibilidade de que diálogos são possíveis demonstrando a importância na condução e articulação política aliada às considerações técnicas, conferindo, também, um importante papel ao desempenho da COTESPHAN (ADAMS, p. 81, 2002).

Por outro lado, em 1992, a imprensa local noticiou de forma negativa este processo, afirmando que “a administração Esperidião Amin/Bulcão esvaziou o aparato tecnocrático que, através do IPUF, tombou centenas de imóveis sem valor histórico ou cultural” (CHEGA... O Estado, 1992). Esta notícia surge como uma reação conservadora à postura do IPUF na gestão municipal entre 1986 a 1988, em atitude semelhante a reação dos vereadores que propuseram a extinção do IPUF em 1990.