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4. REVISÃO DA PESQUISA EMPÍRICA NO SETOR VITIVINÍCOLA

4.3. Foco: Estratégia empresarial – estratégias colaborativas e de inovação

desenvolvidos na região do Douro, por Brito (2006) e Guimarães (2009), no caso particular do Vinho do Porto, e Rebelo & Caldas (2011) para os vinhos tranquilos. Estes últimos autores, ao analisarem a organização do setor vitivinícola na região, concluiram que o modelo típico de

terroir encontrado não surge como um cluster de acordo com a definição de Porter (1998),

podendo antes ser classificado de acordo com Migone & Howlett (2010), ou seja, como um

cluster organizado, uma vez que: (i) é composto por um vasto número de micro, pequenas e

médias empresas com um pequeno número de atores críticos; (ii) o nível de confiança é médio e assiste-se a alguma inovação; (iii) o nível de competências é médio-elevado e a tecnologia média; (iv) a concorrência é elevada e verifica-se alguma cooperação e ligação entre atores; (vi)

o nível de exportações é considerado médio-elevado. Os autores sugerem que, para as empresas alcançarem o nível inovador, devem: (i) aumentar a sua dimensão e o número de atores críticos (engrossar investimento de forma a suportar a pressão externa); (ii) introduzir e disseminar uma cultura de inovação contínua nas diferentes fases da cadeia de valor, antecipando ou provocando mudanças nos mercados internacionais; (iii) ampliar a cooperação e ligação entre os diferentes players de forma a generalizar e disseminar conhecimento e competências.

Também na região do Douro, foram desenvolvidos trabalhos no âmbito das redes de empresas, tais como Pereira (2009) e Muhr e Rebelo (2011). Neste último foi desenvolvido um estudo de caso de 5 empresas – uma rede informal denominada Douro Boys - demonstrando que este tipo de cooperação pode ser o motor para um forte desenvolvimento de pequenos produtores, cujos vinhos não eram sequer conhecidos. Os resultados económicos positivos estão associados a: (i) objetivos claros – concentração limitada às relações públicas e diferenciação de marketing (exclui a distribuição) e adequado modelo de governo (rede simples e informal); (ii) característica prospetora dos seus membros, com forte orientação exportadora e cultura de inovação ao nível do produto, processo e de marketing.

Outros estudos importantes, no âmbito de clusters de empresas, foram desenvolvidos noutras regiões vitivinícolas, como no Brasil (Serra Gaúcha). É o caso de Fensterseifer (2007) que destacou as sinergias e externalidades positivas resultantes da existência do cluster, sendo decisiva a formação de um planeamento estratégico coletivo com um horizonte de 20 anos, um consórcio de exportação e uma eficaz rede de associações de empresas. Zen (2010), por sua vez, realizou um estudo comparativo entre a região da Serra Gaúcha (Brasil) e a região de Bordéus (França), apurando resultados importantes: em ambas as regiões os recursos partilhados e desenvolvidos no âmbito do cluster influenciam a internacionalização das vinícolas. No Brasil, destaca-se o recurso “relações de cooperação horizontal” e em França “reputação da região”. A autora concluiu também que as empresas com desempenho exportador superior percebem os recursos singulares ligados ao fator “comercial” como mais importantes do que as empresas de desempenho exportador inferior e que as empresas com maior tempo de internacionalização percebem os recursos do cluster como mais importantes do que os singulares. De igual forma, os recursos do país (reputação), podem trazer uma vantagem competitiva no processo de internacionalização das empresas.

Também Gwynne (2008) e Sedoglavich (2009), o primeiro no Chile e o segundo na Austrália, investigaram de que forma os produtores abordam o processo de internacionalização, através da

exploração da influência do cluster/rede de negócios. No caso chileno (Gwynne, 2008), a rede de relações permite criar mais oportunidades, aumentando o poder negocial. A inovação foi fundamental para que as empresas se pudessem expandir no mercado internacional (principalmente nos mercados em que a distribuição está mais concentrada – Reino Unido), contudo, a dimensão da empresa influencia a inovação e densidade de ligações na rede. As empresas de pequena dimensão demonstraram ter um futuro mais incerto – sem inovação ou capacidade de diferenciação. No caso australiano, as redes no processo de internacionalização foram importantes no fornecimento de conhecimento e acesso a canais de distribuição e baseiam-se em relações pessoais, contudo, a cooperação no cluster mostrou-se limitada em termos de internacionalização, pois o processo é desencadeado pelos produtores em termos individuais.

Na temática inovação surgem estudos como os de Ladeira (2005), Gollo (2006) e Gilinsky et al (2008). Este último, num estudo longitudinal e comparativo (empresas da Toscânia – Itália, e empresas da Califórnia – EUA) frisa o facto de estarem as alterações nas orientações do processo, do produto, ou do mercado, dependentes da forma como os top managers percebem as pressões internas e externas para inovar, sugerindo os autores que estes devem proceder ao

benchmarking; desenvolver ferramentas de planeamento de marketing e financeiro; investir e

aprender a usar tecnologia de ponta; implementar e promover uma viticultura sustentável; e desenvolver competências comerciais. Para Ladeira (2005), as empresas do setor vitivinícola em Portugal, estas podem vencer o desafio da competitividade, apostando numa gestão estratégica da cadeia de abastecimento, ou seja, estabelecendo novos padrões ao nível da organização das atividades produtivas, da gestão e inovação de processos e no relacionamento com clientes e fornecedores, sincronizando todas as atividades de produção, otimizando assim a sua cadeia de valor e, consequentemente, respondendo com rapidez e flexibilidade às exigências do mercado.

4.4. Síntese

O presente capítulo permitiu destacar grande parte da pesquisa que tem sido feita no âmbito da gestão estratégica, no setor vitivinícola.

O processo de pesquisa e de sistematização da informação foi desenvolvido com o propósito de identificar as formas de atuação das empresas do setor, ao longo da última década e em diversos espaços regionais do mundo, mas dando especial atenção para os estudos de âmbito nacional.

Tendo em conta a pertinência das temáticas e a importância do setor em termos globais, conclui-se que a pesquisa que tem sido desenvolvida é muito relevante, mas ainda assim escassa, principalmente aquela que se focaliza no domínio específico das estratégias de internacionalização.

Em Portugal, os estudos têm um âmbito essencialmente regional (incidindo especialmente nas duas regiões mais importantes em termos vitivinícolas: Douro e Alentejo) e recorrem sobretudo a metodologias de caráter qualitativo, desenvolvendo estudos de caso.

Assim, o desenvolvimento de estudos de âmbito nacional, que envolvam a dimensão externa das organizações do setor (na medida em que a maior parte da investigação limita-se à dimensão interna da organização) e recorram a metodologias mistas, ou seja, de natureza qualitativa e quantitativa, são sempre bem-vindos.

É nesta ordem de ideias que o nosso estudo, preenchendo os requisitos acima descritos, assume toda a pertinência.

5. METODOLOGIA DE