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CAPÍTULO 2 O FENÔMENO DA CONCORRÊNCIA FISCAL

2.3 FOMENTO À PESQUISA E AO DESENVOLVIMENTO (R&D –

Outro ponto que chama a atenção quando se enfrenta o tema deste trabalho é a concessão de estímulos à pesquisa e ao desenvolvimento, rotulados na literatura internacional de R&D – Research and Development461, que correspondem a determinadas atividades de criação de novas tecnologias de produção e que fomentam a inovação industrial.

O gasto com R&D dos países mais desenvolvidos é inegavelmente superior ao dos países em desenvolvimento, o que tem levado a literatura a apontar críticas aos governos destes462, uma vez que sem investimento nessas áreas de inovação, a tendência é a da dominação daqueles e a manutenção do status de dependência econômica dos menos evoluídos economicamente.

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Consta no texto legal: “Art. 1º Fica reduzida a zero a alíquota do imposto de renda incidente sobre os rendimentos definidos nos termos da alínea a do § 2º do art. 81 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, produzidos por títulos públicos adquiridos a partir de 16 de fevereiro de 2006, quando pagos, creditados, entregues ou remetidos a beneficiário residente ou domiciliado no exterior, exceto em país que não tribute a renda ou que a tribute à alíquota máxima inferior a 20% (vinte por cento).” A vedação se refere aos chamados países de tributação favorecida, comumente entendidos como paraísos fiscais.

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“Any sistematic or intensive study carried out in the manufacturing and industrial fields, the results of which are to be used for the production or improvement of products and processes. As a general proposition, R&D only extends from the laboratory or drawing board to phototype status, i. e. so long as an activity still contains an element of uncertainty/technical risk it is within the realm of R&D. Quality control, routine product testing, data collection, efficiency surveys, management studies, market research and sales promotion are normally not considered R&D activities. Not all countries define R&D in their national legislations; some define it in regulation, others rely on commercial law, accounting principles, case law, etc. In many countries the definition of R&D for deduction purposes is broader than the definition for R&D credits or incentives. Expenditure on R&D incurred by a taxpayer related to manufacturing, trade or business carried on by him and for R&D institutions servicing a taxpayer may, for tax purposes, be allowed either as a current deduction, for instance where it relates to existing products and processes, or as a depreciation deduction, for instance where it results in the creation of a new product or proceet seq.” Cf. IBDF International Tax Glossary. 15. ed. The Netherlands: IBDF, 2005, p. 341.

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Cf. RASHKIN, Michael D. Practical guide to research and development tax incentives. 2. ed. Chicago: CCH, 2007, p. 12.

Normalmente, os recursos destinados a pesquisas científicas nessa área são auferidos com incentivos de natureza tributária, como as deduções de impostos e a concessão de créditos para os custos das respectivas atividades463.

Veja-se, nesse panorama, que os Estados Unidos eram apontados pelo elevado gasto com R&D, o que acabou influenciando para o crescimento de sua economia e a excelente perfomance no início da década de 90. De 1994 a 2000, por exemplo, aquele país aumentou os gastos com R&D de 169,2 bilhões para 264,4 bilhões de dólares, impondo um crescimento econômico da ordem de 5,8 por cento ao ano464.

Desde 2001, entretanto, o investimento norte-americano nessa área tem sido reduzido, o que, somado a outros problemas estruturais, como o sistema educacional, a diminuição de doutores nas áreas tecnológicas e a concorrência dos imigrantes, tem prejudicado a economia daquele país465.

Tem aumentado, nessa perspectiva, a preocupação dos governantes e legisladores norte-americanos com a concessão de incentivos fiscais direcionados ao fomento da inovação tecnológica, através de alguns mecanismos como a concessão de subvenções diretas e/ou de créditos tributários para empresas que auxiliem as pesquisas466.

No mesmo sentido, os países-membros da União Européia têm grande atenção com esses incentivos à pesquisa e ao desenvolvimento de processos industriais. E no âmbito da União Européia, estão concentrados cerca de 25% de todos os incentivos dedicados à chamada R&D, destacando-se os incentivos concedidos pela Alemanha, Reino Unido e França467. 463 Ibid., p. 18. 464 Ibid., p. 13. 465

Cf. RASHKIN, Michael D. Practical guide to research and development tax incentives. 2. ed. Chicago: CCH, 2007, p. 17. No original: “In addition to the reduction in federal spending on R&D, as mentioned above, there are a number of serious structural problems facing the United States.”

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São apontadas por RASHKIN, Michael D. Practical guide to research and development tax incentives. 2. ed. Chicago: CCH, 2007. p. 562, as seguintes medidas que são empregadas nos EUA: i) Compesation for Researchers; ii) Overhead; iii) Supplies; iv) Contract Research; v) Capital Expenditures; vi) Licence for Intangible Assets; e vii) custos com Softwares de pesquisa. Ibid., p. 18.

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A Alemanha, por exemplo, é considerada a líder da Europa na concessão de auxílios à pesquisa e ao desenvolvimento, havendo optado, na história, por deferir subvenções diretas ao invés de incentivos tributários, o que está mudando diante de algumas mudanças no seu sistema tributário. O citado país chega a destinar cerca de 3% de seu PIB para esse desiderato, sendo aproximadamente 2/3 desses recursos vinculados às empresas

Em 2000, por exemplo, diante da concorrência crescente de países em desenvolvimento, o Reino Unido instituiu um novo programa de incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de inovações tecnológicas – o R&D Tax Relief Program -, com o deferimento de deduções tributárias, créditos presumidos e até mesmo subvenções diretas468. E essas vantagens foram dirigidas, especialmente, para os setores de tecnologia, incluídas as áreas de computação, automobilismo, aviação, farmácia469.

Ademais, é de se asseverar que o Tratado da União Européia, ao regular o chamado State Aid, admite a concessão de incentivos para a inovação tecnológica, mantendo a sua compatibilidade desde que não sejam seletivos e/ou discriminatórios e exigindo três pressupostos: i) o auxílio deve se dirigir a uma falha de mercado bem definida; ii) o auxílio deve ser comprovadamente apropriado e proporcional ao problema do sistema econômico; e iii) as distorções na concorrência têm que ser limitadas, sob pena de se tornarem os auxílios incompatíveis com o Tratado.

No plano da OMC, a regulamentação também restringe o uso de tais auxílios, impondo, por exemplo, que eles não superem, por exemplo, o equivalente a 75% dos custos das pesquisas ou 50% de certas atividades que possam afetar a concorrência na forma do denominado ASMC, que utiliza a expressão precompetitive development activities 470.

A importância das medidas ora estudadas para fomentar a pesquisa e a inovação tecnológica é indiscutível, tanto que os países que outorgam-nas vêm obtendo sucessiva melhora em seus níveis de desenvolvimento, com a atração, simultaneamente, de investimentos e com a qualificação de seus cidadãos, o que acaba gerando melhoras no sistema econômico.

privadas, como registra Rashkin: “Some of its larger companies, such as Daimler Chrysler, Siemens, BMW, Volkswagen, and Robert Bosch are ranked amoung the top 25 research performers in the world.”

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Cf. BRAITHWAITE, Bruce; HOWE, Greg. Research and development tax credits. West Sussex: Tottel Publishing, 2007, p. 17-34.

469

Ibid., p. 257-295. 470

“Precompetitive activity is defined as the translation of industrial research findings into a plan, blueprint, or design for new, modified, or improved products, processes, or services whether intended for sale or use, including the development of a first prototype which could not be capable of commercial use. The term may also include conceptual design of products and initial demonstration or pilot projects, provided that these projects cannot be used for commercial exploitation.” Cf. RASHKIN, Michael D. Practical guide to research and development tax incentives. 2. ed. Chicago: CCH, 2007, p. 24.