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4 CONFIGURAÇÕES DA PROPOSTA DE UMA AVALIAÇÃO EM

4.3 O PEC-G como via de inserção de estudantes estrangeiros nas instituições-

4.3.4 Fomento ao Programa

Os recursos destinados à manutenção do programa são indiretos, pois a oferta de vagas aos estudantes se dá com os recursos vindos para custear alunos nas IEs. Aderindo ao Programa, a instituição passa a receber tais recursos conforme o número de alunos, incluindo-se os estudantes do PEC-G.

Ainda que os estudantes-convênio assinem um termo de responsabilidade a respeito do custeio de sua permanência, diversas são as dificuldades que o translado de sua situação social e econômica causa na qualidade de vida destes. As diferenças entre as estruturas econômicas causam, em parte, a necessidade de outras formas de se custear no Brasil. Segundo nossa experiência, além disso, a assinatura do termo e a pré-seleção feita não garante a possibilidade plena dessa manutenção.

Chegados ao país, os estudantes-convênio passam a ter acesso à outras políticas públicas e serviços prestados ao cidadão brasileiro. Garante-se a atenção em saúde pelo SUS, através de convênio específico com o Ministério da Saúde. Tem acesso também à Política Nacional de Assistência Estudantil, podendo receber bolsas ofertadas por esta política. Além disso, bolsas de extensão e de pesquisa podem compor a renda desses alunos.

Além dessas formas de custeio suplementar, bolsas específicas ofertadas pelo MRE podem ser repassadas aos estudantes-convênio. O Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior (Promisaes), conforme pode-se encontrar no site do MEC

tem o objetivo de fomentar a cooperação técnico-científica e cultural entre o Brasil e os países com os quais mantém acordos em especial os africanos nas áreas de educação e cultura. O projeto oferece apoio financeiro no valor de seiscentos e vinte e dois reais para alunos estrangeiros participantes do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), regularmente matriculados em cursos de graduação em instituições federais de educação superior. O auxílio visa cooperar para a manutenção dos estudantes durante o curso, já que muitos vêm de países pobres.

A legislação relacionada ao projeto é o Decreto nº 4.875, de 11 de novembro de 2003, que instituo o Projeto e a Portaria nº 745, de 05 de junho de 2012 que estabelece as diretrizes para execução do projeto e regulamenta sua implementação a nível nacional, e o Edital de convocação nº 011, de 14 de dezembro de 2005, para o qual são chamadas a aderir também ao PROMISAES as instituições que já haviam aderido ao PEC-G.

Sem perda de generalidade, pode-se inferir que o decreto acontece num momento de mudança institucional característico do primeiro mandato do presidente Luiz Inacio Lula da Silva, e do Partido dos Trabalhadores (PT). Ao se criar uma forma específica de fomento ao Programa, mesmo este já estabelecendo a necessidade de custeio próprio por parte do estudante-convênio, admite-se no âmbito do Estado um lugar para as parcerias estabelecidas com países do continente africano. O decreto possui apenas quatro artigos, os quais porém são emblemáticos e importantes de serem citados.

No primeiro, institui-

técnico-científica e cultural entre os países com os quais o Brasil mantenha acordos

às cooperações com países africanos, o decreto não faz menção a isso. A seguir, em seu parágrafo único, reforça Para fins do disposto no caput deste artigo, serão adotadas medidas viabilizadoras do intercâmbio de alunos para que possam freqüentar cursos de

Transcreve-se abaixo os artigos dois, três e quatro

Art. 2o As despesas com o "Projeto Milton Santos de Acesso ao Ensino Superior" correrão à conta das dotações orçamentárias consignadas anualmente ao Ministério da Educação no âmbito do programa Universidade do Século XXI, observados os limites de movimentação e empenho e de pagamento.

Art. 3o Os procedimentos necessários para a execução do disposto no art. 1o deste Decreto serão normatizados em portaria do Ministro de Estado da Educação.

Art. 4o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

O artigo segundo, nos cabe salientar, representa um ponto de inserção de um pensamento contra hegemônico na dinâmica do estado brasileiro, o qual será melhor abordado adiante. O terceiro dá margem a formulação da Portaria nº 745 de 05/06/2012.

Por intermédio do MRE, ocorre a concessão de bolsas de estudo e/ou passagem aérea de retorno em alguns casos específicos. O site do MRE elenca estas bolsas da seguinte forma:

Bolsa Mérito: concedida a estudantes-convênio que apresentem notável

rendimento acadêmico após o primeiro ano de graduação. Além de bolsa mensal, o bolsista Mérito recebe passagem aérea de retorno ao seu país, após o término da graduação. Mais informações.

Bolsa MRE: concedida a estudantes-convênio de IES não federais que

apresentem debilitada situação financeira após o primeiro ano de graduação no Brasil. Mais informações.

Bolsa Emergencial: concedida em caráter extraordinário, nos casos em que o

estudante se veja em situação de extrema dificuldade financeira de ordem imprevista.

Passagem aérea de retorno: Em alguns casos, a DCE poderá conceder passagem de retorno ao país de origem do estudante-convênio, após a graduação.

A Portaria nº 200 de 20 de março de 2012 regulamenta a concessão de benefícios do MRE. Tal diversidade de insentivos, sobretudo instituídos nos governos do PT(Lula e Dilma) ocorre em resposta e em paralelo à dinâmica da educação superior num mundo marcado pela globalização e pelas pressões externas sobre a produção local de conhecimentos. Ao tratar dos programas de mobilidade acadêmica internacional, é necessário um conhecimento do que leva as instituições acadêmicas e os países a se lançarem no processo de engajamento na dinâmica político-econômica e cultural de um mundo em intensa e progressiva globalização.

Se a experiência do pesquisador, que ora escreve este texto, não pode se identificar plenamente com o afrodescendente, em sua diversidade de experiências que lhe permitiriam pensar e "estabelecer tessituras mais plenas de cores" a respeito da situação da afrodescendência no Brasil, também não posso identificar minha escrita com os agentes discursivos que assumem, fortalecem e reordenam as lógicas e estéticas da repressão étnica. Porém, cabe dizer, não se estará plenamente fora da responsabilidade referida anteriormente: é ela mesma que se enfrenta neste estudo, em último caso.

4.4 O contexto brasileiro contemporâneo: pistas para entender a democracia racial e o