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4 CONFIGURAÇÕES DA PROPOSTA DE UMA AVALIAÇÃO EM

4.3 O PEC-G como via de inserção de estudantes estrangeiros nas instituições-

4.3.3 Os manuais do PEC-G: de 2000 a 2013 uma trajetória de reconstrução de

O manual do PEC-G de 2000 reforça seu texto como norma complementar ao Protocolo então vigente. Informa sobre seu processo de formulação, o qual contou com representações do Fórum de Pró-Reitores de Graduação (FORGRAD) e envolveu reuniões regionais/estaduais com coordenadores do PEC-G nas instituições de Ensino Superior para colher sugestões para o texto do Manual do Programa.

A presença de novos atores a compor a comissão nacional é pontuada, como a representação do Fórum Nacional dos Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE) e do FAUBAI.

Nesse manual, uma referência é feita à forma de avaliação dos resultados do programa, vinculando esses resultados ao desempenho dos estudantes-convênio e das observações encaminhadas pelas IEs participantes aos gestores do PEC-G. Evidencia-se

objetivo (a formação de estudantes de outros países que estabelecem parcerias culturais com o Brasil).

O manual expõe um histórico do programa, o qual surge para denominar iniciativas anteriores que até 1941 eram esporádicas, mas já existiam. Em vista ao crescente número de estudantes percebe-se a necessidade de estabelecer regras e critérios, na forma

contemplavam a formação em instituições brasileiras e seus signatários poderiam então enviar estudantes para universidades nacionais. Aqueles vindos dessa forma se

escolhidos/selecionados por via diplomática. Nessa época, o MRE ficava totalmente responsável pelo processo de seleção e vinda desses estudantes.

Em 1964 congregam-se os referidos convênios em um só Programa, devendo os países que firmavam parcerias culturais e educacionais com o Brasil se fazerem signatários do PEC-G. Uniformizava-se então os procedimentos e a gestão por parte do MRE das referidas parcerias internacionais. Até 1974 o MRE conduz o programa de maneira exclusiva, quando então a participação do MEC passa a ser observada.

O Manual de 2000 passa então a um resgate histórico da participação do MEC, o qual vai ganhando mais espaço na gestão do programa. Importante frisar que a mudança do Primeiro para o Segundo protocolo evidencia a necessidade de simplificar a gestão e se configura a partir de um aumento do número de estudantes vindos pelo programa. Nesse momento o PEC-G passa a não mais se restringir à América latina. O manual qualifica

de transferência e mudança de curso e a ausência de menção a critérios de desligamento do

consecução dos objetivos do programa são estabelecidos no interior do próprio programa como mecanismo coercitivos.

Segundo o manual a melhoria do desempenho dos alunos é visada com a assinatura de um termo adicional de 1981, o qual reforça a necessidade do ensino e aprendizagem da língua portuguesa. A permanência demasiadamente longa do estudante- convênio é vista como algo negativo pelo manual, levando em consideração o objetivo do programa.

O Terceiro protocolo é mais explicito nessas formas de direcionar o aluno a conclusão do curso, estabelecendo a conclusão do curso no tempo mínimo solicitado pelo curso. Dentre outros mecanismos de otimização do percurso formativo do aluno, sobretudo referente ao prazo de sua permanência. Cabe questionar que o rendimento do aluno em outras dimensão que não o ensino, aspecto quantitativo.

Importante salientar um instrumento de avaliação utilizado como norteador da modificação, através de comissão nomeada pela Portaria nº 39 (Diário Oficial da União

Em 1993, o PEC-G no âmbito do MEC retorna à ser administrado pela SESu. Com o quarto protocolo insere-se uma ideia de um período de adaptação do aluno à

protocolo é então assinado, encerrando algumas modificações importantes mas sem alterar sua estrutura mais geral.

O manual atualmente em vigor, por sua vez, é formulado num sentido mais informativo, especificando informações sobre o Brasil e suas regiões. Informa também sobre a educação superior e a seguir direciona-se à informações práticas a respeito da chagada e permanência no Brasil.

Segundo o Manual dos Estudantes-Convênio de Graduação (BRASIL, 2013), o PEC-G se configura como um instrumento de cooperação educacional oferecido pelo governo brasileiro aos países em desenvolvimento, em especial da África e da América Latina, com engajamento de dois ministérios: da Educação (MEC) e das Relações Exteriores (MRE), no sentido de receber estudantes daqueles países.

Ao ser reformulado em 2013, o Manual do PEC-G passa a contemplar nova legislação que trata do tema, o Decreto Nº 7.948, de 12 de março de 2013. Neste, o programa é definido como um conjunto de parcerias educacionais que visam a formação de estudantes vindos, sobretudo, de países em desenvolvimento e o posterior retorno destes aos seus países de origem.

A comissão de seleção não é composta por nenhum órgão explicitamente ligado aos movimentos de afirmação da cultura de matriz africana. Isso, em tese, não implica em exclusão das questões étnico-culturais imanentes a, mas demanda questionamentos a respeito da afirmação de que o programa não possui na questão. Quais as implicações para o modo de gestão do programa no âmbito das IFEs?

Uma alteração específica, ocorrida na reformulação da em 2013 altera substancialmente o direcionamento do programa, antes explicitamente mediado por demandas dos países que enviam seus estudantes, priorizando desde então a iniciativa do estudante (ANDRADE, 2016; MENEGHEL; AMARAL, 2015)

Em sua própria demandas pessoal, as demandas de seus locais de nascimento aparecem de modo mais complexo, se tornando um importante foco de análise, pois uma consequência as demandas sociais dos países passarão a chegar mais através destes e

através das mediações pessoais e profissionais dos estudantes-convênio, e menos das demandas institucionais de Estado dos países que aderiram ao programa.

Esta alteração traz subjacente um fator cultural relevante, pois o contexto mais geral da internacionalização do conhecimento passa por tensões as quais fazem a produção de conhecimento e a atuação profissional serem guiados pela dinâmica dos mercados, sua demandas e necessidades, geralmente dissociadas das demandas locais, sobretudo dos países em desenvolvimento ou em processo de pauperização programa.

Durante a vida acadêmica do estudante-convênio, sua matrícula em disciplinas estará condicionada à regularidade de seu visto. Por outro lado, a protocolo estabelece a existência de dois tipos de vínculos, com suas obrigações e direitos próprios, sendo um com o PEC-G e outro com a IES. Sobre essas relações, o manual destaca alguns pontos referentes à relação entre a vida acadêmica e curricular e a vida de estudante internacional.

Tais características visam o melhor desempenho dos alunos do programa nas instituições brasileiras, equacionando os interesses governamentais com os acordos bilaterais, os direcionamentos específicos das instituições de educação superior, e os interesses e demandas dos países que enviam seus estudantes.

Porém, quando focamos nas parcerias entre Brasil e países africanos, percebe-se que também as políticas públicas afirmativas da cultura de matriz africana entrem nessa equação, pois não basta apenas garantir a vinda dos estudantes, sua matrícula nas instituições e a legalização de sua permanência. O desenvolvimento acadêmico dos estudantes-convênio estará permeado pelo contexto cultural das relações étnico-raciais significadas pelos sujeitos em suas múltiplas interações sociais.

O caminho histórico que, desde a independência em 1822, mantém o país num processo de dependência, se confunde com as vicissitudes da questão étnico-racial em nosso país. As estruturas de governo coloniais foram sendo substituídas progressivamente por outras cujos objetivos se assemelham na finalidade última de manter o poder centralizado em determinados grupos. Estes vinculados de modo mais ou menos intenso aos interesses externos das potências mundiais não apenas de um ponto de vista econômico, mas social e cultural.

No decorrer da história do Estado brasileiro pós-colonial, se modificam as estruturas administrativas e burocráticas, mas a necessidade de uma forma abstrata de

metrópole que dê suporte à economia e à cultura brasílica perdura. A metrópole vai se tornando cada vez mais abstrata, transformando-se em mecanismos de submissão aos capitais internacionais que visualizam no Brasil um lócus propício para a transferência de excedentes. Os ensaios de transformação são sistematicamente suprimidos e extirpados, ou cooptados por processos de aparente transformação. Estes processos, por sua vez, são legitimados por uma apropriação das formações culturais externas, em suas estéticas e éticas características, configurando lógicas, tecnologias e ciências em geral subalternas aos movimentos de pensamento dessas outras culturas.

Em suma, pode-se dizer que a relação entre economia e cultura é uma dialética que acontece no Estado, mas não se limita a ele. A interferência em um dos polos acarreta modificações qualitativas no outro, tendo as estruturas de governo, território e sociedade como fios condutores das interações.

Algo que perdura no Estado brasileiro é justamente uma dissociação entre esses dois elementos (economia e cultura), implicando em intervenções contraditórias do estado brasileiro em ambos os polos, através das políticas públicas, o que interfere de modo negativo na vida da população. Essas ações contraditórias levam, porém, a manutenção do lugar do país na economia mundial. Mesmo quando num espaço de tempo delimitado sejam atingidos avanços significativos, o progresso é barrado por crises internas ou externas das formas de associação entre os indivíduos.

O desenvolvimentismo do Partido dos Trabalhadores (PT) ocorre no cerne dessa contradição e se comporta como uma oposição conciliadora das contradições. Novamente, diversos mecanismos de mascaramento das contradições são construídos em termos das modificações na cultura e na economia mundiais. O moderno e a modernização se apresentam, desde o Regime Militar, nos apresentam a seguinte indagação: como uma revolucionar o parque industrial sem romper com os processos de sujeição da economia nacional aos processos externos e dos planos de mundo de outras economias?

Importante pensar não apenas as estruturas ideológicas puras, mas também as epistemologias que subsidiam e estendem as ideologias. Pode-se pensar a relação entre ideologias e epistemologias como formas intencionais de se compor interpretações e formas de materializar a ideologia em processos, tecnologias, materiais, produtos, formas de administração e, por fim, também políticas públicas. A passagem da ideologia à prática se

dá através de formas epistemológicas de interpretar e interferir na natureza, na sociedade e na cultura.

Se a relação entre cultura e economia em contextos autoritários permite a estagnação das instituições, colocando o Estado como protagonista da dicotomia, por um lado a economia se desenvolve a pleno vapor e a cultura é cerceada pelo aprisionamento político, em sua inércia autoritária, promovendo estabilidade social.

O contexto de austeridade política nos permite questionar o lado negativo da conciliação, pois talvez o desenvolvimento em curso fosse uma rota de derrocada e não realização de objetivos básicos de uma sociedade: a justiça e a plenitude de direitos.

O progresso como mecanismos de atraso os quais recriam instituições e fundam formas de pensar e conviver modernos apenas em sua aparência, faz perceber que a via da conciliação é uma rota de descenso oportunizada pela dinâmica macroeconômica em que o Brasil se insere a partir de 2001. De forma quase irrefreável e pujante, muitas vezes servindo como carro-chefe dos fluxos e defluxos controlados pelo capital estrangeiro. Um padrão de desenvolvimento que pudesse se formular internamente não pode se construir como correlação de forças sociais pois os antagonismos se diluem e se corrompem através de lógicas e processos tem peso político conservador.

O que há de comum nas formas de organizações do Estado brasileiro, deste a independência, é sua instrumentalização como instituição de governo que visa a generalização dos interesses particulares de grupos dominantes cujo direcionamento se mantem economicamente num mesmo foco: a transferência de excedentes como forma de enriquecimento das classes dominantes. Diversos processos de dependência são alimentados pela falta de um parque de produção tecnológica.

Lugar de correlação de forças, porém, o Estado brasileiro é intencionalmente reduzido ao governo e aos poderes, numa tolerância em si repressiva, para utilizar o conceito do frankfurteano Herbert Marcuse. As correlações de forças se resumem às discussões político-teóricas.

Os anseios mesmo da população, para serem minimante atendidos, precisam passar pelo crivo e pela peneira do conservadorismo, da tradição, dos senhores do poder, o que transfigura quase que de saída as políticas públicas e esfacelam o seu poder de mudança social, mudança nos nortes da economia. Assim, nos ganhos individual (de

pessoas ou grupos) e no mascaramento da inevitável ineficácia, diversas políticas são formuladas e executadas, contanto que não retirem de seus lugares as forças dominantes sempre as mesmas. Mascaradas assim, no máximo, as iniciativas mais revolucionárias são colocadas como o exótico, para exemplificar uma democracia na verdade inexistente.