• Nenhum resultado encontrado

4 CONFIGURAÇÕES DA PROPOSTA DE UMA AVALIAÇÃO EM

4.3 O PEC-G como via de inserção de estudantes estrangeiros nas instituições-

4.3.1 O PEC-G e o seu percurso nas instituições de educação superior

A seguir, discuto alguns estudos sobre o PEC-G, no sentido de perceber quais problemáticas têm sido abordadas por pesquisadores que se debruçam sobre o tema. Não esgotando essas produções, detemo-nos em dados gerais como o local onde foram produzidas, em que universidades e programas de pesquisa, quais seus objetivos mais gerais, além de fazer uma breve exposição do horizonte metodológico utilizado. Nosso olhar nesse momento ainda é preliminar e descritivo, buscando um perfil das pesquisas sobre o programa.

Joana de Barros Amaral escreve a respeito do PEC-G como um programa de cooperação internacional que fortalece as relações Sul-Sul, favorecendo as trocas bilaterais não baseadas em contrapartidas econômicas diretas mas numa intensificação dessas

o Programa Estu

apresentada ao Mestrado em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional da Universidade de Brasília, a pesquisadora toma como principais interlocutores os gestores do PEC-G e propõe-se a descrever o modo como MEC e MRE executam, divulgam e procedem na seleção dos estudantes.

Em seguida a esse olhar mais descritivo, a pesquisadora brasiliense discute o ponto de vista de estudantes vindos pelo programa, através da leitura de suas cartas de intensão escritas como requisito para concessão da Bolsa Promisaes. Nestas ela destaca as dificuldades comuns com a vida no Brasil e a busca por concluir um curso de graduação, que será porta de acesso a uma profissão e a uma vida melhores, seja no Brasil seja em seus países de origem. A respeito do programa, além de pontuar sua importância para o fortalecimento das relações bilaterais entre o Brasil e os países do continente africano, -G parece ser um Programa adormecido que, por conseguir manter-se ativo no que se propõe, ou seja, na organização de parte da entrada de estudantes, passa

Também oriunda da Universidade de Brasília, mas pelo Programa De Pós- Graduação Em Linguística Aplicada PPGLA, Yamanaka (2013) apresentou em 2013 sua

-G: experiências, crenças e identidades na aprendizagem d Tematiza em sua pesquisa o português do Brasil como segunda língua, tendo como interlocutores do estudo os estudantes do PEC-G enquanto estão fazendo a preparação para a prova de proficiência em Língua Portuguesa (Celpe-Bras). Nesse sentido, enquanto aborda de maneira central a questão das dificuldades com a língua brasileira e suas especificidades na comunicação do cotidiano, também relata as situações de pertencimento e isolamento na sociedade brasileira vivenciadas pelos estudantes-convênio.

Nesse sentido, as crenças e identidades em construção são interpretadas pela pesquisadora como sendo subsidiados pela linguagem. São expostos segundo sua estrutura performática sempre móvel e modulada pelas experiências de utilização da língua menos como instrumento e mais como posição de subjetivação. Ou seja, a língua aprendida é algo vivo e mutável, não restrito à gramática mas demandando a incorporação dos processos de significação caraterísticos da cultura nacional que exercita a língua portuguesa, em contexto brasileiro.

Souza (2014), tematiza a interação entre formação profissional e a questão

racial: estudantes africanos/as lusófonos/as negros/as em Universidades Goianas. Apesentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade de São Paulo, a pesquisa analisa criticamente a migração estudantil e localiza essa formação de migrar para outro país no contexto da mundialização do capital. Inserido numa dinâmica de crise estrutural do capital, tomando por base referencias marxianas sobretudo, o pesquisador discute a mobilidade estudantil como requisito para intensificar dois processos conjuntos, o de precarização do trabalho e a racialização de trabalhos com qualificação técnica e tecnológica.

No entanto, o que poderia aparecer como uma maneira de contradizer essa dinâmica através da qualificação de nível superior ofertada aos estudantes migrantes, revela na verdade uma otimização de ambos os processos pois intensifica a mobilidade de uma

valor-dissociação de Roswitha Scholz, isso é possível através de uma cultura da discriminação e do racismo, mantido de maneira estruturada e generalizada, cuja base de entendimento é a dissociação entre o valor do tempo de trabalho masculino (especializado, capaz de agregar mais valor as mercadorias) e o valor do tempo de trabalho feminino (menos especializado em comparação ao masculino e cuja capacidade de agregar valor é sempre menor, mesmo em atividades semelhantes às masculinas).

a teoria do valor-dissociação permite estender a lógica de dominação de uma sociedade patriarcal para as relações raciais. Nesse sentido, o estudante migrante negro será, em geral, um estudante inferiorizado que, mesmo formado em nível superior e exercendo atividades de alta complexidade, poderão ser pior remunerados devido a sua etnia.

De um ponto de vista político, Djaló (2014) descreve o papel dos estudante do PEC-G e do PEC-PG nas relações Sul-Sul entre Brasil e Guiné-Bissau. Escrita no âmbito de Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa

Ca -Sul: A Cooperação Brasil

Guiné-Bissau Na Educação Superior No Período De 1990

formação superior ofertada pelo Brasil à estudantes guineenses no desenvolvimento de uma cultura universitária no país africano. Ao disseminar a formação em nível de graduação e pós-graduação, o pesquisador destaca que ao se formarem em instituições brasileiras, os estudantes passam a ser representantes da possibilidade de integração da formação universitária à identidade nacional guineense. Isso significa, a partir da ótima das entrevistas feitas sobretudo com estudantes da pós-graduação, uma mudança na mentalidade das instituições governamentais do país, a quais priorizam a formação em nível de educação básica.

Utiliza-se o pesquisador guineense da noção de soberania nacional para retratar a formação de nível superior como condição necessária e fundamental para a com concretização dessa soberania. Nesse sentido, estudantes em formação pelo PEC-G e pelo PEC-PG são chamados à integrar um grupo específico com responsabilidades na reconstrução de uma cultura acadêmica e intelectual atenta às demandas locais de Guiné- Bissal.

Em sua dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Antropologia Social, Okawati (2015) faz uma apreensão antropológica da presença africana em Florianópolis-Brasil. Destaca a pesquisadora que a vida acadêmica não limita a presença dos estudantes do PEC-G no Brasil. Ao chegarem, eles interagem com a comunidade local em espaços diferentes da universidade, o que interfere em suas maneiras de perceber e significar a permanência no Brasil. Ir fazer compras e sustentar-se com recursos limitados, recordar através de festas e encontros de grupos a vida em seus países de origem, escutar o que as pessoas falam (com palavras e silêncios) sobre sua presença, em diversos momentos como estes a vida universitária é tensionada e o desempenho acadêmico é trespassado pelos sentidos atribuídos à migração e à estadia em outro país.

Cabral(2015), no âmbito do Programa de Pós-graduação em Sociologia da

africanos nas instituições de Ensino Superior brasileiras: O Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PEC-

quanti-qualitativa da situação educacional e econômico-social de estudantes do PEC-G no Sul do país, o pesquisador tematiza sobretudo o fator econômico e as dificuldades desses estudantes em se manter no país. Seu estudo é feito em duas instituições de educação superior do Rio Grande do Sul, a UFRGS e a PUCRS e dentre suas conclusões destaca-se a presença da família dos estudantes-convênio como principal suporte, seja com incentivado ao ingresso seja como mantenedores financeiros da permanência de tais estudantes migrantes. Fenômeno também analisado pelo pesquisador é a dificuldade financeira e a diferença entre o que exposto pelos estudantes no Termo de Responsabilidade Financeira (no qual o estudante atesta ter recursos financeiros próprios para custear sua via no Brasil) e sua real capacidade de se manterem no país.

Em vista a superar essa dificuldade, dentre outras encontradas em seu percurso acadêmico, os estudantes analisados pelo pesquisador sulista formam redes de ajuda entre os estudantes que já estão a algum tempo no Rio Grande do Sul e os estudantes do PEC-G que chegam no estado. Fundamentais para a permanência no Brasil, essas redes de ajuda se direcionam não apenas à ajudar em situações cotidianas e conjunturais, como a chegada no aeroporto ou encontrar um lugar para morar, mas colaboram no enfrentamento das

situações recorrentes de discriminação e mesmo racismo institucional pelo qual passa o estudante migrante.

O Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas é

palco de Bizon(2013) -

Bras e o Convênio PEC-G: A Construção de Territorialidades dm Tempos De

apreensão do português como fator de desterritorialização e reterritorilização de quatro estudantes congoleses que fazem o curso preparatório para o Celpe-Bras. A partir do registro das aulas e de conversar informais com esses estudantes e centrando na apreensão da língua por estudantes de um mesmo país, a República do Congo, a pesquisadora consegue retratar e analisar as mudanças, singularidades e mobilidades discursivas durante os processos de inserção e interação social a medida que esses estudantes vão se apropriando do português. Se o exame Celpe-Bras é significado como importante aval institucional para a estadia do migrante e seu reconhecimento como interlocutor capaz de dialogar e de comunicar, o regramento do PEC-G surge como empecilho à continuidade do processo de engajamento discursivo na cultura brasileira e no lugar onde estão situados.

Valendo-se de um referencial pós-moderno, destaca-se em sua pesquisa o conceito de des(re)territorialização de Deleuze e Guattari, em que se destaca o território não como um lugar físico e fixo, mas como um estado e um processo de agenciamento pelo qual o sujeito se faz passar (perfomatividade). Nesse sentido, o sujeito migrante africano congolês, no caso da pesquisa de Bizon (2013), se engaja na cultura e apropria-se de lugares de sujeito típicos do brasileiro e utiliza esses lugares para desenhar o seu próprio lugar de discurso. Por outro lado, também interage com outros migrantes e com suas formas singulares de significar a presença congolesa numa determinada instituição.

Como uma de suas principais conclusões, a pesquisadora destaca que os regramentos do PEC-G e do Celpe-Bras são pontos de tensão nesses processos de localização dos estudantes africanos, pois suas interações comunicativas estarão sempre perpassadas por ordenamentos legais, demandando interações conflitivas (como no caso de ter que dialogar com servidores da polícia federal para tirar os vistos ou com gestores locais do PEC-G) ou mesmo interações construtivas (no caso da relação professor-aluno por ocasião do curso de proficiência em língua portuguesa).

Em 2011, João Paulo Pinto Có apresenta em sua dissertação de mestrado - -graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tomando como base analítica o cotidiano significado pelos estudantes de Guiné-Bissau, o pesquisador guineense pensa o

estabelecendo relações de aproximação e afastamento entre o resgate da cultura africana pelas comunidades negras nativas brasileiras e o resgate da cultura africana feita por estudantes do PEC-G quando chegam ao Brasil vindos de Guiné-Bissau.

Nesse sentido, tematiza o processo de construção da identidade nacional guineense tensionada pela mobilidade estudantil e pela interação com a cultura brasileira. A marcação da diferença, feita durante festas e através da mobilização de associações, corporifica uma resistência à sociedades (de Fortaleza e Natal) pouco abertas a interação construtiva com novas manifestações culturais africanas.

Ainda no contexto do Rio Grande do Norte, Filgueira(2014) apresentada em 2014, para a obtenção do Grau de Mestre em Ciências da Educação, no Curso de Mestrado em Ciências da Educação da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, a

E Da Guiné-Bissau Programa De Estudantes Convénio De Graduação/Universidade

No contexto retratado pela autora, destacam-se os contextos de conflito e dificuldades de interação entre a comunidade acadêmica e os estudantes cabo-verdianos e guineenses. Isso se deve à representações feitas pela comunidade local de um grupo que vem para ocupar vagas originariamente pertencentes á brasileiros. Destaca a autora que uma análise quanti-qualitativa retrata a prioridade dada pelo estudante do PEC-G à conclusão de seu curso, ficando algumas questões deixadas de lado quando diante da vida acadêmica de suas demandas. Terminar o curso de torna um objetivo acima de outros que possam surgir, mesmo diante de conflitos e situações de discriminação. Nesse sentido, a descrição qualitativa feita pela pesquisadora mostra que os estudantes migrantes silenciam sobre sua vida e sua presença, principalmente no que diz respeito às situações de racismo pelas quais tem passado. Do ponto de vista quantitativa, destaca que os estudantes-convênio

da UFRN, no momento de sua análise, cursam mais disciplinas do que o mínimo exigido pelo programa.

Barros(2007), em sua dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tematiza especificamente a cooperação entre Brasil e Cabo-verde. Intitula

africana do brasil e o seu consequente Acordo de Cooperação Cultural com os países africanos: o caso do intercâmbio educacional com Cabo-

analisa o contexto cabo-verdiano em seus vários aspectos geográficos, sócio-políticos e econômicos, bem como o contexto educacional da educação superior no país. Em seguida, faz um estudo bibliográfico da política africana no Brasil e delineia pistas a partir de notícias e percepções a respeito de documentos dos Ministérios da Educação e das Relações Exteriores do Brasil.

4.3.2 O PEC-G nos circuitos virtuais oficiais: Os sites do DCE/MRE e da SeSu/MEC: