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CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Avaliação

2.4.1 Comunicação sincrônica por escrito – o chat – e as implicações para

2.4.1.2 Fonologia Prosódica: a frase entoacional

Esta seção traz uma breve introdução de alguns conceitos da Fonologia Prosódica (destacando a constituição das frases entoacionais), uma vez que nossa perspectiva para a investigação das características da linguagem do chat no TTD parte do pressuposto de que a heterogeneidade da escrita (assim como da língua) se reflete na fragmentação das mensagens observadas durante as interações via chat (vide seção sobre análise dos dados), a qual parece estar relacionada ao conceito de frases entoacionais. A Fonologia Prosódica é uma área de estudos definida por Nespor e Vogel (1986, p.6) como uma teoria que organiza a cadeia lingüística em constituintes que, por sua vez, formam os contextos nos quais as regras fonológicas se aplicam. Essa

sintaxe-fonologia e tem como papel mais importante o estabelecimento (i) da noção de que a fala é organizada hierarquicamente em constituintes prosódicos os quais são construídos a partir de informações de outros componentes da gramática, e (ii) dos modelos de análise da relação entre fonologia e os demais módulos da gramática. Cumpre observar que tal relação não é do tipo isomórfica, ou seja, a análise focaliza os constituintes prosódicos construídos, por exemplo, a partir de informações sintáticas, mas esses constituintes prosódicos não correspondem a constituintes sintáticos.

De acordo com tal proposta, os constituintes prosódicos dispõem-se hierarquicamente da seguinte maneira: sílaba ( ó ), pé ( ), palavra fonológica ( ù ), grupo clítico ( C ), frase fonológica ( φ ), frase entoacional ( I ) e enunciado ( U ). Em razão da natureza dos dados que analisamos, interessa-nos tratar, de maneira mais detalhada, da caracterização da frase entoacional (I). Desse modo, assumimos a caracterização das Is de acordo com Nespor e Vogel (op.cit.):

a regra básica de formação de I fundamenta-se nas noções de que a frase entoacional é o domínio de um contorno de entoação e que os fins de frases entoacionais coincidem com posições em que pausas podem ser introduzidas na sentença. (p.188)

Uma frase entoacional se caracteriza, ainda, por agrupar uma ou mais frases fonológicas (φ) com base em informação sintática e, segundo as autoras, além dos fatores sintáticos, desempenham um papel importante na formação das Is, fatores semânticos relacionados à proeminência e a aspectos do desempenho (como rapidez da fala e estilo). Existem certos tipos de construções que formam domínios de entoação próprios, ou seja, que obrigatoriamente constituem Is, como (i) vocativos, frases parentéticas e intercaladas e (ii) a noção sintática de sentença raiz (root sentence), conforme definidas por Edmonds (1976, apud Nespor; Vogel, op.cit.). Vale ressaltar que, da mesma maneira que ocorre com os outros constituintes prosódicos, a definição de I utiliza noções (morfo-)sintáticas, mas as estruturas resultantes não apresentam,

necessariamente, uma relação de um-para-um com nenhum constituinte encontrado na gramática.

Ainda segundo o trabalho de Nespor e Vogel (op.cit.), existem alguns fatores que podem determinar a reestruturação de uma I, como:

(i) Comprimento: a reestruturação em constituintes menores ocorre por razões que podem ser fisiológicas (como fôlego) ou por razões relacionadas a cadeias ideais para o processamento lingüístico. Parece haver uma tendência para se estabelecer Is de um comprimento médio, mais ou menos uniforme – embora não se possa caracterizar qual é precisamente esse comprimento ideal.

(ii) Rapidez da fala: a rapidez da fala está intimamente ligada ao comprimento, uma vez que a probabilidade de se fragmentar uma I longa aumenta na medida em que ela é enunciada de maneira mais lenta, o que leva à consideração de noções como ritmo e tempo.

(iii) Estilo: o papel do estilo na reestruturação de uma I está relacionado à rapidez da fala, pois um estilo formal normalmente apresenta ritmo de fala mais lento o que leva à fragmentação em várias Is menores.

(iv) Proeminência contrastiva: observa-se que a reestruturação de uma I em razão desse fenômeno quando, com o intuito de auxiliar a interpretação de uma I, a proeminência é colocada em alguma expressão que normalmente não a receberia, criando um novo contorno entoacional e levando à reestruturação de uma I longa em outras menores.

Os autores apontam, ainda, muitos outros aspectos a serem observados quanto à caracterização das frases entoacionais. No entanto, considerando a irrelevância de tais aspectos para os objetivos estabelecidos para esta investigação, remeto os leitores aos trabalhos citados nesta seção.

A título de fechamento desta discussão, faz-se necessário salientar a premissa que ‘alinhava’ o recorte teórico feito neste trabalho. Buscou-se abordar as questões centrais que se inter-relacionam na constituição da aprendizagem contínua para todos na chamada sociedade da informação, (BRUNNER, 2004) por meio da discussão do conceito de ensino e aprendizagem em contexto tandem. Com esse pano de fundo, consideraram-se as características da prática avaliativa, especificamente, da auto- avaliação, a fim de se destacarem os aspectos mais relevantes que tais propostas têm em comum. Nesse sentido, cumpre salientar a premissa da avaliação sustentável (avaliação que satisfaz as necessidades presentes e prepara o aprendiz para satisfazer as próprias

necessidades futuras), a qual tem um forte apelo ao desenvolvimento da autonomia

sem, no entanto, desconsiderar seu aspecto colaborativo. Isso, em termos vigotskianos, significa o reconhecimento de que o processo de aprendizagem (de línguas, de uma profissão, do uso da tecnologia etc.) se caracteriza pela relação dinâmica entre indivíduo e sociedade que, no caso desta pesquisa, é mediada pela tecnologia. Salienta-se, assim, a necessidade de se discutir de que maneiras o uso da tecnologia influencia a comunicação e o processo de ensino-aprendizagem entre os participantes de uma parceria tandem.

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