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Metacognição: estratégias metacognitivas e conhecimento

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 O papel das diferenças individuais no processo auto-avaliativo

2.2.3 Metacognição: estratégias metacognitivas e conhecimento

De acordo com O´Malley e Chamot (1990, p.105), estratégias metacognitivas (EsM) são aquelas envolvidas no pensar sobre e no controle do processo de aprendizagem, enquanto o conhecimento metacognitivo (CM) é o conhecimento que se

tem dos próprios processos cognitivos, assim como dos processos cognitivos de outras

pessoas, em relação à aprendizagem. Considerando-se que “pensar sobre e controlar o

processo de aprendizagem” necessariamente envolve “o conhecimento que se tem sobre como se aprende” pode-se inferir que o uso que se faz das EsM é um reflexo do CM. Essa inferência tem respaldo em Wenden (1999, 2001), que afirma que o CM e EsM são aspectos complementares do conceito de metacognição28. Em seu trabalho de 1998, a mesma autora classifica essa porção especializada do conhecimento em três tipos:

28 A esse respeito, vale notar alguns aspectos coincidentes entre a definição de metacognição e crenças

conhecimento pessoal – conhecimento que os aprendizes possuem a respeito das maneiras como fatores cognitivos e afetivos podem influenciar a aprendizagem e como tais fatores se aplicam a suas experiências pessoais;

conhecimento da tarefa – subdivide-se em (i) conhecimento do propósito da tarefa (e a relação com as próprias necessidades de aprendizagem), (ii) conhecimento do tipo de tarefa, (iii) conhecimento sobre as exigências da tarefa (e a relação com as habilidades necessárias para realizá-la);

conhecimento estratégico – conhecimento sobre quais estratégias utilizar, quando e como usá-las, incluindo conhecimento sobre como melhor abordar a aprendizagem de línguas.

Wenden (2001) ainda afirma que o CM tem um papel crítico na auto-regulação da aprendizagem desde que as EsM (planejamento, monitoração e avaliação) que operacionalizam tal conhecimento tenham contato com uma base rica de conhecimento. Esse pressuposto também parece estar em harmonia com os achados de O´Malley e Chamot (op.cit.) que articulam uma relação íntima e indissociável entre EsM e CM. Apontando na mesma direção, Anderson (2002 s/p) sugere que a metacognição envolve entender (CM) e controlar (EsM) os processos cognitivos e, por esse motivo, tem um

papel crucial na aprendizagem. Segundo o autor, a metacognição envolve:

(i) preparar ou planejar a aprendizagem (em relação a uma meta) – envolve pensar sobre o que se precisa (ou quer) realizar e como se pretende fazer isso;

(ii) selecionar e usar estratégias de aprendizagem – envolve pensar e tomar decisões conscientes sobre o processo de aprendizagem;

(iii) monitorar o uso das estratégias – envolve se perguntar periodicamente se o uso das estratégias está em harmonia com suas intenções a fim de se manter na rota desejada;

(iv) orquestrar várias estratégias – coordenar, organizar e fazer associações entre as várias estratégias disponíveis;

(v) avaliar o uso das estratégias e a aprendizagem – envolve refletir sobre o ciclo como um todo e se perguntar: o que estou tentando realizar/alcançar? quais estratégias estou usando?; quão bem estou usando as estratégias?; o que mais posso fazer?.

Cumpre observar que os estágios da metacognição propostos por Anderson (op.cit.) apresentam alguns aspectos em comum com as definições das diferentes estratégias metacognitivas propostas por O´Malley e Chamot (1990), conforme mostra o quadro que resume a proposta desses autores:

Quadro 07: Classificação das estratégias metacognitivas, com base em O´Malley e Chamot (1990) ESTRATÉGIA DESCRIÇÃO

Planejamento Estratégia envolvida no início do processo, na organização da

aprendizagem (prever resultados, programar atividades etc), podendo ser influenciada pelos objetivos de aprendizagem e pelo insumo

Atenção seletiva Decidir com antecedência os aspectos específicos que serão focados

durante a tarefa de aprendizagem

Atenção direcionada Decidir com antecedência manter a atenção durante a execução da tarefa Auto-gerenciamento Entender as condições que auxiliam o sucesso na execução da tarefa de

aprendizagem e providenciar para que tais condições estejam presentes

Auto-monitoração Verificar ou corrigir a própria compreensão/produção (escrita ou oral) no

decorrer da tarefa de aprendizagem

Identificação de problemas Identificar o ponto central que necessita de solução em uma tarefa ou um

aspecto da tarefa que pode prejudicar o sucesso de sua realização

Auto-avaliação Verificar os resultados da própria aprendizagem em relação a um

parâmetro interno, depois que a aprendizagem se completou

Assim como a classificação dos estágios metacognitivos de Anderson (2002), as definições propostas por O´Malley e Chamot (1990) evidenciam a importância desses processos para a regulagem da aprendizagem por explicitarem seu envolvimento em todas as etapas do processo: antes (por meio do planejamento e seleção), durante (por

meio da atenção, monitoração e gerenciamento) e depois que a tarefa de aprendizagem se completa (por meio da auto-avaliação).

No entanto, observa-se que, principalmente as definições de O´Malley e Chamot (op.cit.), sugerem conceitos estáticos, como se o processo de aprendizagem fosse facilmente fragmentado para fins de observação. Sob essa perspectiva, a auto-avaliação parece encerrar o ciclo de aprendizagem, o que não é exatamente a perspectiva adotada nesta investigação.

O conceito de auto-avaliação adotado neste trabalho será discutido mais detalhadamente na seção 2.3. Por ora, é importante que se considere, com base no quadro sobre estratégias metacognitivas, e na classificação de Anderson (op.cit.) a “relação cíclica” que parece se estabelecer entre as estratégias metacognitivas por meio da auto-avaliação. Levando-se em conta as perguntas propostas por Anderson (op.cit.) no estágio avaliativo de seu modelo metacognitivo, observa-se que os subsídios para a realização da auto-avaliação são obtidos a partir do monitoramento, que opera de acordo com os aspectos focados pela atenção e pelo planejamento que, por sua vez, estão relacionados às metas estabelecidas. Isso implica reconhecer o papel integrador desempenhado pela auto-avaliação entre as fases sugeridas para o processo metacognitivo.

Além disso, se considerarmos que a operacionalização das estratégias é um reflexo do conhecimento metacognitivo e que esse está articulado às outras características individuais dos aprendizes e que esses, por sua vez, estão inseridos em contextos que impõe diferentes restrições a suas atuações, podemos perceber um caráter relacional e cíclico entre essas variáveis. Propomos o diagrama a seguir como uma tentativa de ilustrar a maneira como as variáveis podem operar nesse ciclo:

atenção seletiva/ dir etiva planejamento metas monitor ação ger enciamento DIs

AA

DIs DIs contexto DIs

Diagrama 02: Ciclo metacognitivo

O diagrama sugere que a auto-avaliação alimenta o ciclo e promove os ajustes necessários, caracterizando a regulação ou gerenciamento da aprendizagem e, ao mesmo tempo, se alimenta das informações fornecidas pelos outros componentes do ciclo, tornando-se gradualmente mais complexa e precisa, num processo em espiral. Esse pressuposto está em consonância com o que afirmam O´Malley e Chamot (1990, p.99) a respeito dos aprendizes sem abordagens metacognitivas: são essencialmente aprendizes sem direção e habilidade para revisar seu progresso, realizações e direções de

aprendizagem futuras (grifo meu).

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