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Embora a maioria seja favorável, também concorda que para ocupar cargos, deve-se ser pessoas técnicas na área. Prevalecem também majoritariamente os que não pretendem se envolver sendo candidatos, apenas votando e às vezes apoiando algum pretendente a vagas tanto no legislativo como no executivo.

5.3 A relação dos Evangélicos com a política

A política e a religião sempre estiveram presentes na vida de todos. A morte de Jesus Cristo na época foi uma decisão política; o governante de Israel, Pôncio Pilatos, em uma espécie de plebiscito perguntou ao povo quem deveria ser liberto naquele dia, se Jesus ou Barrabás. O povo escolheu Barrabás. Para Rosendahl (2002), a divulgação do cristianismo também foi em grande parte uma decisão política do Império Romano então comandado pelo Imperador Constantino (Século IV), após sua conversão ao cristianismo. A política e religião em vários momentos históricos caminharam juntas, às vezes nem sempre de “mãos dadas”. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) na Europa é um exemplo dos atritos religiosos e políticos. Para Claval (2007) essa relação entre autoridade política e religiosa é também secular:

Em muitas sociedades, funções políticas, funções litúrgicas e funções religiosas acham-se intimamente associadas. Elas estão, às vezes, nas mãos dos mesmos personagens: as instituições gregas e romanas apresentam traços de uma tal situação. [...] Em outras partes, a associação da religião e do poder toma outras formas: no Oriente Médio e no mundo mediterrâneo, o imperador é divinizado, o que confere à sua autoridade uma dimensão universal; a característica é comum a Alexandre e a Augusto. No mundo cristão, a Igreja garante as instituições políticas, apresentando o monarca como de direito divino. (CLAVAL, 2007, p.333).

O contexto da política uberlandense encontra-se intrinsecamente entrelaçado com os evangélicos a partir das eleições municipais dos anos oitenta, quando aumentou consideravelmente o número de evangélicos. O resultado das entrevistas feitas pela pesquisa mostrou que a maioria dos pastores e líderes ouvidos não tem resistência quanto à participação na política, mas quase todos são unânimes, que para participar da administração ocupando cargos comissionados, a pessoa deve ter conhecimento técnico da área. Quanto a essa participação o pastor e teólogo Edward Robinson Cavalcanti (1993) que é político não economiza nas suas palavras defendo essa interação:

Ninguém mais que este autor tem defendido a ampla e ativa participação dos evangélicos na vida nacional, uma forte e vigorosa presença em todos os setores de nossas instituições políticas. Todo o processo ainda é tímido. Estamos sub-representados ou ausentes em muitas áreas. É preciso mais, muito mais. (CAVALCANTI, 1993, p. 136).

Como veremos no decorrer de algumas citações a seguir, alguns são teólogos e/ou membros de denominações evangélicas que defendem a “aliança” da atividade política com a vida religiosa. Alguns membros de igrejas evangélicas pedem oração para os governantes e mencionam a Bíblia; outros já são contra esse envolvimento. O Pastor Cavalcanti (1993) que é ferrenho defensor da militância dos evangélicos na vida pública do país, sendo inclusive filiado ao Partido dos Trabalhadores - PT, e já tendo sido se candidatado pelo PT, enfatiza que a omissão pode ser prejudicial, e que o engajamento é uma dádiva:

Como seres sociais, somos naturalmente seres políticos. Não há uma escolha de exercermos ou não a nossa cidadania. A questão é como a exercemos: com consciência e responsabilidade ou de modo alienado e irresponsável. Há uma ética da cidadania, que é a base para toda ética social. Isso se relaciona intimamente com a compreensão do propósito para as nossas vidas. (CAVALCANTI, 1993, p.123).

O político que não considerar o eleitorado evangélico estará desprezando um eleitorado de 23% (IBGE) da sociedade, e em Uberlândia de 25,2%, lembrando que os evangélicos são mais fiéis no voto no que quesito a seguir orientação do dirigente. O exemplo mais contundente é o da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) como iremos ver adiante. Haesbaert (2006) lembra que o político deve sempre estar atualizado com os acontecimentos para não se perder no meio eleitoral: “Todo político, inclusive, deve ter consciência, hoje, da necessidade de conhecer princípios elementares de geografia política – seja para melhor manobrar seus redutos eleitorais, seja para entender as estratégias mais amplas do jogo (geo) político”. (HAESBAERT, 2006, p.14).

Nos anos oitenta, até então um número pequeno, 6,6% no país e Uberlândia atingindo 7,2%, se intitulavam evangélicos, portanto uma parcela que não era ainda suficiente para decidir grandes eleições; mas, na Constituinte em 1988 os evangélicos já tiveram uma participação até certo ponto ativa, pois negociaram os cinco28 anos de mandato para o então

presidente José Sarney, em troca de concessões de rádio e televisão, inclusive o autor da

28 A Emenda dos cinco anos para José Sarney foi apresentada por um deputado evangélico, Matheus Iensen do PMDB-PR, que também ganhou concessão de rádio.

Emenda Constitucional era um deputado evangélico. Almeida (2009) reforça que os evangélicos compõem um aglomerado eleitoral que não deve ser desprezado:

A partir das eleições de 1982 e, principalmente, de 1986, os candidatos a algum mandato político não somente disputavam os votos dos evangélicos como também eram evangélicos, tornando-se, portanto, para boa parcela da população, uma alternativa política. Em 1986, os pentecostais conseguiram eleger dezoito candidatos, o que contrastou, em muito, com os dois eleitos em 1982; além destes, os protestantes históricos elegeram 16 deputados. (ALMEIDA, 2009, p.39).

Estar bem informado é um adjetivo importante na carreira de qualquer político. Boff (2005) defende a participação da igreja na política e, consequentemente nas questões sociais e ainda critica setores conservadores de se aliarem aos poderosos. Para Boff é necessário critério:

A Igreja se aproxima das classes dominantes que controlam o Estado e organiza suas obras no seio ou a partir dos interesses das classes dominantes: assim os colégios, as universidades, os partidos cristãos etc. Evidentemente, trata-se de uma visão do poder sagrado articulado com o poder civil. A Igreja dá a sua interpretação a este pacto: ela quer servir ao povo e às grandes maiorias pobres; estes são carentes, não têm meios, instrução, participação. Para ajudá-los, ela se aproxima daqueles que efetivamente têm condições de ajudar, que são as classes abastadas. Educa-lhes os filhos para que estes, imbuídos de espírito cristão, libertem os pobres. (BOFF, 2005, p. 29).

Boff (2005) enfatiza que nessa estratégia, criou-se uma vasta rede de obras assistenciais e acrescenta também a possibilidade de se criarem líderes autoritários e até possivelmente totalitários, e critica os que são contra essa participação e/ou envolvimento da Igreja com a política. O diletantismo de certas denominações como a Congregação Cristã do Brasil e a Igreja Deus é Amor faz com que elas não se envolvam em política. Boff (2005), no entanto, não retroage de sua posição quanto a essa participação da Igreja, e necessariamente, dando apoio aos mais necessitados. Em toda a sua obra, Boff não cessa de focalizar os ensinamentos sociais e políticos deixados por Jesus:

Opção preferencial pelos pobres: é a expressão teológica que subjaz ao compromisso cristão. Os pobres foram os privilegiados por Jesus, não pelo fato de serem bons e abertos, mas pelo fato de serem pobres: “Criados à imagem e semelhança de Deus para serem seus filhos, esta imagem jaz obscurecida e também escarnecida [pela pobreza]. Por isso, Deus toma sua defesa. Assim é que os pobres são os primeiros destinatários de sua missão”. Assumindo a causa da justiça dos pobres, a Igreja coloca-se no mais puro seguimento de Jesus. (BOFF, 2005, p.62-63).

Em busca desses pobres, várias são as atividades feitas pelos evangélicos na cidade no intuito de sua evangelização. A Marcha para Jesus que é realizada anualmente no mês de junho no dia de Corpus Christi, tem sido uma oportunidade a mais para os políticos locais. Pedalando com Jesus é um passeio ciclístico também presente na cidade em evento anual, e é patrocinado pela Igreja Presbiteriana. A figura 34 indica as movimentações da marcha para Jesus de 6/2017, o carro de som usado no evento foi patrocinado pelo Vereador Thiago Fernandes Mendes da Igreja Monte Sião. Para alguns teólogos, a Marcha para Jesus é um contraponto à Parada Gay.