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Figura 1: Igreja Evangélica Congregacional – João Pessoa PB

CAPÍTULO 3 3 Uberlândia: um polo regional

3.2 Processo de ocupação populacional do Triângulo Mineiro e do município de Uberlândia

A ocupação da região e do município de Uberlândia remonta à presença dos índios da etnia Caiapós, sendo a cidade de Indianópolis a mais antiga da região. No que tange ao surgimento do município do atual Triângulo Mineiro, essa área já pertenceu juntamente com toda a região (entre rios Grande e Paranaíba) a São Paulo, depois ao Estado de Goiás (1736 a 1816) e por Carta Régia (assinada por D. João VI) se integrou em definitivo a Minas Gerais em 1816. (MELLO, 1981). Todo o Noroeste de Minas, durante o período de 1711 a 1798 fazia parte do município de Sabará, à época Sabará-buçu, nome dado em homenagem ao Bandeirante Borba-Gato. Até então, o Estado de Minas Gerais, ou Capitania das Minas Gerais, contava com apenas cinco municípios, que eram: Mariana, São João Del Rei, Vila Rica (Ouro Preto), Arraial do Tijuco (Diamantina) e Sabará-buçu.

Em 1798, lideranças políticas de Paracatu, principalmente Capitão Paracatu e família Melo Franco reivindicaram junto a Dª. Maria I “A Louca” a elevação do arraial a Distrito. A nora de Dª Maria I, Carlota Joaquina, estava grávida e toda a família Real almejava um filho homem. Ela respondeu dizendo textualmente: “se meu neto for homem, eu concedo a emancipação”. MELLO (1981). Foi o que aconteceu. Em 12/10/1798 nasceu D. Pedro I; Dª. Maria I então criou o Distrito que recebeu o nome de Vila do Paracatu do Príncipe, em homenagem ao recém-nascido príncipe. O novo Distrito era composto de uma área de quase um terço do Estado de Goiás, abrangendo Sertão da Farinha Podre (Triângulo Mineiro), Alto Paranaíba e Chapadões do Paracatu. Sertão da Farinha Podre era o nome dado ao arraial de Uberaba que se estendia por todo o atual Triângulo Mineiro. O aldeamento era local para pouso de tropas e, para colonizar, foi “necessário” executar índios Caiapós da região. Até então, a região do Sertão da Farinha Podre era apenas passagem de pessoas vindas do Estado

de São Paulo para as minas dos estados de Goiás e Mato Grosso. Para exterminar os índios foram incisivas algumas providências. Lourenço (2002) detalha que foi contratado Pires de Campos da cidade de Cuiabá-MT para fazer o serviço que com exagerada violência fez grande parte do trabalho:

Com grande violência, repeliu os caiapós em todo o trecho da estrada entre os rios Paranaíba e Grande, na região que, do final do século XVIII em diante, passaria a ser conhecida por Sertão da Farinha Podre. Em seguida, obedecendo ainda à determinação do governador paulista, fundou alguns aldeamentos ao longo do trecho, onde distribui seus índios bororos, que doravante se tornariam responsáveis pela defesa do trânsito da estrada. (LOURENÇO, 2002, p. 37)

Entre os aldeamentos citados por Lourenço (2002) estão Rio das Pedras – atual Cascalho Rico (1750), Santana _ atual Indianópolis (1750), Desemboque (1760) e

Miraporanga (1860). Uma das funções dos aldeamentos era o pouso e segurança para os que transitavam pela picada com destinos às minas. O arraial São Pedro do Uberabinha iniciou também no mesmo período de Miraporanga mas sem a função de aldeamento. Ainda sobre os conflitos dos índios na região do Sertão da Farinha Podre, Lourenço (2002) acrescenta que:

Em 27 de outubro de 1809, o sargento-mor Antônio Eustáquio Silva Oliveira, estabelecido no arraial do Desemboque, foi nomeado comandante Regente dos Sertões da Farinha Podre e curador dos índios. Esse ato selou o destino deles: suas terras foram espoliadas nos anos seguintes e, na segunda metade do século XIX, desapareceram completamente os registros sobre os índios da Farinha Podre. (LOURENÇO, 2002, p. 49).

Continuando o processo de ocupação, depois da Emancipação de Paracatu e a sua integração ao Estado das Minas Gerais (1816), aconteceram outros processos originários do grande município recém-criado. Desemboque, com a transferência da região para Minas Gerais, perdeu sua posição de destaque para São Domingos de Araxá e depois para o arraial Sertão da Farinha Podre, futuramente como o nome de Uberaba. O arraial de Sertão da Farinha Podre iniciou em 1816 e denominando Uberaba em 1820. Araxá foi o primeiro município a se emancipar em 1831, com o nome de São Domingos. Em 1836 Uberaba se emancipou de Paracatu e sua área veio a corresponder toda a região do pontal Triângulo Mineiro. Também passou a ser o principal núcleo urbano, superando Desemboque. A ocupação da região foi se dando gradativamente, principalmente por pessoas vindas da já

saturada mineração de Mariana, São João Del Rei e Vila Rica, atual Ouro Preto. O Regente do Sertão da Farinha Podre, Sargento Antônio Eustáquio foi um dos que vieram de Vila Rica.

Lourenço (2002) chama a atenção para a importância da fundação desses arraias no Sertão da Faria Podre e de seu contexto religioso: “A fundação dos arraiais do Extremo Oeste Mineiro resultou, em todos os casos, de iniciativas das oligarquias rurais, pela formação de patrimônios religiosos”. (LOURENÇO, 2002, p. 197). Para Lourenço (2002) um grupo de fazendeiros vizinhos doavam um trato de terra do patrimônio. Sobre ele, esses vizinhos, organizados numa irmandade religiosa, erigiam uma capela, e tratavam de conseguir sobre ela a bênção do vigário da freguesia.

Quanto à ocupação da região do atual Pontal do Triângulo pela mineração, vários autores fazem essa citação. A seguir o escrito de Ferreira (2003) que mencionou Azevedo (1910), sobre a mineração em Estrela do Sul, na época, com o nome de Bagagem:

De 1866 a 1868 foram superficial e ligeiramente exploradas por alguns mineiros, procedentes de Bagagem, as cabeceiras do córrego do Garimpo no planalto do Chapadão, onde abundam extraordinariamente o ferro magnético, titânio, a cal e outros minerais; [...] o ribeirão Ouvidor cujas margens apresentam vestígios de mineração, sendo seu leito rico de formações diamantinas. A margem direita do Paranayba, além de reconhecidamente diamantina é aurífera, como auríferos e diamantinos são o rio Veríssimo e todos os seus afluentes. (AZEVEDO, 1910 apud FERREIRA, 2003, p.52). Grifo nosso.

A Ferrovia Mogiana no final do Século XIX ajudou bastante o desenvolvimento regional, e posteriormente neste mesmo contexto, cabe lembrar também a ponte Afonso Pena ligando o Triângulo Mineiro na atual cidade de Araporã ao Estado de Goiás em Itumbiara, o que muito ajudou a região na ampliação dos fluxos; em seguida a construção da Capital Federal Brasília muito movimentou a região. Ab’ Saber (2007) nos reporta a importância do surgimento de Brasília no desenvolvimento regional do Triângulo Mineiro:

No âmbito desse processo, certamente foram importantes as modificações – impulsionadas pela criação de Brasília – na rede urbana e no conjunto demográfico do Brasil Central. A revitalização da rede urbana atingiu todos os quadrantes regionais do domínio dos cerrados: o Triângulo Mineiro (Uberlândia e Uberaba), centro de Goiás (Anápolis, Goiânia e Brasília). (AB’SABER, 2007, p.35).

A posição geográfica com várias rodovias que foram surgindo passando por Uberlândia impulsionou também seu desenvolvimento; além da ferrovia antes implantada, cortam o município as rodovias BR050, BR365, BR497, BR262, BR452 e BR455.

Esses levantamentos históricos são importantes para se entender o contexto, como já mencionado por Spósito (1997): “O Corte no tempo, sem a recuperação histórica”; para a autora se faz necessário considerar todas as determinantes. A partir da criação de Brasília, mais intensamente após os idos dos anos sessenta, é que Uberlândia teve um grande impulso populacional e econômico o que fez a cidade ser atualmente considerada um centro urbano moderno.

Para Guerreiro (2006) existe uma preocupação com a melhoria da qualidade de vida no modelo existente aqui implantado, o que o autor chama de cidades modernas que: “procuram oferecer aos seus habitantes uma infraestrutura básica que garanta condições favoráveis de vida nos campos de saúde, educação, trabalho, lazer, habitação, segurança, consumo, alimentação, proteção e seguridade social”. (p.255). Espaços públicos para convivência cívica e outras necessidades comuns da cidadania são requisitos básicos a uma cidade com bom padrão de qualidade de vida. Como nos mostra Guerreiro (2006), as cidades podem proporcionar melhores condições de vida à sua população, quiçá algumas oportunidades a mais, isso através do acúmulo de conhecimento.

Ab’ Saber (2007) escreve também sobre esse progresso regional, infraestrutura e a tecnologia em que encaixa o Triângulo Mineiro, área aqui estudada:

Em nosso país, no decorrer de três décadas, algumas regiões mudaram em quase tudo, incorporando padrões modernos que, muitas vezes, abafaram por substituição velhas e arcaicas estruturas sociais e econômicas. Tais mudanças se ligaram, sobretudo, a implantações de novas infra-estruturas viárias e energéticas e à descoberta de impensadas vocações dos solos regionais para atividades agrárias rentáveis. [...]. (AB’SABER, 2007, p.115). Quanto a esta atividade citada por Ab’Saber da área do cerrado, o Geógrafo Ferreira (2003) enfoca que devido a esse desmatamento acentuado, “os governantes brasileiros se viram obrigados a criar áreas de proteção, através dos Parques Nacionais, como uma forma de se tentar preservar alguns aspectos do bioma Cerrado” (p. 33). O Brasil central conta atualmente com oito grandes parques nacionais.

Quanto à população, os dados do censo de 2010 (IBGE) mostram que município de Uberlândia contava com 604.013 habitantes, dos quais 97% residiam na área urbana. No que tange à população rural, esta sofreu decréscimo tanto percentual como em números absolutos, seguindo a tendência nacional. A população rural que na década de 1940 era de 47,5%, caiu para 34,9% em 1950, 18,8% em 1960, 10,6% em 1970, 3,9% em 1980 e 2,4% em 1991. Em números absolutos também diminuiu, passando de 20.056 em 1940 para metade (9.363) em

1980. O número da população rural voltou a crescer nas décadas seguintes, atingindo no senso de 2010 o total de 16.747. Se analisarmos o êxodo rural não foi tão significativo no município se considerarmos apenas em números absolutos, pois em 1940 eram 20 mil moradores no campo e em 2010, 16.757, na década de 1980 sim, houve uma grande redução chegando a 8.896 em 1991, voltando a crescer novamente nos anos posteriores. Esses dados, no entanto, representam menos de 3% da população total no município. Quanto à população feminina, é maior (51,2%) do que a masculina, seguindo a média nacional. Pelo censo de 2010 do IBGE, 4.403 trabalhadores ainda estavam empregados na agropecuária, mas é o setor terciário com o comércio tanto o atacadista como o de varejo e serviços o grande empregador no município com mais de 40% das ocupações. A Tabela 1 mostra a evolução das populações urbana e rural de Uberlândia nos últimos decênios.

Tabela1: População do município de Uberlândia – Censos de 1940 a 2010.

Ano Urbana Rural Total % Urbana % Rural

1940 22.143 20.036 42.179 52,5 47,5 1950 35.799 19.185 54.984 65,1 34,9 1960 71.717 16.565 88.282 81,2 18,8 1970 111.466 13.240 127.706 89,4 10,6 1980 231.598 9.363 240.961 96,1 3,9 1991 358.165 8.896 367.061 97,6 2,4 2000 488.981 12.232 501.214 97,6 2,4 2010* 587.266 16.747 604.013 97,2 2,7