• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA

2.4. O Homem e a energia

2.4.1. Fontes de energia não renováveis

De acordo com Everett, Boyle, Peake, e Ramage (2011) os combustíveis fósseis e nucleares são frequentemente denominados como fontes de energia não renováveis, pois são recursos limitados e com uma taxa de reposição muito inferior à do seu consumo. Apesar das quantidades disponíveis na Terra serem em grande escala, eles vão-se tornar cada vez mais difíceis de extrair no futuro, pois as descobertas de novas reservas não são suficientes para compensar o ritmo de consumo. Para Tester, Drake, Driscoll, Golay e Peters (2005), ninguém sabe ao certo quando vai acabar o petróleo e os outros combustíveis fósseis, contudo, sempre que os custos praticados na sua extração excedem o rendimento, a exploração dos poços ou minas é suspensa, pelo menos até que o avanço da tecnologia consiga tornar a atividade rentável. Segundo Branco (2007) as reservas mundiais de compostos fossilizados não podem deixar de ser finitas, pois os processos que levaram ao seu surgimento ocorreram em condições e momentos muito particulares da história da vida da Terra que dificilmente se voltarão a repetir.

Segundo Everett, Boyle, Peake, e Ramage (2011), os principais combustíveis fósseis tiveram a sua origem no crescimento e decadência de plantas e organismos

34

marinhos que existiram na Terra há muitos milhões de anos. Segundo os mesmos autores, o carvão formou-se de restos de árvores e de outra vegetação que, não estando completamente podres, ficaram submersos na água, sendo posteriormente comprimidos em camadas sólidas concentradas abaixo da superfície da Terra através de processos geológicos ao longo de milhões de anos. O aparecimento do petróleo e do gás natural está associado à acumulação de restos mortais de imensos organismos marinhos em camadas situadas por baixo dos oceanos da Terra, os quais, através de forças geológicas, se foram transformando e formaram as reservas a que se acede nos nossos dias através da perfuração da crosta da Terra.

Os combustíveis fósseis são chamados hidrocarbonetos e conseguem concentrar grandes quantidades de energia e serem distribuídos de forma relativamente simples. De acordo com Everett, Boyle, Peake, e Ramage (2011), devido às vantagens já apresentadas, os combustíveis fósseis permitiram o desenvolvimento de tecnologias sofisticadas e eficazes, capazes de transformar a sua energia noutras formas de energia mais úteis, como são exemplos: a energia mecânica para indústrias, o calor para os edifícios e para a confeção de alimentos, a iluminação artificial, o arrefecimento, principalmente para a preservação de alimentos, a energia mecânica para o transporte de pessoas e bens e a energia elétrica para diversos fins.

Tendo em conta que o desenvolvimento da tecnologia permite obter energia a baixos custos a partir de combustíveis fósseis, de acordo com Morgado, Oliveira e Vieira (s.d.) o seu uso está implementado a nível mundial.

De acordo com Roriz, Rosendo, Lourenço e Calhau (2010), existem nos nossos dias um conjunto de problemas de significativo impacte ambiental que aparecem associados às fontes de energia convencionais, também conhecidas por energias fósseis.

Agravam-se pois problemas de vária ordem em consequência do consumo em larga escala de combustíveis fósseis. Estes tipos de problemas, segundo Boyle (2000), podem ser agrupados em três grupos: i) problemas ambientais, ii) problemas de sustentabilidade e iii) problemas sociais. De uma forma sintetizada, apresentam-se os principais aspetos que, de acordo com Boyle (2000), caracterizam os três tipos de problemas.

Um dos principais problemas ambientais tem a ver com o aquecimento global que se caracteriza por um aumento gradual da temperatura média do ar da superfície da Terra. A maioria dos cientistas acredita que o aquecimento global ocorrerá a uma

35

taxa de 0,3º C por década, provocado pelo aumento da concentração de gases de efeito de estufa na atmosfera. O componente mais importante dos gases de efeito de estufa é o dióxido de carbono que resulta da queima de combustíveis fósseis. A temperatura da Terra está diretamente relacionada com a quantidade de radiação recebida pelo Sol e a taxa de radiação de saída da Terra e pode ser afetada por qualquer absorção ou reflexão que ocorra na atmosfera. As nuvens, por exemplo, refletem muita luz do Sol antes que ela atinja a superfície da Terra, mantendo dessa forma o planeta mais frio. Já os gases de efeito de estufa absorvem mais quantidade de radiação infravermelha, contribuindo assim para o aquecimento global. São várias as consequências nefastas para o ambiente provocadas pelo aquecimento global: o aumento do nível das águas do mar, inundações das zonas litorais mais baixas, diminuição da quantidade de água potável, entre outras.

Outro problema ambiental resultante da queima de combustíveis fósseis é a ocorrência de chuva ácida. Os gases emitidos, quando os combustíveis fósseis são queimados, ricos em enxofre e azoto reativo, produzem, através da hidrólise na atmosfera, ácidos fortes como o ácido sulfúrico e ácido nítrico. Outro conjunto de poluentes são os óxidos de nitrogénio, que são produzidos através da oxidação do azoto no ar em processos de combustão de alta temperatura de materiais azotados, como é o caso do carvão e da madeira. A chuva ácida pode prejudicar as plantas, comprometer seriamente o crescimento de florestas, corroer edifícios e objetos metálicos.

Nem só da queima de combustíveis fósseis resultam efeitos nocivos ao MA. Impactes visuais na paisagem são provocados por exploração de minas a céu aberto, centrais elétricas e refinarias de petróleo podem causar intrusões paisagísticas e produzir odores e efluentes a nível local.

Continuando de acordo com Boyle (2000), o transporte do petróleo também é responsável por significativos danos causados no mar. Embora o transporte do petróleo seja considerado seguro, atendendo à quantidade e ao tamanho dos navios em que o mesmo é transportado para fazer face às necessidades do mercado, a ocorrência de acidentes com navios tanque petroleiros causa sempre malefícios ambientais de grande escala. Apesar dos acidentes ocorrerem em reduzido número, operações de rotina, limpeza e manutenção das embarcações libertam grandes quantidades de petróleo no mar. Poluição da água e praias, morte da fauna e flora são apontadas como as principais consequências dos derramamentos de petróleo.

36

Também para Boyle (2000), os resíduos radioativos e o desmantelamento nuclear são outro problema de ordem ambiental. O desenvolvimento da energia nuclear ocorreu após a segunda grande guerra mundial e esperava-se que se tornasse a energia predominante do mundo. Foi considerada uma tecnologia verde pois, entre outras vantagens, não polui o ar com gases de efeito de estufa. A energia nuclear resulta da separação ou fissão dos núcleos de isótopos muito pesados como o urânio e plutónio e, segundo Everett, Boyle, Peake, e Ramage (2011), a característica que torna este processo atrativo é a alta densidade de energia. Devido a vários fatores, uma estação de energia nuclear é potencialmente perigosa. Um problema intrínseco à energia nuclear é a criação de novos elementos, ou isótopos de elementos conhecidos através de reações nucleares, emitindo energia durante esse processo. Acontece que os subprodutos resultantes destas reações são altamente radioativos e alguns vão permanecer assim durante milhares de anos. As perspetivas de desmantelamento de centrais nucleares que ultrapassaram o seu tempo de vida útil expuseram uma realidade de difícil solução. Embora acidentes como o ocorrido em Chernobyl em 1986 sejam raros, as suas dimensões catastróficas são preocupantes. Por outro lado, aumentando-se os padrões de segurança aumenta-se o custo da energia nuclear.

O segundo grupo de problemas recorrente do consumo em larga escala de combustíveis fósseis, segundo Boyle (2000), tem a ver com questões de sustentabilidade. A preocupação mais importante relativamente ao uso de combustíveis fósseis é a perspetiva do seu esgotamento. Apesar de ser reconhecido que a quantidade de combustíveis fósseis é limitada, estimar o tempo da sua duração revela-se um processo difícil. Para Branco (2007), “todos os prognósticos a respeito do esgotamento dessas reservas, que há muito anos são feitos, revelaram-se imperfeitos e pessimistas” (p. 67).

Continuando no seguimento do entendimento de Boyle (2000), o terceiro grupo de problemas é de ordem social. A dependência das nações industriais face às nações detentoras de fontes de combustíveis fósseis, em particular do Médio Oriente, geram tensões políticas e económicas com efeitos diretos sobre as populações. Visto que os países produtores são geralmente mais fracos militarmente do que os países consumidores, estes últimos tendem a exercer pressão para dominar os primeiros, usando, quando necessário, o seu poder militar para manterem o acesso ao petróleo. Outro aspeto prende-se com a vulnerabilidade registada em locais onde se verifica a centralização da produção e distribuição de combustíveis. Esses locais constituem-se

37

potencias alvos para terroristas ou oponentes militares, podendo aí ocorrer enormes danos sociais, ecológicos e económicos. Por fim, e ainda de acordo com Boyle (2000), os perigos militares resultantes de uma proliferação nuclear também são um cenário a ter em consideração. Um país que pretenda desenvolver armas nucleares, sem revelar publicamente essa intenção, poderá desenvolver essa tecnologia em simultâneo com uma indústria de produção de energia nuclear.