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5. Análise e discussão dos resultados

5.2. Fontes de informação

Da análise da utilização de fontes nos periódicos desportivos portugueses, contabilizou- -se um total de 894 fontes, que, tal como referido na metodologia, têm principal enfoque nas entrevistas e declarações dos atletas e intervenientes diretos e/ou indiretos no ambiente de jogo. Para um estudo mais rigoroso e com o intuito de obter resultados mais significativos, subdividiu-se este parâmetro em quatro categorias: Benfica, FC Porto, Sporting e Outros. As três primeiras dizem respeito às fontes ligadas diretamente ao clube, como as equipas técnicas, jogadores, médicos, presidentes ou ex-presidentes. Por sua vez, na categoria Outros figuram fontes ligadas aos empresários de jogadores, de possíveis contratações, de policiamento e segurança dos jogos ou até mesmo fontes de adeptos. Importa igualmente salientar que não foram contabilizadas as fontes de opiniões de comentadores, analistas ou figuras públicas presentes nos espaços dirigidos à opinião.

A Bola O Jogo Record Total

Benfica 26 30 36 92

FC Porto 30 27 30 87

Sporting 41 42 41 124

Outros 16 11 13 40

Total 113 110 120 343

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Dos periódicos analisados, destaca-se A Bola com um registo total de 305 fontes em 27 edições referentes aos ‘clássicos’ do futebol português, seguido d’O Jogo com 296 e do Record com 293 fontes. Em termos de média por edição, os dados demonstram uma aproximação entre os jornais, com A Bola a incluir 11,3 fontes por encontro, O Jogo 11 e o Record apresenta uma média por ‘clássico’ de 10,9 fontes.

Para esta análise teve-se em conta a origem das fontes, mais propriamente, a que clubes se referenciavam as fontes utilizadas e consequente frequência. De acordo com o gráfico 5, 98 das fontes utilizadas pelo jornal A Bola dizem respeito ao Benfica (32,1%), 97 ao Sporting (31,8%), 92 ao FC Porto (30,2%), sem esquecer que 18 das fontes deste periódico decorrem de Outros (5,9%). Assim, nas 18 edições em que cada um dos “três grandes” figurou, é atribuída uma média de 5,4 de fontes por edição tanto ao Benfica como ao Sporting, e uma média de 5,1 fontes ligadas ao FC Porto.

Relativamente ao diário O Jogo, foi o Sporting que apresentou o maior número de fontes: 100 das 296 fontes deste periódico são referentes ao emblema sportinguista, o que perfaz uma percentagem total do jornal de 33,8%. Com resultados não muito díspares, e com uma obtenção de 96 fontes, seguiu-se o FC Porto (32,4%) e o Benfica registou um somatório de 87 fontes, o que em termos percentuais significa que 29,4% das fontes utilizadas por O Jogo provêm desse clube. As restantes 13 fontes (4,4%) enquadram-se na categoria Outros.

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Tais resultados permitem evidenciar que O Jogo agrega 5,4 fontes do Sporting por edição, 5,3 do FC Porto e 4,8 pertencentes ao Benfica.

Já o Record, com um somatório de 293 fontes de informação, realça o Sporting com 98 fontes de informação, o que se traduz em 33,5% das fontes utilizadas por este jornal. Tanto o FC Porto como o Benfica surgem representados de forma equivalente, ambos com 90 fontes (30,7%), sendo que as restantes 15 declarações utilizadas por este periódico figuram na categoria Outros (5,1%). No que às médias diz respeito, observou-se efetivamente que, de todos os clubes, as fontes que têm origem no Sporting são privilegiadas, com 5,4 por edição, enquanto as restantes equipas que perfazem a amostra obtiveram uma média de 5 fontes por cada ‘clássico’ jogado.

Depois de contabilizadas as fontes por jornal e consequente origem, importa agora averiguar, especificamente em cada diário desportivo, quem são os intervenientes mais utilizados e se essa referência é partilhada por todos os jornais. De facto, toda a imprensa desportiva portuguesa apresenta do mesmo modo as fontes respeitantes aos treinadores dos “três grandes”, embora com algumas diferenças na inclusão de determinados jogadores.

Benfica FC Porto Sporting Total

Treinadores 54 54 54 162

Jogadores 191 202 179 572

Total 245 256 233 734

Em termos genéricos, e como é percetível através da observação das tabelas 9 e 10, os treinadores dos “três grandes” são claramente evidenciados, com cada clube representado na globalidade dos jornais por 54 vezes, o que perfaz um somatório total de 162 fontes de treinadores. Desta análise a treinadores incluem-se Jorge Jesus e Quique Flores (treinadores do Benfica), Jesualdo Ferreira e André Villas-Boas (técnicos do FC Porto) e Paulo Bento e Carlos Carvalhal (do Sporting). Apesar de não se figurarem como os mais utilizados, devido ao baixo número de fontes (ambos por duas vezes em cada diário), José Couceiro e Paulo Sérgio foram igualmente treinadores do Sporting e ainda por uma vez, Alberto Cabral (treinador-adjunto) falou em representação da equipa técnica leonina.

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Jornal

Fonte A Bola O Jogo Record Total

André Villas-Boas 6 6 6 18 Carlos Carvalhal 5 5 5 15 David Luiz 5 4 5 14 Falcao 7 8 7 22 Fucile 4 6 4 14 Gomes Pereira 3 4 4 11 Hélder Postiga 4 4 4 12 Hulk 6 7 6 19 Jesualdo Ferreira 12 12 12 36 João Moutinho 10 10 10 30 Jorge Jesus 13 13 13 39 Liedson 6 7 7 20 Luisão 10 10 10 30 Maxi Pereira 5 4 3 12 Miguel Veloso 4 4 4 12 Paulo Bento 8 8 8 24 Pedro Emanuel 4 5 5 14 Polga 4 4 5 13 Quique Flores 5 5 5 15 Rúben Micael 4 5 4 13

Torna-se fulcral relembrar que em relação ao Benfica, A Bola apresentou 26 fontes diferentes, O Jogo utilizou 30 e o Record fixou-se na utilização de 36 intervenientes (Tabela 8). De facto, com a frequência de 30 vezes (10 em cada jornal), Luisão foi o jogador encarnado que mais vezes serviu de fonte de informação para a imprensa desportiva, seguindo-se de David Luiz e de Maxi Pereira. Não obstante, e apesar que haver um equilíbrio de representação das fontes nos jornais, em determinadas situações, os diversos jornais recorrem a jogadores específicos que não são mencionados nos restantes. Tal acontece com Jorge Ribeiro (jogador do Benfica) que é citado por O Jogo e pelo Record, bem como O Jogo é o único que não recorre às declarações de Moretto e o Record é o único que não mostra a visão de Rui Gomes da Silva, do Benfica.

Relativamente às fontes associadas ao FC Porto nos ‘clássicos’, para além dos treinadores, são destacados alguns jogadores. Todavia, o caso do FC Porto é aquele que apresenta maiores dissemelhanças entre as fontes nos diversos periódicos. Apesar de o número dos protagonistas ser semelhante – 30 n’A Bola e no Record e de 27 n’O Jogo - é no Record que se encontram as maiores disparidades. No cômputo geral, O Jogo evidencia com maior ênfase face aos restantes jornais alguns jogadores do FC Porto, como é o caso de

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Falcao (8), Hulk (7), Fucile (6), Pedro Emanuel (5) e Rúben Micael (5). Deste grupo de fontes analisadas fazem também parte os membros dos clubes. É neste sentido que O Jogo é o diário que mais vezes utiliza o presidente portista, Jorge Nuno Pinto da Costa, designadamente por 4 vezes, em comparação com as três apresentadas nos outros dois diários. Por sua vez, o Record foi o único a dar a visão de Hernâni Gonçalves, Rodolfo Reis e Bollati, enquanto A Bola foi a única a incluir Maicon, Sereno e Fernando como fontes nas suas edições.

No que concerne ao Sporting, as constantes alterações da equipa técnica, registando as fontes de 4 treinadores e um treinador adjunto, tiveram como consequência a reestruturação do plantel. Deste modo, em comparação com os restantes clubes aqui analisados, o Sporting é aquele que apresenta uma maior versatilidade de fontes, designadamente de 41 intervenientes n’A Bola e no Record e de 42 n’O Jogo. Importa ressaltar que João Moutinho, que esteve ao serviço do Sporting nas duas primeiras épocas analisadas, foi o mais representado e utilizado na imprensa desportiva (10), seguindo-se de Liedson (20), Miguel Veloso (12) e ainda Polga (13), que teve maior destaque no Record. Este mesmo periódico sobressai-se igualmente na inclusão de José Eduardo Bettencourt, contudo, não recorreu a Rogério Alves, tal como se sucedeu nos restantes diários.

Para terminar a análise, falta apenas observar a categoria Outros onde se incluem as fontes ligadas aos empresários de jogadores, de possíveis contratações, de adeptos ou até mesmo fontes ligadas à polícia e segurança nos jogos. Na verdade, é nesta última que se destacam grande parte das fontes desta categoria, mais precisamente com o subintendente Costa Ramos, que surgiu por três vezes n’A Bola (20-09-2010: 16; 29-11-2009: 16; 22-02- 2011: 15) e n’O Jogo (29-11-2009: 14; 20-09-2010:16; 04-04-2011: 14) e por duas no Record (29-11-2009: 18; 04-04-2011: 16) e o subchefe da PSP, João Paulo Saramago, n’ O Jogo (29- 11-2009: 14). Ainda relacionado com fontes ligadas ao policiamento aparece representado em todos os jornais desportivos o Major Vítor Calado (A Bola 22-03-2010: 16; O Jogo 22-03- 2010: 18; Record 22-03-2010: 20) e ainda a subcomissária da PSP, Carla Duarte (A Bola 21- 12-2009: 18; Record 21-04-2011: 17) e o subintendente Henrique Fernandes (A Bola 08-11- 2010: 15; Record 08-11-2010: 21). Para complementar a cobertura noticiosa nos diferentes diários desportivos foram ainda utilizadas fontes como D. Ximenes Belo (A Bola 28-09-2008: 18) e pais de jogadores, como no caso António Veloso, pai de Miguel Veloso, que foi fonte nos três periódicos (A Bola 01-03-2009: 14; O Jogo 01-03-2009: 15; Record 01-03-2009: 18) ou então de Washington Alves, pai de Bruno Alves, n’A Bola (03-02-2010: 8).

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Portanto, em linhas gerais, os diários desportivos procuraram integrar nos seus artigos noticiosos as perspetivas de todas as partes nos ‘clássicos’, daí a possível averiguação de uma distribuição e utilização equilibrada de fontes, embora se tenham registado diferenças e conclusões. Apesar das dissemelhanças não serem deveras significativas, devido ao equilíbrio das fontes utilizadas pelos periódicos relativamente aos “três grandes”, foi possível concluir que A Bola empregou mais fontes associadas ao Benfica – 98 – que corresponde a 32,1% do total, e tanto O Jogo (100 - 33,8%) como o Record (98 - 33,5%) privilegiaram a utilização de fontes do Sporting. Não obstante, foi interessante apurar que dos “três grandes” o menos destacado n’A Bola foi o FC Porto e n’O Jogo foi o Benfica, o que corrobora a ideia apresentada de identificação do primeiro com o Benfica e do segundo com o FC Porto. Esta associação também foi visível, embora com menos relevância, aquando da análise individual e frequência de cada fonte, visto que A Bola recorreu a determinados jogadores do Benfica e O Jogo do FC Porto.

Contudo, verificaram-se alguns casos esporádicos em que as perspetivas de ambas as partes (clubes) foram incluídas disformemente, apesar de não ter sido uma opção editorial de cada diário desportivo.

Ora, na edição de 22-03-2010, referente à partida da final da Taça da Liga que opunha Benfica e FC Porto, registou-se uma discrepância em relação às fontes utilizadas. Devido à vitória expressiva de 3-0, o Benfica foi o foco de todas as atenções nos três diários desportivos, com A Bola a utilizar 10 fontes deste clube, 11 n’O Jogo e 12 no Record, contra apenas 2 referentes ao FC Porto. O caso inverso também se sucede e remonta à edição de 04- 04-2011, nomeadamente à vitória do FC Porto na Luz e consecutivo festejo do título de campeão nacional. De todos os intervenientes, do lado do Benfica, apenas foi ouvido o seu treinador – Jorge Jesus – enquanto no FC Porto evidenciaram desde jogadores, treinador e presidente, constituindo um total de 13 fontes n’A Bola, 14 n’O Jogo e de 8 no Record. Ambos os casos podem ser justificados pela importância da vitória em questão, mas também pela falta de disponibilidade dos jogadores da equipa que saiu vencida.

Ainda foi possível registar um caso de uma equipa que perde o jogo e é mais utilizada como fonte, como é o exemplo do encontro da 4.ª eliminatória da Taça de Portugal (10-11- 2008 – época 2008/2009) em que o FC Porto venceu o Sporting em Alvalade por 4-5, em grandes penalidades, após se ter registado uma igualdade a 1 golo no tempo regulamentar. Na verdade, e apesar da derrota do Sporting, este apresentou um maior número de fontes nesta edição, designadamente de Paulo Bento, Marco Caneira, o presidente Filipe Soares Franco,

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Fábio Rochemback, o capitão João Moutinho, Abel e ainda o médico Gomes Pereira, este apenas no Record e n’O Jogo. Por seu turno, do lado do FC Porto, ouviram-se o treinador vencedor Jesualdo Ferreira, o capitão Pedro Emanuel, Helton, Hulk e ainda Bruno Alves.

Portanto, parece óbvio que os jornalistas desportivos portugueses adotam uma postura que garanta que os pontos de vista divergentes fiquem representados de forma equitativa nos artigos noticiosos, dando primazia a questões como o rigor e a isenção. Contudo, a incidência em determinadas fontes em prol de outras evidenciou, embora de forma pouco representativa e fiel, uma inclinação para legitimar uma das partes envolvidas nas notícias. Ainda assim, o tratamento de todas as fontes foi equilibrado, associando-se claramente os principais aspetos e intervenientes de cada ‘clássico’, ficando igualmente percetível alguma homogeneização no conteúdo noticioso, visto que em grande parte, os jornalistas recorrem às mesmas fontes.

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