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5. Análise e discussão dos resultados

5.3. Temas presentes, ausentes e/ou infrequentes

No que concerne à descrição do evento, nomeadamente à forma como os ‘clássicos’ são apresentados aos leitores, denotaram-se algumas tendências dignas de referência. Esta análise teve em conta três parâmetros basilares: os temas mais frequentes, os temas ausentes e/ou infrequentes e ainda os temas exclusivos de cada diário desportivo.

Na generalidade, a imprensa desportiva portuguesa realça os principais factos concernentes aos ‘clássicos’, abordando-os de forma complexa e esmiuçada. Os jornais especializados em desporto primam pela contextualização dada à partida, com dados histórico-culturais, para além de serem igualmente evidenciados os principais momentos dos encontros, nos denominados “filmes de jogo”. Concomitantemente, todos os periódicos promovem análises específicas a cada jogador, atribuindo-lhes sempre uma classificação subordinada ao seu desempenho na partida, e recorrem à opinião dos seus jornalistas e de comentadores especializados, como ex-treinadores, ex-jogadores e ex-árbitros, como aludido previamente.

Contudo, foi possível observar que, em determinados momentos, alguns diários desportivos demonstram uma maior apetência na investigação e análise feita, ao procurarem dar uma maior amplitude ao evento. É neste campo que alguns periódicos, mais especificamente algumas edições, publicam factos e acontecimentos exclusivos.

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Contrariamente ao que se sucede no restante espaço do jornal, a cobertura noticiosa de um ‘clássico’ torna-se algo primordial numa edição, sendo-lhe dedicado bastante espaço, o que privilegia e reforça a ideia de investigação e abordagem intensiva de todos os focos do encontro (desde jogadores, factos importantes, presidentes, arbitragem, lesões, estreias, condições climatéricas), constituindo assim uma panóplia diversificada de temas que estão adstritos à cobertura noticiosa deste tipo de eventos mediáticos.

A Bola O Jogo Record Total

Fichas dos jogadores 54 54 54 162

Filmes do jogo 27 27 27 81 Lesões 34 35 44 113 Arbitragem 113 134 118 365 Fatores extrajogo 66 76 72 214 Dados histórico-culturais 81 55 120 256 Condições climatéricas 10 36 35 81 Presidentes 61 64 58 183 Estreias 54 61 54 169 Total 500 542 582 1624

Neste âmbito, e em linhas gerais, para além do desempenho de cada equipa e consequente resultado, presentes nas crónicas de jogo e nas notícias anteriormente abordadas, os temas presentes foram divididos em 9 categorias de análise, como se pode observar na tabela 11. Sinteticamente, de todos os 1624 itens temáticos propostos para estudo, 582 (35,8%) figuram no Record, seguido de 542 (33,4%) n’O Jogo e 500 (30,8%) n’A Bola. Antes do escrutínio intensivo por categorias e jornais, é de destacar o equilíbrio temático entre os diários desportivos, exceção feita para os dados histórico-culturais, que manifestam maiores disparidades com especial enfoque desta temática no Record.

Partindo para a observação distinta de cada categoria, as duas primeiras, designadamente as “fichas dos jogadores” e os “filmes de jogo”, registam idênticos resultados. Das 81 edições analisadas, foi sempre dado a conhecer uniformemente o “filme de jogo”, que engloba desde a descrição das incidências aos momentos-chave de cada partida.

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Benfica FC Porto Sporting Total

A Bola 18 18 18 54

O Jogo 18 18 18 54

Record 18 18 18 54

Total 54 54 54 162

Concomitantemente, as análises específicas a cada jogador e consequente avaliação (de 1 a 10 n’A Bola e n’O Jogo e de 1 a 5 no Record) são representadas identicamente nos três diários desportivos, num total de 162 “fichas dos jogadores”, das quais 54 (33,3%) são respeitantes ao Benfica, igual número para o FC Porto e Sporting, o que revela o mesmo modo de operação na imprensa desportiva portuguesa.

Consideradas igualmente importantes, analisaram-se as referências a lesões e as estreias dos jogadores presentes nos ‘clássicos’. Em ambas as temáticas, apurou-se que as semelhanças entre diários são efetivamente notórias.

Benfica FC Porto Sporting Total

A Bola 12 12 13 37

O Jogo 12 14 20 46

Record 10 9 11 30

Total 34 35 44 113

Deste modo, e aquando de um escrutínio distintivo por clubes e jornais, foi visível o equilíbrio entre diários. Porém, observou-se, apesar de a diferença ser mínima, que O Jogo apresenta resultados mais díspares: embora refira o mesmo número de lesões ao Benfica que A Bola (12), O Jogo diferencia-se por representar mais vezes as lesões dos jogadores do FC Porto (em 14 vezes) e, de forma ainda mais contundente, as do Sporting (20 vezes), o que em termos percentuais significa que este diário engloba 26,1% de lesões do Benfica, seguido do FC Porto, com 30,4%, e, mais evidente, a percentagem de 43,5% relativa ao Sporting. Tal verifica-se, a título de exemplo, na edição de 28-11-2010 quando “Jaime Valdés apontou o primeiro golo do encontro, pelo Sporting, mas acabou por sair lesionado, fruto de um estiramento na face posterior da coxa direita” (p. 16).

Tabela 12 – Temas presentes - Ficha dos jogadores.

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Benfica FC Porto Sporting Total

A Bola 18 19 17 54

O Jogo 18 25 18 61

Record 19 18 17 54

Total 55 62 52 169

O parâmetro que afere as estreias em ‘clássicos’ segue a mesma tendência que o anterior, isto é, apesar de haver semelhanças no cômputo geral, é mais uma vez O Jogo que se difere neste parâmetro, nomeadamente com as 25 estreias alusivas aos jogadores do FC Porto, perfazendo um total de 41% desta temática neste periódico. Exemplo disso é a estreia do médio Rúben Micael nos quartos-de-final da Taça da Liga (2009/2010) frente ao Sporting: “Rúben Micael teve uma excelente estreia com as cores do FC Porto no Dragão” (O Jogo 03- 02-2010: 10).

Ainda especificamente ligados à partida, surgem os dados histórico-culturais que têm o intuito de fazer paralelismos com o passado, em particular nos históricos de jogos e resultados entre os “três grandes”, além de providenciarem curiosidades, como número de golos e respetivos marcadores, tudo para que o leitor tenha ao seu dispor o maior número de informação possível, logo uma maior contextualização. Num total de 256 itens noticiosos em que os dados histórico-culturais estão presentes, a diferença entre periódicos é bastante significativa: de todos os diários desportivos, o Record é aquele que privilegia as contextualizações históricas nas suas edições, com um somatório de 120, como é o exemplo na edição de 31-08-2008, mais propriamente na partida entre o Benfica e o FC Porto na 2.ª jornada da época 2008/2009, que registou uma igualdade a um golo: “As duas equipas já empataram por 23 vezes na Luz, em partidas da Liga. Foi a 11.ª vez que o jogo terminou com resultado de 1-1” (idem: 18).

Embora com menos relevância, segue-se A Bola com 81 contextualizações e, por último, O Jogo, com 55, sendo mesmo o que menos aborda e dá a conhecer este tipo de conteúdo noticioso aos leitores. Portanto, na totalidade de 256 itens histórico-culturais mencionados, 46,9% pertencem ao Record, 31,6% têm origem no jornal A Bola e com uma percentagem menos expressiva, de 21,5%, n’O Jogo.

Outro dos temas de relevo aquando de um ‘clássico’ é a arbitragem. Apesar de haver uma ligeira relevância no jornal O Jogo (134), a verdade é que esta temática denota algum

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grau de semelhança entre os periódicos. Partindo da ideia de que os árbitros são, muitas vezes, alvos de críticas pelos media desportivos (como será explorado mais ao pormenor posteriormente), o seu desempenho, enquanto parte do jogo, é igualmente evidenciado em todos os diários, nomeadamente nas análises destinadas para esse efeito, como é o caso do “Tribunal O Jogo”, n’O Jogo, ou “Os Casos”, no Record. Assim sendo, de todas as menções à arbitragem (365), 36,7% surgem n’O Jogo e 32,3% e 31% no Record e n’A Bola, respetivamente. A título de exemplo, O Jogo tece duras críticas aos árbitros na sua edição de 10-11-2008, aquando da partida dos quartos-de-final da Taça de Portugal, na época 2008/2009, em que o FC Porto venceu o Sporting por 5-4, em grandes penalidades: “Sede de protagonismo e uma incrível série de más decisões ajudam a descrever a actuação de Bruno Paixão, que mais do que estar sujeita a qualquer eventual acusação de parcialidade pode, e deve, ser descrita como realmente má!” (idem: 2).

As condições climatéricas figuram igualmente na imprensa desportiva escrutinada, embora com menor expressão. Neste sentido, averiguou-se que tanto o Record como O Jogo aludem, em todas as edições dos ‘clássicos’, ao estado do tempo durante a partida, o que torna A Bola uma exceção pela pouca abordagem às condições climáticas, ao se contabilizarem apenas 10 referências. Contudo, e a título de exemplo, o jornal A Bola (21-12-2009: 2) titula: “Argentino dançou o tango à chuva”, e acrescenta: “o relvado da Luz, massacrado pela chuva que não se cansou de cair na noite fria de Lisboa, estava em fracas condições”. Um outro exemplo relacionado com o clima surge no jornal O Jogo (29-11-2009: 13): “A chuva não o atemorizou, pois nem assim Jesus recolheu ao banco”.

Apesar de não pertencerem intrinsecamente ao jogo de futebol, os presidentes têm um papel fulcral nos ‘clássicos’ e apenas a sua presença na bancada já é digna de notícia, principalmente quando dois presidentes veem o encontro juntos.

Benfica FC Porto Sporting Total

A Bola 27 15 19 61

O Jogo 22 25 17 64

Record 18 19 21 58

Total 67 59 57 183

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Observando genericamente os resultados gerais, estes são inconclusivos devido ao seu equilíbrio. Porém, especificamente por jornal, a tabela 15 permite corroborar a ideia apresentada até agora. Na verdade, apesar de na generalidade o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, ser o mais representado pela imprensa desportiva – tal como se verifica n’A Bola (27) –, de todos os presidentes, O Jogo dá privilégio a Pinto da Costa (25), do FC Porto, e o Record evidencia os presidentes do Sporting (21), designadamente, José Eduardo Bettencourt e Filipe Soares Franco.

Os ‘clássicos’ de tanta importância que acarretam não se cingem apenas aos jogadores e membros dos clubes. Há uma panóplia de fatores extrajogo dignos de referência por parte da imprensa desportiva e que foram contemplados neste estudo.

A Bola O Jogo Record Total

Selecionador nacional 13 12 13 38

Policiamento / segurança 32 38 36 106

Observadores / olheiros 21 26 23 70

Total 66 76 72 214

De todos os fatores extrajogo presentes nas edições d’A Bola, d’O Jogo e do Record selecionou-se os três mais representativos: a presença do selecionador nacional (Carlos Queiroz e posteriormente Paulo Bento), o policiamento e segurança nos ‘clássicos’ e ainda os observadores e olheiros presentes neste tipo de eventos.

De facto, a imprensa desportiva portuguesa é transversal aquando da presença do selecionador nacional num ‘clássico’, sendo tal caso merecedor de destaque por 38 vezes nos diários especializados em desporto. A título de exemplo, surgem notícias como “Selecionador nacional esteve a observar muitos possíveis convocados” (Record 01-03-2010: 18); “Carlos Queirós a tirar notas: Seleccionador nacional viu em acção alguns dos jogadores que orientará nos próximos dias” (A Bola 31-08-2008: 8) ou ainda “Desde que passou a ser seleccionador nacional, Carlos Queiroz habituou-se a estar presente nos clássicos do campeonato e ontem também não faltou” (O Jogo 27-09-2009: 13).

Sendo os ‘clássicos’ do futebol português um espelho para o mundo, é extremamente prudente a presença de olheiros e observadores nos estádios portugueses. Ora, tal fenómeno é

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aproveitado pela imprensa desportiva quase de forma unânime, em que, de um total de 70 itens pertencentes a esta temática, 26 provêm d’O Jogo, seguido de 23 referências oriundas do Record e de 21 do jornal A Bola. Eis alguns exemplos presentes nestas publicações: “Tubarões espiam na Luz” (Record 28-09-2008:23); “Espiões para dar e vender: Um “camião” de clubes pediu acreditação para o clássico de ontem” (O Jogo 21-12-2009: 14) e “Muitos espiões atentos aos craques que estiveram no palco do leão: Juve, Chelsea, Arsenal... Clássico atraiu atenção de toda a Europa” (A Bola 01-03-2010: 13). De facto, sempre que há interesse exterior em algum jogador de um dos “três grandes” esse mesmo clube faz-se representar no ‘clássico’.

Relativamente ao policiamento e segurança nas partidas, e tal como aludido anteriormente nas fontes, esta temática ostenta uma clara importância para os media desportivos especializados e uma análise profunda às 81 edições dos ‘clássicos’ do futebol português confirmou tal tendência. Ora, tal tema surge por 106 vezes na impressa desportiva portuguesa, com realce, embora não muito significativo, para O Jogo, ao contemplá-lo por 38 vezes. Deste modo, os seguintes títulos comprovam tal relevância temática: “Forte presença policial evitou novos desacatos” (Record 03-03-2011: 15), “PSP controlou tudo e todos” (A Bola 20-11-2010: 14) e “Muita cor, insultos... e carga policial” (O Jogo 22-02-2011: 16).

Quanto aos temas ausentes e/ou infrequentes (Novais 2010a), que poderão ser reveladores na orientação da cobertura mediática relativamente aos ‘clássicos’ e a título de exemplo, contrariamente aos restantes periódicos, A Bola, na sua edição de 01-03-2010, não fez referência à lesão na clavícula de Rúben Micael. Por seu turno, o Record, na edição de 14- 04-2010 – referente à partida da 26.ª jornada da época 2009/2010 entre Benfica 2 x Sporting 0 –, descura as lesões dos jogadores do Benfica Miguel Vítor, Menezes e Nuno Gomes e O Jogo (22-02-2011) não alude à lesão de Jardel, que foi saturado na cabeça no embate do Benfica com o Sporting, na 20.ª jornada do campeonato português.

Como anunciado atrás, o último tópico de análise no parâmetro dos temas diz respeito às notícias exclusivas de cada periódico. Deste modo, e num total de 93 factos noticiosos exclusivos, destaca-se O Jogo com 45, seguindo-se A Bola, com 28 temas únicos, e por fim o Record, com 20.

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Benfica FC Porto Sporting Outros Total

A Bola 8 3 13 4 28

O Jogo 12 13 12 8 45

Record 4 4 6 6 20

Total 24 20 31 18 93

Tabela 17 – Temas exclusivos de cada diário desportivo português.

Especificamente, num total de 28 temas exclusivos d’A Bola, destaca-se, por exemplo, a homenagem ao antigo guarda-redes do Benfica, do Sporting e da seleção, Manuel Bento, na partida da 4.ª jornada da época 2008/2009, presente na edição de 28-09-2009 (p. 13), no jogo em que o Benfica venceu o Sporting por 2-0. Apesar de o jornal O Jogo se destacar nas estreias destinadas aos jogadores do FC Porto, como foi referido, A Bola foi o único diário que evidenciou a estreia de Falcao a marcar no Estádio da Luz, mais precisamente na sua edição de 21-04-2011 (p. 18) referente à partida entre o Benfica-1 e FC Porto-3. Este periódico diferenciou-se igualmente dos restantes quando versa, na sua edição de 29-11-2009 (p. 8) referente ao encontro entre o Sporting e o Benfica, o interesse do clube italiano, Génova, em Miguel Veloso.

Fazendo jus ao que anteriormente foi mencionado, isto é, de que O Jogo se evidenciou nos parâmetros que aferem a arbitragem e as estreias, este periódico é o que apresenta o maior número de temas exclusivos, como ditado na estreia de Carlos Martins em Alvalade com a camisola do Benfica (22-02-2009: 7), de Daniel Carriço, do Sporting, em ‘clássicos’ (01-03- 2009: 6) e ainda de David Addy no plantel portista (03-02-2010: 6). Na arbitragem, esta tendência manifesta-se com o especial destaque na referência de Lucílio Baptista a 4º árbitro (22-02-2009: 14), bem como na distração do 4.º árbitro nas meias-finais da Taça da Liga, em que o Benfica venceu o Sporting por 2-1, referente à edição de 03-03-2011 (p. 12). Também nos fatores extrajogo, nomeadamente na alusão aos olheiros, O Jogo evidencia-se, por exemplo, na edição de 03-03-2011, quando menciona o interesse do Sevilha em Cardozo e Maxi, do Benfica (p. 15), e na edição de 18-04-2011, em que alude ao interesse do Tottenham em Hulk e Falcao (p. 15) e do Wolfsburgo em Rolando (p.14).

No que concerne ao Record, de todos os jornais é o que apresenta menos exclusivos, apesar de ser o periódico que apresenta o maior número de notícias, tal como foi referenciado na análise preliminar. Ainda assim, esta publicação sobressai por ter sido a única a referenciar a estreia de Luisão a marcar frente ao FC Porto (03-05-2010: 15), no encontro em que os portistas venceram por 3-1, para a 29.ª jornada da época 2009/2010. Evidenciou ainda a

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possível contratação de Ciro e Kássio para o Sporting (01-03-2009: 18) ou então a cedência do jogador Rabui Ibrahim, do Sporting, ao Real Massamá, na edição de 03-02-2010 (p. 21), mais precisamente no encontro dos quartos-de-final da Taça de Portugal.

Através da análise detalhada (tabela 17) foi possível concluir que, da totalidade dos temas exclusivos d’A Bola, 28,6% referem-se ao Benfica, e curiosamente 46,5% deles têm como foco principal o Sporting. Tal tendência é verificada no Record, embora com percentagens menos expressivas, registando um total de 30% para o clube leonino, enquanto o Benfica e o FC Porto surgem ambos em 20% dos temas exclusivos. No que concerne a O Jogo, este é o jornal mais equilibrado na referência aos temas e consequentes destinatários, isto é, tanto o Benfica como o Sporting figuram cada um com 26,7% do total, ao passo que o FC Porto surge com 28,9%, assinalando uma diferenciação mínima.

Benfica FC Porto Sporting Total

A Bola 83 67 80 230

O Jogo 82 95 85 262

Record 69 68 73 210

Total 234 230 238 702

Ainda, ao agrupar as categorias Lesões, Estreias, Presidentes e Temas exclusivos que foram analisadas minuciosamente por diário desportivo, num total de 702 itens, chegou-se à conclusão de que os dados gerais não registam evidências significativas e de que o Sporting é o mais representado pela imprensa desportiva, com 33,9% da totalidade de temas destas categorias (238), seguido do Benfica, com 33,3% (234), e do FC Porto, com 32,8% (234). Não obstante, e apesar do equilíbrio temático, através da análise das categorias examinadas, notou-se uma certa centralização e aproximação dos jornais com determinados clubes, o que corrobora a ideia inicialmente apresentada nesta dissertação. De facto, apesar de não existirem divergências extremamente eloquentes no cômputo geral, a verdade é que A Bola tem maior proximidade nos temas respeitantes ao Benfica, o que corresponde a uma percentagem de 36,1% das temáticas propostas (83 temas), por sua vez, O Jogo privilegia o FC Porto, com 36,3% (95 temas), e o Record evidencia o Sporting, com 34,8% das suas temáticas, nomeadamente ao apresentar 73 temas que se perfilam nas categorias examinadas.

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Em suma, a análise dos temas presentes, ausentes e/ou infrequentes e ainda os temas exclusivos registou um claro equilíbrio entre os três jornais especializados em desporto. Contudo, nas notícias e acontecimentos exclusivos, destaca-se O Jogo, com 48,4% do total, embora represente e aluda sempre a todas as partes, sem se evidenciar favorecimento ou desprezo de um clube em prol de outro.

Contudo, importa ainda frisar que a análise dos diários desportivos às temáticas adjacentes aos ‘clássicos’ ocasionalmente denota uma certa orientação clubista, em que o mesmo acontecimento é retratado sob uma ótica desigual, resultando numa alteração significativa do conteúdo noticiado. Este dilema surge exemplificado na edição 21-12-2009 na imprensa desportiva, mais concretamente quando o presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, foi agredido antes da partida com o Benfica (salvaguarda-se que se optou por empregar as frases basilares a negrito).

“O presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, foi ontem alvo de tentativa de agressão por parte de cinco indivíduos, não identificados com qualquer clube, no momento em que se preparava para abandonar o hotel onde a comitiva portista pernoitara antes da partida como Benfica” (A Bola 21-12-2009: 18).

“Um grupo de cinco adeptos do Benfica aglomerou-se junto à entrada do hotel onde o FC Porto estagiou e esperou a saída da equipa para o estádio para provocar jogadores e dirigentes. Pinto da Costa foi o principal alvo das “bocas” dos encarnados, e um dos adeptos conseguiu mesmo chegar junto do presidente, gritando-lhe na cara: “Tanta gente boa, e tu não morres!” (O Jogo 21-12-2009: 10).

“Não foi pacífica a saída da comitiva portista da unidade hoteleira onde se encontrava instalada no centro de Lisboa. Quando Pinto da Costa se preparava para deixar o local, um

adepto alegadamente do Benfica acercou-se dele e apupou-o, obrigando à pronta

intervenção de elementos do “staff” portista e de agentes da PSP que se encontravam no local. Gerou-se algum burburinho, mas, volvidos alguns instantes, a situação foi sanada e o referido adepto, bem como outros que o acompanhavam, foi retirado pelas forças de segurança” (Record 21-12-2009: 17).

Como foi notório através da distinção a negro, há três versões para o mesmo acontecimento. A Bola confirma a agressão ao presidente do FC Porto, contudo, não identifica a pertença clubista dos sujeitos. Em oposição, O Jogo é claro a denunciar que os agressores são cinco adeptos do Benfica. Por sua vez, o Record crê que tenha sido um adepto do Benfica a agredir Pinto da Costa e só posteriormente menciona que esse simpatizante estava acompanhado. Contrastando com a generalidade dos factos noticiados, este caso demonstra a falta de equidade, rigor e verificabilidade tipicamente característicos dos textos jornalísticos, independentemente da área abordada. A verdade desportiva foi descurada cedendo lugar a um

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tratamento noticioso com tendência clubista, em que a realidade foi enviesada de acordo com as aproximações de cada jornal a cada clube.

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