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Fontes e efeitos: como ocorre a auto-eficácia

II – AUTO-EFICÁCIA PARA CRIAR NO TRABALHO

2.3 Fontes e efeitos: como ocorre a auto-eficácia

Nesta seção, no intuito de aprofundar o entendimento sobre auto-eficácia, serão apresentadas brevemente suas fontes e efeitos, ou seja, como são formadas as crenças de auto-eficácia e quais seus desdobramentos cognitivos, afetivos, motivacionais e comportamentais. O propósito aqui é lançar as bases para a compreensão da seção subseqüente, em que tais aspectos são considerados no âmbito das organizações de trabalho.

2.3.1 Fontes da auto-eficácia: sua origem

Auto-eficácia percebida, independente de sua adequação e precisão, decorre da interpretação e julgamento que o indivíduo faz das informações advindas de quatro fontes principais: experiências vivenciadas, experiências vicárias, persuasão verbal e reações fisiológicas. Essas fontes estão ordenadas por grau de influência, do maior para o menor, e serão detalhadas a seguir. Vale destacar que as informações per se não afetam a auto-eficácia, e sim sua avaliação cognitiva integrada (Bandura, 1982).

As experiências de sucesso são a mais importante fonte de auto-eficácia pois têm por base a vivência de maestria do indivíduo, que tende a ampliar a percepção de auto-eficácia. No caso de experiências de fracasso, o efeito tende a ser inverso (Bandura, 1982). Entretanto, a interpretação dessas experiências pode ser afetada por diversos fatores, tais como: esforço empreendido, ajuda externa recebida, estados afetivos ou físicos transitórios, vieses na seleção de informações recordadas sobre desempenho e no auto-monitoramento (Bandura, 2000). Assim, um fracasso entendido pelo indivíduo como decorrente da falta de esforço, aliado ao acometimento de moléstia passageira no momento da tentativa, não deverá ter efeito tão pernicioso quanto o de fracasso ocorrido, a despeito da ajuda de terceiros, na consecução de tarefa tida como fácil.

Outra fonte de informação sobre a capacidade do indivíduo são suas experiências vicárias, ou seja, observar terceiro tido como similar obter sucesso na tarefa pode ampliar a percepção de auto-eficácia, assim como o inverso pode ocorrer (Bandura, 1982). A interpretação dessa fonte de informação está sujeita a outros fatores, como o grau de similaridade entre modelo e observador, a multiplicidade e diversidade de modelos, a modelagem de maestria ou enfrentamento, e a exemplificação de estratégias adotadas (Bandura, 2000). Desta forma, o sucesso de terceiros poderá influenciar positivamente auto-eficácia na medida em que o indivíduo percebê-los como modelos relevantes.

Uma terceira fonte de informação é a persuasão verbal, referente ao convencimento do indivíduo por terceiros de que é capaz de executar com sucesso ou não determinada tarefa (Bandura, 1982). Esta terceira fonte tem poder mais limitado, variando sua influência, por exemplo, conforme a credibilidade do terceiro, sua expertise no tópico e o grau de disparidade entre a percepção do indivíduo e o

conteúdo da persuasão. Por fim, o indivíduo também interpreta suas reações fisiológicas quando se engaja na tarefa, entendendo-as favoravelmente ou não. Essa interpretação está sujeita, dentre outros fatores, à atenção dada pelo sujeito ao seu estado somático, bem como vieses interpretativos sobre tais estados e sua origem (Bandura, 2000). Um experiente ator, por exemplo, pode sofrer calafrios antes de cada apresentação, mas saber que se sentirá melhor tão logo pise no palco, de tal sorte que a reação fisiológica supostamente negativa não afete sua auto-eficácia.

2.3.2 Efeitos da auto-eficácia: seu impacto

As crenças de auto-eficácia, segundo Bandura (1994), regulam o funcionamento humano por intermédio de processos cognitivos, motivacionais, afetivos e decisórios, causando os mais variados desdobramentos. Elas afetariam como as pessoas agem frente a obstáculos e desafios, o esforço despendido e sua persistência. Também determinariam em alguma medida as reações emocionais e os padrões de pensamento que ocorrem durante a antecipação e a ocorrência dessas interações com o ambiente. Há evidências empíricas para sustentar o papel mediador sobre o comportamento do indivíduo proposto para auto-eficácia (Bandura, 1982).

Aqueles que duvidam de sua própria capacidade tenderiam a enfatizar deficiências e imaginar dificuldades em potencial como ameaças maiores do que realmente o são. Tais equívocos impactariam negativamente o desempenho, visto que o indivíduo se ocuparia afetiva e cognitivamente de possíveis problemas e fracassos pouco prováveis, deixando de dedicar esforço e atenção para a tarefa em foco. Ao contrário, aqueles que acreditam em sua capacidade focariam sua atenção

e esforço na tarefa, e tenderiam a ampliar tais investimentos ao deparar-se com obstáculos (Bandura, 1982).

A escolha dos indivíduos frente a diferentes cursos de ação também decorreria em parte de suas crenças de auto-eficácia, e estas, por sua vez, afetariam a rapidez com que assimilam novas habilidades. A opção por tarefas desafiadoras associada ao incremento de habilidades promoveria elevado rendimento na execução, contribuindo para uma espiral de desenvolvimento em que auto-eficácia e desempenho evoluiriam continuamente (Bandura, 1982).

Auto-eficácia elevada é usualmente associada a desdobramentos positivos. No entanto, Bandura e Locke (2003) relatam e contra-argumentam proposições de pesquisadores que a vinculam a efeitos negativos, alegando que elevada auto-eficácia redundaria em atitudes e comportamentos que prejudicariam o desempenho, quer pela diminuição forjada da discrepância existente ou pela estimativa equivocada de cumprimento antecipado de metas. Para esses autores, os efeitos possivelmente negativos se restringem aos já previstos pela teoria, que diferencia o impacto funcional da elevada auto-eficácia sobre os esforços anteriores à ação e sobre o desempenho em si, no sentido de que a incerteza promoveria a aprendizagem na fase preparativa, mas tenderia a prejudicar a consecução competente da atividade em questão.

Bandura (1982) destaca, portanto, que alguma dúvida pode beneficiar a preparação do indivíduo, e sugere que esta dúvida deve ser construída em termos do desafio da tarefa, ao invés de se originar na insegurança da pessoa quanto à sua capacidade. Mesmo nessas circunstâncias, um elevado senso de auto-eficácia para aprendizagem beneficiaria tais esforços preparativos, facilitando o desenvolvimento

de competências e a obtenção de níveis de excelência no desempenho (Bandura & Locke, 2003).

Dos desdobramentos conhecidos de auto-eficácia, há aqueles que tratam especificamente de tópicos de interesse para o presente estudo. Considerados os laços entre criatividade e aprendizagem explanados na subseção 1.2.3, vale apontar que as evidências empíricas nas últimas décadas sustentam auto-eficácia como excelente preditor de motivação e aprendizagem (Pajares, 2005; Salas & Cannon-Bowers, 2001). Elevada auto-eficácia também está positivamente associada ao uso de estratégias para aprender, e sua investigação como variável mediadora em treinamentos demonstra sensibilidade aos métodos de aprendizagem dos alunos, em especial aqueles relativos à auto-regulação (Zimmerman, 2000).