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IV DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA Neste breve capítulo serão sumariadas as conclusões advindas da revisão de

6.2 Validação da medida de estratégias para criar no trabalho

6.2.1 Verificação de pressupostos

Há uma série de pressupostos a serem considerados antes de proceder a análise fatorial exploratória pretendida, alguns se referem a características desejáveis e outros a requisitos imprescindíveis à sua realização. Tais pressupostos serão tratados nesta subseção, iniciando com a análise de requisitos preliminares e avançando para a verificação da fatorabilidade da matriz de correlações.

Requisitos preliminares

Uma primeira exigência refere-se ao porte do banco de dados, que deve possuir uma adequada proporção entre sujeitos e variáveis de interesse. A medida de estratégias para criar no trabalho a ser validada possui 63 itens e o banco de dados, após a preparação, contém 688 casos, resultando na proporção de 10,92 sujeitos por item. Tabachnick e Fidell (2001) sugerem a exigência de no mínimo 300 sujeitos, enquanto Pasquali (2004) recomenda, quando não se conhece o número de fatores esperados, a proporção de 10 sujeitos por item, sendo ambas as indicações aqui atendidas.

A análise fatorial exploratória, segundo Costello e Osborne (2005), se beneficia substancialmente com amostras com elevada proporção sujeitos-variáveis de interesse. No estudo realizado pelos autores apenas 40% das amostras de proporção 5:1 apontaram para a estrutura fatorial correta, esse percentual aumentou para 60% com a proporção de 10:1, e para 70% com a proporção 20:1. Embora a relação 10,92 sujeitos por item seja adequada para dar prosseguimento à análise fatorial pretendida, deve-se ter em conta o teor essencialmente exploratório dos procedimentos ora adotados, bem como sua sujeição a erros, aspectos enfatizados por Costello e Osborne.

Outra característica desejável é a normalidade das variáveis investigadas que, mesmo não sendo requisito da técnica de extração de fatores usada, favorece a análise fatorial, aprimorando seus resultados (Pasquali, 2004; Tabachnick & Fidell, 2001). Os índices de assimetria e curtose apresentados na seção 6.1, após a exclusão de casos extremos, denotam a proximidade da distribuição das variáveis ao desenho da curva normal. Este aspecto está associado a um importante requisito da análise fatorial — a linearidade — pois a normalidade das variáveis individualmente favorece a presunção de normalidade multivariada que, por sua vez, implicaria relação linear entre pares de variáveis, segundo Tabachnick e Fidell. A relevância do requisito de linearidade, de acordo com Pasquali, reside no fato das correlações entre variáveis serem a base da análise fatorial, e correlações refletem tão somente relações lineares. Assim, quanto maior a não-linearidade existente, maior o prejuízo para a análise fatorial.

A verificação de linearidade entre pares de variáveis é realizada pela inspeção visual de scatterplots, que seria excessivamente trabalhoso para o conjunto de 63 variáveis em foco. Nesses casos, Tabachnick e Fidell (2001) indicam

a inspeção de pares selecionados de variáveis mais suscetíveis à não-linearidade, como aquelas com índices de assimetria mais discrepantes. Deste modo, foram escolhidos os pares de variáveis constantes da Tabela 8 e embora não tenha sido verificada a forma oval esperada na detecção de linearidade, também não foram observados quaisquer indícios de relações curvilíneas. Adicionalmente, a pesquisadora considerou oportuna a verificação de linearidade entre pares dos fatores resultantes da análise fatorial, para assegurar que tal requisito foi atendido a contento. Todos os gráficos apontaram para linearidade entre fatores. Os scatterplots de ambas as verificações estão disponíveis para consulta no Anexo 2. Tabela 8 – Pares de variáveis para inspeção de linearidade: EST/CT

Item Assimetria Curtose Par

EST3 Listo mentalmente as possíveis soluções para

um problema de trabalho. -0,824 0,638

EST43 Para quebrar a rotina, faço minhas tarefas de

forma pouco habitual. 0,075 -0,814

EST3 e EST43 EST29 Quando não sei resolver algo no trabalho,

procuro dicas na internet que possam me auxiliar. -0,846 0,057 EST58 Busco um ambiente isolado para poder focar só

no problema de trabalho que estiver analisando. 0,024 -0,814

EST29 e EST58

Foi investigada a existência de singularidade e multicolinearidade das variáveis, impeditivos para a maioria dos métodos de análise fatorial, através da inspeção da matriz de correlações e da matriz anti-imagem, e tendo por base os critérios indicados em Tabachnick e Fidell (2001). Não foram encontradas variáveis com correlações extremamente elevadas (r > 0,90), indicativo de multicolinearidade. Na inspeção dos quadrados dos coeficientes de correlações múltiplas, por sua vez, não foram encontrados valores próximos de um, indicativos de singularidade.

Fatorabilidade da matriz de correlações.

A análise da matriz de correlações propicia diversas informações necessárias para determinar sua fatorabilidade. A primeira verificação consistiu em apreciar o tamanho das correlações, visto que são necessárias correlações ao menos

moderadas para viabilizar a análise fatorial (Laros, 2004; Pasquali, 2004). Do total de correlações constantes da matriz R, 94% são significativas (p < 0,01), estando 44% acima de 0,30, o que constitui o primeiro indício de sua fatorabilidade. Não há correlações acima de 0,80 e apenas 6% estão acima de 0,50, porém vale lembrar que grandes amostras tendem a produzir correlações menores (Tabachnick & Fidell, 2001).

Clark e Watson (1995) sugerem que a média das correlações entre itens recaia entre os valores 0,15 a 0,50. Quando o construto que se pretende mensurar é mais amplo, são esperados valores menores. Ao contrário, para construtos mais restritos uma medida válida deve produzir correlações maiores. Os autores ainda apontam para a preferência por uma variância pequena, com as correlações agrupadas próximas da média. Nesta matriz a média aritmética das correlações entre itens é 0,286 e a variância 0,026.

Outro elemento que a matriz de correlações fornece sobre sua fatorabilidade é o valor de seu determinante, que neste caso se aproxima de zero (det=3,67E-15), o que indica que o posto da matriz é menor do que o número de variáveis nela representadas. Pasquali (2004) comenta que o posto da matriz de correlações se refere a quantos fatores ela apresenta, sendo o determinante próximo de zero mais um sinal favorável à fatorabilidade.

A matriz anti-imagem contém subsídios adicionais à fatorabilidade da matriz de correlações, visto que os valores retratados fora da diagonal representam o negativo das correlações parciais entre pares de variáveis, com os efeitos das demais variáveis removidos. Por conseguinte, caso a matriz de correlações seja fatorável, deve haver a prevalência de valores baixos (Tabachnick & Fidell, 2001), fato este observado na inspeção visual da matriz anti-imagem.

Também foi conduzido o teste de esfericidade de Bartlett, que Tabachnick e Fidell (2001) afirmam ser muito sensível ao tamanho da amostra — é significativo com amostras mínimas — devendo-se restringir seu uso a situações em que o número de sujeitos não seja maior do que cinco casos por variável. Neste estudo tem-se uma amostra de porte e proporções razoáveis, portanto não é de se estranhar a significância obtida como resultado. Por fim, foi calculado o índice de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkein (KMO), obtendo-se o valor 0,961. Trata-se de um resultado caracterizado por Kaiser (1974, citado por Pasquali, 2004) como “maravilhoso”, mais uma evidência, portanto, da viabilidade da análise fatorial.