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06,07,08 - Fotografia panorâmica do Adro da Sé de Viseu, onde se podem identificar

os três principais edifícios que o conformam, a Igreja da Mesericórdia, o Museu Grão Vasco e a Sé Episcopal. Fotografia da Igreja da Misericórdia tirada a partir do segundo piso do claustro pertencente à Sé Episcopal. Fotografia da Sé Episcopal tirada a partir da entrada da Igreja da Mesericórdia. Correspondentemente.

35 SÉ CATEDRAL E DESENVOLVIMENTO URBANO

restantes ruas que lhe são contíguas. O antigo Fórum dá lugar ao mon- umento marcante da paisagem deste lugar, a Sé de Viseu. Pressupõe-se ainda, pela descoberta de vestígios que assim o indicam, a existência de eixos secundários, paralelos aos correspondentes cardo e decuma- nus, que dão hoje lugar a outras ruas37, entre as quais a Rua Augus-

to Hilário, onde se localiza o edifício a estudar, um edifício misto de habitação e comércio que, com duas frentes, conforma o gaveto que uniformiza a transição entre esta rua e a Rua Senhora da Boa Morte.38

Estas ruas, incluídas no contexto urbano onde se insere a Sé Catedral, terão então como base da sua conformação os antigos eixos da cidade romana. Embora o seu desenho não seja provavelmente o mesmo. Estas ruas que são, na atualidade, zonas destinadas a habitação e comércio, podem ainda ver associado este tipo de atividades à sua localização no cruzamento dos antigos eixos romanos, evocando a possível existência das ‘tabernae’, lojas romanas.

No que diz respeito à catedral da cidade, o grande monumento históri- co desta área que estabelece uma relação direta com o edifício em es- tudo e com as habitações que o enquadram, sabe-se que se implanta onde antes existia a acrópole romana, como referido, e que, portanto, se localiza na cota mais alta da cidade. A Sé poderá, por isso, conside- rar-se o elemento referencial desta urbe, localizada no interior do país, devido à sua posição privilegiada face à paisagem o que lhe permite ser visível a uma distância considerável, ainda antes de se chegar à zona histórica de Viseu.

Esta alteração e adaptação da área da cidade dedicada ao culto, local de grande importância na definição de Viseu e da sua centralidade desde a sua formação, terá tido início no século IV, durante o império de Constantino, quando este se converte ao cristianismo e o legaliza, dando lugar à construção de um local de índole cristã. Essa catedral precedente à Sé que hoje se conhece implantava-se exatamente no mes- mo lugar.39 Só mais tarde, no final do século XIII, começa a ganhar

forma a catedral que ainda hoje se pode testemunhar dando-se início à sua construção, de base românico-gótica, e, numa fase posterior, já no século XVI, com a construção do claustro renascentista da autoria do arquiteto Francesco de Cremona. Também no mesmo século começa a

37. CABRITA, António [et al.] - Breve história urbana de Viseu. Apresentação do Guia para a Reabilitação do Centro Histórico de Viseu [em linha]. [Consult. set. 2018]. Disponível na Internet: < http://cm-viseu.pt/gui-

areabcentrohistorico/apresentacao/index.php >. p.2,3

38. GIRÃO, Aristides de Amorim - Viseu: Estudo de uma aglomeração urbana. Dissertação de concurso

para Assistente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra editora, 1925. “O cruzamento das vias romanas, que aqui foi, segundo cremos, uma causa e não um efeito do povoamen- to, marca o centro de gravidade da remota povoação, que nem mesmo nome especial teria ainda talvez[...]” p.34

39. ibid. “[...] devia a Sé Catedral, agora profanada, encontrar-se já situada na parte mais alta da cidade,

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09 - Planta da cidade de Viseu, com a identificação das ruas que davam lugar à antiga

judiaria, dentro e fora de muralhas. Este esquema foi realizado com base na descrição realizada na Revista Monumentos nº13 por Isabel Monteiro a propósito da ‘Judiaria de Viseu’. RUA DIREIT A RUA A UGUST O HILÁRIO RUA D AS AMEIAS RU A D A ÁR VORE PRAÇA DE D . DU ARTE RUA D A SR.ª D A BO A MOR TE RUA JOÃO MENDES

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delimitar-se o espaço público que lhe é adjacente, o Adro da Sé. Este é delimitado também pelas novas construções dessa época, a igreja da Misericórdia e o Seminário de Nossa Senhora da Esperança, atual Mu- seu Grão Vasco, ambas construídas na segunda metade deste século.40

Mas, anterior a estas novas construções, de caráter religioso, importa ainda salientar a construção da muralha afonsina que, como já referido a propósito da definição do património urbano de Viseu, terá sido a última muralha desta cidade e que, apesar de iniciada no reinado de D. João I (1357-1433), apenas se vê concluída em 1472, já no reinado de D. Afonso V (1432-1481).41

Construídas estas muralhas, que foram as últimas de Viseu, a cidade entra num fecundo período de prosperidade, bem revelado na construção de novos edifícios, e nas transformações operadas em edifícios antigos e seus respetivos bairros.42

Através do estudo do geógrafo português Aristides Girão (1895-1960), acerca da cidade de Viseu, de onde se retira a citação acima transcrita, sabe-se ainda que também no século XV, e talvez como consequência deste novo limite imposto à cidade, se dá um grande desenvolvimento na construção e melhoramento dos edifícios urbanos, maioritariamente destinados a habitação e comércio. Estas construções vêm alterar a fi- sionomia da cidade, e promover uma nova fase de desenvolvimento que se prolonga impulsionando também as novas construções de caráter re- ligioso do século XVI a que já se fez referência, a igreja e o seminário. Determinante para as construções nesta área e para a definição do seu caráter cultural e social foi também a existência de uma judiaria que se fixa a sudoeste da Sé Episcopal, também no século XV, e que ali se man- tém durante um longo período de tempo. Os judeus, que inicialmente se teriam instalado em Espanha, vêm refugiar-se em Portugal na sequência de uma dispersão árabe e consequente perseguição religiosa a que são sujeitos. Em Viseu, começam por fixar-se nas imediações da cidade, fora da muralha afonsina. Mais tarde, passam a viver entre os cristãos e encontram asilo intramuros, quando lhes é dada proteção e lhes é permitida uma integração na comunidade cristã, vendo os seus direitos e a sua entidade religiosa reconhecidos em troca da sua contribuição

40. CABRITA, António [et al.] - Breve história urbana de Viseu. Apresentação do Guia para a Reabilitação do Centro Histórico de Viseu [em linha]. [Consult. set. 2018]. Disponível na Internet: < http://cm-viseu.pt/gui-

areabcentrohistorico/apresentacao/index.php >. p.6

41. GIRÃO, Aristides de Amorim - Viseu: Estudo de uma aglomeração urbana. Dissertação de concurso

para Assistente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra editora, 1925. “E, por uma inscrição em caráteres góticos minúsculos existente numa das portas da muralha, vê-se que esta, embora feita à ligeira e sem ameias, se concluira no reinado de D.Afonso V, em 1472.” p.63

42. ibid. p.66

A JUDIARIA