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PALLASMAA, Juhani Habitar Barcelona: Editorial Gustavo Gil, 2017 “As estruturas da cidade cap-

BREVE HISTÓRIA

73. PALLASMAA, Juhani Habitar Barcelona: Editorial Gustavo Gil, 2017 “As estruturas da cidade cap-

turam e preservam o tempo do mesmo modo que as obras artísticas e literárias. Os edifícios e as praças nos permitem retornar ao passado e experimentar o lento ritmo curativo da história. O mais significativo dos monumentos arquitetónicos é aquele que suspende e detém o tempo para a eternidade.” p.119

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57 - Plantas à escala 1:100 proposta de T1.

PLANTA DO PISO TÉRREO 1:100 PLANTA DO PRIMEIRO PISO 1:100 PLANTA DO SEGUNDO PISO 1:100

acesso para as habitações espaço comercial intalação sanitária sala intalação sanitária cozinha intalação sanitária quarto

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rua seria possivelmente mais baixa no período da sua construção e por- tanto indica um sobrepor de camadas de pavimentação na via pública. Um detalhe que dá conta da evolução do espaço público e que poderá ser revelador da construção do piso térreo num tempo mais longínquo e que, por ainda hoje ser notório, se procurou manter e mesmo enfatizar. Esta e outras questões relacionadas com o valor da memória ou do an- tigo, talvez mais do que com o valor histórico, tal como a intenção de manter sempre que possível os materiais construtivos originais, foram vontades que, apesar das diversas organizações espaciais propostas, sempre se mantiveram. Importa agora explicar aquela que é a primeira e talvez a mais objetiva das premissas para qualquer projeto, as in- tenções do cliente.

A proposta para intervir neste edifício de Viseu surgiu de um pedido do seu novo proprietário, um conhecido e amigo, que evidenciou o seu interesse de reabilitar este objeto. Objeto que, conforme se foi expondo ao longo do trabalho, tanto pela descrição da sua organização espacial quanto das suas patologias, apresenta um considerável défice de ma- nutenção dos seus elementos construtivos e de uma reorganização es- pacial que solucione a sua desadequação à vida contemporânea. Assim, e sabendo-se que uma das habitações deste edifício é ainda habitada, tal como a loja que se encontra ainda em funcionamento, o intuito deste cliente era o de reabilitar para continuar a arrendar. Quando questionado sobre o destino que pretenderia dar àquele espaço, este de- monstrou como objetivo a criação de condições que permitissem o ar- rendamento a longo prazo. Deste modo, o cliente ia encontro à refle- xão demonstrada ao longo do trabalho e à intenção de criar habitação permanente, contribuindo como forma de lutar contra o abandono dos centros históricos por parte dos seus habitantes. Mas, ainda assim, e como qualquer arrendatário, o objetivo seria a de retirar do edifício a maior receita possível, demonstrando a vontade de acrescentar um piso ao edifício, uma prática bastante recorrente e que é já notória nos edifícios adjacentes a este.

Inicialmente colocou-se a hipótese de fazer do edifício uma única habi- tação e desenhou-se equipada com um só quarto (um T1) cuja entrada

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58 - Plantas à escala 1:100 proposta de T0’s.

PLANTA DO PISO TÉRREO 1:100 PLANTA DO PRIMEIRO PISO 1:100 PLANTA DO SEGUNDO PISO 1:100

acesso para as habitações espaço comercial intalação sanitária intalação sanitária zona de sala zona de quarto zona de cozinha intalação sanitária zona de sala zona de quarto zona de cozinha

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seria a mesma que antes dava acesso às duas habitações. Assim, a partir da rua entrava-se diretamente na casa. No primeiro piso localizava-se a sala e a cozinha e no segundo piso desenhava-se um quarto amplo com uma área bastante generosa. Mas esta foi uma proposta que se pôs de parte de seguida por não responder a um aproveitamento adequado da área útil do imóvel e, consequentemente, por não ser rentável de acordo com as expectativas do cliente, que continuou assim a insistir na vontade de acrescentar mais um piso ao edifício.

Por isso, a primeira proposta que se desenhou já com maior detalhe foi, ainda assim, uma proposta que mantinha o número de pisos do edifício incluindo-se agora uma habitação por piso, eliminando, logo à parti- da, a cozinha da primeira habitação que se localizava no piso térreo e, portanto, no piso de entrada. Anteriormente o acesso a esta cozinha era colocado ao dispor das duas habitações, o que não lhe concedia qualquer privacidade e tornava o acesso comum às duas casas um es- paço não só de distribuição, com um caráter mais público, mas também um espaço que fazia já parte da primeira habitação, colocando-o numa posição ambígua e sem definição.

A ideia desenvolvida na proposta era a de, mantendo o acesso verti- cal na mesma posição, conceder uma maior privacidade às duas habi- tações definindo-as e desenhando-as de uma melhor forma e separan- do o espaço de acessos comuns do espaço do ‘lar’. Do mesmo modo, a existência de duas instalações sanitárias nos patamares das escadas, eram também espaços privados colocados no espaço comum, demons- trando por isso a já enfatizada desadequação. Estas instalações eram, possivelmente, resultado de obras posteriores, quando com a resposta às necessidades de higiene se inicia a adaptação das casas e, como foi já referido, as instalações sanitárias passam a ser colocadas nos espaços livres existentes, ou nos logradouros, ou em varandas, ou no patamar das escadas, como é o caso. Com a convicção de manter os acessos na mesma posição de forma a não alterar drasticamente a morfologia do edifício, mantendo a localização das portas de acesso tanto para a loja como para as habitações, sentiu-se, ainda assim, a necessidade de re- pensar a organização das escadas existentes que, como se pode verificar a partir das fotografias, pareciam colagens de materiais sobre materiais

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59 - Plantas à escala 1:100 proposta de T0’s com acrescento de piso.

PLANTA DO PISO TÉRREO 1:100 PLANTA DO PRIMEIRO PISO 1:100 PLANTA DO SEGUNDO PISO 1:100 PLANTA DO TERCEIRO PISO 1:100

intalação sanitária zona de sala zona de quarto zona de cozinha intalação sanitária zona de sala zona de quarto zona de cozinha intalação sanitária zona de sala zona de quarto zona de cozinha

acesso para as habitações espaço comercial intalação sanitária provador

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que se iam construindo e alterando conforme as necessidades.

Assim, foi no espaço que era já reservado aos acessos verticais que se desenhou uma nova escada, regularizando o número de degraus, resta- belecendo as áreas dos patamares e eliminando as instalações sanitárias relocalizadas no interior de cada habitação. E, devido às áreas bas- tante reduzidas de cada piso, bem como pela existência de problemas maiores como a falta de iluminação e ventilação natural nos quartos que eram divisões interiores e ainda na cozinha do último piso, op- tou-se por desenhar duas habitações sem quarto definido (T0).74 75 No

que diz respeito ao piso térreo optou-se por uma ampliação do espaço dedicado ao comércio, que apresentava também uma área bastante re- duzida e que possuía uma instalação sanitária em condições precárias. Utilizou-se, por isso, a área da antiga cozinha para complementar este espaço76, encerrando-se a porta de acesso às escadas que esta possuía, e

estabelecendo-se consequentemente, através do desenho e organização dos espaços, uma clara distinção do espaço comercial relativamente ao espaço habitacional. Deste modo, o espaço de entrada para as habi- tações passa a ter um caráter comum e deixa de fazer parte da primeira habitação.

Mas, esta decisão foi bastante intuitiva. O maior desafio do projeto foi o desenho dos espaços dedicados ao habitar que, pela localização das escadas e pela pouca profundidade do edifício ocupavam uma parte da uma frente de luz de cada habitação. Este facto comprometia a orga- nização de cada habitação já que se pretendia iluminação natural para todas as divisões. Simultaneamente, não se pretendia de forma alguma a alteração dos vãos, tal como acontece com a localização das escadas, são elementos identitários da tipologia do edifício que dão, por isso, notícia do modo de fazer de outros tempos mantendo viva a memória da organização espacial caraterística de diversos edifícios deste cen- tro histórico.77 Assim, a necessidade de dotar os espaços de iluminação

natural foi, juntamente com o facto das áreas serem reduzidas, como já se fez referência, um dos motivos que levou à opção por organizar o edifício em habitações que permitiam a conceção de um espaço único (com a excessão das casas de banho) que, por isso, se deixava iluminar pelas duas frentes de luz existentes.

74. LÉGER, Jean-Michel in FERREIRA, Vitor Matias [dir.] - Modos de Habitar e Arquitetura: As respos-

tas Francesas. Cidades: Comunidades e Territórios. Lisboa: Maria Assunção Gato e Ana Rita Cruz, Dez 2001, nº3. “Sem a flexibilidade do tipo arquitetónico, enquanto estrutura de correspondência entre espaço e uso, não haveria nem variações tipológicas nem mesmo de arquitetura, pois cada tipo deveria ser simplesmente reproduzido.” p.49