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Formação das alternativas 59

6   ANÁLISE DE DADOS 53

6.3   Formação das alternativas 59

Os esforços de atores sociais na construção e na combinação de soluções para erradicação do trabalho escravo são estabelecidos por meio de estratégias e de métodos (formação das alternativas) para alcançar os planos e programas do governo brasileiro (SECCHI, 2010).

Destacamos algumas ações e esforços de atores responsáveis pela formulação das alternativas (policymakers) (SECCHI, 2010):

a) Fortalecimento de parcerias CPT, CONAETE, MPT, Justiça do Trabalho, Justiça Federal, CONTAG, OIT, MPF, DPF, PRF;

b) nova redação do artigo 149 dando força jurídica à justiça;

c) Assinatura de uma portaria interministerial (MTE e SEDH) do Cadastro de empregadores (lista suja);

d) Metas individuais para os AFT;

e) Cooperação financeira e técnica da OIT ao MTE e a ONG’s (caminhonetes, celulares, rádios, máquinas fotográficas, filmadoras, laptops e impressoras);

f) articulações e parcerias da iniciativa privada com o Tribunal Superior do Trabalho e com membros do Legislativo.

A alteração na esfera jurídica em 2003, do artigo 149 do Código Penal pela Lei nº 10.803 ocorreu porque não havia punição aos escravagistas e as multas aplicadas pelo MTE não tinham eficácia no combate ao trabalho.

Como menciona OIT:

As multas, por serem baixas, não funcionam como instrumentos de dissuasão. Foi a partir de 2003, com as reformulações do artigo 149 do CPB, que o Governo Brasileiro começou a adotar medidas severas para combater o trabalho forçado e a impunidade no Brasil (OIT, 2007 p. 45).

Como apresenta Silva (2004):

...esquivou-se acertadamente de uma definição genérica de trabalho escravo, associando-o a trabalhos forçados, jornada exaustiva ou condições degradantes de trabalho, ou ainda, a qualquer restrição de locomoção em razão de dívida contraída ou para reter no local de trabalho, vigilância ostensiva no local de trabalho ou retenção de documentos ou objetos pessoais do trabalhador.

Para Machado13 (2011):

...foi dezembro de 2003 a alteração do artigo 149. Então 2004 mesmo existia muita confusão de como interpretar. E aí eu acho que o Ministério Público e o Judiciário têm feito, têm cumprido o seu papel no sentido de uniformizar essa interpretação, de pacificar os entendimentos (PALESTRANTE 13, 2011).

A alteração do artigo 149 trouxe eficiência no combateu à impunidade para o governo contra quem escraviza no território brasileiro. No entanto, a escolha desta alternativa aloca poder (SECCHI, 2010) e acaba revelando embates e discussões. De um lado o governo, ONG’s, instituições da sociedade civil a favor da alteração do artigo e de outro lado, uma parte do poder legislativo representado por políticos da bancada ruralista que mostram os interesses de atores sociais em deslegitimar a interpretação do artigo, alegando que o governo se afastou das convenções da OIT. Mesmo o Brasil tendo ratificado convenções da OIT 29 e 105 por que nosso país se distancia do conceito?

O próprio ministro, Palestrante 19 (neto de agricultores) diz:

[...] é fator de apreensão comum a imprecisão da lei ao tipificar no artigo 149 do código penal as condutas caracterizadoras do trabalho escravo. Penso que o legislador brasileiro afastou-se do conceito universal, internacional de trabalho escravo para adotar também determinadas condutas cuja definição, cujo conteúdo é

13 Informação verbal concedida por Luiz Machado, no dia 19 de maio de 2011 durante o IV Seminário do Pacto

vago, é impreciso, é aberto e por isso gera uma dificuldade não só na repressão das típicas formas de trabalho escravo, como também gera aqui e acolá uma busca de repreensão de condutas que em tese não o são.

Os tomadores de decisão responsáveis pela alteração do artigo 149 utilizaram esse recurso para induzir o comportamento de quem escraviza no Brasil, por meio da coerção (quem escraviza pode ir para cadeia), da conscientização (apelo ao senso moral) e das soluções técnicas (atuação dos auditores do GEFM) (SECCHI, 2010).

O trecho do palestrante acima pode sugerir um juízo que favorece o fazendeiro escravagista, que no lugar de acusado por abuso dos direitos humanos, é na verdade, uma vítima da má interpretação do artigo 149. Ele alega que o Brasil se afastou do conceito internacional na tentativa de legitimar seu argumento.

Segundo a OIT:

A impunidade relativa à utilização de trabalho escravo e aos desmatamentos, entre outros crimes, deve-se à articulação dos fazendeiros com os poderes federal, estaduais e municipais. Muitos fazendeiros exercem domínio e influência em diferentes instâncias do poder nacional, seja de forma direta, ocupando efetivamente cargos políticos em Prefeituras, Câmaras Legislativas Municipais, Governos Estaduais e no Congresso Nacional, ou, de forma indireta, por possuir estreitos laços com representantes dos seus interesses nos referidos cargos (OIT, 2010c, p. 68).

Neste sentido, mas como estratégia de combate a estes conflitos, a integração tem sido uma alternativa de fortalecimento do MTE, OIT, Ministério Público dentre outros atores sociais:

O fortalecimento dessas parcerias sempre foi uma das metas prioritárias da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (CONAETE), destacando-se a atuação do Ministério do Trabalho e Emprego, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Justiça do Trabalho e Justiça Federal, Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Ministério Público Federal, Departamento da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal (OIT, 2007, p. 72).

A articulação do comitê do Pacto Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo buscou apresentar o problema da escravidão moderna dentro de cadeias produtivas e a responsabilidade que as empresas têm no monitoramento de toda cadeia, inclusive cobrando fornecedores primários, secundários e terciários. Alguns signatários do Pacto iniciaram um movimento para entender a RSE e a buscarem alternativas para o combate ao trabalho escravo. A alteração do artigo 149 e as fiscalizações do GEFM acabaram aumentando o poder de repressão e combate a impunidade. E, a inclusão de fazendas na lista suja, poderia comprometer as relações comerciais de empresas e fornecedores, a concessão de crédito pelos bancos, manchar a marca da empresa diante do consumidor e o bloqueio de investimentos.

Um exemplo é o da Vale do Rio Doce que, por meio de sua presidente Olinta Cardoso diz:

Hoje, não basta apenas ter um produto de qualidade a preço baixo. Ele precisa ser socialmente responsável. A empresa está fechando uma parceria com o Tribunal Superior do Trabalho para se associar a ações para a erradicação do trabalho escravo. “Temos que buscar ações que vão além do discurso. Reconhecemos o problema e vamos trabalhar principalmente em campanhas de conscientização (REPÓRTER BRASIL, 2008, p. 24).

O grupo Gerdau mencionou:

[...]o Grupo Gerdau está mudando as práticas de prestação de serviços e conscientizando as empresas fornecedoras sobre a importância do respeito aos direitos trabalhistas e à dignidade humana (REPÓRTER BRASIL, 2008, p. 24).

A Queiroz Galvão, por meio de seu presidente, André de Oliveira Câncio diz:

Alertar fornecedores de que uma denúncia comprovada de trabalho infantil pode causar rompimento da relação comercial. Câncio disse que está pessoalmente empenhado na criação do Instituto Carvão Cidadão, uma iniciativa de sua autoria (REPÓRTER BRASIL, 2004, p. 24).

O MTE tem promovido um incentivo para os AFT por meio de metas:

[...]metas de desempenho individual (como por exemplo, número de trabalhadores registrados por mês) e em inspeções individuais e territorialmente circunscritas. Em relação a este tipo de avaliação, a participação no GEFM garantia aos AFTs grande pontuação, o que servia como incentivo funcional (OIT, 2010d, p. 24).