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FORMAÇÃO DE PROFESSORES: desafio para a qualidade da Educação Infantil

No documento rafaelareisazevedodeoliveira (páginas 107-114)

3. RAINHA DA SUCATA: um balanço sobre as políticas públicas para a Educação

3.5. FORMAÇÃO DE PROFESSORES: desafio para a qualidade da Educação Infantil

Conforme já apresentado, a Lei de Diretrizes e Bases de 1996, no artigo 62, define que, para os professores atuarem na Educação Básica, deverão possuir Ensino Superior obtido nos cursos de licenciatura; permite, porém, no caso da Educação Infantil e primeiras séries do Ensino Fundamental, a formação em nível médio, na modalidade Normal. A Lei, nesse sentido, equiparou a formação dos profissionais que atuam tanto na Educação Infantil quanto nos anos iniciais do EF, garantindo aos primeiros a inclusão em um plano de carreira, a formação inicial e também em serviço, um piso salarial e, dentre outros aspectos, a valorização em termos de seleção e contratação.

No que compete à formação de professores, entendida como um dos principais fatores de qualidade para a primeira etapa da Educação Básica, Sônia Kramer e Maria Fernandes Nunes destacam a formação como necessária, tendo em vista que:

Trabalhar em creches e pré-escolas exige dos professores conhecimento do desenvolvimento infantil, de questões curriculares e pedagógicas, da função cultural e social da creche e da escola relevantes para a elaboração de propostas pedagógicas, organização do tempo e espaço, planejamento e registro de

28 Esta informação é referente aos resultados preliminares da pesquisa de doutorado em desenvolvimento no PPGE/ UFJF, da discente Bárbara Lima Giardini, “Política de Formação de professores: uma avaliação sobre o Plano de Ações Articuladas (PAR) em municípios da Zona da Mata Mineira”, orientada pela professora Beatriz de Basto Teixeira.

atividades, acompanhamento de cada criança e dos projetos realizados, da relação com as famílias e comunidade, aspectos complexos que demandam formação (KRAMER; NUNES, 2011, p. 8).

Trata-se da exigência de uma atuação mais ampla e especializada do que a que vinha e ainda vem acontecendo; sobretudo nas creches, onde predomina a atuação de profissionais, muitas vezes, sem a formação em nível médio (os crecheiros, agentes auxiliares de creches ou recreadores).

No relatório de avaliação das políticas educacionais para a infância no Brasil (MEC; SEB; UNESCO, 2009), observou-se que em 2003 ainda era possível encontrar nas creches professores com ensino primário incompleto e primário completo. A maioria possuía o ensino médio completo, sendo que Ensino Superior, apenas 18% dos professores no Brasil que atuavam em creches é que possuíam. Essa proporção de professores com Ensino Superior aumenta um pouco quando se verifica aqueles que atendem a pré-escola (4 a 5 anos). O referido relatório já apontava no mesmo ano um valor de 31% dos professores que atuam em pré-escolas com Ensino Superior completo.

Em pesquisa mais recente, Kramer e Nunes (2011), fazendo um balanço de uma década (1999 a 2009) das políticas de Educação Infantil no estado do Rio de Janeiro, identificaram que, a despeito da legislação vigente, e ainda de toda importância atribuída à formação do profissional que trabalha com as crianças de 0 a 5 anos, identificou-se que um pouco mais de 10% dos municípios pesquisados ainda não desenvolviam nenhuma atividade de formação de professores. Este número, que foi considerado relativamente alto pelas pesquisadoras, ganha um alerta quando se retoma à LDB, e se compreende que, dentro de sua proposta de formação, a Lei determinou que, até o ano de 2007, todos os profissionais que atuassem na Educação Infantil deveriam ser considerados professores, e deveriam ter formação específica na área.

Cerisara (2002) destaca que, ao definir ainda que a formação desses profissionais se daria nas universidades, em cursos de graduação plena, a LDB contribuiu para a criação não apenas dos institutos de ensino superior, mas, também, dos cursos de Normal Superior. Para a autora, o que a LDB promove é um avanço em relação à formação; mas, ainda, um problema aos cursos de Pedagogia, que, historicamente responsáveis pela formação dos profissionais dessa etapa, estiveram ameaçados com o decreto do governo n.º 3.554/2000, que, em seu art. 3º, definia que “a formação das professoras de Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental far-

se-á exclusivamente em cursos normais superiores”. O decreto, após inúmeras manifestações, foi reeditado, no qual a palavra “exclusivamente” foi substituída por “preferencialmente”.

No que concerne à formação de professores, é importante destacar dois elementos que marcam as políticas públicas educacionais para a infância e a coadunam com as Metas apresentadas no Plano Nacional de Educação 2001-2010: as novas Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia; e a implementação do Proinfantil.

As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia – aprovadas em dezembro de 2005 e homologadas em junho de 2006 – declaram como objetivos principais (art. 4º) a formação do pedagogo para:

[...] exercer funções de magistério na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos (CNE/CP, 2006).

No que compete ao exercício da função, o artigo 5ª, inciso II diz que o pedagogo deverá “compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir, para seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social” (CNE/CP, 2006). Quanto à organização da carga horária do curso, ele prevê a realização de estágio supervisionado na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental como prioridade (art. 7º, II). Nesse sentido, observa-se uma ênfase à formação do professor de Educação Infantil, e à importância dessa formação para as crianças, além de representar um ganho considerável, na medida em que são viabilizados os estágios com crianças menores de três anos, o que não vinha sendo possível.

É relevante considerar que, apesar desse avanço, o que é apresentado no relatório da Unesco (MEC; SEB; UNESCO, 2009), em 2006, sobre os cursos de formação de nível superior que não estariam focados em questões específicas sobre a primeira infância, é uma realidade percebida ainda hoje. Moema Kienhn (2009) apresenta resultados de pesquisa feita com 16 Instituições Federais de Ensino Superior a partir dos currículos dos cursos de Pedagogia e de suas ementas. A autora, que dividiu esses currículos em três partes – Fundamentos gerais; Fundamentos de Formação pedagógica; e Formação pedagógica específica para Educação Infantil –, identificou que, nesta parte específica (Formação pedagógica para EI), o maior

número de disciplinas que apareceu foram apenas três, sendo que menos da metade das instituições analisadas apresentavam esses conteúdos.

De acordo com Kienhn (2009), é possível afirmar que o que prevalece é a formação para professores doa anos iniciais do EF, estando a formação para a Educação Infantil numa posição secundária. Para ela, essa “secundarização” é mais grave, tendo em vista a importância concebida à formação desses professores nos cursos superiores.

O preconceito que já foi denunciado em outros momentos, sobretudo em relação à creche, permanece. Se ainda não há um consenso generalizado sobre a importância dos conhecimentos pedagógicos para trabalhar com crianças; por outro lado, também não há consenso nos cursos de Pedagogia sobre a importância de aprender a não só educar, mas a cuidar das crianças. A dimensão do cuidar envolve a garantia do atendimento às necessidades físicas (como alimentação, ingestão de líquidos, sono e higiene), mas inserida em um ambiente que permita à criança desenvolver-se emocionalmente, desenvolver suas expressões e, ainda, ter sua curiosidade intelectual saciada.

Porém, o que se observou na pesquisa de Kienhn é que as disciplinas trabalhadas nos cursos de Ensino Superior pouco têm contemplado essa dimensão. Dentre aquelas identificadas, foram: Fundamentos da Educação Infantil (presente em 55,56% dos 16 cursos pesquisados); Organização dos processos educativos na Educação Infantil (presente em 33,33% dos cursos pesquisados); e Organização metodológica específica na Educação Infantil (presente em 33,33% dos cursos pesquisados) (KIENHN, 2009).

Outro elemento a ser considerado nas políticas de formação de professores é o Proinfantil, desenvolvido na modalidade a distância, em Nível Médio, e na modalidade Normal. Incluído como um das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o Proinfantil foi lançado pelo MEC no ano de 2005, em parceria com os estados e municípios, para atender às exigências da legislação vigente. Esse curso oferecido pelo MEC se coloca como parte da ação supletiva que a União deve prestar aos municípios e aos estados quando estes não investem suficientemente em vagas, recursos e formação de seus profissionais, no caso da Educação Infantil, sobretudo na formação em nível Médio, de responsabilidade dos estados. De acordo com informações disponibilizadas na página do programa29, até o ano de 2009 já haviam sido

formados mais de 16 mil professores, sendo que, no ano de 2011, estava prevista a conclusão da etapa de formação de 20 mil profissionais em todos os estados brasileiros.

Diante desse cenário, concorda-se com as considerações de Kramer e Nunes, quando dizem que houve avanços no que compete à formação inicial dos profissionais que trabalham com as crianças de 0 a 5 anos, bem como na qualificação e na formação continuada destes. Acredita-se, contudo, que os desafios ainda são grandes. Num universo de quase 370 mil professores atuantes na Educação Infantil (creches e pré-escolas), de acordo com a Sinopse do Professor, publicada pelo INEP, 1,3% deles possuem apenas o Ensino Fundamental; e cerca de 50%, superior completo.

Gráfico 01 – Número de Professores na Educação Infantil por escolaridade, segundo a Região Geográfica e a Unidade da Federação, em 2012.

Fonte: INEP - Sinopse do Professor 2009, atualizada em 17 dez. 2012 - 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000 400.000

Brasil Sudeste Minas Gerais

Total

Ensino Fundametal Médio Total

Médio Normal Magistério Ensino Médio

Gráfico 02 – Número de professores na Creche, por escolaridade, segundo Região Geográfica, em 2012.

Fonte: INEP - Sinopse do Professor 2009, atualizada em 17 dez. 2012

Analisando os dados dos professores que lecionam nas pré-escolas, identifica-se que o número de profissionais com ensino superior supera, ligeiramente, o número total de professores com formação em nível Médio no Sudeste (formação generalista e Normal). É interessante notar que, conforme também identificado nos gráficos 1 e 2, o número de profissionais da Educação Infantil que possuem apenas Ensino Fundamental é para a Região Sudeste e para o Estado de Minas Gerais inexpressivo (menos de 2% nos dois casos); enquanto no Brasil e em Minas Gerais predominam os professores com Ensino Médio nas Creches; e com Ensino Superior na Região Sudeste. Na pré-escola, os três dados são superiores em termos de formação em Nível Superior, conforme é possível observar no gráfico abaixo.

- 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 120.000 140.000

Brasil Sudeste Minas Gerais

Total

Ensino Fundamental Ensino Médio Total Normal/ Magistério Ensino Médio Superior Completo

Gráfico 03 – Número de Professores na Pré-escola por escolaridade, segundo região geográfica, em 2012

Fonte: INEP - Sinopse do Professor 2009, atualizada em 17 dez. 2012.

Por fim, é possível destacar que o número de professores que atuam na pré-escola com formação específica (formação inicial ou continuada) é de apenas 15%; um índice baixo, conforme os dados encontrados para as creches.

Chega-se ao final desta seção com a certeza de que, apesar dos avanços e investimentos na formação desses profissionais, há ainda grandes desafios para que sejam cumpridas as determinações da legislação educacional. Ainda é possível encontrar no país professores sem ao menos a modalidade Normal para o atendimento às crianças de 0 a 5 anos; e ainda é possível identificar um baixo investimento das redes de ensino em formar em serviço seus profissionais. Além dessas observações, cabe ressaltar o que Kramer e Nunes (2011) destacam como elementos emergenciais no que compete aos profissionais da Educação Infantil: a formação cultural desses profissionais, e a realização de concurso específico para professores dessa etapa. Para as autoras, sendo os professores elementos essenciais de uma Educação Infantil de qualidade, é urgente que, além da formação inicial, sejam também realizadas essas ações.

Discutidos o contexto normativo, o currículo e a formação de professores; na próxima seção, far-se-á um estudo sobre o financiamento da Educação Infantil, elemento fundamental para a concretização dos elementos que foram mencionados até o momento, sobretudo a questão do acesso e da permanência na Educação Infantil de qualidade.

- 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000

Brasil Sudeste Minas Gerais

Total

Ensino Fundamental Ensino Médio Total Normal/ Magistério Ensino Médio Ensino Superior

No documento rafaelareisazevedodeoliveira (páginas 107-114)