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O Impacto do Programa Minha Casa Minha Vida na demanda por acesso à

No documento rafaelareisazevedodeoliveira (páginas 175-179)

4. A JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL EM JUIZ DE FORA

4.5 A DEMANDA POR ACESSO À EDUCAÇÃO INFANTIL EM JUIZ DE FORA

4.5.2 O Impacto do Programa Minha Casa Minha Vida na demanda por acesso à

Além dos fatores apontados acima, é chegado um novo elemento que tem contribuído para o aumento da demanda por vagas na Educação Infantil, conforme identificado na pesquisa em Juiz de Fora: - a desarticulação de políticas públicas. Em outras palavras, foi identificado que no município, a política habitacional – Minha Casa, Minha Vida, contribuiu para o aumento da demanda por vagas nas regiões em que seus condomínios foram construídos.

O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) foi implementado por Medida Provisória nº 459 em março de 2009 e sancionada como a Lei n.11.977 de 07 de julho de 2009. Conforme artigo primeiro, “[...] tem por finalidade criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até R$4.650 (quatro mil e seiscentos e cinquenta reais[...]” (BRASIL, 2009b).

Visando diminuir os déficits habitacionais no país, se estruturou para atender famílias localizadas em três faixas econômicas: Faixa I (até 03 salários mínimos), que possuía maior

déficit habitacional no país, cerca de 90%; a Faixa II (de 03 a 06 salários mínimos), que possuía déficit habitacional de 6%; e a Faixa III (de 06 a 10 salários mínimos), que possuía déficit habitacional de 3%.

O folhetim de divulgação do programa detalhou as metas que o Minha Casa Minha Vida visava atingir, conforme a tabela a seguir:

Tabela 10 – Déficit acumulado por faixa de renda e as metas do Programa Minha Casa, Minha Vida Faixa de renda (R$) Déficit acumulado (em %) Metas do Minha Casa, Minha Vida (em %) Déficit acumulado (valor absoluto em mil) Metas do Minha Casa, Minha Vida (valor absoluto, em mil) Déficit acumulado atendido (em %) Até 03 salários mínimos 91% 40% 6.550 400 6% De 3 a 6 salários mínimos 6% 40% 430 400 93% De 6 a 10 salários mínimos 3% 20% 210 200 95% Total 100% 100% 7.200 1.000 14% Fonte: RAMAGNOLI, J. A (2012)

Como é possível perceber na tabela, a faixa que possui maior déficit é a que apresenta menor percentual de demanda atendida; contrariamente a situação das Faixas II e III, que estão, praticamente, supridas as demandas. De acordo com Ramagnoli (ano), dificilmente as famílias que recebem um único salário conseguirão destinar os 10% de sua renda (conforme os critérios do PMCMV) para o pagamento da prestação habitacional, o que justifica, em parte, ainda o baixo número de famílias na Faixa I atendidas.

Adauto Cardoso (et al, 2010) destaca para a possibilidade de que o PMCMV traga mais problemas de habitação que realmente consiga solucioná-los. Isso, porque, o Programa não previu, inicialmente, recursos para a construção de equipamentos urbanos, como escolas, praças, hospitais, etc. Contudo ele ressalta que a legislação que regulamenta o Programa estabelece alguns parâmetros para a aprovação de projetos. Dentre os parâmetros, identifica-se a orientação

para que a Caixa Econômica Federal priorize a contratação de empreendimentos localizados em regiões que conste de infraestrutura básica. Porém, ele diz que esse parâmetro é utilizado apenas por comparação, pois o que se verifica na prática é outra realidade.

Na atuação cotidiana da CEF, os projetos são analisados caso a caso, e enquadrados dentro de normativas a partir de suas características próprias. Neste processo, a aprovação de projeto dependeria de uma análise de conjunto de todas as propostas existentes em um determinado momento. Ainda assim, mesmo considerando que a comparação fosse possível, para que houvesse a priorização seria necessário que houvessem empreendimentos bem localizados, para disputar com outros em pior situação. Não havendo oferta de projetos para áreas infraestruturadas, como realizar esta escolha”? (ADAUTO, et al, 2010, p.10-11).

Uma consequência dessa prática é a “segregação residencial”. De acordo com Marque e Rodrigues (2013, p. 171), os empreendimentos do PMCMV têm sido construídos longe dos espaços de elites e cada faixa estaria de acordo com a estrutura destes espaços: faixa I – predomínio de trabalho manual; faixa II – espaços médio-baixos misturados; e a faixa III – nos espaços médios misturados. É neste sentido que eles falam da “segregação residencial”, tendo em vista que os conteúdos sociais das áreas da cidade têm sido homogêneos e estando separados por distâncias de outros espaços também homogêneos.

A despeito das informações que foram trazidas sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida, importa destacar os parâmetros pelos quais os empreendimentos precisam estar enquadrados e a prática real do que acontece. A não observação destes parâmetros contribui para a geração de outros problemas, como é o caso do déficit de vaga escolar.

Em Juiz de Fora, pelas informações que foram obtidas com as entrevistas, torna-se claro o impacto da política habitacional no município. Houve relato da SEPEI (SEPEI, entrevista cedida no dia 30 de outubro de 2014) que, em função da entrega dos condomínios Minha Casa, Minha Vida, a secretaria de educação precisou, rapidamente, se ajustar para atender todas as crianças, chegando a ter nas escolas turmas atendendo em tempos intermediários.

A ex-secretária de Educação, Eleuza Barboza (SE – Eleuza, 2014), destacou que durante a sua gestão foram iniciados estudos sobre as migrações habitacionais em função do PMCMV, tanto que dois projetos PROINFÂNCIA foram solicitados para áreas que passaram pelo fluxo migratório, como são as creches no Parque das Águas e no Dom Bosco. Já o atual secretário (SE – Weverton, 2014) destacou a despreocupação que a aprovação dos empreendimentos teve frente

à oferta de serviços como, educação, saúde e transporte. De acordo com ele, a região Norte da cidade, em função dos empreendimentos lá inaugurados, foi a região com maiores problemas para atendimento educacional e no qual foi preciso tomar atitudes mais emergenciais. Destacou, contudo, que está para ser aprovada medida do Governo Federal que destina 6% dos recursos do PMCMV para a construção de equipamentos públicos, e, também, que foi criado no município de Juiz de Fora um comitê intersetorial para a aprovação de novos empreendimentos. De acordo com o secretário, eles serão aprovados apenas se houver acordo entre secretarias de educação, saúde e de transporte.

A intersetorialidade tem sido uma prática bastante estimulada na administração pública, com a promessa de evitar problemas tal como mencionado em Juiz de Fora. De acordo com Luciano Junqueira (2004),

A ação intersetorial surge como uma nova possibilidade para resolver problemas que incidem sobre uma população que ocupa determinado território. Essa é uma perspectiva importante porque aponta para uma visão integrada dos problemas sociais e de suas soluções. Com isso, busca-se otimizar os recursos escassos procurando soluções integradas, pois a complexidade da realidade social exige um olhar que não se esgota no âmbito de uma única política social (JUNQUEIRA, 2004, p. 27).

A falta desta proposta intersetorial tem conseguido, de acordo com Junqueira, fazer com que o cidadão não seja considerado em sua totalidade. Deste modo, é possível entender que as famílias que se beneficiaram com o programa habitacional, não foram consideradas, em princípio, - e ainda que haja parâmetros para isso -, em sua totalidade; momento que aconteceu a migração habitacional, ficaram descobertos de outros direitos sociais, como foi o caso da educação.

Felizmente, parece que o município deu o primeiro passo. Mas, conforme destaca Comerlatto (et al, 2007), a intersetorialidade não é um processo fácil, pois envolve mediação e negociação de interesses, de modo que consigam, diferentes instâncias públicas, realizar o enfrentamento do problema e oferecer uma ação em conjunto.

Apresentada a demanda reprimida do município, que se encontra potencializada nas vagas de creches, e o impacto que a política habitacional tem causado à demanda, a próxima seção traz, finalmente, uma apresentação do que está sendo feito em Juiz de Fora para o seu atendimento. Destaca-se, nela, a apresentação da audiência pública convocada pelo vereador

Jucélio Maria, que num cenário de “desjudicialização50” identificada no município, poderia

sinalizar um caminho interessante para o atendimento à Educação Infantil.

4.6. POLÍTICAS PARA ATENDIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: o que está sendo

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