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Rede de atendimento da educação infantil

No documento rafaelareisazevedodeoliveira (páginas 136-140)

4. A JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL EM JUIZ DE FORA

4.1 JUIZ DE FORA: breve cenário educacional

4.1.1. Rede de atendimento da educação infantil

A rede de atendimento à Educação Infantil está definida entre escolas de Educação Infantil; escolas que atendem a Educação Infantil e Ensino Fundamental; creches públicas e creches conveniadas.

Até o ano de 2014, a Secretaria de Educação tinha apenas seis escolas exclusivas para o atendimento à etapa pré-escolar. Porém, a partir de 2015 – considerando-se a obrigatoriedade da etapa e a meta de universalizá-la até o ano de 2016 –, a SE contará com mais seis escolas, totalizando doze. Este crescimento se dará com a separação das escolas que atendiam tanto a pré- escola quanto os primeiros anos do Ensino Fundamental.

No que compete ao atendimento em creches, sabe-se que, para atender à legislação educacional – LDB, artigo 89, os municípios tiveram o prazo de três anos para se adequarem e colocarem o atendimento das creches sob a responsabilidade da Secretaria de educação. No entanto, Vera Vasconcellos (et al., 2003), analisando a transição da Educação Infantil para os sistemas de ensino, identificou, em sua pesquisa que, apesar da legislação, muitas secretarias de educação resistiram à recepção das creches, do mesmo modo que muitas secretarias de assistência social não se esforçaram para garantir o cumprimento da Lei. Esses pontos foram em partes identificados em Juiz de Fora, tendo em vista que essa transferência foi um tanto conturbada, conforme destaca Alexsandra Zanetti (2009). Já não cumprindo com a determinação expressa na LDB/96, a Secretaria de Educação integrou as creches à sua rede tão somente no final do ano de 2008. Essa transição, ocorrida anos após o prazo determinado, teve como fator de impulso a data limite para que os municípios se adequassem para receber as verbas do Fundeb. De acordo com a autora, alguns fatores tornam complicada a transição, como: o repasse de recursos da assistência social para a Secretaria de Educação; o conflito no que compete ao

vínculo empregatício dos funcionários da Associação Municipal de Apoio Comunitário (AMAC)35; e, ainda, o interesse da AMAC em manter o serviço sob sua custódia.

De acordo com Fabiana Castro (2015), entre os principais constrangimentos da transição das creches à Secretaria de Educação, o mais problemático foi a admissão dos educadores de creches pela SE/JF. Isso se deveu ao fato de que os profissionais que atuavam nas creches, via assistência social, eram contratados apenas por seleção, e não por meio de concurso, como são os professores da Secretaria de Educação. Desse modo, Castro destaca que a resolução do impasse se deu por meio de um convênio firmado entre a AMAC e a SE/JF, no qual os funcionários da AMAC, que já atuavam em suas creches, foram cedidos, por tempo indeterminado, para a SE/JF. Cumpre destacar, contudo, que, segundo Castro, a maioria desses profissionais não tinha formação mínima exigida por lei para atuar na Educação Infantil; apesar disso, não verificou-se na pesquisa realizada para este trabalho de doutoramento, notícias de formação para estes profissionais que nela chegaram.

As creches públicas de Juiz de Fora estão, desde 2009, sob a responsabilidade da AMAC, no que compete à execução das atividades; mantendo-se sob a responsabilidade da Secretaria de Educação, a orientação pedagógica e o repasse de verbas públicas. Por sua vez, o acompanhamento psicológico e os programas de assistência social que a instituição também prestava, foram repassados à Secretaria de Desenvolvimento Social, a qual a AMAC está conveniada.

Entre os fatores destacados por Zanetti (2009) como complicadores da transição, é possível destacar dois que estão em evidência na luta pela melhoria da qualidade da Educação Infantil. Um deles é a possibilidade de que, havendo uma instituição de assistência executando as atividades da Educação Infantil, permaneça um caráter assistencialista no atendimento realizado nas creches. Outro ponto diz respeito ao perfil do profissional que atua na Educação Infantil, tendo em vista que os funcionários da AMAC possuem vínculo CLT, não possuem um plano de carreira, e nem sempre possuem a formação desejada: Licenciatura em Pedagogia ou Normal Superior.

35 Cumpre dizer que a AMAC, responsável ainda no ano de 2015 pela execução das atividades nas creches públicas de Juiz de Fora, está sob judice, tendo sido questionada a sua natureza jurídica, o que pode tornar o seu vínculo com o serviço público ilegal. Esse fato tem ocasionado alguns problemas. De acordo com as entrevistas obtidas com os funcionários da Secretaria de Educação, tem havido dificuldades de ampliar o atendimento, já que não é possível, por exemplo, que a instituição contrate profissionais para trabalharem nas creches.

Ao todo, em 2014, a Secretaria de educação contou com 21 creches públicas geridas pela AMAC, e 23 creches conveniadas, sendo: 04 creches conveniadas na modalidade cessão de professores; e 19 creches na modalidade repasse de verbas. Além disso, algumas escolas municipais de Juiz de Fora que atendem crianças de 4 e 5 anos também têm oferecido turmas para crianças de 03 anos, conforme identificou Fabiana Castro (2015). Segundo a autora, esse atendimento ocorre devido à:

deficiência de vagas nas creches do município, que não conseguem absorver a grande demanda que se apresenta. [...] Também contribui para essa configuração do atendimento de crianças de três anos nas escolas da rede a opção que muitas famílias fazem no atendimento em tempo parcial, e não integral, como o que é oferecido pelas creches municipais (CASTRO, 2015, p. 35).

A autora pondera, ainda, que essas crianças de três anos que são atendidas nas escolas municipais assim o são por ação voluntária das escolas. Estas, localizadas em bairros de periferia – que, em sua maioria, não possuem uma creche próxima –, ao se depararem com salas de aula ociosas e uma lista de mães pedindo vagas para seus filhos, solicitam à Secretaria a autorização para o funcionamento. A SE/JF, por sua vez, produziu, diante desse cenário, critérios informais para o funcionamento das turmas, que se traduzem em: atendimento universalizado a crianças de 4 e 5 anos na escola; existência de demanda reprimida de crianças de 3 anos para a escola; e existência de salas de aula ociosas e com condições para atender adequadamente as crianças de 3 anos. Não se identificou, porém, se há um acompanhamento do que tem sido realizado, haja vista que não se trata de uma política de atendimento da Secretaria, conforme afirmou Castro.

Continuando a descrição do atendimento, o número de crianças atendidas por turma é calculado a partir da metragem da sala, sendo: 1m/criança e 2m/educador, de acordo com a Resolução 001/13 do Conselho Municipal de Educação. São respeitados, ainda, os seguintes limites:

Tabela 06 – Organização dos espaços e das turmas

Turma Faixa Etária Nº de crianças Nº de educadoras

Berçário I 0 a 01 ano 6 1

Berçário II 1 a 2 anos 6 a 8 1

2 anos 2 anos 8 a 15 1

3 anos 3 anos 15 a 18 1

Pré-escola 4 e 5 anos 20 a 25 crianças 1

Fonte: Resolução 001/13 CME.

Além disso, a Resolução dispõe sobre a organização da Educação Infantil coerente com a Lei 12.796, de 04 de abril de 2013, já mencionada neste trabalho.

No que compete à oferta de educação, no município de Juiz de Fora, no último decênio (2005-2014), é possível destacar, com base nos dados de matrícula do censo escolar que, na Educação Infantil, houve uma oscilação na oferta de vagas em creches no período. Embora tenha crescido a taxa de atendimento em quase 750 vagas, houve uma retração do número de matrículas entre os anos de 2010 e 2014 de quase 250 vagas. Importa dizer que esses resultados do censo divergem dos resultados obtidos na pesquisa, em que os atores entrevistados da Secretaria de Educação demonstram ações realizadas para a ampliação da oferta do número de vagas nesta etapa de ensino.

Ainda no que compete ao número de matrículas na rede municipal, a etapa pré-escolar também apresentou oscilações, de modo que o número de matrículas realizadas em 2005 é praticamente o mesmo de 2010: 6.208 e 6.217, respectivamente. O ano em que houve a menor oferta de vagas nesta etapa da Educação Infantil foi em 2007, com 5780 matrículas; já o ano de 2012 foi o com maior número: 6.593.

Desde 2009, a rede estadual de ensino deixou de oferecer vagas em pré-escolas, sendo que em 2005 a oferta foi de quase 1.500 vagas, que correspondiam a 11% do total das matrículas realizadas naquele ano.

Finalmente, no que compete ao número de matrículas na rede privada, é possível destacar uma preponderância, em todo o período, de crianças em etapas de creches na rede particular. A menor quantidade de matrículas aconteceu no ano de 2006 – 2.170 crianças; e o maior foi no ano de 2013 – 4.597 crianças. Destaca-se, porém, uma retração de mais de 1.200 matrículas entre os

anos de 2013 e 2014. De maneira diferente, aconteceu na etapa pré-escolar. A rede privada sempre apresentou em todos estes anos números de matrículas inferiores aos números da rede municipal de ensino. De 2005 a 2007, houve as maiores perdas de matrícula na rede particular – cerca de 1.600. De 2006 a 2014, ela oscilou em torno de 400 vagas: entre 4.400 e 4.800 matrículas.

No documento rafaelareisazevedodeoliveira (páginas 136-140)