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Formação do pomar, tratos culturais e possibilidades tecnológicas

2. ASPECTOS TÉCNICOS E ECONÔMICOS DA CITRICULTURA

2.2. ASPECTOS TÉCNICOS DA CITRICULTURA PAULISTA

2.2.2. Formação do pomar, tratos culturais e possibilidades tecnológicas

ser realizada antes do plantio é a escolha entre as diferentes variedades de citrus, que possuem características e períodos de safra também distintos. Em 2012, as principais variedades cultivadas no cinturão citrícola paulista foram: laranja Pêra, que representou 30% do total das variedades produzidas; laranja Valência, com 28% do total; laranja Hamlin, com 12%; e laranja Natal, com 11% do total produzido (CDA, 2012). Essas variedades também podem ser classificadas como precoces (Hamlin), variedades de meia-estação (Pêra) e variedades tardias (Natal e Valência). Tal classificação está relacionada com os diferentes períodos de colheita. A Tabela 4 apresenta as principais características dessas variedades de laranja no processamento industrial para a produção do suco de laranja. Vale destacar que, apesar de cada variedade de laranja apresentar, em geral, suas características próprias, a qualidade dos frutos também se altera em função de fatores como clima, solo, porta-enxerto utilizado, adubações, tratos culturais, tratamentos fitossanitários, entre outros (DAVIES; ALBRIGO, 1994).

36 Tabela 4. Características médias obtidas para o processamento de diferentes variedades de laranja.

Hamlin Pêra Natal Valência

Época de safra*** Abril-Julho Julho-

Novembro

Agosto- Dezembro

Agosto- Dezembro Tamanho médio do fruto (no/cx

de 40,8kg)*

303 277 262 247

Sabor do suco (score, 36-40)** 33 / 32,4 36,9 / 36,8 37 / 36,9 37 / 36,9

Cor do suco (score, 36-40) 34,8* /

32,8**

37,3* / 36,94**

37,1* / 37,3** 37,1* / 37,3**

Sólidos solúveis totais - SST (o

Brix)* 10,70 - 11,67 11,14 - 12,14 10,56 - 11,83 10,56 - 11,83 Acidez* 0,71 - 0,75 0,58 - 0,86 0,76 - 1,06 0,76 - 1,06 “Ratio” (SST/Acidez* 14,22 - 16,22 12,94 - 20,75 9,90 - 19,20 9,90 - 19,20 % de suco* 51,7 - 51,8 56,7 -59,2 52,6 - 56,8 52,6 - 56,8 Vitamina C (mg/100ml)** 322 256 239 239 * Segundo Nonino (1995).

**Segundo Di Giorgi et al. (1990) e Di Giorgi et al. (1993). ***Segundo Pio et al. (2005).

Fonte: Elaborada a partir de Equipe Citros da Embrapa Mandioca e Fruticultura (2012).

Conforme pode-se observar na Tabela 4, as diferentes variedades de laranja cultivadas no cinturão citrícola do Estado de São Paulo possibilitam um período de processamento industrial que se estende por cerca de nove meses, além de prolongarem a safra para o citricultor e permitirem uma melhor distribuição da mão-de-obra rural (PAULILLO, 2006). Ao decidir pela produção de diferentes variedades em sua propriedade, o citricultor pode aumentar o período de sua produção, compor um preço médio ao vender em momentos diferentes da safra e ainda comercializar com diferentes canais de distribuição. Tais estratégias de produção e comercialização podem ser importantes para os citricultores reduzirem os riscos de preço e aumentarem a receita da produção.

As mudas de laranja são produzidas a partir de enxertia, que é a implantação de uma porção da planta matriz (fornecedora de material para multiplicação) na haste da planta que desempenha a função de porta-enxerto. A união de tecidos proporciona a multiplicação da planta original (VIEIRA, 2006). Os porta-enxertos mais utilizados no

37 Estado de São Paulo são o limoeiro ‘Cravo’, o citrumeleiro ‘Swingle’ e as tangerineiras ‘Cleópatra’ e ‘Sunki’ (POMPEU JUNIOR, 2005).

Os porta-enxertos influenciam diversas características hortícolas e patológicas relativamente às combinações copa/porta-enxerto de que participam, destacando-se: produtividade de frutos; qualidade das frutas, incluindo aspectos como maturação, peso e permanência de frutos na planta, coloração da casca e do suco, teores de açúcares, de ácidos e de outros componentes do suco; conservação da fruta pós-colheita; tolerância a insetos-praga, doenças e a fatores abióticos, como frio, salinidade, toxicidade de alumínio e seca; absorção, síntese e utilização de nutrientes; transpiração e composição química das folhas; e resposta a produtos de abscisão de folhas e de frutos. Por esses motivos, a escolha do porta-enxerto é tão importante quanto a definição da cultivar-copa (POMPEU JUNIOR, 2005; SOUZA et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2010).

O aumento na incidência de doenças e pragas nos últimos anos fez com que os procedimentos adotados na produção e comercialização de mudas se tornassem mais rigorosos. A legislação atual no Estado de São Paulo exige proteção do viveiro com tela antiafídicos para produção de porta-enxertos, mudas de citros e mudas certificadas. É exigido material vegetal (sementes e borbulhas) oriundo de plantas matrizes e borbulheiras registradas (EMBRAPA, 2012).11 A aquisição de mudas sadias, de qualidade e certificadas se tornou imprescindível para a formação dos pomares citrícolas (VIEIRA, 2006).

Após a escolha do porta-enxerto e das mudas, o citricultor deve realizar os trabalhos de preparo do solo para o plantio. Realiza-se a abertura dos sulcos com aplicação de calcário, demais corretivos e fertilizantes, e é feito o alinhamento das covas. Geralmente, são estabelecidos talhões com áreas de até 10 hectares, onde se planta uma única combinação de copa e porta-enxerto, o que viabiliza o manejo, os tratos culturais e a colheita. O período mais indicado para o plantio é o no início da estação chuvosa, embora possa ser feito em outras épocas diante da possibilidade de regar as mudas (MATTOS JUNIOR et al., 2005).

O produtor pode escolher diferentes espaçamentos entre as plantas, sendo que, a partir da década de 1990, os citricultores têm adotado a prática de adensamento dos

11 As informações pertinentes à produção e comercialização de mudas cítricas no estado de São Paulo estão detalhadamente dispostas nos instrumentos legais a seguir citados: Portaria CDA 5, de 03 de fevereiro de 2005; Instrução Normativa 10, de 18 de março de 2005; Resolução SAA 10, de 29 de março de 2006 (EMBRAPA, 2012).

38 pomares, que consiste em aumentar o número de plantas por área, ou, analogamente, reduzir o espaçamento entre as plantas (VIEIRA, 2006; NEVES, 2010). Os principais objetivos da técnica adensamento são aumentar a produção por área (produto médio da terra) e fazer melhor aproveitamento no uso dos outros fatores de produção. Por exemplo, em um pomar adensado os tratores precisam percorrer distâncias menores para aplicar adubos e defensivos em um número relativamente maior de plantas. Em que pesem os potenciais benefícios da técnica de adensamento, há risco de perda na qualidade dos frutos em decorrência da falta de luz para as plantas adensadas. Ademais, podem-se aumentar consideravelmente os custos com podas em pomares adensados, visto que, devido à proximidade entre as plantas, as podas são fundamentais para viabilizar o manejo do pomar e a colheita dos frutos.

Ao montar a estrutura física da produção citrícola em sua propriedade rural, o citricultor pode decidir pela adoção de diferentes tecnologias de produção e gestão (adensamento dos pomares, irrigação, fertirrigação, uso de técnicas de agricultura de precisão, controle e monitoramento de custos e estoques etc), pelo uso de mudas de maior qualidade e pelo uso intensivo do fator capital (tratores, aplicadores de adubos, pulverizadores), desde que tenha recursos financeiros e gerenciais para tal. O uso dessas tecnologias tende a resultar em um elevado produto médio da terra durante o ciclo produtivo do pomar. Apesar dessas possibilidades, a citricultura paulista sempre foi marcada por grande heterogeneidade tecnológica (PAULILLO, 2006; MELLO, 2008; NEVES, 2010).12 Coexistem pomares com elevada intensidade tecnológica e padrões modernos de gestão com pomares de baixa intensidade tecnológica e padrões arcaicos de gestão.

Uma vez montada a estrutura produtiva da fazenda e feito o plantio, os pés de laranja começam a produzir apenas a partir do terceiro ano, apresentando o ponto de produto médio máximo no 13o ano. Em geral, a vida útil de um pomar é de 20 anos (FIGUEIREDO et al., 2009). Tal característica configura riscos para os citricultores, uma vez que, depois de formado o pomar, há altos custos para sair da atividade (sunk costs) e os retornos ocorrem apenas em médio prazo.

Durante a fase de formação do pomar, deve-se atentar bastante para os problemas fitossanitários, de forma que as plantas alcancem sua idade produtiva sem a ocorrência

12 A heterogeneidade tecnológica é uma característica da agropecuária brasileira de uma forma geral. Em grande parte das atividades agropecuárias desenvolvidas no Brasil coexistem diferentes sistemas de produção com diferentes padrões de tecnologia e gestão (MENDES et al., 2014).

39 de pragas e doenças que possam prejudicar a produção. O descuido com tratos fitossanitários nos primeiros anos da formação de um pomar pode resultar na perda de todo o investimento realizado, visto que a incidência de doenças nesse período pode levar as plantas a não atingirem sua idade produtiva. Ademais, um pomar em produção exige tratos culturais (podas, remoção de ervas daninhas, entre outros) e aplicações periódicas de fertilizantes e defensivos, fatores fundamentais para determinar a produção ótima das plantas.