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2. ASPECTOS TÉCNICOS E ECONÔMICOS DA CITRICULTURA

2.2. ASPECTOS TÉCNICOS DA CITRICULTURA PAULISTA

2.2.3. Problemas fitossanitários, uso de defensivos e adubação

A incidência de pragas e doenças é uma das questões que mais causam preocupações aos citricultores e outros agentes do sistema agroindustrial citrícola (PAULILLO, 2006; NEVES, 2010; FUNDECITRUS, 2013). Estimativas de Neves (2010) mostram que, na década de 2000, quatro doenças (cancro cítrico, CVC, morte súbita e greening) foram responsáveis pela erradicação de 39 milhões de pés de laranja em São Paulo e no Triângulo Mineiro. A Tabela 5 apresenta a evolução percentual da incidência das principais doenças sobre os pomares do Estado de São Paulo e do Triângulo Mineiro.13 Nota-se tendência de aumento no percentual de plantas contaminadas com todas as doenças, sendo que a CVC é a doença com maior percentual de incidência. Embora a incidência do greening e do cancro cítrico seja relativamente baixa, as duas doenças estão em ampla disseminação e são as que mais preocupam os agentes do sistema citrícola (FUNDECITRUS, 2013).

Tabela 5. Percentual (sobre o total de árvores) de plantas contaminadas com CVC, cancro cítrico e greening, 2009 a 2012.

Ano CVC Cancro Cítrico Greening

2009 39,19 0,14 0,87

2010 52,52 0,44 1,87

2011 54,09 0,99 3,78

2012 51,14 1,99 6,91

Fonte: Fundecitrus (2013).

O cancro cítrico é uma doença bacteriana que causa desfolha das plantas, redução de qualidade pela presença de lesões nos frutos e queda prematura dos frutos. Essa é a doença mais antiga no Brasil e atingiu o seu ápice na década de 1990. A única forma de

13 O Fundecitrus não divulga dados com a incidência de contaminação pela morte súbita do citros, por isso essa doença está omitida da Tabela 5.

40 eliminar essa doença é por meio da erradicação das plantas contaminadas. Portanto, o produtor deve tomar medidas de prevenção, como por exemplo: inspeção do pomar, aquisição de mudas sadias e certificadas pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento, plantio de quebra ventos, entre outras.

A CVC (clorose variegada dos citros) é uma doença bacteriana que obstrui os vasos responsáveis pelo transporte de água e nutrientes da raiz para a copa, reduzindo o tamanho e o peso das frutas em até 75% do seu peso natural. Essa foi a doença que mais danos causou à citricultura brasileira até hoje. Teve sua origem em 1987 nas regiões norte e noroeste do Estado de São Paulo e depois migrou para o centro do cinturão citrícola. Os citricultores devem realizar o manejo do CVC baseados em três estratégias: uso de mudas sadias e certificadas; poda de plantas com sintomas iniciais para evitar a proliferação e controle das cigarrinhas transmissoras da doença. A morte súbita dos citros (MSC) é uma doença vascular capaz de matar a árvore em 12 meses ou provocar redução no tamanho, peso e quantidade dos frutos. Essa doença foi identificada em 2001 e desenvolveu-se principalmente nas regiões norte e no Triângulo Mineiro em laranjeiras enxertadas sobre o porta-enxerto do limão-cravo.

Por fim, tem-se o greening, a mais recente e mais destrutiva doença bacteriana. Foi identificada no Brasil em 2004, nas regiões centro e leste do Estado de São Paulo e hoje está presente em todo o cinturão citrícola. Causa enorme preocupação aos citricultores pela velocidade com que se alastrou do seu ponto de origem para as demais regiões. As árvores novas contaminadas pelo greening não chegam a produzir e as que produzem sofrem uma grande queda de frutos. Os pomares com alta incidência da doença devem ser totalmente erradicados porque praticamente todas as plantas, inclusive as sem sintomas, podem estar contaminadas. As medidas de controle do greening devem ser tomadas por todos os citricultores de uma mesma região infectada com a doença (manejo integrado do greening) e são as seguintes: inspeção frequente de todas as plantas do pomar, erradicação das plantas com sintomas, monitoramento e controle do psílideo transmissor das bactérias que causam o greening, aquisição de mudas sadias e certificadas e eliminação das plantas de falsa-murta (FIGUEIREDO, 2008; NEVES, 2010; FUNDECITRUS, 2013).

A incidência de doenças nos pomares citrícolas condiciona o uso de defensivos agrícolas durante as fases de formação e produção. Os principais defensivos utilizados pelos citricultores são os acaricidas, inseticidas, fungicidas e herbicidas. Dentre essas classes de defensivos agrícolas, existem diversas marcas comerciais disponíveis para os

41 citricultores no mercado, sendo que o Fundecitrus divulga, periodicamente, a lista PIC, que mostra as marcas, os ingredientes ativos e as doses recomendadas dos defensivos autorizados para a aplicação. A Tabela 6 apresenta a evolução do consumo e do valor gasto com defensivos pela citricultura brasileira nos anos de 2010, 2011 e 2012.

Tabela 6. Evolução do consumo e do valor gasto com defensivos pela citricultura brasileira.

2010 2011 2012

Volume (t) Valor (US$ mil) Volume (t) Valor (US$ mil) Volume (t) Valor (US$ mil) Herbicidas 4.457 21.173 5.226 28.488 3.505 21.934 Fungicidas 6.775 64.763 7.108 64.711 3.284 51.924 Inseticidas 6.746 65.308 9.200 81.497 6.415 78.828 Acaricidas 10.052 69.999 6.445 74.314 6.182 60.486 Total 28.030 221.243 27.979 249.010 19.386 213.172 Fonte: SINDIVEG (2013).

Os acaricidas e inseticidas foram as classes de defensivos que tiveram maior representatividade, tanto no que tange ao consumo, como também nas despesas dos citricultores durante o período analisado. Chama atenção a forte redução no consumo e nas despesas com defensivos verificada no ano de 2012. Tal fato é explicado principalmente pelos preços baixos na venda da laranja nesse ano, o que, por sua vez, tende a reduzir a demanda pelos fatores de produção variáveis. Essa informação ajuda a explicar a queda de produção em 2013 apresentada na Tabela 1, visto que o baixo uso de defensivos prejudica consideravelmente a produção dos pomares.

Além dos defensivos acima mencionados, os pomares citrícolas exigem também aplicações periódicas de adubos/fertilizantes14, que possuem as funções de fornecer um ou mais nutrientes vegetais ao solo e proporcionar o desenvolvimento ótimo das plantas. A quantidade e a formulação utilizada dos fertilizantes dependem das características do solo (físicas, químicas, físico-químicas e orgânicas), bem como da capacidade financeira do citricultor para custear os gastos com adubação. Em períodos de preços baixos na venda de laranja, é natural que os citricultores reduzam o uso de fertilizantes, o que acaba

14 Sob o ponto de vista químico, os fertilizantes/adubos podem ser classificados em minerais, orgânicos ou organo-minerais. Os primeiros são constituídos de compostos inorgânicos (desprovidos de carbono) ou de compostos orgânicos sintéticos ou artificiais (uréia, por exemplo). Fertilizantes minerais são utilizados em larga escala na agricultura brasileira. Os fertilizantes orgânicos são constituídos de compostos orgânicos de origem natural, vegetal ou animal. Já os fertilizantes organo-minerais consistem na mistura dos dois primeiros (ALCARDE et al., 1998).

42 por impactar na produtividade dos pomares, uma vez que o uso de fertilizantes abaixo da quantidade recomendada tende a reduzir a produção das árvores.

Dentre os principais fertilizantes utilizados na agricultura brasileira e também na citricultura, destacam-se os fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos, que constituem a mistura NPK. A fórmula básica NPK indica o percentual de nitrogênio na forma de N elementar, o teor percentual de fósforo na forma de pentóxido de fósforo, P2O5, e o conteúdo percentual de potássio na forma de óxido de potássio, K2O. Como importante componente das proteínas e da clorofila, o nitrogênio frequentemente é fator primordial no aumento da produtividade agrícola. O fósforo é responsável pelos processos vitais das plantas, pelo armazenamento e utilização de energia, promove o crescimento das raízes e a melhora da qualidade dos frutos, além de acelerar o amadurecimento dos mesmos. O potássio é responsável pelo equilíbrio de cargas no interior das células vegetais, inclusive pelo controle da hidratação e das doenças da planta (DIAS; FERNANDES, 2006).

Conforme exposto nesta seção, a citricultura possui diversas características que, possivelmente, afetam as eficiências técnica e econômica das propriedades rurais citrícolas. Trata-se de uma cultura com processo de produção bastante complexo (cultura permanente com intensos tratos culturais), sujeita à alta incidência de pragas e doenças e com diferentes possibilidades tecnológicas (adensamento, irrigação, uso de adubos modernos, uso de maquinário, etc) durante as fases de formação e produção dos pomares. Ademais, o produto final é perecível, sendo, portanto, inviável estocá-lo, o que aumenta ainda mais a complexidade do processo produtivo e os riscos da atividade. Na seção que segue, são abordadas as principais características econômicas da produção citrícola do Estado de São Paulo.