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As falas relativas às experiências satisfatórias e insatisfatórias no decorrer da formação, e que necessitam ser superadas para o aprimoramento contínuo da qualidade da atuação, diz respeito à prática, saberes necessários ao professor, aprendizagem com pares e professores, além de formação considerada insatisfatória. O despreparo profissional é percebido e tem provocado algumas angústias aos futuros docentes.

Foi possível perceber por meio das falas dos participantes que a formação inicial dos professores não os têm preparado suficientemente para enfrentarem o trabalho docente. Tal pensamento está de acordo com outras pesquisas que mencionam o mesmo problema enfrentado pelos professores (BRASIL, 2008; IOSIF, 2007; TEDESCO, 1998). Essa angústia foi percebida, principalmente, no período do estágio obrigatório momento em que foi possível julgar a formação recebida por meio de constatações advindas da realidade da sala de aula. Surgiu das falas uma importância muito grande relativa à prática, a experiência diária no trabalho parece ser a fonte principal de aprendizado.

Um entrevistado, E9, mencionou que a prática que recebeu, somente uma regência e duas observações no final do curso, não foi suficiente. Parece haver o entendimento de que é no momento de vivência em sala de aula que o professor adquire conhecimentos que são necessários à sua prática, o mesmo participante mencionou a palavra “trava” a significação possível é de que nesse momento da regência não foi possível acionar conhecimentos da profissão que pudessem resolver o problema.

Nesse sentido Tardif (2011) e Chevallard (1985), afirmam que os saberes profissionais dos professores são adquiridos através do tempo. Outro participante, E5, destacou a importância da teoria, mas que é a prática que dá sentido a ela.·.

É interessante mencionar a fala de um participante que participou de um projeto, PIBD, na Estrutural, cidade satélite de Brasília, e destacou a importância de participar nesse projeto momento ideal em que a prática proporcionou adquirir conhecimentos não adquiridos na faculdade. Conforme relato, a prática adquirida no estágio mostra realmente como é o trabalho do professor em sala de aula, é nesse contexto que o docente entra em contato com as dificuldades que devem ser enfrentadas e corrigidas:

Eu tô participando de um projeto do PIBD na estrutural que é com alunos de uma escola dentro da Estrutural, então eu acho que foi a melhor experiência de aprendizagem que eu tive na área de docência que é onde agente realmente tem contato com o aluno, com as dificuldades que eles têm em sala de aula (Informação verbal) (E2).

Na opinião dos participantes, E6 e E12, o momento de maior conhecimento durante todo o curso de licenciatura foi o momento do estágio. É a prática diária que instrumentaliza o professor, a teoria deve vir acompanhada da prática porque é nesse momento que o professor lida com as dificuldades e começa a construir saberes que são originados nesse lidar diário com os alunos. Tal pensamento corrobora a ideia de Tardif (2011) e Chevallard (1985) em que os primeiros anos de prática dos professores são decisivos na aquisição do sentimento de competência e no estabelecimento das rotinas de trabalho, ou seja, na própria estrutura da prática profissional. Interessante destacar que o curso de licenciatura só fez sentido para os participantes no momento em que entram em contato com o estágio obrigatório, é nesse momento de interação com o ambiente escolar que o futuro professor reconhece e coloca em prática os conhecimentos adquiridos na faculdade e cria um encantamento com a profissão. O fato de cursarem as disciplinas pedagógicas, de vivenciarem situações de estágio supervisionado influencia positivamente na opção pela carreira docente.

Uma fala importante de um dos entrevistados, E9, fez referência à relação entre teoria e prática. Apesar de existir uma dissociação entre a teoria e a prática, existe o entendimento de que é a teoria que dá valor e sentido à prática e que ambas são essenciais à atuação docente, conforme o discurso do participante é necessário ao professor aprender para depois ensinar. Foi possível perceber certa insatisfação com relação ao estágio, somente oferecido no final do curso, conforme o participante o estágio recebido somente no final do curso não foi suficiente para adquirir prática:

(...) a teoria me ajudou muito e... assim... acho que o professor tem que aprender primeiro pra depois ensinar, então... eu acho que nesse ponto o curso foi satisfatório, o que o curso peca mesmo é no lado da prática, porque na teoria eu acho que é tranquilo os professores passam bem, então... eu acho que é só a prática mesmo (Informação verbal) (E9).

Emergiu da fala de um dos participantes, E4, que o conhecimento necessário à prática docente não se refere somente ao conteúdo. Entretanto, “é necessário ao ‘bom’ professor saber se relacionar bem com a classe”, esse bom relacionamento

gera vínculos afetivos que são essenciais e facilitam o processo de ensino e aprendizagem.

A competência técnica e a didática de alguns professores foram citadas pelos participantes E6, E7 e E12 como essenciais em sua formação, porque eles passaram a entender alguns conteúdos que pareciam impossíveis de serem compreendidos. Habilidades como rigidez, comprometimento e método de ensino foram evidenciadas em algumas falas como aspectos relevantes no processo de ensino e aprendizagem, ao ponto de alguns alunos se orientarem profissionalmente por comportamentos e personalidades de professores admirados.

Surgiu da fala dos participantes a aprendizagem construída por meio do contato com os pares. Conforme os relatos, momentos dedicados a trabalhos em grupo, discussões promovidas pelos professores em sala de aula e nos laboratórios de estudos possibilitaram adquirir conhecimentos necessários à prática profissional. Destacou-se da fala de um dos entrevistados que o método utilizado pelo professor, que foge aos padrões clássicos de ensino, tem uma aceitabilidade maior por propiciar momentos de descontração e maior apreensão do conteúdo:

Bom, eu tive muitas disciplinas muito boas, assim... tive aula de gestão ambiental que teve trilha... assim... tudo na prática, então agente teve a trilha e conheceu a teoria junto com a realidade entendeu, ficou mais fácil de assimilar... tive uma disciplina que eu peguei justamente quando eu estava de licença maternidade mas que deu pra eu aproveitar um pouco, que foi neurociências que...aprende muita coisa legal, em seguida eu fui pra um encontro de pedagogia e passei dois dias inteiros e foi muito bom (Informação verbal) (E8).

Para os participantes E1, E4, E7 e E11, o bom professor é aquele que acumula competência técnica e didática diferenciada capaz de levar o aluno a entender o conteúdo com facilidade. Tal análise corrobora o que Tardif e Lessard (2011) entendem sobre a atividade docente, trata de uma profissão de interações humanas, porque repousa basicamente nessas relações que são feitas diariamente entre professores e alunos. No trabalho docente, o professor se dedica ao seu objeto de trabalho que é o ser humano, ou seja, não é uma matéria inerte, mas pessoas capacitadas a iniciativas de participarem ou resistirem à ação dos professores.

Ao analisar os discursos sobre as disciplinas mais importantes durante o curso, os participantes elegeram as disciplinas relacionadas aos conteúdos didático- metodológicos e à prática docente. Seus discursos demonstram que essas

disciplinas instrumentalizam o professor e o capacita a exercer seu ofício com maior autonomia. Um participante mencionou os jogos, que utilizava em suas aulas, como método que incentivava os alunos a participarem da aula além de ser auxílio para o momento da explicação da matéria. Conforme o discurso, a professora mostra que trabalhar usando materiais concretos possibilita uma maior aprendizagem dos alunos e cabe ao professor inserir esses materiais para que a aula faça sentido:

(...) A didática também me ajudou muito... por exemplo, os jogos que foram ensinados na matéria de didática eles ajudaram muito as crianças a entenderem a matéria... e isso ajuda muito o aluno pra matéria (Informação verbal) (E2).

Outro participante, E6, mencionou a disciplina formação e prática docente como essencial a sua formação, o momento do estágio foi decisivo para colocar em prática a teoria vista em sala de aula, nesse momento foi possível perceber as dificuldades do ofício e tentar resolver as situações que se colocavam em sala de aula.

Chamou atenção a fala de um dos participantes, E1, que destacou maior importância às disciplinas de didática, ética e ensino religioso, para ele essas matérias ofereceram um suporte necessário não só à função docente, mas à vida. Interessante notar o interesse e prazer na fala do participante quando mencionou que essas disciplinas possibilitaram uma maior interação com os próprios colegas de turma que não foi possível perceber nas disciplinas de caráter mais específico do curso, a saber:

Eu acho que foram aquelas matéria é... não diretamente ligadas à matemática entendeu, matemática pura, mas aquelas matérias que você teve mais convivência com os colegas entendeu, de... didática entendeu, de você tá num seminário junto entendeu de você debater eu acho que gostei mais que a matemática em si entendeu. Por exemplo, Ética, Ensino Religioso entendeu, na verdade matérias gerais de cunho pedagógico, entendeu, essas foram muitos boas não só pro curso em geral mais pra sua vida entendeu (Informação verbal) (E1).

Interessante destacar que, no decorrer das entrevistas, quando o assunto era a formação, os participantes demonstraram preocupação com os conhecimentos pedagógicos principalmente os relacionados à prática em sala de aula oferecida aos alunos somente no final do curso com o estágio.

Os participantes também mencionaram a teoria como conhecimento que oferece suporte necessário à formação. Seis participantes priorizaram o conhecimento da matéria ensinada, disciplinas como: cálculo, história da filosofia,

educação e trabalho, literaturas, introdução aos estudos linguísticos, prática de análise da linguagem e história da linguística foram mencionadas como essenciais à formação por desenvolverem aspectos teóricos necessários para a prática profissional. Um participante, E3, destacou que “a forma de olhar a sociedade com consciência crítica, é capaz de mudar muita coisa, é possível transformar a realidade”.

Obstáculo fortemente referido pelos participantes diz respeito ao despreparo com relação à prática. Conforme a maioria dos discursos, o aprendizado necessário a uma atuação competente inicia-se principalmente a partir da prática. Assim, a experiência no estágio, considerada insuficiente pela maioria dos participantes, parece ser fonte privilegiada de aprendizado. Conforme, E2, o “estágio é capaz de

preparar o professor para atuar em sala de aula”, para tanto seria necessário inserir o estágio logo no início do curso.

Dificuldades em lidar com os alunos em sala de aula foram mencionados como fator preocupante a ser enfrentado na escola quando não se está preparado. Os termos “não sai preparado” foram repetidos enfaticamente, apontando a insatisfação quanto ao domínio de habilidades necessárias ao professor quando está em sala de aula. Tais habilidades dizem respeito ao domínio de classe, posicionamento do professor para lidar com comportamento do aluno, etc.

Conforme E9 a formação recebida foi muito fraca, essa afirmação está mais uma vez relacionada à falta de prática que o futuro professor considera insuficiente, no entanto ela menciona que a teoria a ajudou bastante quando estava cumprindo o estágio, e que é a teoria que capacita o professor a estar em sala de aula, em suas palavras é preciso aprender primeiro para depois ensinar:

A falta de prática me preocupa, mas... A teoria me ajudou muito e acho que o professor tem que aprender primeiro para depois ensinar (Informação verbal) (E9).

Na opinião de E5, a escola de formação por si só não garante uma atuação profissional segura. São necessários estudo e dedicação constantes por parte do aluno que garanta sentimento de maior segurança.

Existe a compreensão de que a teoria e a prática são essenciais à atuação pedagógica e que é a fundamentação teórica que dá valor e sentido à prática. Nota- se que há na atuação docente um conhecimento de nível teórico e outro de nível prático. Esses conhecimentos são construídos e percebidos pelo professor durante o

exercício da atividade docente. No entanto, a prática não é objeto de conhecimento por si mesmo, sendo necessário refletir, do ponto de vista da própria atuação, para avaliá-la criteriosamente. É com base nessa análise que o professor terá condições de observar sua atuação reorientando-a conforme a percepção que tem dos alunos e de acordo com as respostas de aprendizagem que pretende obter.

Na maioria dos discursos foi possível notar uma supervalorização da prática o que indica existir a dicotomia entre teoria e prática, assim como a dificuldade em estabelecer uma ligação entre essas duas dimensões. Um dos entrevistados, E2, chamou a atenção para o fato de que saber a teoria não garante o sucesso na prática. Parece haver certa preocupação e insegurança do futuro professor em como administrar a sala de aula principalmente com relação à aprendizagem do aluno. Conforme entendimento, o estágio propicia momento de grande aprendizagem porque coloca o futuro professor em contato direto com seu ambiente de trabalho e o faz mobilizar saberes não identificados na teoria. E1 se disse insegura em como desenvolver o trabalho em sala de aula, para ela estar preparada teoricamente não quer dizer saber direcionar e lidar com alunos em sala de aula, assim, em sua opinião “a graduação deveria ter no mínimo seis meses de estágio, para que se tenha contato com os alunos”.

A relação teoria e prática foram mais uma vez mencionada pelos participantes e classificada como insuficiente na formação. Conforme os participantes, o período destinado ao estágio deveria começar desde o início do curso porque possibilitaria uma maior aprendizagem e vivência em sala de aula. Entende-se que é a prática que capacita e molda o professor e o instrumentaliza a lidar com situações que só são vistas e experimentadas quando se está em sala de aula, o domínio progressivo do ofício se dá por meio da construção de suas próprias aprendizagens na prática diária do trabalho.

Nesse sentido E1afirma que, “o professor não sai preparado da faculdade para enfrentar situações que envolvam comportamentos desrespeitosos e a violência por parte dos alunos”.

Embora as falas relativas ao aprendizado na formação tenham sido negativos em alguns aspectos, os participantes, quando questionados a respeito da satisfação em relação ao curso de formação, mencionaram que a faculdade proporcionou o acréscimo de conhecimentos não tidos antes do ingresso no curso. Aspectos como sólida aprendizagem teórica, exemplo de aulas ministradas pelos professores e

requeridas como padrão de aulas, professores que marcaram a trajetória universitária pelo conhecimento demonstrado, realização pessoal em concluir um curso superior, foram aspectos mencionados pelos participantes da pesquisa como positivos ao preparo para a profissão.

Uma análise das respostas indicou que os entrevistados veem a formação recebida como satisfatória e bem consolidada quando se trata da teoria, para eles o conhecimento adquirido no decorrer do curso oferece oportunidade de analisar o futuro trabalho docente. E1 considerou que sua formação o possibilitou ser um profissional melhor, para ele, se considerar melhor profissionalmente se refere a não seguir métodos pragmáticos de ensino, pelo contrário, a representação que ele possui de um bom professor é quando esse profissional consegue ensinar considerando o aluno e a aprendizagem em vários contextos de ensino.

Outro participante, E4, declarou “estar preparado profissionalmente” e o sentimento que possui é de segurança e força, além de estar apto a enfrentar o mercado de trabalho.

O esforço e dedicação foram mencionados como itens necessários para quem pretende ter uma formação suficiente, na opinião de E12, ter esses atributos auxiliam na apreensão do conteúdo e que a faculdade sozinha não torna a aprendizagem completa.