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A teoria das representações sociais surge como vertente da psicologia social representando um novo campo teórico-metodológico que analisa e tenta

compreender o comportamento de pessoas e grupos que estão socialmente situados. Mostra uma abordagem psicossocial do conhecimento, procurando compreender a pessoa humana em sua totalidade como ser que pensa, age e sente usando a relação dialética com o meio que o envolve. Por meio dessa relação dialética, entre o social e o indivíduo, em que um não existe sem o outro é que a Teoria das Representações sociais considera como ponto inicial de reflexão de acordo com Moscovici (1978).

Moscovici (1978) desenvolveu, a partir do significado de representação coletiva de Durkheim, o campo de estudo das expressões do senso comum a partir dos anos de 1960, momento em que retomou o estudo das representações abandonado por praticamente meio século. Além de Durkheim, Moscovici (1978) buscou outras contribuições que contrapõe os mecanismos psicológicos e lógicos das representações. Em Piaget e Freud, se apegou ao enfoque cognitivista e as compreensões de como as representações sociais passam do coletivo para o individual e contrariamente como o social intervém no individual (MOSCOVICI, 1978).

Sustentado nessas teorias, Moscovici (1978 apud PENKAL, 2007) renovou o conceito de representações coletivas que, centradas na regularidade e na tradição, mostravam muitas questões em aberto, particularmente a respeito da participação do sujeito nas transformações sociais. Sem o suporte necessário da Psicologia Social, o autor une o individual e o coletivo e se volta para a sociedade em busca da compreensão das inovações e transformações pelas quais ela passa. Conforme Sá (1995), os estudos de Moscovici (1978) vão além da criação e consolidação de um campo de estudos, buscando redefinir conceitos e problemas da Psicologia Social.

Nesse cenário, Moscovici (1978) despertou em um grupo de psicólogos o interesse em renovar a abordagem dos problemas das representações com o objetivo de estudar as relações e comportamentos sociais sem torná-las simples e deturpáveis. Desse modo, o autor considera que o social só existe no sujeito e que o sujeito só existe no social, demonstrando seu interesse pelo dinamismo dessa relação em entender como o social interfere na construção das representações sociais dos indivíduos, e como estas interferem nas representações sociais do grupo ao qual pertencem (MOSCOVICI, 1978).

Moscovici (1978) mostra a mudança ocorrida na noção de representação em que as representações coletivas são substituídas pelas representações sociais. Por

um lado, aparece a necessidade de aceitar certa diversidade de origem nos indivíduos, como também nos grupos, e, de outro, deslocar a ênfase a respeito da comunicação, que dá condições aos indivíduos e sentimentos de se convergirem, com o fim de que algo individual se torne social ou vice-versa. Assim, é notório reconhecer que as representações, ao contrário de serem estáticas, são construídas e adquiridas e que o interesse principal são as interações.

As representações sociais são um fenômeno complexo da vida social e apresentam uma riqueza de elementos informativos, afetivos, cognitivos, imagéticos, ideológicos e normativos que envolvem crenças, valores, atitudes, imagens e opiniões, organizadas sob uma totalidade significante, que traduz um saber sobre a realidade. Conforme Jodelet (2001) essa totalidade precisa ser descrita, analisada e interpretada, ou seja, deve ser o centro da investigação científica. Moscovici (1978) mostrou que a representação é produzida socialmente e compartilhada por grupos sociais. Sá (1995) complementou essa explicação situou as representações como uma forma de pensamento prático, orientado para a comunicação, compreensão e domínio do ambiente social, material e ideal. Assinala o social em relação às condições e aos contextos nos quais nascem as significações, as comunicações que propiciam sua circulação e à sua função de propiciar interação entre as pessoas e delas com o mundo. Deste modo, as representações são entendidas como um conceito dinâmico, generativo, relacional, amplo, político-ideológico, valorativo e social.

Conforme Jodelet (2001) representar é um ato de pensamento em que um sujeito se reporta a um objeto, uma coisa, um acontecimento material, psíquico ou social, um fenômeno natural, uma ideia ou teoria. Assim, a representação é considerada uma forma de saber prático e se caracteriza por ser a representação de alguém sobre algo, por simbolizar ou substituir o objeto e lhe conferir significações que serve para agir sobre o outro e o mundo. A valorização do senso comum ou saber espontâneo, apesar de distinto do científico, é considerado legítimo para compreender a ação do sujeito no mundo. De acordo com Moscovici (1978 apud SÁ, 1995), esse conjunto de conceitos, afirmações e explicações são verdadeiramente teorias do senso comum, ciências coletivas que concorrem para a construção e interpretação das realidades sociais. Jodelet (2001) afirma que esse entendimento do senso comum mostra um postulado central do pensamento de Moscovici (1978)

que trata da relação entre formas de pensamento e de organização e comunicação social, o que explica a cognição nas interações sociais.

Dessa forma, esse postulado destaca o papel da comunicação social nas trocas e interações que levam à constituição de universos consensuais. Sá (1995) esclarece esse conceito caracterizando-o como forma de conhecimento produzida em uma dada sociedade. Uma realidade social se forma quando o novo passa a fazer parte dos universos consensuais.

Mazzotti (1994) conceitua representações sociais como, as interações sociais que criam universos consensuais em que as novas representações vão sendo construídas e comunicadas, fazendo parte desse universo não mais como simples opiniões, mas como verdadeiras teorias do senso comum. Tais teorias procuram cristalizar a identidade do grupo e o sentimento de pertença do indivíduo ao grupo.

Para Jodelet (2001), as representações sociais podem ser conceituadas como uma forma particular de conhecimento, o saber do senso comum, em que os conteúdos mostram a operação de processos generativos e funcionais que são socialmente marcados. São uma forma de saber ou conhecimentos elaborados e partilhados socialmente com o objetivo de construir uma realidade comum a determinado grupo social. As representações constituem a forma como os indivíduos entendem o saber cotidiano, as informações presentes no contexto, as pessoas, os acontecimentos e tudo aquilo que se refira aos conhecimentos acumulados em suas experiências, saberes e moldes de pensamento que são, pela tradição, educação e comunicação recebidos.

Ainda conforme Jodelet (2001), as representações sociais se apresentam como fonte rica de informações, afetos, cognições, imagens, ideologias e normas, que envolvem valores, crenças, atitudes, opiniões e imagens, traduzidos em um todo significativo, produzindo um saber sobre a realidade.

Abric (1994) faz uma abordagem estrutural das representações sociais, afirmando que para uma mudança efetiva na representação é necessário à alteração do núcleo central. Conforme o autor toda representação se organiza ao redor de um núcleo que determina sua significação e sua organização interna. A natureza do objeto representado, as relações que o grupo mantém com o objeto e o sistema de valores e normas sociais do grupo são fatores que determinam o núcleo. Existem três funções essenciais desempenhadas pelo núcleo, uma função geradora que cria e transforma uma representação, uma função organizadora que determina a

natureza das ligações entre os elementos de uma representação e a função estabilizadora constituídas de elementos resistentes à mudança.

Nesse contexto, verifica-se que a construção do campo de conhecimentos das representações sociais conta com amplo campo de objetos de pesquisa, de abordagens metodológicas e de problemáticas que vão delimitando o estudo dos fenômenos representativos. No campo da educação essa variedade de objetos, compreensões e fundamentos se fazem presentes no estudo das representações sociais, se a educação é concebida como uma atividade social é claro que as práticas pedagógicas influenciem e estejam influenciadas por sistemas de significações construídos socialmente (GILLY, 2001).

Nesse sentido, Perrenoud (2003) afirma que, para se transformar a realidade educativa, são necessárias, além de boas ideias, mudanças nas representações, atitudes, valores e da própria identidade dos autores. Assim, conhecer as representações sociais do professor é assunto de alta relevância para a orientação de políticas voltadas para a formação inicial e continuada do docente.

Em uma pesquisa apresentada por Mazzotti (2007), em que o objetivo foi identificar as representações sociais da identidade profissional docente de professores da rede pública de ensino fundamental do Município do Rio de Janeiro, observou-se que no núcleo central a palavra “dedicação” ganhou destaque o que indica, conforme o autor, uma representação tradicional, firmada a historia e à cultura docente, com seus devidos valores modelos e crenças. Entretanto, outra palavra “cansativo” obteve forte tendência a centralidade sugerindo que a representação esteja sofrendo uma transição. O autor considerou em sua pesquisa que a desvalorização do professor afeta com maior profundidade a identidade profissional dos professores de primeira a quarta séries que os professores de quinta a oitava séries, por serem esses últimos detidos a uma identidade mais valorizada.

Em artigo publicado por Lyra ([s.d.]) sobre o estudo da representação social do professor com relação a sua profissão, observou-se pelo discurso dos participantes da pesquisa que alguns professores expressam elementos de uma representação social de professor associadas a questões sociais mais amplas. O professor foi percebido como responsável pela construção da cidadania. A ênfase demonstrada revela a importância não somente da transmissão de conteúdo, mas do processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido o professor é percebido como agente de transformação e doutrinador. Por outro lado, também foi percebido

o sentimento de desamparo por parte da maioria dos professores, considerando o sistema educacional brasileiro, em que as instituições apresentam condições desfavoráveis ao exercício da profissão.

Em outra pesquisa desenvolvida por Braúna (2009), em que se buscou identificar as representações atribuídas por estudantes formandos do curso de Pedagogia em relação à formação docente, buscando compreender a identidade profissional que o curso procura construir, constatou-se a predominância de uma representação idealizada e positiva a respeito da profissão docente. A autora considera que as representações dos sujeitos organizam as comunicações e as condutas sociais, as imagens positivas referentes à profissão docente servem para contrabalançar as negativas e exigentes que cercam o sentido da profissão. Conforme a autora, o curso de pedagogia deve mostrar aos estudantes quais as oportunidades e perspectivas referentes à profissão em um momento considerado de crise.

Em estudo recente realizado por Dias, et al. (2011) a respeito das representações sociais de professores em sua profissionalização, os resultados demonstraram que as representações, sobre a formação docente, giram em torno das categorias: pedagógica, acadêmica e profissional. Sendo que a profissional foi considerada insignificante em sua contribuição, de acordo com as representações dos sujeitos da pesquisa. As representações giram em torno da categoria acadêmica considerada como núcleo central. Ou seja, o processo acadêmico exerce forte influência nas representações da formação do professor oferecida nos cursos de licenciatura.

Cândido e Batista (2005), em pesquisa sobre as representações sociais de professores sobre as atividades docentes, apontam que os professores demonstram evocações de que seus caracteres pessoais foram valorizados como ponto principal para que a atividade docente se realize. Assim, os professores em suas representações sociais se pautam em suas características pessoais como dedicação, paciência e compromisso e fazem delas características essenciais para o desenvolvimento de seu trabalho cotidiano. Destacam também, que a atividade docente é moldada por conversações diárias em que os professores formulam conhecimentos para entender e lidar com a realidade em sala de aula, essa interação com seus pares foi apresentado de modo positivo pelos docentes ao valorizarem o próprio grupo.

Nesse sentido, considerando as perspectivas que a teoria das representações sociais apresenta na análise dos fenômenos sociais e a fecundidade das análises que proporciona em relação ao campo da educação, torna-se oportuno a utilização desse aporte teórico para ampliar a compreensão da profissionalidade docente na perspectiva de prospectivos professores da educação básica.