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Finalmente buscou-se conhecer representações que os participantes possuem do que seja ser professor. Parte das respostas se direcionou para significações em que o professor tem papel fundamental na formação axiológica além da cognitiva, parece que os professores enxergam a função docente como profissão capaz de mudar a significação que os alunos possuem sobre seu próprio futuro, o professor é considerado agente de transformação social.

Segundo alguns entrevistados, E1, E3 e E4 ser professor é um grande desafio porque é considerada uma função social. Ser professor não é apenas transmitir conteúdos, mas ensinar o aluno a viver em sociedade, é possível inferir da fala de E3 certa preocupação para formar o aluno como cidadão, como agente de transformação social:

Ser professor hoje é refletir o presente e construir o amanhã Então ser professor para mim não é simplesmente transmitir uma disciplina específica, mas é educar o cidadão (Informação verbal) (E3).

No mesmo sentido E2 declarou que ser professor é uma função social porque o docente trabalha com o futuro do aluno. Para ele, situações como incentivar e motivar o aluno a ser alguém na vida é fundamental.

Na opinião de outro entrevistado, E3, ser professor é ter um relacionamento mais acolhedor, para ele o docente deve ter o discernimento e saber lidar com possibilidades em que o aluno não se sinta bem emocionalmente, trabalhar o lado psicológico é fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem. Ainda conforme o participante desenvolver a afetividade é uma possibilidade que deve existir na relação professor-aluno porque promove bem-estar para ambos. Conforme Moraes (2003, p.121) “educar e aprender são fenômenos biológicos fundamentais que envolvem todas as dimensões do viver humano, em total integração do corpo com o espírito”.

Um entrevistado, E8, considera ser professor uma carreira muito difícil e afirma ser uma profissão complicada baseado na experiência que cultiva. Ele explica que lidar com problemas da sociedade é uma tarefa árdua e reconhece que esses problemas refletem diretamente no ambiente escolar. Conforme a fala, o professor se envolve com as experiências dos alunos porque “ser professor não é apenas transmitir um conteúdo”.

Ser muito cobrado foi outra definição dada por um participante quando questionado sobre o que é ser professor. Conforme a fala é possível inferir que essa cobrança está relacionada às várias atividades que o professor deve desenvolver em sala de aula, preparar aulas, lidar com alunos e pais de alunos foram algumas das atividades citadas. Interessante destacar que para o entrevistado essa cobrança é ainda maior quando o docente trabalha em escolas particulares:

É ser muito cobrado! É isso... porque...olha é tanta coisa que um professor deve se preocupar sabe...como preparar aula, como lidar em sala de aula com os alunos...e os pais dos alunos...sabe, fora que tem muita cobrança ainda mais se você for da rede privada, ai o trabalho é em dobro (Informação verbal) (E5).

O entrevistado E13, assinalou que ser professor é ter paciência, para ele manter-se paciente diante das adversidades que geralmente estão relacionados aos problemas de comportamento ou de aprendizagem é um grande desafio. Conforme seu discurso, ter paciência é muito importante para quem pretende ser professor. Há ainda dois participantes, E7 e E9, que se manifestaram dizendo que ser professor é ter amor pela profissão, é se entregar de corpo e alma em total dedicação, é um sonho realizado.

Ser mediador do conhecimento foi outra percepção indicada por E14, em sua opinião o professor não deve se posicionar como o único detentor do conhecimento. Construir o conhecimento junto ao aluno e ajudá-lo a desenvolver as habilidades necessárias a sua formação é tarefa do professor mediador, exercícios que proporcionem o desenvolvimento da criatividade e aprendizagem significativa foram exemplos sugeridos pelo participante.

A representação que os futuros professores possuem a respeito do seu trabalho foi considerada muito sofrida, quando questionados sobre como é o dia a dia do professor, os participantes se manifestaram com algumas pausas nas falas demonstrando entusiasmo, mas também grande preocupação e muitas vezes descontentamento com a profissão. A afirmação de que o ofício é muito árduo foi destacado em praticamente todas as falas.

Triste, essa foi a significação de um participante ao discorrer sobre o questionamento. Ao afirmar que o trabalho diário do professor é triste, o participante sorriu e exemplificou sua escolha assinalando que teve uma experiência ruim quando estava estagiando, a palavra ‘infernal’ também foi mencionada com ênfase com base na experiência que teve com um professor regente da turma em que participou. Conforme relato, a sala de aula estava em caos devastador, alunos correndo, brigando e em total desorganização. Ele ainda afirmou que o professor regente não se manifestou contrário àquela situação. Foi possível perceber, pela fala e gestos exprimidos pelo participante, um sentimento muito forte de indignação contra a ação passiva do professor regente, para o entrevistado seria necessário intervir principalmente com o domínio de classe, competência fundamental da profissionalidade do professor. Para Contreras (2002) identificar e resolver problemas em situações consideradas de incerteza e estresse são aspectos referentes à profissionalidade docente.

Na opinião de E1, o dia a dia do professor é considerado complicado e difícil. Ter muitos alunos, lidar com as diferenças individuais, problemas e desrespeito, além do trabalho técnico do professor, como elaboração e correção de provas, foram mencionados como dificuldades da profissão. A desvalorização profissional, principalmente a salarial, também foi apontada com ênfase, para o entrevistado muitos professores desistem da profissão porque o salário não oferece incentivo nenhum. Nesse mesmo pensamento, outro participante, E4, apontou que o trabalho do professor é sofrido porque existe uma desvalorização geral vinda da sociedade e

principalmente das autoridades, não existe um investimento criterioso em educação e esse problema acaba interferindo negativamente na imagem produzida pela sociedade a respeito do profissional da educação.

Outros participantes, E5 e E6, destacaram que o dia do professor é corrido, cheio de cobranças e desafiador. O envolvimento com as atividades inerentes à profissão requer muito tempo de dedicação e preparação para as aulas, a cobrança é maior quando o professor trabalha em escolas particulares.

A expressão ‘muito difícil’ foi mencionada por E7 expressando o sentimento que possui sobre o lidar diário da profissão docente. Para ele, lidar com a individualidade de cada aluno é considerado estressante porque cada um traz uma educação diferente de casa e cabe ao professor lidar com problemas relacionados à falta de disciplina do aluno por exemplo.

Na opinião de E9 a atualização profissional é parte importante na carreira docente e faz parte do cotidiano docente, para ele o aperfeiçoamento docente deve ser constante principalmente nesse momento em que a tecnologia e a mídia fazem parte do processo de ensino e aprendizagem. Em sua opinião é necessário o investimento na educação básica porque é esse o segmento de base da educação:

Nossa! Percebi que não é fácil, o cotidiano da sala de aula do aluno e tudo isso influencia muito, você tem que está sempre estudando, sempre se atualizando, percebi que muitos professores fazem isso mesmo, estão se atualizando porque a tecnologia e a mídia influencia muito, e. eu acho que deveria investir mais na educação básica porque é a base, é como na construção de uma casa se você não fizer bem a base ela cai. Então, eu acho que a educação básica deveria ser à base de tudo e pra ela ser a base deveria ter mais investimento (Informação verbal) (E9).

Apenas um participante, E3, considerou ser agradável o dia a dia do professor, conforme relato cabe ao professor transformar o ambiente escolar com atitudes de humildade e consideração ao aluno, é necessário enxergar no aluno um ser humano que está aprendendo e o professor é o instrumento capaz de oferecer essa aprendizagem.

No tocante às perspectivas futuras, principalmente quando questionados a respeito do futuro profissional e tratamento que receberiam da comunidade escolar, a maioria dos participantes descreveram seu futuro com sentimentos positivos. As falas sugerem desejo e interesse dos profissionais em se constituírem de excelente profissionalidade, isso pode ser evidenciado nos depoimentos em que os docentes

afirmam que enxergam seu futuro profissional com muito otimismo. Estas declarações supõem que esses docentes cultivam, mesmo afirmando e conhecendo algumas dificuldades profissionais, um futuro de esperança e muito trabalho realizado com dedicação e amor pelo que fazem.

Para alguns entrevistados o futuro profissional é visto com muita esperança, essa afirmação está relacionada à forma como o futuro profissional pensa seu ofício. De acordo com E2 seria um momento mágico perceber que o aluno conseguiu aprender o que ele ensinou. Essa visão está relacionada a enxergar no aluno um agente de transformação social. A felicidade também foi mencionada por outro participante, E8, para ele poder trabalhar como professor está relacionado a momentos de prazer que se constroem com a dedicação.

No relato de outros três entrevistados, E9, E11 e E12, o sentimento com relação ao futuro profissional é o de alegria, por ter escolhido a profissão que lhes dão prazer, realização e preparo, mesmo sabendo da dificuldade profissional com relação, por exemplo, a turmas com mais de 25 alunos. Um deles mencionou que a maturidade que possui determinou sua atuação na carreira docente por esclarecer que, vale a pena ser professor e se empenhar como profissional direcionando sua atuação para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno. Observar a aprendizagem dos alunos é uma grande alegria. Ainda foi mencionado o exemplo de professores do passado que possibilitou garantir aprendizagem significativa e marcante.

Somente um participante E14 pensa em seu futuro se dedicando aos estudos. A formação continuada foi mencionada por ele como necessária porque envolve trabalho intenso e busca de excelência, foi possível inferir que o docente deve se manter em constante atualização profissional porque é um ofício que exige conhecimentos apurados, formar pessoas críticas foi um exemplo mencionado pelo entrevistado. No seu ponto de vista ser professor é se preocupar com a aprendizagem dos alunos e sentir prazer na profissão escolhida. A preocupação com práticas consideradas negativas foi mencionada pelo participante como preocupante para quem escolheu ser professor, ensinar está relacionado a não se eximir de educar, é tarefa do professor relacionar cognição e afetividade.

4 DISCUSSÂO E ANÁLISE DOS DADOS

Este estudo teve como objetivo investigar as representações sociais da profissionalidade docente na perspectiva de formandos de licenciaturas buscando compreender quais as razões, influências e assertividade de escolha do curso. Procurou-se compreender também como esses formandos enxergam sua formação profissional e representam sua profissionalidade. Para tanto, os resultados apresentados serão analisados tendo como apoio as contribuições teóricas de especialistas na área da profissionalidade docente e educação.

4.1 RAZÕES, INFLUÊNCIAS E ASSERTIVIDADE DE ESCOLHA DO CURSO

As narrativas revelaram que a história de vida de cada participante definiu a situação de escolha pela carreira docente, por essa razão, elas apresentaram algumas variações. De modo geral, podemos dizer que os participantes desse estudo escolheram ser professor orientados por aspectos como gostar da matéria, vocação e desejo de ser professor desde a infância. Esse gostar representado pelos participantes se refere a uma subjetividade que leva à noção de aptidão, talento ou vocação. Nesse sentido, Brasil (2008) afirma que a escolha profissional se justifica por expressar amor e idealismo. A vocação parece ser condição necessária para explicar a escolha profissional. Por outro lado, a atuação docente necessita de saberes que são plurais e obtidos em tempos diferentes ao longo da carreira, na infância como estudante, na formação acadêmica e no exercício diário da atividade ao longo da profissão. Tal afirmação nos leva a entender que a atuação docente afasta a noção de vocação (TARDIF; RAYMOND, 2000).

Como mencionado, alguns participantes desse estudo disseram que o desejo de se tornar professor originou-se na infância. A respeito disso, Alves e Sommerhalder (2010) defendem que a criança confia ao professor ser desejo e seu amor, porque acredita que ele possa auxiliá-la a encontrar respostas para seus questionamentos. Nesse sentido, na visão de Tardif e Raymond (2000), o desejo infantil de ser professor pode permanecer ao longo da vida e delinear a atuação profissional ao evocar qualidades positivas ou negativas de antigos professores, que deseja usar como exemplo ou evitar. Outros participantes, no entanto, destacaram

que a opção pela carreira se deu devido à funcionalidade ou circunstância de contexto da própria vida. A maternagem foi mencionada na narrativa de alguns participantes como fator importante no momento de escolha do curso, a importância de se formar e utilizar o curso para ensinar os filhos em casa ou auxiliá-los em tarefas escolares forma alguns exemplos mencionados pelos entrevistados. A teoria sobre o trabalho docente reforça que a vida familiar e as pessoas significativas na família representam um caminho importante de influência que modela a postura do professor em relação ao ensino (TARDIF; RAYMOND, 2000).

Conclui-se, portanto, que os participantes escolheram a carreira direcionados pela aptidão ou vocação, desejo desde a infância, além da funcionalidade que o curso poderia oferecer. Somente um entrevistado mencionou que escolheu o curso por incentivo familiar, principalmente, da mãe que é professora. Neste contexto, é possível observar a influência que os pais tiveram na escolha profissional dos filhos, seja pela necessidade de agradar ou corresponder às expectativas dos pais.

Interessante mencionar que apenas um participante afirmou que escolheu fazer licenciatura, mas que não incentivaria seus filhos a fazerem a mesma escolha. Para ele a profissão que possui destaque é o Direito. Pode-se inferir que o participante não enxerga na licenciatura uma representatividade social tão valorizada quanto vista na profissão de quem escolhe o Direito. Conforme Rodrigues (1997) as profissões são reconhecidas, afirmadas e distinguidas na representação social. Portanto, a visão que a maioria dos participantes possui da carreira docente é de uma profissão não prestigiada socialmente e que acaba influenciando na imagem do professor.