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Não havia papel nas ruas. Passei no frigorífico. Havia jogado muitas linguiças no lixo. Separei as que não estava estragadas. (…) Eu não quero enfraquecer e não posso comprar. E tenho apetite de leão. Então recorro ao lixo. (Carolina Maria de Jesus, p. 93)

Já apresentamos anteriormente a perspectiva da imbricação das relações sociais, bem como o pressuposto de que as diferentes relações de poder e suas interrelações são transformadas a depender do contexto em que se inserem e da formação histórico-social. Com isso em vista, será feito neste capítulo uma análise da formação social brasileira, a partir de uma interpretação baseada, principalmente, na perspectiva de Florestan Fernandes. Este autor traz um aporte sobre a discussão da imbricação de raça e classe no Brasil, com alguns apontamentos sobre as mulheres negras. O central na discussão será pensar a herança da escravidão na formação da sociedade de classes no Brasil, bem como o debate sobre a formação das classes trabalhadoras considerando as diferentes relações sociais e os contextos históricos que interferiram no processo.

Aliado a isso Lélia Gonzalez será incorporada ao debate para que a questão de gênero seja situada de forma mais coerente. A colonização, com base no trabalho escravizado da negra e do negro trazidos da África trouxe consequências para as relações sociais e para a construção de uma sociedade que é diversificada (com o cruzamento de várias culturas) e desigual. Iremos apontar a relação entre esse processo e os indícios que consideramos ser a origem da categoria de trabalho de catadoras e catadores.

3.1) Formação das classes populares

A formação da classe trabalhadora no Brasil tem um importante pilar na questão racial e nas dificuldades da integração da população negra (ex-escravizada), passando também pela questão de gênero, visto que as mulheres negras assumiram uma importante função na manutenção da família e ocuparam postos importantes na reprodução da força de trabalho, sem a devida valorização.

As oportunidades de emprego abertas à população trabalhadora “livre” no pós-abolição estavam sendo ocupadas, em sua maioria, por outras pessoas que não as negras. Isso quer dizer que havia a formação de um mercado de trabalho que já no seu embrião não conseguia absorver uma parte da população brasileira. Para Florestan Fernandes havia uma dificuldade na caracterização da classe trabalhadora, pois acreditava que esta ainda estava em formação no momento em que escrevia os seus textos, nas décadas de 1960 e 1970. Por isso Florestan descreve com muito mais

precisão a formação da “burguesia brasileira”69, ainda que tenha feito importantes apontamentos

para a formação do povo brasileiro.

Antes de entrar na classificação é importante apontar para a herança da escravidão nas relações de trabalho e no salário. Os anos de escravidão criaram uma moralidade específica propensa à extrema exploração do trabalho no país. Esse aspecto não deve ser tratado com menor atenção, já que os elementos históricos e morais também são importantes para entender o valor da força de trabalho, nos termos de Marx. Na mesma lógica de raciocínio, pagar menos e desvalorizar o trabalho feito pelas mulheres também é um elemento histórico e moral, constituído pela persistência da sociedade patriarcal.

Esse ponto é interessante para o entendimento da formação da classe trabalhadora do Brasil, pois a não institucionalização de algumas relações de trabalho é um dos elementos para a reflexão sobre porque o nível de salário de um trabalhador brasileiro está abaixo do seu custo de reprodução, ou sobre o fato da reprodução contar com critérios de sobrevivência que são abaixo do “normal”. Essa é uma questão relevante, pois não houve no país a universalização do assalariamento, perpetuando relações de trabalho que não passam pelo mercado institucionalizado e regulado e, muitas vezes, com uma relação que não é a assalariada típica. Por isso Souza afirma que a particularidade das classes sociais no Brasil é o fato de haver “uma classe excluída de todas as oportunidades materiais e simbólicas de reconhecimento social e as demais classes sociais que são, ainda que diferencialmente, incluídas” (SOUZA, 2009, p. 25).

Isso posto, é importante perceber a relação de exploração nas diversas gradações da classe trabalhadora, a partir do processo histórico social brasileiro, na tentativa de refletir sobre como tais gradações afetaram as classes e as relações entre essas.

A base inicial para a explicação das classes será feita a partir da caracterização que Florestan Fernandes faz das classes trabalhadoras (ou não possuidoras, nos termos do autor) para iniciar a reflexão sobre o processo de formação. Posteriormente trabalharemos com a tese de Jessé Souza na tentativa de atualização desse debate.

Para caracterizar a classe trabalhadora (não possuidores) Florestan usa como recurso a vinculação ao mercado de trabalho, e caracteriza os(as) trabalhadores(as) nos polos extremos deste: seriam os integrados e os condenados.

3.2) A população pauperizada no Brasil: Integrados(as) e Condenados(as)/ Batalhadores(as) e Ralé70

69 Esse assunto foi debatido em nossa dissertação de mestrado. Para mais informações sobre o tema ver MOTTA, 2012. 70 Consideramos que os termos “condenados” e “ralé”, cunhados respectivamente por Florestan Fernandes e Jessé

Souza, carregam significados que podem gerar interpretações preconceituosas sobre as classes populares no Brasil. Apesar de não gostar de ambos os termos, os utilizaremos aqui para a apresentação das principais ideias acerca deles,

Segundo Florestan os integrados são àquelas pessoas que conseguem se inserir no processo de industrialização, a partir de um emprego no mercado de trabalho, seria o que hoje se chama de trabalhador formal. Para o autor, a situação dos integrados é a mais “confortável” entre os não possuidores, pelo fato de estarem inseridos no processo econômico se incorporando ao que chama de núcleo institucionalizado da sociedade. Segundo Motta (2012: 102) “são justamente os setores que conseguem se incluir no mercado de trabalho – estes estão, geralmente, localizados nas comunidades urbano-industriais – que têm condições mínimas de participação econômica e sociocultural”.

Estarem incorporados não significa que os(as) integrados(as) não sofrem com a superexploração do trabalho, já que este é requisito indispensável para a acumulação de capital no Brasil71. Essa classe foi denominada por Florestan como classe baixa urbana, que é composta por

assalariados das fábricas, empregados de lojas e escritórios de baixo rendimento, etc.

Por conta da intensa segregação social em que se formou o regime de classes no Brasil, há entre os despossuídos uma identificação positiva com a proletarização/integração72, pois do ponto

de vista dos setores subalternos esta é vista como forma de ascensão social. Entretanto o próprio Florestan aponta um limite na universalização da proletarização no Brasil, pois percebe a desigualdade na competição capitalista.

A história do Brasil, remontando ao passado escravista aponta para uma desigualdade na origem do processo capitalista, que vai interferir diretamente nos homens e mulheres em busca de trabalho. Na emergência de uma sociedade baseada na competição entre as pessoas para sua inserção no mercado de trabalho, consolidava-se uma desigualdade estrutural, que não permitiu à população negra, ex-escravizada competir em igualdade de condições com a população branca imigrante. Segundo Florestan,

A competição surge como um circuito social estreito e confinado, que se aplica e regula as relações dos que se consideravam “iguais”, que se tratavam como Povo, mas excluíam os diferentes estratos do povo propriamente dito da “sociedade civil” e dos processos histórico-sociais. Em consequência, a ordem social competitiva não desponta como a expressão do equilíbrio instável de diferentes camadas sociais e políticas como “fenômeno legal”. Todavia não aceita como “fenômeno social” e, muito menos, como “fenômeno político”. Os que são excluídos do privilegiamento econômico, sociocultural e político também são excluídos do “valimento social” e do “valimento político”. Os excluídos são necessários para a existência do estilo de “dominação burguesa”, que se monta dessa maneira (FERNANDES, 1975, p. 92).

mas em seguida os substituiremos por “população pauperizada” e “pauperizados”

71 Para Florestan um mecanismo necessário ao capitalismo brasileiro é a superexploração da força de trabalho, que

marca uma debilidade estrutural da classe trabalhadora brasileira. Não iremos debater a questão da superexploração do trabalho. Para conhecer nossa opinião sobre isso ver MOTTA, 2012.

72 Mesmo o trabalho superexplorado do operário é visto como algo positivo no Brasil, isso porque grande parte da

Souza (2003) também percebe tal limite, levando em conta que a classe social deve ser analisada também a partir do capital cultural.

No processo de transformação da sociedade brasileira Florestan fala em muitos momentos do assalariamento e da condição operária (que seria a situação dos integrados) como um privilégio

de segunda grandeza, e diz isso porque percebe as limitações estruturais quanto à universalização

de tal condição.

O debate da sociologia do trabalho nas últimas décadas parece atualizar a noção de Florestan, pois se assistiu a transformação das relações de trabalho, acompanhando as transformações das estruturas produtivas em nível mundial. Esse processo, denominado de reestruturação produtiva, atingiu o Brasil ocasionando o aumento do desemprego, a diminuição do trabalho formal, aumento do trabalho informal, redução dos salários. As relações de trabalho assalariado com garantia dos direitos trabalhistas são cada vez menos frequentes no país e as novas formas de contratação através da subcontratação, da contratação de pessoas jurídicas para a realização de atividades exercidas anteriormente por trabalhadores assalariados e a utilização do trabalho cooperado são formas de se eximir das obrigações trabalhistas.

O processo de reestruturação produtiva e a transformação nas relações de trabalho afetaram significativamente as mulheres e a população negra. Ainda que tenha ocorrido a feminização do mercado de trabalho, com a entrada massiva das mulheres (principalmente a partir dos anos 1970), não houve a superação da divisão sexual do trabalho e das desigualdades de gênero, sendo que as mulheres continuam a ocupar trabalhos com altas taxas de informalidade, em condições precárias e instáveis (Araujo, 2012). A informalidade é um requisito essencial para a acumulação capitalista. Os

condenados, por outro lado, são os setores da população que não se classificam na ordem

econômica por não terem um trabalho no mercado. Por isso se encontram imersos na economia de subsistência ou nas estruturas mais precárias do sistema capitalista, nas margens do sistema73. As

duas caracterizações que Florestan Fernandes faz dos condenados – uma a partir da vinculação desses setores nas cidades e outra no campo – são importantes para o apontamento das dificuldades e anseios desse setor da população.

O autor percebe um setor indigente e flutuante nas zonas urbanas, vivendo em frequente estado de pauperismo. Isso revela que mesmo o processo de modernização ocasionou nas grandes cidades processos de marginalização, precarização e instabilidade para a população.

A rápida expansão urbano-industrial brasileira e a crescente migração do campo para as cidades acarretaram, mesmo nas grandes cidades em expansão industrial, focos de pobreza, que acabou sendo incorporado ao padrão de vida do trabalhador brasileiro e que se tornaram necessários

73 Isso não quer dizer que não participam ou estejam excluídos do processo de acumulação capitalista, estão

marginalizados das compensações, dos benefícios que a modernização pode trazer. São a base da superexploração do trabalho.

ao cálculo da exploração capitalista. Por isso, segundo o autor, “o capitalismo em questão faz com que a história social do campo se reproduza na evolução das grandes metrópoles e cidades” (FERNANDES, 1975, p. 42).

O autor caracteriza esse setor da população das cidades como classe urbana dependente74,

que, ao não ser absorvida pelas oportunidades de trabalho, dá origem a um setor marginal. Essa questão se liga diretamente à situação que a população negra vivia nas grandes cidades. Essa camada social que não se integrou à relação contratual e ao trabalho livre será um elemento a mais para a continuidade das condições de trabalho ultraprecárias, da superexploração. É a partir da caracterização dos condenados que a ligação com a herança escravista fica mais evidente, pois dessa forma é possível apontar para a relação entre avaliação moral – baseado na “inferioridade da raça negra” – e a superexploração do trabalho. É a partir da herança da escravidão que o autor explica porque o desenvolvimento do capitalismo brasileiro perpetuou as relações “tradicionais”, baseadas na exploração compulsória.

O raciocínio de Florestan leva a um ponto importante sobre a posição do negro na emergência da sociedade de classes, pois os agentes humanos que não se classificavam através do mercado de trabalho estavam vulneráveis às formas ainda mais extorsivas de exploração, são “os

condenados do sistema, o setor humano marginal de sua origem econômica” (FERNANDES, 2008a,

p. 65 – grifos do autor).

Jessé Souza faz uma caracterização sobre as relações de classe a partir da ralé, que segundo o autor, é constituída por

Seres humanos a rigor dispensáveis, na medida em que não exercem papéis fundamentais para funções produtivas essenciais e que conseguem sobreviver nos interstícios e nas ocupações marginais da ordem produtiva.

(…) Esta sombra da escravidão não será apenas evidente no sentido da vida destinada a uma existência economicamente marginal, mas também, e mais importante, especialmente para os fins deste livro, para a definição de um padrão de (não) reconhecimento social muito semelhante àquele do qual o próprio escravo é vítima, embora oculto sob formas aparentemente voluntárias e consensuais que dispensam grilhões e algemas. (SOUZA, 2009 p. 122)

Corroboramos Souza em alguma medida, sobretudo na ideia de que o estudo dessa população pauperizada, que o autor denomina de ralé, pode ser um elemento explicativo para o entendimento de que a escravidão criou uma população excedente em frequente estado de

pauperização, e de que isso teve um forte impacto sobre o processo histórico de formação da classe

trabalhadora no Brasil

Jessé Souza (2009), leitor de Florestan, ao pensar a formação da classe a partir do processo de modernização caracteriza essa parte da população como a ralé75, que

74 Ver FERNANDES, 2008a, cap. I

constitui também uma classe inteira de indivíduos, não só sem capital cultural nem econômico em qualquer medida significativa, mas desprovida, esse é o aspecto fundamental, das precondições sociais, morais e culturais que permitem essa apropriação. É essa classe social que designamos neste livro de “ralé” estrutural, não para “ofender” essas pessoas já tão sofridas e humilhadas, mas para chamar a atenção, provocativamente, para nosso maior conflito social e político: o abandono social e político, “consentido por toda a sociedade”, de toda uma classe de indivíduos “precarizados” que se reproduz há gerações enquanto tal. (SOUZA, 2009, p. 21).

A intenção, a partir daqui, é refletir sobre as transformações ao longo do processo histórico, refletindo sobre a transformação ou conservação da população pauperizada, visto que muitas mudanças aconteceram no que diz respeito aos anseios e às posições da classe trabalhadora. Isso será feito a partir do estudo sobre as trabalhadoras catadoras de materiais recicláveis.

Estamos trabalhando com a hipótese de que é a partir da caracterização da população pauperizada que acreditamos ser possível pensar a origem do trabalho das(os) catadoras(es) de materiais recicláveis. A sobrevivência a partir “dos restos” (materiais recicláveis recolhidos nos aterros, lixões e nas ruas) que a sociedade produzia (e ainda produz) era (e ainda é) a realidade de muitas pessoas; essa experiência de trabalho foi (e tem sido) vivenciada por um setor da população, sobretudo da população negra, e com grande incidência das mulheres. Essa história de exclusão e de desemprego típico do desenvolvimento do capitalismo brasileiro é um dos elementos que pode explicar a origem do trabalho das catadoras.

Essa caracterização demonstra uma questão que demarca a particularidade da formação da classe no Brasil: grande parte da população trabalhadora não está inserida a partir da sua relação com o mercado de trabalho e por isso que pensar a classe somente a partir dos processos de proletarização no Brasil é insuficiente.

Por isso, os estudos que surgiram na década de 1980 sobre as classes trabalhadoras optam inclusive pelo termo classes populares e demonstram que a organização social dessas classes não necessariamente está vinculada à sua relação com o mercado de trabalho/ ou com o processo produtivo. Esses estudos trouxeram uma dimensão importante na análise desses grupos e classes: a esfera do cotidiano da pobreza e da experiência prática para reflexão dos processos políticos.

Isso pode ser facilmente descrito ainda hoje a partir dos aspectos da vida da(o) cidadã(ão) de baixa renda nas grandes cidades do Brasil. Muitos sobrevivem em condições de trabalho bastante precarizadas, com a renda abaixo do salário mínimo estabelecido, morando em casas que foram construídas com madeiras e palafitas, ou mesmo casas que foram autoconstruídas de alvenaria e

segundo o próprio autor uma provocação. Como consideramos que o termo pode ser empregado de forma preconceituosa, pois já faz parte de uma linguagem que estereotipa parte considerável da população brasileira, evitaremos sua utilização com o intuito de aprofundar mais o debate em torno da teoria do Jessé Souza, para uma reflexão da utilização desse termo. Utilizaremos população pauperizada ou pauperizados daqui em diante.

tijolos nos dias de folga de trabalho, sem garantia de acesso à educação e à saúde. A vida de boa parte das(os) catadoras(es) de materiais recicláveis pode ser apresentada dessa forma. Mas não somente, pois o processo de transformação das condições de trabalho da categoria propiciou certa melhora para uma pequena parte desses trabalhadores.

A análise de Florestan sobre as classes sociais, ainda que possa iluminar as reflexões de hoje, é datada. Se as relações de classe, raça e gênero são dinâmicas e históricas, elas sofrem transformações o tempo todo. Entretanto, compreender seu processo de formação é importante para o entendimento dos pontos de partidas e suas possíveis transformações.

Com base em um material de estudo empírico Souza (2012) traz uma nova leitura sobre a classe, nos dias de hoje, a partir da ideia dos batalhadores, como uma ascensão social da população pauperizada. Sem acesso ao capital cultural e econômico o que permitiu essa ascensão de parte dos pauperizados foi um extraordinário esforço associado à ética do trabalho,

Essa classe conseguiu seu lugar ao sol à custa de extraordinário esforço: à sua capacidade de resistir ao cansaço de vários empregos e turnos de trabalho, à dupla jornada na escola e no trabalho, à extraordinária capacidade de poupança e de resistência ao consumo imediato e, tão ou mais importante que tudo que foi dito, a uma extraordinária crença em si mesmo e no próprio trabalho (SOUZA, 2012, p. 50).

Dando continuidade à descrição do autor sobre essa nova classe de trabalhadores no Brasil alguns aspectos merecem atenção. Destacaremos os dois que consideramos principais: o primeiro aspecto refere-se à socialização a partir da família estruturada. Se entendermos que a dimensão do capital cultural é importante para pensarmos a classe social, a família na sociedade capitalista adquire uma importante função: passar para a sua prole a herança cultural, seus hábitos, gostos, costumes, ética, etc; “na forma emotiva e invisível típica da transmissão familiar de valores de uma dada classe social”. É a partir da ética do trabalho, constituída na família que se adquiriu a disciplina necessária para o regime de trabalho. Mas ainda que seja enfatizada a ascensão social dos batalhadores, esses não deixam de realizar um trabalho superexplorado com longas jornadas.

O segundo aspecto refere-se ao tipo de trabalho feito por essas pessoas, na maioria dos casos autônomos, dando a impressão da não existência de um patrão. Na verdade, a figura física do patrão realmente não existe, o que não significa a ausência da superexploração a que essa nova classe (de batalhadores) está submetida76. Essa é uma característica importante nesse novo período de

76 Se tomar como base o caso das cooperativas e associações essa relação da ausência do patrão faz sentido. Pois no dia

a dia das cooperativas ainda que todas as pessoas tenham que cumprir suas funções não existe a figura de um patrão que fique mandando ou controlando. Geralmente as questões mais complexas da cooperativa são discutidas coletivamente, sendo o ganho do trabalho repartido para todas as pessoas. Isso não quer dizer que não exista exploração do trabalho na catação, pois os preços praticados pelos atravessadores e até pela indústria da reciclagem é baixo. Por isso, mesmo que as relações de trabalho no interior de uma cooperativa não passem pela relação direta com um patrão, não deixa de estar atrelada ao mercado capitalista e à lógica da exploração.

acumulação que se abriu nas últimas décadas.

Essa nova classe trabalhadora labuta entre 8 e 14 horas por dia e imagina, em

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