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Continua chovendo. Eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. (Carolina Maria de Jesus, p. 31)

4.1) A luta pela coleta seletiva em Ourinhos: do lixão a cooperativa modelo

O município de Ourinhos localiza-se no oeste do estado de São Paulo, a 370 km da capital. Sua população, segundo o censo do IBGE 2013 é cerca de 110 mil habitantes. A economia está voltada para o agronegócio, pecuária e cana-de-açúcar. Atualmente, todo o município possui baixos indicadores sociais, elevados índices de desemprego, sobretudo devido à mecanização agrícola. A escassez de trabalho no meio rural fez a população excedente encontrar na catação uma alternativa no meio urbano. Inúmeros grupos de catadores emergiram na região do oeste do estado. Nesse processo, surgiu a necessidade de mobilizações conjuntas, que culminaram na constituição do Comitê Oeste Paulista enquanto instância do MNCR. A função do Comitê é lutar para construção de políticas públicas, já que o cenário regional está pautado por expulsões do trabalho nos aterros sem respaldo social e na consequente precarização do trabalho.

A cidade de Ourinhos hoje é conhecida nacionalmente pela luta das(os) catadoras(es) de materiais recicláveis em torno do reconhecimento e valorização da profissão. A cooperativa da cidade é considerada um dos modelos no ramo da reciclagem por seu histórico de organização e de luta da categoria.

A construção de políticas públicas voltadas à coleta seletiva no município de Ourinhos está diretamente relacionada com a atuação dos catadores de materiais recicláveis da cidade, assim como à relação destes com o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis.

A atuação das(os) catadoras(es) de materiais recicláveis em torno da gestão dos resíduos sólidos na cidade de Ourinhos está associada ao desenvolvimento e a criação do Comitê regional do MNCR no oeste paulista.

Ao relatar a história da cooperativa Recicla Ourinhos, uma catadora da cooperativa, retoma a época do lixão, pois mesmo antes de existir no município um plano de coleta seletiva muitas pessoas (segundo nossa informante cerca de 100 pessoas) já realizavam a separação e a venda de materiais no local de destinação final dos resíduos da cidade de Ourinhos.

Já havia ações municipais que buscavam retirar as(os) catadoras(es) do lixão. Segundo Larissa,

A assistente social em 2002 falava que a gente tinha que se profissionalizar, tinha que fazer um curso profissionalizante. Ela mandou a gente pro SESI, que é aqueles

cursos do SESI que tem no estado inteiro pra costura, pra tantas outras coisas menos ser catador de material reciclável como a gente já era.

A atitude discriminatória da secretaria de assistência social, sem reconhecer e valorizar o trabalho feito pelas(os) catadoras(es) não resultou em uma política efetiva para as pessoas que ali trabalhavam. Foi somente quando um catador da cidade de Assis (município vizinho de Ourinhos), visitou o antigo local de trabalho e buscou a articulação com as(os) trabalhadoras(es) da cidade de Ourinhos que começou um movimento sobre a importância de seu trabalho para o município.

Foi a partir dessas visitas que começou uma articulação na região, envolvendo a cidade de Ourinhos. Segundo Carvalho (2008), o início da articulação na região aconteceu depois da realização do I Congresso Latino – Americano de Catadores, quando após participarem do evento, determinadas(os) catadoras(es) da região se prontificaram a articular a categoria no oeste do estado:

Juntos, catadores de Assis, Rancharia, Presidente Prudente e Marília, com o apoio das prefeituras, rumaram a São Paulo, onde se somaram à caravana do Estado de São Paulo com destino a Caxias do Sul - RS -, para participarem do I Congresso Latino-Americano de Catadores. Esses participantes além de terem atuado na elaboração da Carta de Caxias do Sul, que apresentava os 18 compromissos de luta dos catadores, voltaram com o firme propósito de articular os catadores de nossa região. (CARVALHO, 2008, p. 95)

O I Encontro Regional de Catadores de Materiais Recicláveis da Região Sudoeste Paulista ocorreu em 2003, resultado de uma parceria que se iniciava entre determinado grupo de alunos e professores da Unesp Campus de Assis e a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Assis (COOCASSIS). Tal encontro contou com o apoio de diversas instituições e a presença de catadores, apoiadores e poder público de onze municípios. “O encontro teve por objetivos mapear a realidade da catação, na região, discutir a importância de se constituir o Comitê Regional, eleger seus representantes e projetar suas ações prioritárias” (CARVALHO, 2008, p. 95).

Segundo Larissa,

Em 2003 começou a gente a participar de algumas ações do movimento, algumas reuniões e aí a gente começou a aprender o que nas reuniões? que nós éramos trabalhadores e que o poder público tinha obrigação e ainda não existia a política de resíduos que é a 12.305 que nasceu em 2010. Eles tinham que dar condições de trabalho pra gente e que pra gente sair do lixão não adiantava ser costureira, não adiantava ser mecânico porque nem emprego na cidade tem pra colocar as 60 pessoas que tinham no lixão.

O surgimento do comitê Oeste Paulista de Catadores de Materiais tinha o objetivo de fortalecer as(os) catadoras(es), muitos ainda trabalhando nos lixões e aterros, e atuar na construção de políticas públicas locais no intuito de garantir a inclusão e o protagonismo destes trabalhadores no gerenciamento de resíduos sólidos recicláveis. As reuniões do comitê deram a essas(es)

trabalhadoras(es) outro entendimento sobre o seu trabalho

A coleta seletiva antes da gente aprender que a gente tinha que receber por isso, a gente trabalhou muitos anos de graça, foi um tempo de escravidão, porque a gente tinha os donos lá que eram os ferros velhos, né? E aí você acabava catando individual e cada um vendia no ferro velho, tinha vários lá [no lixão]. Quando a gente começou a participar [das reuniões do movimento] e quando foi lá, como a gente fala a Princesa Isabel lá no lixão que é o nosso companheiro que chama Claudineis e o Jeferson, eles mostraram que organizar catador dá certo, a gente começo meio que fazer a revolução, então as gentes virou as chatas né?

(…) Quando a gente ficou sabendo que a gente tinha que ser contratado pra parar de trabalhar de graça pros outros, porque o material ele é fruto do nosso trabalho; mas se a gente não for lá coletar, ele não vai entrar dentro do carrinho, ele não vai chegar na cooperativa, ele vai pra onde? Ele vai pro lixão, a prefeitura tem que coletar esse material que tá sendo jogado lá.

(...) A gente descobriu que o nosso trabalho, ele tinha um valor, a gente trabalhava de graça pro município, eles recebiam pra isso, eles tinham por obrigação fazer esse trabalho e quem tava fazendo era nós e aí a gente começou a negociar né? (Carla, catadora falando em formação na região do oeste paulista)

Na cidade de Ourinhos, até o ano de 2004, não havia gestão de resíduos sólidos, e todos os materiais recuperáveis/reaproveitáveis/recicláveis iam para o aterro municipal. Os caminhões da coleta convencional despejavam o lixo bruto de indústrias, casas, empresas, órgãos públicos, etc, onde cerca de cem pessoas rasgavam os sacos de lixo em busca de materiais que eram passíveis de comercialização. Entre estas(es) catadoras(es) sobressaltavam o vínculo familiar, sendo compostos por mulheres, homens, idosos e crianças que atuavam em um ambiente altamente insalubre, além de ficarem à mercê da exploração de atravessadores que permaneciam monopolizando o local, limitando a possibilidade de negociação pelo preço pago aos materiais. A relação familiar é bastante presente na catação de materiais recicláveis feitas nos locais de disposição finais de resíduos98,

assim como a presença das crianças no local

Eu trabalho com esse serviço desde os 11 anos. Quando a gente era criança aí meu vô pegava a gente e levava. Aí levava eu a Matilde o Gui, que é irmão da Matilde, a Zão, que é irmã da Matilde, meu irmão e minha irmã. Levava tudo nós com ele, colocava tudo na carroça, na carrocinha e ia para o lixo. A gente ficava brincando, nós ia para lagoa e aí foi indo, foi indo até que começou a aparecer comprador para PET e aí nós começava a catar só PET, só nós criança e ele catava só papel, aí nós começou a ganhar nosso dinheiro. E aí depois foi a lata, começô a aparecer comprador para lata, aí nós catava as lata, aí proibiram nós de entrar lá. Quando eu tinha treze anos proibiram nós de entrar lá, aí não podia entrar de menor mais. Aí nessa época eu fui trabalhar de doméstica, de babá, trabalhei em uma casa um ano (Lucinéia, cooperada da Recicla Ourinhos, apud Moreira 2012).

A fala de Lucinéia é interessante pois revela o porquê de catar alguns materiais em

98 Na cooperativa Recicla Ourinhos a relação familiar também é bastante presente, muitos membros da mesma família

trabalham na catação. Isso foi uma constante em todas as cooperativas que tivemos a oportunidade de visitar. A relação familiar continua presente nas cooperativas e associações de catadores(as) de materiais recicláveis.

detrimento de outros. O tipo de material que as(os) catadoras(es) catam são determinados pelos compradores, só catam os materiais que têm comercialização.

A transformação na relação de trabalho foi um processo que se deu aos poucos, pois em 2003, já participando das reuniões do comitê do MNCR na região, as(os) catadoras(es) formaram a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Ourinhos (Recicla Ourinhos), composta inicialmente por sessenta associadas(os), predominando as mulheres trabalhando ainda no lixão. A proposta da prefeitura de Ourinhos era a saída das(os) trabalhadoras(es) do aterro para a implementação do programa de coleta seletiva, triagem e comercialização de materiais recicláveis realizada pelos catadores da Recicla Ourinhos. Nesse processo, é importante colocar a ação de outras parcerias.

No ano de 2004 iniciaram-se os contatos entre a Unesp de Ourinhos e a Associação, por meio de uma disciplina específica do curso de Geografia, o contato se estreitou e a universidade se tornou parceira da Recicla Ourinhos (posteriormente Incop Unesp Ourinhos). Essa articulação culminou na elaboração de diversos projetos voltados para implantação, planejamento e a consolidação do programa de coleta seletiva, contando ainda com formações relacionadas à organização autogestionária e ao trabalho coletivo e a aquisição de equipamentos para melhoria nas condições de trabalho e renda.

Ainda em 2004, a Recicla Ourinhos inicia a coleta seletiva porta-porta em 10% do município de Ourinhos. A coleta de apenas 10% dos domicílios de Ourinhos não era suficiente pra garantir renda para todos os associados, o que manteve parte dos(as) trabalhadores(as) coletando no aterro e parte deles nas ruas e atuando na usina, local de uma antiga usina de compostagem que foi disponibilizado pela prefeitura.

No ano de 2005, a Associação Recicla Ourinhos é reconhecida como uma Associação de utilidade pública por meio da Lei Municipal n° 4.959, de 8 de julho de 2005, fato que respaldou legalmente a prefeitura para permitir o uso de equipamentos públicos, a usina e os caminhões de coleta seletiva. No ano de 2006, trabalhando na coleta no aterro, havia ainda poucos equipamentos para a saída do lixão e melhoria das condições de trabalho.

O ano de 2007 foi marcado por uma nova campanha de conscientização para a coleta na cidade, sendo que a associação conseguiu expandir a coleta para 30% do município. A dificuldade de saída do lixão é relatada a partir da brusca diminuição da renda, que passou a ser em torno de 400 reais. Nesse mesmo ano a Recicla Ourinhos fez um ato na cidade, pois ainda negociava com a prefeitura a liberação de um caminhão para a coleta. Como já havia a articulação em torno do MNCR, o ato pode contar com catadoras(es) de diversas cidades da região e surtiu efeito, com a liberação do caminhão para a coleta. A ação direta como mecanismo de expressão da força e da auto-organização popular teve grande repercussão no município. A articulação regional com outros

grupos de catadores também foi relevante para o ato. Pode-se constatar que a cooperação entre as bases do Comitê Oeste Paulista e a autogestão da Recicla Ourinhos foram determinantes para a alteração do cenário de exploração dos catadores em Ourinhos.

Nesse momento a Recicla Ourinhos, junto à Incop Unesp Ourinhos, iniciaram um processo de diálogo com a prefeitura para ser contratada pelo serviço prestado de coleta seletiva. O diálogo com o poder público era realizado a partir da Secretaria de Assistência Social, o que explicita o caráter assistencialista que permeia historicamente a categoria das(os) catadoras(es), havendo diversos momentos de embate para conscientizar a prefeitura de que se tratava da contratação de um serviço e não apenas a doação dos materiais por caridade.

No ano de 2009 houve a criação de um Fórum de coleta seletiva na cidade, envolvendo os(as) catadores(as), o poder público e outros setores da sociedade civil, com o intuito de discutir a elaboração de um plano de coleta seletiva municipal e já iniciando as conversas sobre a contratação da Recicla Ourinhos para o serviço de coleta seletiva, pois era isso que possibilitaria a saída do lixão com a garantia de uma boa renda para os(as) catadores(as).

O ano de 2010 foi crucial para a Recicla Ourinhos: a associação passou a ser cooperativa, assinou o primeiro contrato de coleta seletiva, expandiu a coleta para 40% da cidade, e saiu de vez do lixão. É importante frisar a ação do Ministério Público nesse processo:

A gente conseguiu sair do lixão por causa do Ministério Público do Trabalho, teve uma denúncia do promotor municipal, aí em 2009 o MP do trabalho chegou no lixão e disse: agora vocês vão ter que fazer. Aí foi o dia que mudou a nossa vida foi através do MP do trabalho. O promotor faz um TAC [Termo de Ajuste de Conduta] pro município, que em um ano teve que investir mais de 2 mi de reais pra deixar adequado. (…) Tem uma coisa, o prefeito diz que sempre não tem dinheiro, não tem dinheiro pra caminhão, não tem dinheiro pra galpão, aí de repente vai lá o promotor e aparece dinheiro nadando.

(Matilde, catadora de Ourinhos, em fala durante audiência pública).

Nesse período, a Recicla Ourinhos recebeu a visita de um fiscal do Ministério Público do Trabalho, com um dossiê que remontava a trajetória da cooperativa e apontava irregularidades que o poder público teria que sanar. Assim, é firmado entre o Ministério Público do Trabalho e a Superintendência de Água e Esgoto (SAE) de Ourinhos um Termo de Ajuste de Conduta (TAC). O resultado da autuação da prefeitura culminou na construção de um galpão, escritório, refeitório, banheiros e vestiários dentro da área da usina de reciclagem. No ano de 2010 foram concluídas todas as melhorias no galpão da prefeitura, que passou a ter as instalações necessárias: escritório, refeitório e vestiário além dos locais para a triagem, prensagem e armazenamento do material. Nesse mesmo ano a cooperativa Recicla Ourinhos é reconhecida como um centro de referência do catador, recebendo um selo amigo do catador do governo federal.

A contratação da Recicla Ourinhos como executora da coleta seletiva passou a ter vigência anual, sendo seus valores readequados de acordo com o número de cooperados inseridos (calculado

sobre o INSS) e em relação à expansão de domicílios atendidos. Entretanto, mesmo com o contrato da coleta seletiva, havia uma crescente preocupação com a fragilidade do contrato celebrado, pois havia uma vulnerabilidade à sensibilidade das políticas de governo, que se alterariam conforme as mudanças da gestão. Para superar essa vulnerabilidade em 2011 uma importante lei foi promulgada no município de Ourinhos (lei municipal n° 5.731) que criou o Programa de Coleta Seletiva com Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Material Reciclável e o Sistema de Logística Reversa. A avaliação da aprovação da lei pelo fórum e pelo coletivo da Recicla Ourinhos é uma grande conquista em relação às diretrizes e à maneira de gerir a questão dos resíduos sólidos na cidade, demonstrando uma quebra de paradigma com o caráter assistencialista com que a questão era encarada. No entanto, a cada quatro anos, com a mudança da gestão municipal, as catadoras têm que se articular com a prefeitura novamente para reafirmar o compromisso da gestão pública com a cooperativa. Nesse ano de 2017 a cooperativa chegou a ficar dois meses sem receber pelo serviço por conta da mudança da gestão.

A experiência da contratação da Recicla Ourinhos está entre as pioneiras do país, fato relevante que abre novos caminhos para outros grupos de catadores lutarem em seus municípios. A fala de uma liderança do MNCR em visita à Recicla Ourinhos expressou isso:

O que a gente tá vendo aqui é importante levar essa experiência para as nossas cidades quando a gente voltar, porque muitas cidades não quer contratar o serviço do catador, a gente presta um serviço gratuito há muitos anos e a gente sabe que só a comercialização não banca o custo da coleta seletiva dentro das nossas bases, não banca! A gente tem que receber pelo serviço que a gente presta! (Marina).

Outra conquista da Recicla Ourinhos ainda em 2011 foi o Termo de Concessão de Direito Real de Uso99. No ano de 2012 a cooperativa já era visitada por muitas(os) catadoras(es) de outros

locais, gestores, estudiosos, como um exemplo para todo o país: a cidade de Ourinhos conseguiu retirar todas(os) as(os) catadoras(es) do lixão, garantindo sua inclusão social e produtiva e uma coleta seletiva bastante eficiente na cidade. No ano seguinte, a prefeitura e a cooperativa receberam o prêmio cidade pró catador das mãos da presidente Dilma, sendo reconhecida como uma das 4 melhores experiências de coleta seletiva com inclusão de catador do Brasil.

No ano de 2014, a cooperativa de Ourinhos sediou o I Congresso de Mulheres Catadoras de materiais recicláveis, protagonizando o primeiro momento de autoorganização das mulheres, tornando-se sede da Secretaria Estadual das Mulheres Catadoras de materiais recicláveis de São Paulo (SEMUC-SP). Nesse ano também foi revisto o contrato de coleta seletiva, sendo possível o aumento da coleta seletiva para 80% da cidade e da renda para todos(as) os(as) catadores(as) da

99 Por ser uma concessão de direito real de uso pressupõe uma indenização caso a cooperativa seja retirada do local

antes do prazo de 30 anos. Essa concessão por um longo tempo possibilita à cooperativa receber investimentos públicos no que se refere à infraestrutura.

cooperativa. Além disso a Recicla Ourinhos foi escolhida como a cooperativa para receber todas as redes do Brasil para a assinatura do Cataforte III, em outubro, contando com a presença do então Secretário da Economia Solidaria (Paul Singer) e da coordenadora do CIISC (Daniela Mettelo).

A articulação, autogestão e a presença do MNCR foram fundamentais para que a Recicla Ourinhos fosse reconhecida e contratada pelo município. Foram realizadas atividades formativas conjuntamente com a Incop Unesp Ourinhos, com o objetivo de assegurar a socialização das informações e a autogestão do grupo. As lideranças da cooperativa se veem dentro de um coletivo. Existe na Recicla Ourinhos outras divisões internas que ultrapassam a liderança da presidente e pulverizam as ações; pois cada setor da produção tem uma coordenadora responsável por sua organização, sendo que a cooperativa tem assembleias frequentes para a tomada de algumas decisões (por exemplo, pela exclusão ou suspensão de alguma pessoa no grupo). Além disso, a contabilidade é colocada todo mês para que todos possam ver. É com essa preocupação que a presidente da Recicla Ourinhos coloca:

Não adianta eu como liderança da recicla Ourinhos achar que eu dou conta de fazer tudo. Aí por exemplo as meninas já aprenderam a fazer os negócios da contabilidade, eles sentaram sabe, eles fizeram prestação de contas; pra fazer de fato tudo ficar transparente e todos entenderem. Porque não adianta nada a gente colar na paredinha tudo o que a gente faz e ninguém querer saber.

A coleta seletiva de Ourinhos foi se consolidando aos poucos com o protagonismo das(os) catadoras(es) nesse processo como contamos. Hoje a coleta é feita porta a porta em cerca de 80% da cidade de Ourinhos, com uma média de 7% de rejeito apenas100, realizada com sete caminhões,

sendo cinco da cooperativa e dois da prefeitura. As catadoras (todas as pessoas que trabalham na coleta na rua são mulheres) vão fazendo o seu trajeto (já pré-definido) nos diferentes bairros todos os dias, empurrando o carrinho e batendo na porta da casa das pessoas, ao grito de “Coleeeeeta! ”. Quando o carrinho já está cheio de material, os caminhões responsáveis pela coleta passam no trajeto e pegam os “bags” com o material coletado. É importante ressaltar que a coleta seletiva porta a porta cria um vínculo com a população do município, que aprende a separar o material de maneira mais eficiente e compreende a destinação final de seus resíduos, desmistificando e desestigmatizando a profissão das(os) catadoras(es).

Após a coleta nos bairros, o material chega para a cooperativa onde passa pela esteira de triagem e são separados por tipos pelas catadoras (na triagem também só trabalham as mulheres). Os plásticos são levados para outro local, onde é separado pelos seus diversos tipos (PET, PEAD,

100 Essa questão é interessante, porque o número de 7% de rejeito é baixo, pois são basicamente os materiais que não

têm comercialização e por isso não são reciclados. Isso demonstra uma assertiva de um dos lemas do MNCR: “Coleta Seletiva sem catador é lixo! ”. Com a coleta porta a porta feita pelas(os) catadoras(es) em Ourinhos, o número de rejeito

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