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“Quando chove eu fico quase louca porque não posso ir catar papel para arranjar dinheiro”. (Carolina Maria de Jesus, 2007, p. 129)

1.1) O processo de trabalho e a cadeia produtiva

Atualmente o processo de trabalho das(os) catadoras(es), feito nas cooperativas e associações, funciona de forma mais ou menos semelhante, com algumas alterações a depender da organização de cada empreendimento. As etapas do processo são: 1) a coleta dos materiais; 2) a triagem do material por meio da separação por tipos (vidro, plásticos, ferros, alumínios, papel, papelão, etc.); 3) prensagem dos materiais; 4) estocagem e comercialização desses materiais.

A coleta seletiva é feita nos bairros, nas empresas e estabelecimentos comerciais de cada município. A depender da cidade, a coleta pode ser feita organizada pelas catadoras e catadores da cooperativa (isso acontece em Ourinhos, Assis, Maracaí, etc.), por uma empresa contratada pela prefeitura que recolhe o material e destina para as cooperativas (como acontece em Rio Claro, Piracicaba, Campinas), ou pela própria prefeitura. A principal reivindicação do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) é que a coleta seletiva seja feita pelas catadoras e catadores, essa mensagem é facilmente percebida por uma palavra de ordem proclamada em quase todos os atos em que pude estar presente: “coleta seletiva sem catador é lixo!”. Uma das dificuldades associadas ao processo da coleta é a obtenção de um caminhão para a sua realização, e a conscientização da população para realizar a separação correta dos materiais. Quando a coleta é feita pelas(os) catadoras(es), o processo de conscientização é contínuo, porque existe uma relação da(o) catadora(o) com a população, e durante a coleta já informam o que é reciclável e o que não é. Quando o serviço é feito por uma empresa contratada, ela geralmente recebe pela tonelada coletada, e não tem nenhum interesse na triagem, por isso pouco importa o que está sendo coletado, se as(os) catadoras(es) vão ter que pôr a mão no lixo para separar o material21.

A pesquisa feita com as catadoras indicou que o preconceito em torno da profissão está associado à ideia do trabalho com o “lixo”. O lixo é um termo inadequado para trabalhar com a categoria, pois o lixo é associado a algo que não tem mais utilidade, e por isso também não tem valor econômico. O material reciclável, por outro lado é passível de reutilização e reuso, possuindo valor econômico. Dessa forma, não utilizaremos a palavra lixo para designar o material reciclável, e entendemos a necessidade, tal como colocado pelas catadoras, de fazer essa diferenciação. Por isso, corroboramos Grimberg (2005:11), pois

21 Quando não há a separação correta do material, eles chegam até as cooperativas e associações misturados com outros

resíduos que não são passíveis de reciclagem, como os resíduos orgânicos, os contaminados (dejetos hospitalares), etc. Essa situação faz com que o trabalho de triagem se torne insalubre

É preciso diferenciar lixo de resíduos sólidos – restos de alimentos, embalagens descartadas, objetos inservíveis quando misturados de fato tornam-se lixo e seu destino passa a ser, na melhor das hipóteses, o aterro sanitário. Porém, quando separados em materiais secos e úmidos, passamos a ter resíduos reaproveitáveis ou recicláveis. O que não tem mais como ser aproveitado na cadeia do reuso ou reciclagem, denomina-se rejeito. Não cabe mais, portanto, a denominação de lixo para quilo que sobra no processo de produção ou de consumo. Marcar estas diferenças é de suma importância.

Essa questão apareceu em todas as entrevistas que foram feitas e é interessante perceber como no processo de organização coletiva vão valorizando sua atividade e superando esse preconceito. É importante apreendermos com elas que o trabalho que fazem é com o material reciclável e não com o lixo. Abaixo colocamos algumas falas das catadoras sobre essa questão: “tem gente que vem aqui acho que pensa assim, pra eles o nosso serviço é lixo, não é material reciclável (…). Então assim pra eles como nós trabalha nesse serviço, acho que eles fala assim: “ó são tudo cambada de porco na casa, tudo cambada de lixeiro”. (Regina)

“O trabalho nosso é tão importante como o do médico, como um qualquer outro, é um trabalho digno. A maioria das pessoas falam: “ah, você mexe com o lixo”. Eu falo: “não, eu não mexo com o lixo, mexo com material reciclável”. (Luciana).

As pessoas não falam que a gente é catador, as pessoas falam que a gente trabalha com o lixo. Quando fala isso eu já olho pra pessoa né? E antes eu ficava sem graça, mas hoje não, já olho pra pessoa e já falo na lata: materiais recicláveis. A gente não trabalha com o lixo, a gente trabalha com materiais recicláveis. (Cassia).

Inclusive o processo de consolidação da SEMUC é ressaltado por uma catadora como um importante passo para a superação desses preconceitos.

eu acho que é super importante a gente consegui chegar no maior número de lugar que a gente conseguir. Porque ainda hoje existem pessoas que sente vergonha de ser catador, ser catadora, de ser negra, de tá atuando na coleta seletiva, tá trabalhando com o resíduo. Infelizmente nós temos ainda pessoas que sentem vergonha desse trabalho. Então assim eu acho que é super importante a SEMUC consegui chegar nos lugares, estar nos lugares (Neusa).

O processo de triagem é considerado o primeiro momento do beneficiamento para agregar valor. Este é feito em mesas, esteiras ou até mesmo no chão, isso depende dos equipamentos que cada cooperativa tem22. A separação por tipo de material (Plásticos, vidros, alumínio, papel, papelão,

22Os equipamentos podem ser adquiridos pelas cooperativas através da compra direta (o que raramente é feito), via

projetos junto aos órgãos de fomento da economia solidária e até adquiridos diretamente por doação do poder público local. Os projetos vinculados à logística reversa também têm contribuído, nos últimos anos, para a aquisição de equipamentos nas cooperativas.

sucatas, etc.) é feita em grandes sacolas (chamadas de bag23s) e após essa separação, os bags ficam

armazenados na cooperativa para serem prensados.

A prensagem é mais uma etapa do beneficiamento do material e agrega valor para a sua posterior venda. Algumas cooperativas ainda não têm prensa e por isso vendem o material solto (não prensado) 24. A prensagem ainda é importante para diminuir o volume de material e a

organização do espaço na cooperativa.

Por último é feita a venda dos materiais prensados que estão estocados. Geralmente a venda é feita quando se fecha uma carga de material (que pode ser uma, duas ou mais vezes no mês, a depender da dinâmica da cooperativa e do volume de material) e a maior parte delas é feita para atravessadores, aparistas e sucateiros; que são os intermediários entre as cooperativas e as indústrias de reciclagem, isso é um dos fatores para os preços dos materiais ficarem ainda mais baixos. Para avançar na cadeia produtiva e valorizar o preço dos materiais, as cooperativas e associações buscam fazer a venda direta para as indústrias recicladoras, entretanto ainda existem muitas dificuldades para que isso aconteça. A dificuldade das cooperativas venderem diretamente para a indústria é um problema de escala de produção, pois a indústria só compra em grande quantidade e as cooperativas dificilmente têm espaço físico para estocar o material. Além disso, dependendo do município, a venda do material é urgente, pois a remuneração das(os) catadoras(es) depende diretamente dessa venda. A estratégia utilizada para a venda direta para a indústria é a associação de diferentes cooperativas em Redes de comercialização25. Esta estratégia está sendo fomentada pelo Cataforte III,

como será comentado adiante nesse capítulo.

Nessa cadeia produtiva, as(os) catadoras(es) geralmente26 obtêm sua renda somente com a

venda dos materiais; sem receber remuneração pelo serviço que prestam de coleta, triagem e prensagem do material reciclável, além de dar a destinação final ambientalmente correta. Isso leva a uma instabilidade na remuneração, pois os materiais recicláveis são commodities (aparas de papel, sucata de ferro e plásticos) classificadas como mercadorias primárias, ou matérias-primas, que têm seu preço estabelecido de forma global. Isto significa que os materiais coletados pelas catadoras e catadores têm preços que são negociados em vários países e estão sujeitos às variações que as indústrias praticam ao redor do mundo, cotadas em dólar (MNCR, 2009, p. 55). Dessa maneira,

23 Bag é uma das ferramentas de trabalho, como são chamadas as grandes sacolas onde são colocados os materiais

recicláveis.

24 No ano de 2015 tive a oportunidade de atuar com as cooperativas de Campinas e durante esse período fizemos uns

cálculos dos valores dos materiais comercializados na cidade pelas cooperativas que prensavam e as que não prensavam. O material não prensado perde cerca de 20% do valor de venda.

25 Mesmo com a atuação em rede a venda direta para a indústria tem a dificuldade do pagamento. Segundo as catadoras

de Ourinhos, o pagamento é feito somente 35 dias após a venda do material. Para os grupos menores essa fator é complicado e faz com que muitas vezes prefiram vender à um preço menor e receber o pagamento na hora.

26 Cabe colocar que já existem cooperativas em algumas cidades no Brasil que são contratadas pela prefeitura de seu

município pelo serviço que prestam de limpeza urbana e destinação correta dos resíduos sólidos e que, por isso, além de receberem pela venda do material recebem pelo serviço de utilidade pública que prestam aos municípios contratantes.

apesar de realizarem a coleta e a triagem de materiais recicláveis de modo a possibilitar a sua reinserção na cadeia produtiva da reciclagem e prolongar o tempo de vida útil não só dos materiais, mas também dos locais de disposição final de resíduos sólidos (como aterros e lixões), as(os) catadoras(os) comumente não recebem por tal trabalho e possuem como renda apenas o que é fruto da comercialização dos materiais. Assim, na ocorrência de crises financeiras há significativa queda de renda, decorrente da redução do preço dos materiais recicláveis; tal qual ocorreu em 2008.

Podemos dizer, dessa forma, que a maior parte do trabalho dos(as) catadores(as) não é devidamente remunerado. Mesmo com toda a visibilidade e transformação que o trabalho na catação ganhou nos últimos anos, não podemos deixar de atentar para o fato de que a indústria da reciclagem no Brasil tem um custo baixo, porque se explora o trabalho gratuito que as(os) catadoras(es) fazem ao recolher e separar os materiais. Na figura 1 podemos observar que no trajeto feito pelo material reciclável a maior parte do processo se encontra nas mãos das(os) catadoras(es).

É a superexploração do trabalho das(os) catadoras(os) que faz com que a reciclagem no país apresente níveis altos de rentabilidade para os atravessadores e para a indústria de reciclagem, existindo uma relação direta entre a quantidade de pessoas pobres disponíveis para fazer o trabalho com os materiais recicláveis e os altos índices da reciclagem no Brasil27.

27 Segundo os dados da Abrelpe temos os seguintes índices de reciclagem: Papel: 63,4%; PET: 51%; Alumínio 98,4%.

O Brasil é o país com a maior recuperação de alumínio do mundo. Disponível em:

Figura 1: Ciclo da cadeia produtiva da reciclagem

Elaboração própria, inspirada na cadeia produtiva feita pelo MNCR (http://www.mncr.org.br/biblioteca/formacao-e- conjuntura/ciclo-da-cadeia-produtiva-de-reciclagem).

Entendendo o trabalho na catação (a origem do trabalho na catação).

Um dos primeiros registros da categoria (senão o primeiro) foi o livro de Carolina Maria de Jesus – mulher, negra, moradora da antiga favela do Canindé em São Paulo, que criava sozinha três filhos, trabalhava nas ruas da cidade catando papelão e sucatas, já no final da década de 195028. No

livro, o registro de um trabalho marcado pela não formalização, pela instabilidade, precariedade, insalubridade e por um estigma muito grande. Por esse registro sabemos que a catação existe há mais de 50 anos, quando muitas pessoas catavam ferros, sucatas e papel para vender. Essa foi uma alternativa de trabalho que se colocou para muitas pessoas pobres, de baixa escolaridade que não tinham outra forma de obtenção de renda, por isso se inserem em um trabalho marcado por condições precárias e não considerada uma relação de trabalho típica do capitalismo (de patrão e empregado). Apesar de não haver a relação entre trabalhaor e patrão é uma atividade capitalista, que envolve exploração do trabalho e de grande importância para as indústrias, pois é produtora de matérias-primas essenciais à dinâmica global da acumulação.

O relato de Carolina Maria de Jesus mostra que pelo menos desde a década de 1950 (com o processo de urbanização em rápido desenvolvimento) existe o trabalho das(es) catadoras(es). Esses poderiam ser caracterizados como pessoas pobres que tiravam seu sustento e o de sua família catando materiais recicláveis nas ruas, aterros e lixões.

O trabalho feito pelas(os) catadoras(es) está diretamente vinculado ao processo de desenvolvimento urbano industrial, que com as mudanças sociais vem, conseqüentemente, sofrendo alterações que afetam diretamente a forma do trabalho. As mudanças que ocorrem na forma de produção e consumo atingem a composição dos resíduos sólidos. Sabemos que até 1957 esses resíduos eram compostos majoritariamente por materiais orgânicos, e somente a partir de 1969 tais materiais encontram-se em proporções menores em relação à totalidade dos resíduos sólidos (Berríos, 2002).

Segundo Berríos (2002, tabela p. 19) de 1927 a 1957 o material orgânico correspondia à maior parte dos resíduos, no ano de 1927 o resíduo orgânico correspondia a 82,0% dos resíduos sólidos do município de São Paulo. Houve uma substantiva alteração desse quadro, Berríos mostra que em 1998 os resíduos orgânicos correspondiam a 53,8%. Outra mudança relevante para o setor da reciclagem foi a crescente a utilização de materiais plásticos, pois se até a década de 1960 a catação era, principalmente, de sucatas e papelão nos últimos anos o plástico emergiu como um importante material a ser reciclado. Segundo Moreira (2012: 8),

por reunir determinadas qualidades como a leveza, que implica em redução de custos e facilita operações de transporte, a durabilidade, ductibilidade, transparência, entre outras, o plástico teve uma receptividade grande no

setor de embalagens e passou, rapidamente, a ser usado de maneira intensiva. Tais dados, apesar de serem referentes aos resíduos sólidos do município de São Paulo, servem como exemplo das mudanças que repercutiram no país, em ritmo mais ou menos acelerado em cada município.

As mudanças no processo de produção, bem como a crescente preocupação com os resíduos gerados no ambiente urbano deram uma nova roupagem ao processo de reciclagem no Brasil. O modelo capitalista de desenvolvimento que promove consumo de massa de bens duráveis e não duráveis consolidou uma sociedade com um excessivo descarte de resíduos.

A reciclagem passou a ser vista como solução por uma série de fatores, como: o esgotamento de matérias primas; a necessidade do rebaixamento do custo da produção (reinserindo as matérias-primas através da reciclagem); a indisponibilidade e os altos custos dos aterros sanitários (que teriam seu volume reduzido com a reciclagem dos materiais); a necessidade de atendimento aos critérios de sustentabilidade (com menor poluição e prejuízos à saúde da população); como alternativa de obtenção de renda. Este último aspecto será o mais explorado nessa pesquisa, e parto da afirmação de que a indústria da reciclagem no Brasil se desenvolveu (e ainda se mantem) diante da potencialidade de exploração da população em condições de pobreza,

A reciclagem no Brasil só se tornou possível em grande escala quando o recolhimento e a separação dos resíduos se mostraram uma tarefa viável e de baixo custo, isto é, realizável por trabalhadores cuja remuneração compensasse investimentos de tecnologia para o surgimento do setor de produção de material reciclado. (BOSI, 2008, p. 104).

É a partir da superexploração do trabalho feito pelas(os) catadoras(es) que a indústria da reciclagem no Brasil atingiu os altos índices mundiais. Segundo o MNCR,

A indústria da reciclagem no Brasil é abastecida por bolsões de miséria espalhados por todo o país, segundo estimativa do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), 90% de tudo que é reciclado vem das mãos dos cerca de 800 mil catadores e catadoras em atividade nas ruas das metrópoles, que atuam diretamente dentro de lixões a céu aberto ou organizados em cooperativas e associações (MNCR, 2009 p. 21).

Além do trabalho em condições precárias, há casos de trabalhos análogos à escravidão, como a servidão por dívida através do aluguel de carroças que sucateiros e atravessadores fazem com as(os) catadoras(es). São situações que violam os direitos humanos das(os) catadoras(es), um dilema moral do setor da reciclagem que, no Brasil, apesar de ser considerado um dos maiores do mundo, ainda é mantido pela exploração que fazem destas(es) trabalhadoras(es).

superexploração, houve certo reconhecimento da importância das(os) catadoras(es) nos anos 2000. O crescente reconhecimento desse trabalho fez com que essas(es) trabalhadoras(es) se articulassem demandando melhorias, tornando público as péssimas condições de trabalho e vida, sobretudo nos lixões e aterros. O reconhecimento dessa situação e a pressão de órgãos fiscalizadores (Ministério Público, Ministério Público do Trabalho e Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB) fez com que os poderes públicos municipais expulsassem esses(as) trabalhadores(as) destes locais de trabalho sem ter como contrapartida uma solução de trabalho para elas(es)29. A

questão tornou-se quais medidas adotar para essas pessoas não perderem sua fonte de trabalho e renda.

A caracterização do trabalho na catação de recicláveis é interessante para a reflexão sociológica da formação das classes sociais no país, isso porque seu histórico demonstra que parte da população pobre brasileira tinha relações de trabalho que não passavam pelo mercado de trabalho formalizado. Por isso, o estudo sobre a categoria permite considerar que é insuficiente pensar a formação de uma classe trabalhadora somente a partir dos processos de proletarização no Brasil. Isso significa que o processo de modernização capitalista por si só não foi suficiente para acabar com a situação de pobreza extrema. O caso das(os) catadoras(es) é um exemplo de alternativa de trabalho nas brechas do sistema capitalista moderno.

1.2) Catadoras(es) numa sociedade em mudança

Um dos temas que movimentou o debate das Ciências Sociais nas décadas de 1950 e 1960 foi o desenvolvimento, das possibilidades do crescimento econômico auxiliar na redução da pobreza, promovendo melhores condições para a população como um todo. Os intelectuais brasileiros articulavam-se para pensar os impactos das rápidas mudanças que o processo de industrialização provocava no país. As temáticas recorrentes à época eram a questão da industrialização, da superação do subdesenvolvimento, da dependência externa, da superação da pobreza e do atraso30.

Este último estava articulado com a questão das desigualdades regionais, dando corpo ao debate do dualismo31. Entretanto o que realizou-se no Brasil foi o crescimento econômico sem distribuição de 29Entretanto, essa pressão por parte dos órgãos fiscalizadores não foi massificada, restringindo-se a poucas experiências no Brasil. Esse cenário altera-se com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010 (como veremos adiante). A pressão por parte do governo federal para o fechamento dos lixões existe, mas, ainda assim, os processos de fechamento de lixão com inclusão social e produtiva das(os) catadoras(es) de materiais recicláveis ainda é escasso. No ano de 2015, as lideranças do Comitê Oeste Paulista acompanharam de perto o fechamento do lixão na cidade de Presidente Prudente. Foi um exemplo exitoso de fechamento do lixão com a contratação da cooperativa.

30 Os principais teóricos do desenvolvimentismo estavam reunidos em torno de grupos como o ISEB e a Cepal. Seus

principais nomes no Brasil foram Helio Jaguaribe, Celso Furtado.

31 A concepção dualista da economia brasileira tanto do PCB, do ISEB e da Cepal era similar. Eles entendiam,

basicamente, a economia brasileira dividida em dois setores essenciais: um “atrasado” (produção agrária) e outro “moderno” (produção industrial). Enquanto não houvesse a superação do setor atrasado não haveria a plena modernização do Brasil, pois esse era um entrave para o desenvolvimento econômico, ou seja: o setor atrasado impedia o país de modernizar-se completamente. Esse diagnóstico partindo da visão dualista – na qual o país caracterizava-se

renda e políticas públicas voltadas para a população mais necessitada, não alterando, portanto, o quadro socioeconômico.

No contexto de uma sociedade capitalista, os processos de crescimento econômico abrem possibilidade de integração do “povo pobre”, mas o processo histórico-social brasileiro demonstrou que o crescimento econômico não eliminou as desigualdades, acirrando as lutas sociais.

Nas últimas décadas, com a reestruturação produtiva e as políticas neoliberais, isso ficou ainda mais explícito. Se o Brasil conheceu um significativo crescimento econômico na década de 1970 (ainda que com uma brutal concentração de renda) e uma possibilidade de integração e ascensão da população via mercado de trabalho formal, o que ocorreu nas décadas seguintes foi a substantiva alteração desse quadro.

A inflexão desse quadro de estruturação do mercado de trabalho inicia-se já com a crise do começo dos anos de 1980. O contexto anterior, contudo, de estruturação do mercado de trabalho até o final dos anos de 1970 e de fortalecimento do movimento sindical, inclusive durante a década de 1980, foi decisivo para que um

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