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III. CATEGORIAS DE ANÁLISE

3.3 Formação 1 Introdução

O assunto da Formação, está contido nas categorias anteriores. No que se refere à Educação, por exemplo, a formação crítica é apresentada como um dos principais pontos discutidos para o ​quefazer em educação popular, sendo, no contexto MCPs, compreendida como a contradição formação crítica e formação pré-vestibular, visto na Categoria Educação.

Rodrigues (2001) arquiteta a aproximação entre educação e formação a partir da historicidade que marca, momento à momento, os fins da educação, rememorando desde os tempos da ​Paideia para pensarmos o vínculo da educação à “ação formadora do ser humano” (Rodrigues, 2001 :233). Deste modo, o processo formativo é apresentado como inerente a este fim educacional e implicado, por consequência, em intencionalidades.

No entanto, assim como houve, na história, o processo de institucionalização da educação na sociedade divida em classes, o caráter “formação” também passa a ser compreendido institucionalmente, “negando ou subordinando os aprendizados da experiência e da cultura” (Silva, 2011 :43). Estes processos de institucionalização, analisa a autora, tensionam à dissociação entre educação e processo formativo, ao designar à educação como instrução e a formação como qualificação ou requalificação profissional, como também aponta Fontes (2016). No entanto, esta ruptura, entre educação e formação, parece dar-se na aproximação destes domínios ao mesmo fim: atender à demanda do mercado de trabalho e a empregabilidade (Fontes, 2016).

A Categoria Formação, aqui referida, consequentemente também articula-se com as questões conectadas à Categoria Trabalho. Pelo que nos interessa explorar neste tópico, exploro a correspondência com as práticas comunicadas e o caráter formativo que poderá decorrer deste processo. Como não há material empírico aprofundado sobre as práticas pedagógicas de cada um/a, trouxe os elementos formativos que os próprios interlocutores/as

denominam como tais, sendo estes elementos: as formações internas aos núcleos, entre CPs parceiros, nas JEP e em processos de luta e resistência em que também é evocado, pelos/as interlocutores/as, o caráter formativo destes processos, de luta e resistência, às suas trajetórias individuais. Para tanto, a FCPSP mostra-se como uma importante articuladora tanto dos processos formativos (internos e externos) como da construção da dinâmica de lutas e resistência coletivas.

Pretendo, no próximo item, por meio das comunicações, montar um quadro intercomunicações para pensar nos caminhos, nas articulações e na luta política que é espelhada na formação individual dada nos percursos de cada um/a. Busco, assim, compreender como a trajetória dos/as interlocutores/as, ao estarem no campo político dos CPs, também conta sobre a própria história do Movimento.

No segundo item retomo o anterior e, ao acrescentar novos excertos, pretendo explorar a memória, sendo a memória biográfica articulada à memória histórico-cultural, e responsáveis por criar um cenário no qual o conhecimento socialmente produzido pelos/s oprimidos/as nas lutas pelo direito ao acesso para o ensino superior apresenta-se de maneira imprescindível. 3.3.2 Os cursinhos populares como formadores de educadores/as populares

“a gente fez uma formação semana passada sobre educação popular e a gente vê que tipo, que a gente fica “meu deus, espera, será que isso é uma educação popular?”, “será que o nosso cursinhos é real um cursinho popular?”, “será que a gente tá fazendo isso com a comunidade, para a comunidade?” mas… pra além disso, muito transformador, então transforma é… transforma muito a realidade de quem quer ser professor e nunca deu aula, que nem fui eu quando eu comecei lá [no CP], é… que nem a realidade de muitos educadores, né, que começam em cursinhos populares, esse friozinho na barriga, e essa coisa, e essa... essa cumplicidade entre a gente de fazer de… de dar uma aula” (Josefa)

Este primeiro excerto de Josefa, representa uma das experiências que são relatadas pelos/as interlocutores/as quanto ao processo de vir a ser educador/a “sendo” ​, “fazendo” e indagando este ser e fazer.

Neste trabalho, os/as 7 interlocutores/as têm entre 20 e 37 anos, todos cursaram o ensino superior, sendo que Tarsila, Simone e Josefa ainda cursam; sendo Simone a única que está no primeiro curso de graduação. Como já dito, Tarsila, Simone, Josefa e Darci são ex-estudantes de pré-vestibulares, sendo que só Tarsila e Simone reconhecem esta experiência como pré-vestibular popular. Exceto Ângela, todos iniciaram como educadores/as no contexto dos cursinhos populares, sendo Darci, Josefa e Simone a exercerem esta atividade também fora do CP.

alteração significativa no que costumam ser os perfis, como expresso no trabalho de Carvalho (2006) e Zago (2008).

Darci, diz: ​“eu acho que todos os cursinhos têm um papel de formação de professores”

e complementa, ​“grande parte deles são gente que ainda tá na graduação”​. Sendo ele próprio

a contar que quando entrou no CP foi ​“basicamente quando eu aprendi a dar aula [...] várias

dimensões possíveis disso [...] mais pragmáticas e… de ter liberdade de experimentar práticas

pedagógicas, né”. ​O interlocutor também relata, que quando entrou no CP, há 12 anos atrás,

ele esteve durante um ano só acompanhando as aulas e o ambiente do núcleo com outros/as educadores/as.

Tarsila, que também está há 12 anos no Movimento, assim como Darci, conta que no início do ano sempre há uma formação pedagógica com os/as educadores/as e que é desta prática, que mais tarde em 2016, nascem as Jornadas de Educação Popular (JEP).

“a primeira jornada de educação popular, [...] por que surgiu a jornada de educação popular, né? Na verdade não tinha o nome, o nome era formação pedagógica, que a gente sempre fazia no início do ano com os nossos professores uma formação pedagógica, com o objetivo de introduzir pra quem não tinha experiência na área é… educacional, mas sobretudo na educação popular que pudesse entender melhor e a gente não corresse o risco de ter uma galera… muito fora assim.”

O assunto da formação aparece, nestes casos, em dimensões diversas. Josefa, por exemplo, conta sobre uma atividade de formação em educação popular organizada por cursinhos populares autônomos e uma rede de cursinhos denominada Ubuntu, na zona sul da cidade de São Paulo. Já Darci, traz uma prática interna do CP no qual é educador, sobre acompanhar durante uma ano outros/as educadores/as, e ainda afirma que o CP foi o espaço no qual ele aprendeu a dar aula em “ ​várias dimensões possíveis disso”.​Tarsila, também expressa o caráter de uma das práticas internas ao CP, contando o processo de ampliação desta prática interna como uma prática externa, as JEP, organizada por diversos cursinhos.

Jorge ao relatar a sua trajetória enquanto militante posiciona as Jornadas como um evento que alterou o seu percurso, sendo uma atividade fundamental para acirrar suas críticas ao primeiro núcleo de CP onde iniciou como educador, o encorajando na construção de um novo CP.

“em 2017 também aconteceu uma coisa muito importante pra minha trajetória enquanto militante no movimento de cursinhos populares, que foi a realização da segunda jornada de educação popular, né, que foi, é… é um evento que foi puxado e organizado pelo cursinho X 35que, havia organizado a

35Designei “X” para preservar a identidade do cursinho, uma vez que o CP ao qual Jorge faz referência é o núcleo

primeira jornada em 2016, e em 2017 eles [o cursinho X] fizeram o chamado pra organizar a segunda jornada. E eu como professor, fui ajudar a construir essa jornada, essa foi uma experiência muito rica pra mim, trabalhei na parte de comunicação, né, pude conhecer o pessoal do X, eu pude conhecer outros cursinhos de São Paulo,[...] por conta desse contato, de ter estreitado laços com gente que já tava construindo o movimento há muito tempo, aí, eu criei coragem pra montar um cursinho popular por minha conta, [...] eu tinha muito medo assim [...] você tem jovens lá, o negócio tem que funcionar “bunitinho” e... “meu”, como é que é que vai fazer? Quando você vê como funciona o negócio, você vê outros cursinhos que funcionam muito bem, né, por exemplo o X que é uma referência pra mim até hoje, “dá pra fazer!” ai eu criei coragem pra fazer, “eu vou fazer”, aí, é… aconteceu [o CP].”

Tanto Tarsila quanto Jorge também adicionam a informação de que a segunda edição das JEP foi responsável por retomar a Frente de Cursinhos Populares. Quanto ao processo de retomada, Jorge diz que foi​“bastante ativo nesse processo [...] inclusive a retomada da Frente ela se deu ainda na jornada de educação popular em plenária final, foi bem interessante.”. ​No

entanto, enquanto descrevia e analisava as atividades feitas pelas Frente, destacando conflitos e sobretudo a rotatividade dos/as participantes/as, ele me indaga: ​“outra coisa importante

também, mas que deu muita dor de cabeça, e foi via Frente, foi uma coisa muito bacana, não

sei se você chegou a ver, foi bacana assim, a gente perdeu, mas conseguiu fazer um trabalho.

Foi a campanha pelo “passe livre” 36 pros estudantes de cursinhos populares de São Paulo,

chegou a acompanhar?”

Sendo assim, me conta detalhadamente sobre o processo de luta por passe livre para os estudantes de CP, descrevendo estratégias de mídia, da manifestação em frente a prefeitura, o documento técnico que apresentaram publicamente sobre os recursos que havia na prefeitura e quanto poderia ser destinado ao passe livre, e a reunião com os secretários e o prefeito Bruno Covas na qual a proposta foi descartada. Jorge diz que a capacidade de luta do passe livre conseguiu aglutinar cerca de 40 CPs. Sendo o de Josefa um deles, sobre este processo, ela conta: ​“o ano passado, é… educandos e educandas de cursinhos que também participaram ativamente da luta pelo passe livre e isso é, não só, não é só pela luta em si, é formação política”.

É interessante perceber que existem articulações nos relatos entre os/as interlocutores/as, sobretudo, quando estes relatos misturam-se entre si porque estão

36 O “Passe livre” para estudantes dos/as CPs é uma iniciativa do Movimento, sobretudo de núcleos da rede

UNEafro, para pressionar a prefeitura do município de São Paulo a conceder transporte gratuito, tentando assim, diminuir taxas de evasão e dificuldades de locomoção que os/as estudantes de baixa renda eventualmente têm, invariavelmente trazendo outras questões como custo do transporte, a qualidade do transporte público, o acesso aos equipamentos culturais e de lazer da cidade, distâncias entre periferia e centro e etc.

anteriormente enredados à realidade, na qual à busca por elaborar propostas objetivas parece encontrar conforto (e divergências) na luta coletiva. Não raro, os/as interlocutores/as partem de exemplos dos desafios objetivos do dia a dia para, ao analisar a conjuntura do passado na perspectiva de apreender o presente, criar possibilidades de resolução. Neste sentido, abaixo, está um excerto de Glauber no qual ele apoia-se em reflexões sobre conjunturas anteriores para pensar a conjuntura atual e a inserção dos CPs.

a gente tem uma Frente de cursinho populares hoje que tem na sua carta de princípios que os cursinhos populares que constituem, que compõem a Frente, anticapitalista, de contestação á ordem, eu fico pensando se isso seria possível no começo dos anos 2000? Quando a gente tinha essa perspectiva de melhora contínua, de ter paciência, porque... o crescimento das vagas, os investimentos na educação e etc. Eu tenho a impressão que, e aí, quando a gente falar de memória, e como a memória influencia no dia-a-dia, é... eu acho que infelizmente, a esquerda tem, e nos movimentos sociais, tem esse problema de resgate da memória, dos diferentes ciclos, ah... de luta, né?”

E adiante, ele conclui:

“que a falta de memória também faz com que a gente acabe aderindo a lutas que não são necessariamente lutas de um programa que formulamos sínteses das nossas lutas passadas… e eu acho que isso é um desafio a ser enfrentado pelos cursinhos populares. Realmente, é... uma questão que precisa ser resgatada.”

Por último, na continuidade sobre o assunto da Frente, todos/as os/as interlocutores/as dizem estar envolvidos em maior ou menor grau com a construção deste espaço, no entanto, há divergências quanto ao que deveria prestar-se á Frente, principalmente em um impasse que parece estar entre: demandas mais imediatas, por exemplo o passe livre, ou uma maior centralidade política, incluindo, ​“dar passos para trás para poder radicalizar as pautas”​,

como diz Ângela. Com isso, como a própria representante sugere, como Glauber no excerto acima, produzindo análises mais autônomas da perspectiva do MCPs sobre a educação no país, sobre o processo de entrada do setor privado em todos os níveis de ensino, sobre as políticas públicas e etc. No entanto, também é perceptível, nas comunicações, que a centralização ou descentralização de bandeiras ou pautas é um assunto controverso dentro da Frente.

3.3.2 Formação e memória

Fontes (2016), argumenta que é criado um processo de escolarização no Brasil supostamente neutro e universal que oculta, na história sociocultural da escola pública, as reivindicações e conquistas da classe trabalhadora por acesso à educação. Por consequência, retira da própria história a possibilidade de compreendê-la a partir de suas dinâmicas e

contradições próprias da sociedade dividida em classes (Fontes, 2016).

Penso, por correspondência, que a expansão do setor comercial de cursinhos no final de década de 60, referido por Mendes (2011), também oculte uma série de movimentos sociais e dinâmicas da luta classes no país, que incorporam, sobretudo a partir da década de 80 com o movimento negro, a pauta do acesso ao ensino superior como um direito (Cloves, 2019). Nesta lógica, como já dito, os CPs são fundados como núcleos de educação popular que pretendem preparar os/as filhos/as das classes oprimidas e a juventude negra para o exame pré-vestibular e simultaneamente, continuar a tensionar à luta do acesso à universidade como um direito. Assim, vislumbrando o fim do vestibular como uma das possibilidades de atenuar as desigualdades raciais, sociais e culturais próprias de uma sociedade dividida em classes. Por consequência, torna-se essencial resguardar, dentro do Movimento, a memória viva desta reivindicação.

Tarsila, ao refletir sobre a composição atual dos diversos núcleos de cursinhos populares, posiciona uma rede, a Rede Brasil Cursinhos (RBC), como um agrupamento de “cursinhos universitários”37 no qual ela conta ter participado dos eventos organizados pela

RBC. Segundo ela, a rede, representa interesses contrários à Frente e as outras redes e núcleos de cursinhos que consideram-se populares. Sobre os eventos que participou, ela diz:

“são eventos como se fossem de formação administrativo às vezes, sabe? tem palestra, [...] “como gerir curso”, “como conseguir professor blablabla”, “como montar um cursinho eficaz”

Tarsila relata sobre uma palestra em específico, em que a intervenção dela foi negada já que “é tudo pela internet, é tudo muito moderno” ​, e eram as pessoas que compunham a mesa desta palestra que escolhiam ou não tornar à público as questões de quem estava participando. Neste caso concreto, Tarsila conta que, enquanto núcleo, procuraram intervir no sentido de dizer ​“olha vocês não sabem o que é o mundo”​, referindo-se ao assunto da palestra, que

tratava de posicionar a RBC como o movimento que estava iniciando a organização dos cursinhos populares no país.

Quanto a isto, ainda vale um excerto, que apesar de longo é substancial para a discussão deste item.

“eles [a RBC] ignoram a existência de, assim, o cursinho popular no brasil, a história de um cursinho popular racial [...]. A Jupiara Castro que ainda hoje, guia muitas rodas de conversa, enfim, nesse sentido, ela é história dentro do movimento de cursinhos populares, então, então, o cursinho

37 A nomenclatura que tanto Tarsila quanto Jorge dão este agrupamento da Rede Brasil Cursinhos se dá não só por

serem cursinho pré-vestibulares fundamentalmente fundados dentro de universidades em diversas regiões do país, mas porque não o consideram como uma rede que representa os cursinhos ditos “populares”.

popular não começou com um movimento salvadorista universitário branco, entende? Não, ele vem da base pra levar a população preta que tá sempre excluída de tudo né, pra dentro da universidade, “aquele lugar também pode ser nosso”.” (Tarsila)

Sendo assim, a interlocutora resgata a historicidade do Movimento para afirmar a sua oposição ao que ela, também expresso na comunicação de Jorge, compreende como um agrupamento de “cursinhos universitários” contrário aos interesses dos cursinhos populares. Expondo, uma das divergências que surgem no campo dos CPs após o processo de institucionalização do Movimento, dito por Mendes (2015), iniciado na década 1990.

Fontes (2006), em sua pesquisa, analisa o processo de institucionalização dos movimentos sociais no Brasil, ao que denomina como o processo de “conversão mercantil-filantrópica dos movimentos sociais de base” (Fontes, 2006 :341). Compreendendo esta “conversão” como um processo iniciado na década de 1980 no país, como uma “estratégia política no capitalismo contemporâneo” supondo-a conectada à “dinâmica de expansão financeirizada mundial” (Fontes, 2006 :342). Apresentando, desta maneira, a complexidade da dinâmica das lutas sociais daquela década, referindo a entrada de grupos empresariais “fortemente organizados” que “sob o manto comum das liberdades democráticas” no fim da ditadura, expandem-se (Fontes, 2006 :342).

Deste breve cenário, ao que interessa este item, a autora, compreende tendências que vão sendo organizadas no contingente de ONGs que espalham-se pelo país, sendo uma destas tendências, relacionadas (direta ou indiretamente) com a Igreja Católica, que representam o forte papel que a instituição teve na “constituição e consolidação de uma associatividade de base popular” (Fontes, 2006 :342-343), como dito anteriormente em referência à Castro (2019). Ela associa esta correlação à “filantropização da questão social no Brasil, quanto para a generalização do tema da pobreza, alçado como problema social central.” (Fontes, 2006 :342-343).

De maneira ampla, Fontes (2006), associa este processo de expansão de entidades direta ou indiretamente empresariais e/ou coligadas à Igreja Católica como um processo que reconfiguraram o terreno das lutas sociais no Brasil, por consequência, caracterizando a fragmentação dos diversos movimentos populares em segmentos “especializados” à cada ONG e o apassivamento do horizonte de reivindicações de cariz classista, uma vez que a conexão de entidades à sindicatos e partidos políticos era tido com pouca empatia pelo setor que financiava estas ações.

Sendo assim, aqui, são introduzidos novos elementos para compreender a história do campo dos CPs dentro de um contexto complexo e dinâmico das conjunturas e das lutas de

classe. Reforçando a importância da comunicação de Tarsila quanto às críticas à RBC, que a partir do financiamento de diversas entidades empresariais, fundações e instituições estruturam e formam tanto “cursinhos universitários populares” pelo país como os/as educadores/as e os/as estudantes que por lá passaram.

Neste sentido, quando Tarsila refere-se a RBC como não popular, por não representar os interesses e as bandeiras históricas do MCPs, penso que, a RBC, ao não ser compreendida como “popular” não representa os interesses e as bandeiras históricas da classe trabalhadora e por isto, não implicados na transformação social como horizonte possível de subverter as desigualdades raciais, sociais e culturais.

Nesta lógica, retomo a discussão deste item, pensando os CPs como a desocultação destas dinâmicas e lutas de classe, em especial o movimento negro, por acesso ao ensino superior, perspectivando que o cotidiano nos núcleos, principalmente representadas pelos excertos do item anterior, são potencialmente processos de abertura para a formação dos/as educadores/as dos núcleos aqui pesquisados. Implicando, neste processo formativo, a história sociocultural do país, começando pela contradição escola pública e universidade pública.

O excerto, abaixo, de Darci, sintetiza de maneira clara como este processo pode potencialmente ocorrer. Ele relata sobre a entrada de novos/as participantes no projeto, e que, como prática instituída, existem processos formativos ao longo do ano, no entanto, reforça à importância de um processo formativo que se dá no cotidiano.

“essas pessoas novas, inscritas, por mais que a gente faça formação, passe documentos [...] do cursinho que a gente já tem consolidados, é… na prática, dá pra perceber como a “roda gira”, né, e aí muitas vezes surgem ideias que já surgiram antes, que [...] já foram discutidas, que já foram postas em prática, ou deixadas de lado e etc. E eu acho que às vezes a memória acaba fazendo o papel das pessoas que estão a mais tempo, [as pessoas mais antigas] acabam fazendo esse papel da memória, “ah, a gente já fez isso aqui e o resultado foi esse” então, não quer dizer que não dá pra fazer de novo ou tentar de tal maneira mas, só pra dizer que temos um histórico, isso já