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Figura 11 – Tendências sobre outras experiências profissionais ao longo da vida e fluxos

migratórios nas comunidades piscatórias analisadas.

Arte xávega – A maioria teve outras experiência profissionais, como é observável na figura 11

e tabela 5, ao longo da vida simultâneas ou anteriores à pesca, embora muitos sempre foram e serão pescadores toda a sua vida. Como experiências profissionais anteriores são indicadas trabalhador da lota, do aeroporto, de plataformas, mergulhador, pedreiro, segurança, marinha, vendedor de entradas no aquário Vasco da Gama. Um pescador reformado refere que foi obrigado a ir à guerra colonial e outro que teve outros empregos, mas todos ligados ao mar. Entre as pescadoras destacam-se como profissões anteriores vendedora de peixe no mercado e no hipermercado, modista e trabalhadora na FIL - Feira Internacional de Lisboa. Um afirma que todos retornam ao mesmo local, visto serem as suas raízes, sendo pescadores de 4ª geração e assim é complicado de se irem embora.

Um voltou à pesca após ter um problema de saúde e outro quando quase terminou o secundário, outro ainda trabalhou 15 dias e depois tornou-se pescador. Para um ocasional a arte xávega é encarada como um passatempo. Um pescador reformado que ainda pesca refere que a sua pensão é insuficiente e com a sua idade não pode fazer mais nada. As profissões indicadas pelos ocasionais incluem motorista de camiões de eventos e máquinas da Câmara de Almada, marinheiro maquinista, limpezas nos bombeiros, ferreiro, salva vidas de verão, jogador de futebol, cozinheiro, trabalhador da construção civil, pintor, trabalhador dos Cacilheiros do Tejo, trabalhadores por turnos, mas também estudantes e desempregados e entre as pescadoras domésticas, animadora sociocultural e proprietária de um café.

Tabela 5 – Tendências sobre outras experiências profissionais.

Companha X1 X2 X3 X4 X5 Outras experiências profissionais Forte negativa Forte positiva Observável positiva Observável positiva Observável positiva

Todos os pescadores, excepto um, afirmam que actualmente há mais pescadores, devido ao desemprego, à crise e à necessidade de um rendimento extra. O presidente do sindicato afirma ter promovido uma formação (em Maio de 2012) na Costa da Caparica através do Formar, devido a haver vários inscritos para obter a licença profissional de pescador, tendo essas acções ficado adiadas devido à crise. Assim, não sendo emitidas novas licenças, o sindicato e a capitania acordaram que os pescadores ocasionais tivessem uma declaração de observadores, que lhes permita realizar descontos para a segurança social e ter seguro, tendo no entanto de parar quando as autoridades os inspeccionassem. O sindicato afirma sem medo

186 que aqueles pescadores vivem com grandes dificuldades, não obstante haver ainda algum emprego nas pescas aos quais ainda é garantida formação, apesar da elevada taxa de desemprego. Um outro refere que foi dito aos pescadores que quase não sabem ler e escrever que tinham de ser empreendedores, sendo impossível transformá-los assim de um momento para outro, lamentando as multas visto que a maioria nem compreende o seu fundamento. Os armadores encontram-se sobre grande pressão, aparecendo muitos para trabalhar sem nunca terem visto o mar, sendo portanto importante referir o essencial de forma cuidadosa.

Nesta comunidade, quase dois terços referem ausência de emigração por parte dos pescadores, como é evidenciado na figura 11. Os restantes indicam como destino plataformas de petróleo há ca. 10-15 anos, Reino Unido, França, Holanda, Austrália e Uganda, apesar das pescas também não estão assim tão bem no estrangeiro, além de ser mais frio. Para um, em Portugal, mesmo tendo fome, só o calor é um sustento, pois passa quando se bebe um copo de água, sendo tudo diferente num país frio. Só emigram os que se cansam daquelas praias e esses raramente regressam, mas que não são habitantes da Costa da Caparica, que têm fortes raízes na praia, “os de cá nunca querem largar”, apesar das dificuldades por que passam no inverno, ficando no desemprego quando a arte xávega pára.

Outras redes – Uma grande parte dos pescadores teve outras experiências profissionais

anteriores à pesca, como se pode observar na figura 11, tais como empregado bancário em simultâneo com a arte xávega durante 38 anos, marinheiro local, piloto de barra, trabalhador da companhia do gás, salva vidas, carpinteiro de limpos e outros empregos a tempo parcial, por vezes alternando a pesca com outras profissões. Não se verifica nenhuma tendência referente a uma alteração significativa do número de pescadores relativamente ao passado. Um afirma que sempre que há uma crise, como esta enorme crise de trabalho (em 2012), normalmente há mais pescadores devido a alguns que a certa altura tinham optado por outras profissões voltarem à pesca por motivos de desemprego, havendo mais pessoas a quererem ser ocasionais na arte xávega, as pessoas do mar sempre tiveram esta vantagem. No entanto o número de pescadores profissionais mantem-se ou reduz-se nas outras artes, visto que a juventude não gosta das pescas. Os imigrantes senegaleses são também grandes pescadores, embora não tenham licenças de pesca portuguesas. Sugerem uma licença de pesca mundial, visto que um pescador que faça a sua vida a ir ao mar quando gosta da pesca, chega a qualquer embarcação e adapta-se em poucos dias.

Nesta comunidade, actualmente não há emigração entre os pescadores, conforme se apresenta na figura 11, havendo apenas referências a outras comunidades, nomeadamente pescadores do norte para Espanha, Holanda e Noruega, onde as pescas são mais fáceis e rentáveis. Na Costa da Caparica a emigração é rara, visto que aquele litoral os serve e “mais vale passar fome ao pé da porta”, levando a arte xávega toda a gente, incluindo reformados e imigrantes, tais como 4-5 pescadores senegaleses e 3-5 congoleses, que comem um pão com manteiga e trabalham o dia todo. Um pescador refere que quando emigram muitos não são pagos, como tem ouvido, embora nunca o tenha experienciado.

Cascais – Nesta comunidade a grande maioria dos pescadores teve outras profissões

anteriores à pesca, como se pode observar na figura 11, tais como distribuidor de águas, marinheiro de passageiros, vendedor durante 19 anos, pedreiro, para além da construção civil

187 e hotelaria em empregos de semanas ou meses a tempo parcial, afirmando um que experimentou quase tudo. Um imigrante guineense trabalhou 6 meses no hospital. Um recorda que começou a pescar através do seu irmão que tinha uma embarcação, outro que sempre foi pescador e ligado à praia.

A maioria, incluindo os reformados, refere que há menos pescadores nesta comunidade que no passado, devido aos seus baixos rendimentos, desinteresse da juventude, decréscimo do número de embarcações, questões relacionadas com a formação, substituição dos pescadores por tecnologia, assim como ao declínio das capturas e do preço de venda em lota, que os levam a procurar outros empregos, à reforma ou à emigração. Um dos presidentes das associações de pescadores locais afirma que existem entre 80 a 100 pescadores, sendo todos membros por inerência, menos de metade que no passado, quando trabalhavam directa e indirectamente nas pescas várias centenas de pessoas, sendo esse declínio nacional nos últimos 5 anos (anteriores a 2013), devido às embarcações serem actualmente mais sofisticadas, haver máquinas que fazem o mesmo trabalho com menos pescadores mas também ao declínio das capturas e especialmente do seu preço, sendo que antes da crise o peixe era vendido a um preço mais elevado, as tripulações eram maiores e havia mais embarcações.

Os armadores referem que não conseguem encontrar uma tripulação, por serem criadas dificuldades a quem queira ir ao mar, aparecendo apenas meia dúzia de familiares de pescadores, vários imigrantes e outros desempregados na expectativa de um determinado rendimento mensal, que normalmente deixam a pesca em menos de um mês. Devido à crise de emprego em terra (em 2013), há pessoas que estão a ir para à pesca pela primeira vez e outros a voltar, sendo que todos deixam o mar logo que voltam a encontrar empregos em terra. Quando os actuais pescadores, que vão continuando até não poderem mais, se reformarem e as poucas embarcações que restam na baía desaparecerem, esta pesca tradicional provavelmente acabará, eventualmente a nível nacional, pois não haverá ninguém que se interesse, o que é uma vergonha. Não obstante ainda é o único rendimento para muitas famílias a norte e sul de Portugal. Nesta comunidade os pescadores mais jovens têm entre 28- 30 anos, tendo muitos fugido da pesca, onde se trabalha muito e sem um rendimento certo mas certamente baixo devido ao preços de venda em lota, não sendo uma vida adequada a todos, devido a ser muito ingrata e difícil. Acresce que é uma pesca nocturna e ninguém quer perder noites por 500 euros por mês. Os pescadores têm de saber gerir bem, para sobreviver todo o ano, normalmente trabalhando às “quinzenas”.

Um armador recorda, que no passado, quando alguém queria ser pescador, ia à capitania tirar a licença marítima, sendo-lhe posteriormente dado trabalho por um dia e diariamente e acabava assim, sendo que se gostasse continuava. Actualmente a formação na escola de pescas dura 3 meses, apesar de útil para obter a licença de pesca ou apenas para passar o tempo, visto que quando chegam ao mar e as coisas correm mal, os armadores praguejam, havendo sempre um “desabafo”. Assim ninguém quer ir para o mar, ficando apenas meia dúzia mais os que já lá estavam por necessidade. Também porque quem tem os papéis necessários para pescar ganha mais no subsídio de desemprego que nas pescas, para um pescador é essa a realidade portuguesa, sugerindo um armador que o rendimento dos pescadores quando é o ordenado mínimo fosse parcialmente pago pelo armador e pelo fundo de desemprego. A

188 licença expira após 3 anos se o pescador não for ao mar. Outro sugere que a escola teórica das pescas fosse apenas por um mês e que se aprendesse mais 15 dias a bordo de uma embarcação, sendo suficiente para saber se gostam das pescas. Uma das associações e um professor escolar querem promover um projecto para atrair a juventude para as pescas, direccionando os alunos mais rebeldes para a pesca, a ver se gostam e se adaptam, visto que apesar de ser um trabalho duro, também lhes dá tempo livre. Um dos presidentes refere que deu formação a vários cursos de 15-16 pescadores na sua associação, posteriormente arrendou a sala à Forpesca até aparecer o ForMar em Lisboa.

Nesta comunidade, pouco mais de metade refere que actualmente não há emigração entre os pescadores, como se observa na figura 11, recordando os restantes casos do passado para Espanha, França e outros países nórdicos em que continuaram ligados à pesca, mas também em meados da década de 1970, início da década de 1990 e 2010/2011 para embarcações e cruzeiros americanos e em meados da década de 1980 para Angola, para além de 1 ou 2 casos que emigraram ou pensaram emigrar, visto que a pesca leva à fome. Outro refere que os pescadores não emigram, reformam-se, apesar de alguns continuarem nas pescas, havendo outros que acumulam as pescas com a construção civil, tal como noutros portos, incluindo Peniche e a Ericeira, a que denominam as pessoas do vento. Um pescador afirma que para além de ir ao mar e voltar, raramente deixa a baía, para além que actualmente a pesca no estrangeiro também se encontra em crise.