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Formação em reanimação baseada em programas de simulação: Prática recomendada a todos os enfermeiros que cuidam de crianças

CRIANÇA/JOVEM E SUA FAMÍLIA EM SITUAÇÃO CRÍTICA

2.4. Formação em reanimação baseada em programas de simulação: Prática recomendada a todos os enfermeiros que cuidam de crianças

Atendendo aos padrões de qualidade descritos pela OE (2001), a existência de uma política de formação contínua dos enfermeiros, promotora do desenvolvimento profissional e da melhoria da qualidade dos cuidados que estes prestam, contribui para a máxima eficácia na organização dos cuidados de enfermagem. Sendo a enfermagem uma ciência em constante atualização, é imprescindível que todos os enfermeiros se mantenham ativos quanto ao desenvolvimento da sua formação. Assim, a qualidade dos cuidados prestados pelos enfermeiros implica uma atualização contínua dos seus conhecimentos, não podendo somente basear-se na teoria, mas sim aliando-a à prática e à reflexão crítica constante.

O momento de reanimação é caracterizado por ser uma situação emergente, na qual o desempenho dos enfermeiros poderá ser influenciado por diversos fatores. A formação quer teórica, quer prática, revela-se imprescindível pois é fundamental para que o enfermeiro reconheça uma criança em situação crítica e consiga atuar de acordo com as guidelines recomendadas.

Felizmente são poucas as situações de PCR na criança, contudo, esta condição implica que a equipa que recebe a criança sinta algumas limitações na sua atuação que poderão estar relacionadas com a ausência de treino. A PCR em pediatria não ocorre frequentemente, exigindo que os enfermeiros aprimorem a sua formação técnica e científica devendo receber treino para prestarem um adequado cuidado (Neves e Fey, 2011). Ainda descrito no estudo anterior “o enfermeiro é vital nos esforços para reanimar um paciente, sendo que, é ele frequentemente, que avalia em primeiro lugar e inicia as manobras de ressuscitação, chamando a equipa” (Zanini, Nascimento e Barra, 2009). Desta forma assume-se a importância dos enfermeiros na avaliação e reconhecimento de sinais e sintomas de PCR. Weinberg, Auerbach e Shah (2009) corroboram que os profissionais que atendem emergências têm uma exposição reduzida a situações críticas e que por este motivo não as conseguem gerir adequadamente. Em situações de reanimação enfermeiros e médicos independentemente do seu nível de experiência e categoria profissional,

tendem a não seguir na íntegra as guidelines do ERC e a transparecer os seus níveis de stress para os restantes elementos (Nolan et al, 2010).

Face às dificuldades existentes nesta área, são diversos os estudos que recomendam programas de treino em trabalho de equipa perante a PCR pediátrica, principalmente em serviços de urgência, cuidados intensivos e bloco operatório (Eppich, Brannen e Hunt 2008), e o cumprimento das guidelines recomendadas as quais possibilitam a antecipação das situações e das intervenções, melhorando a atividade do grupo, visto que todos sabem qual é o passo seguinte. De acordo com Bilhota Xavier (2006), no seu depoimento para o documento “Acolhimento e Estadia da Criança e do Jovem no Hospital” defende que os profissionais que trabalham na urgência devem ter formação adequada e treino específico em algumas funções, nomeadamente a PCR pediátrica. Esta necessidade encontra-se também evidenciada no manual do Instituto de Emergência Médica de 2011, sendo descrita como obrigatória para todos os profissionais que têm a missão de reanimar regularmente, devendo conhecer e proceder de acordo com as recomendações mais atualizadas, trabalhando em equipa para o doente, sendo primordial o treino em competências técnicas e competências não técnicas, como o trabalho de equipa, a comunicação e a liderança. Para que a reanimação decorra eficazmente e de forma organizada é necessário que seja definido um líder, este é responsável por distribuir as funções, supervisioná-las e tomar decisões. Relativamente à comunicação, esta em contexto de reanimação deverá ocorrer em circuito fechado, com mensagens claras e objetivas. Por outro lado, os pais também necessitam que comuniquem com eles com empatia, compaixão e simpatia, explicando-lhes como se encontra a criança e o que é que a equipa está a fazer pela sua vida, dando espaço para expressarem as suas necessidades e sentimentos.

Sendo a presença dos pais na reanimação uma prática cada vez mais assumida como benéfica para o binómio criança/família, Clift (2006) realizou uma revisão sobre os benefícios e os riscos desta presença, concluindo que as equipas reconhecem a importância desta prática, mas que revelam falta de conhecimentos e de competências para apoiar esta presença, sugerindo a realização de simulações de reanimação onde estejam incluídas a presença dos pais.

O treino requer segundo a AHA e o ERC em 2010, aprendizagem por simulação, sendo esta integrada nos cursos de SBVP e SAVP. Estes cursos não são obrigatórios, mas são recomendados a todos os profissionais que contactam com

crianças, sendo válidos por dois anos, durante os quais necessitam de atualizações para que haja retenção dos aspetos fundamentais. De acordo com o ERC (2010) a maioria dos conhecimentos e das competências adquiridas deterioram-se rapidamente, cerca de 6 a 12 meses após a realização da aprendizagem. Contudo, diversos estudos sugerem que os programas de simulação periódica aumentam significativamente os conhecimentos e as capacidades dos formandos, permitindo a manutenção de competências e habilidades por um período superior a 14 meses (Wayne, Didwania,Feinglass, Fudala, Barsuk e Mcgaghie, 2008).

Para este treino, Sandrijin, Schaik, Jennifer, Shelley, Lisa e Patrícia (2011) referem que a simulação é o método educacional ideal uma vez que permite uma aprendizagem prática, podendo ser percecionada pelos outros e pelo próprio, havendo a possibilidade de se cometer erros sem risco para o doente. Por outro lado, permite que os profissionais conheçam e manipulem os equipamentos, levando a que numa situação real não se sintam tão inseguros com os mesmos e se foquem mais na criança, e ainda apreendem e cumprem as guidelines mais eficazmente, quando comparados com profissionais que não foram sujeitos à formação e que até têm mais anos de experiência e com maior número de presença em reanimações (Wayne et al 2008; Broussard, Myers e Lemoine, 2009). A simulação permite assim a aquisição de novas competências científicas, técnicas e comportamentais, sendo igualmente eficaz no que se refere ao desenvolvimento da reflexão crítica (Broussard, Myers e Lemoine, 2009; Birkhoff e Donner, 2010). A aprendizagem baseada em simulações é reconhecida como uma inovadora prática utilizada como estratégia de ensino (Birkhoff e Donner, 2010).

Em suma, o treino dos enfermeiros, tal como de outros profissionais é fundamental para que os cuidados prestados à criança/jovem em situação crítica e sua família, se revele um momento no qual a equipa se sinta segura nas suas intervenções, sendo a sua coordenação e atuação adequadas.

3. REFLEXÃO CRÍTICA E FUNDAMENTADA DAS ATIVIDADES