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3. ANÁLISE DOS DADOS

3.1. A IDB de acordo com a análise de redes e com a teoria da dependência de recursos

3.1.3. Formalidade

O relacionamento entre indústria e demais atores da rede de defesa assumem normalmente a forma contratual. As respostas aos questionários evidenciaram que 100% das organizações industriais adotam acordos formais para regular os relacionamentos. Deve ser observado que a maioria dos clientes do setor são organizações militares integrantes da estrutura administrativa direta, e como tal estão subordinados à Lei no 8.666/1993, que prevê acordos formais em suas contratações.

A previsibilidade e a flexibilidade variam de acordo com o objeto da licitação. Quanto mais padronizado for o objeto, maior será a previsibilidade e as responsabilidades contratuais entre as partes. No entanto, no caso de equipamentos e sistemas complexos que requeiram desenvolvimento de tecnologia, normalmente, os relacionamentos informais também estão presentes. Essa informalidade não está vinculada à importância do objeto, mas à necessidade de se nivelar o conhecimento entre as partes em relação ao projeto a ser desenvolvido. A AVIBRAS, por exemplo, permite que representantes visitem as suas instalações para que conheçam as possibilidades e o potencial da empresa. Antes da celebração de um contrato formal, são mantidos contatos telefônicos, feitas visitas e etapas de negociação são percorridas para definição, por exemplo, do preço de determinado projeto (COIMBRA, 2009).

Contudo, existem normas e toda uma legislação regulando a atividade no setor de defesa, ora em caráter genérico, ora de forma bem específica. Sem que se pretenda esgotar o assunto, o quadro 3 atende ao propósito da pesquisa ao evidenciar as principais leis que

definem prioridades, normatizam e orientam quanto aos procedimentos a serem observados pelos agentes desse segmento.

LEGISLAÇÃO PROPÓSITO

Constituição Federal de 1988 xxx.

Lei no 8.666/1993 Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para

licitações e contratos da administração pública e dá outras providências Decreto no 3.665, de 20 nov.

2000 Dá nova redação ao Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R-105) Portaria Normativa no

740/MD, de 26 nov. 2001 Dispõe sobre a Política de Ciência e Tecnologia das Forças Armadas Medida Provisória no 2.182-

18, de 23 ago. 2001

Institui, no âmbito da União, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras providências

Portaria no 764/MD, de 27

dez 2002.

Aprova a Política e as Diretrizes de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica do Ministério da Defesa

Portaria Normativa no

1.317/MD, de 4 nov 2004 Aprova a Política de Ciência, Tecnologia e Inovação (C, T & I) para a Defesa Nacional Lei no 10.973, de 2 dez 2004 Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no

ambiente produtivo e dá outras providências Portaria no 75/MD, de 10 fev

2005 Dispõe sobre a ativação do Centro de Certificação, de Metrologia, de Normalização e de Fomento Industrial das Forças Amadas CCEMEFA e institui seus sistemas Portaria no 611/MD, de 12

maio 2005 Dispõe sobre a instituição da Comissão Militar da Indústria de Defesa (CMID) Decreto no 5.484, de 30 jun.

2005 Aprova a Política de Defesa Nacional e dá outras providências Portaria no 899/MD, de 19

jul. 2005 Aprova a Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID) Portaria Normativa no

777/MD, de 31 maio 2007 Dispõe sobre a instituição da Comissão de Implantação do Sistema de Certificação, Metrologia, Normalização e Fomento Industrial (COMISCEMEFA) Decreto no 6.703, de 18 dez.

2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa e dá outras providências Diretriz das Exportações de

Produtos de Defesa (em tramitação).

Estabelece normas de controle das operações de exportação de produtos de defesa, com o objetivo de assegurar a manutenção dos compromissos internacionais e bilaterais do Brasil, bem como das diretrizes da Política de Defesa Nacional, visando fortalecer os instrumentos governamentais, proporcionando ao Ministério da Defesa competente amparo legal sobre as transações de exportações, além de emitir instruções para o apoio às exportações

Projeto de Lei Complementar

(em tramitação). O projeto equipara a indústria nacional à indústria estrangeira – isenção de impostos aos produtos estratégicos Legislação nacional de

catalogação (em estudo) xxx.

Quadro 4 – Legislação relacionada com as atividades na BID

Fonte: elaborado pelo autor.

Com o propósito de evidenciar a crescente estruturação do setor − sobretudo nos últimos anos −, ressalta-se que a maior parte da legislação foi publicada há menos de cinco anos. A partir dessa constatação, conclui-se que o setor vem aumentando significativamente a sua coordenação e formalidade. Nesse sentido, há menor incerteza, num contexto em que leis estratégicas passam a definir objetivos e como atingi-los. Isso passa, por exemplo, pela

capacitação industrial do setor, pelo incentivo à exportação, pela atribuição de prioridades e pela busca de um regime regulatório especial para a aquisição de artigos de interesse estratégico (VASCONCELOS, 2010).

A presença de novos atores e a modificação de competências provocam alterações na formalidade estrutural da rede de defesa. Com a criação do Ministério da Defesa, por exemplo, o relacionamento foi radicalmente mudado para alguns dos principais atores da rede. Algumas competências foram transferidas para aquele órgão central, que passou a coordenar as atividades dos comandos militares.

A criação do Ministério da Defesa é relativamente recente e ele ainda está se estruturando para atuar plenamente. Acredito que, para a base industrial de defesa, torna-se mais eficiente se relacionar com o Ministério da Defesa do que com cada Força Armada isoladamente. (SCHNEIDER, 2009)

Apesar de ter sido criado há pouco tempo, o Ministério da Defesa já alterou alguns valores e estabeleceu novos limites para os componentes da rede. Campello (2009) explica que “o Ministério da Defesa conseguiu concretizar algumas coisas muito significativas, como a regulamentação do off-set e aprovação da Estratégia Nacional de Defesa. A indústria já o percebe como uma organização importante.”

A comunicação entre os diversos atores da rede é complexa, assumindo diversas modalidades. Por meio da pesquisa de campo, foi identificado que o relacionamento informal também está presente e, sobretudo, que ele tem um papel essencial no fluxo de informações. De acordo com Silva (2009), a aeronave de treinamento Tucano, por exemplo, nasceu a partir de uma conversa informal.

Eu estava andando no corredor do Estado-Maior da Aeronáutica e um oficial, que eu conhecia bastante bem, saiu e me mostrou uma carta da Cesna, que fabricava o avião da Academia da Força Aérea, e disse: “A Cesna só vai concordar em fornecer peças para até dois anos; depois disso, não garantem mais porque o avião ficou muito velho − eles não mais entregam peças de reposição!” Então, eu que estava lá, e era o presidente da EMBRAER, disse que eles iriam precisar de um novo avião de treinamento e que eu iria fazer esse avião! Voltei para a EMBRAER e, no dia seguinte, o pessoal da engenharia começou a fazer a especificação do avião de treinamento que a FAB, em dois anos, teria que substituir. Nós fizemos umas 15 propostas para o avião de treinamento, até chegarmos à configuração do Tucano que a FAB aprovou, para então começarmos o projeto. Dois anos depois, nós estávamos com o Tucano quase pronto, e não houve solução de continuidade na formação de pilotos militares na Academia da Força Aérea. Na medida em que peças de reposição não eram mais entregues, os aviões eram sucateados para uso em outros. Nesse momento, Tucanos começaram a

ser prontificados. Quer dizer, foi muito suave a transição de uma aeronave para a outra. (SILVA, 2009)

O grau de formalidade dos relacionamentos é contextual; ou seja, depende da situação específica. Isso implica que esta varia, também, em função da natureza do assunto a que se refere e da qualidade do relacionamento entre os atores envolvidos. Schneider (2009) sustenta essa afirmação quando evidencia alguns dos relacionamentos entre a CONDOR e os grupos funcionais da rede de defesa.

Instituições de fomento (FAPERJ e FINEP): a aplicação de recursos financeiros para pesquisa se dá na forma de termo de outorga; universidades e centros de pesquisa: são celebrados termos de confidencialidade, protocolos de intenção ou contratos, conforme o caso; Centro de Avaliações do Exército (CAEx): o contato ocorre segundo procedimentos estabelecidos pelo Exército para avaliação técnica e colaboração técnica; ABIMDE: por meio de participação em reuniões periódicas, acordos para participação conjunta em feira no Brasil e no exterior, na formulação de propostas ao MD; MDIC: participando em viagens comercias ao exterior; MD: atendendo a solicitações e enviando propostas para fortalecimento da BID. FIRJAN: por meio da criação do Fórum Empresarial de Defesa e Segurança; e FIESP: com a participação no COMDEFESA. (SCHNEIDER, 2009)

A rede de defesa nacional já apresenta um elevado grau de formalidade. Apesar de ser uma característica comum às transações governamentais, é resultado, sobretudo, da importância dos recursos transacionados. Percebe-se, contudo, tanto no nível de relacionamentos do tipo ad hoc, quanto no nível estrutural, que muito ainda falta ser regulamentado.

A estrutura em rede é mais flexível e dinâmica, especialmente preparada para ambientes complexos. O excesso de formalidade, no entanto, pode comprometer essa característica e implicar aumentos significativos de custos. Nesse contexto, deve-se ter atenção especial com o nível de formalidade atribuído, para não tornar os relacionamentos disfuncionais ou não vantajosos para os atores envolvidos.

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