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Capítulo 4. Casos estudados

4.2 Estudo de Caso 2: A Cooper-y

4.2.3 Formalização do Comportamento

Quanto ao assunto de treinamento e formalização do comportamento, observou-se que o treinamento formal é quase inexistente.

Quando há entrada de novos membros, na primeira semana de trabalho, eles recebem treinamento sobre o funcionamento da cooperativa, do trabalho, das regras trabalhistas e de INSS, que são diferentes da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), e sobre a comercialização dos materiais. Não há formação sobre cooperativismo e seus princípios. A presidente relatou que existia um processo de formação inicial dos novos cooperados que abordava mais os aspectos do cooperativismo, porém esse caiu em desuso com o passar do tempo.

Dessa forma, o aprendizado e a doutrinação ocorrem no processo de troca e experimentação diários, no relacionamento com os outros membros. Um aspecto que ficou claro nessa cooperativa é que, comparativamente com os demais empreendimentos analisados, há menos espaço para a não aceitação das dinâmicas e da ordem que existe na cooperativa.

Isso significa que os novos cooperados passam por um processo não declarado de provação, principalmente se adentrarem nas equipes da esteira (que competem pelo material).

4.2.4 Considerações sobre o caso estudado

O primeiro ponto que merece destaque nessa cooperativa é a habilidade de se relacionar com os agentes externos e fazer parcerias com a iniciativa privada. Há ainda a presença diminuta de intermediários para a comercialização dos materiais.

Esse bom relacionamento com os agentes externos se deve, contudo, mais pela ação da associação-y, ou seja, está concentrada numa pessoa externa à cooperativa, que busca os relacionamentos e os projetos para incluir a cooperativa, do que por ações internas dos próprios cooperados.

Vale ressaltar que, embora à luz da doutrina cooperativista essa concentração de poder não esteja alinhada com a doutrina, tomando o ponto de vista da produção – perpetuidade da organização, organização, geração de trabalho e renda para os cooperados – constata-se que o relacionamento da pessoa da associação com a cooperativa traz resultados positivos para a cooperativa.

Dentre os aspectos relevantes que esse relacionamento aporta para a cooperativa está o suprimento de conhecimento técnico (MORGAM 1996). Como afirmam Mascarenhas (2007) e Barbieri e Rufino (2007), é um conhecimento fundamental para o pleno funcionamento da organização e que diversos cooperados não têm e ainda evitam.

Não obstante, isto confere à associação-y um alto grau de poder que advém do conhecimento da tecnologia, das fronteiras e de outras fontes (MORGAN 1996). Embora não tenham sido observadas situações abusivas do uso desse poder, inclusive reforçado por alguns cooperados, questiona-se até que ponto essa é uma situação perpétua de dependência, já que também não foram constatados locais de aproximação dos cooperados com o conhecimento técnico, como propõem Mascarenhas e Rufino (2007).

Dentre as cooperativas estudadas, esta é a que se destaca quanto ao grau de independência aos subsídios do setor público e de verbas externas de fomento, embora se beneficie deles. O Quadro 12 faz um resumo dos principais aspectos investigados.

Característica A B C Formato predominante ou presente.

Grau de independência e

autonomia. X Bom. Possui autonomia operacional e tem diversas parcerias com iniciativa privada e articulação com redes de comercialização.

Formato predominante de gestão.

X

Co-gestão. Há distinção entre as

decisões operacionais, concentradas nos cooperados, e decisões estratégicas e de negócio, concentradas em poucas

pessoas.

Estruturas de decisão. X Definida, predominantemente informal,

porém com credibilidade. Hierarquia

X

Forte. Bem definida e com poucas possibilidades de mobilidade, mesmo para os cargos eletivos que exigem formação escolar e domínio de tecnologia.

Especialização vertical do trabalho (decisão) e

concentração de poder. X

Média. Há especialização horizontal e as decisões estão restritas ao grupo de trabalho. Todas as decisões que fogem da atividade operacional concentram-se em outras pessoas.

Fluxo e acesso à

informação. X Fluxo de informação bem estabelecido, definido e transparente. Estrutura de comando e

controle.

X

Decisões concentradas. Controle baseado no ajustamento mútuo e padronização do resultado. Principal mecanismo de controle é a produtividade individual.

Planejamento

X Não estruturado, horizonte de curto prazo. Organização predominantemente reativa.

Adesão e contratação de

novos membros. NA Adesão de novos membros apenas quando necessário. Há funcionários assalariados.

Remuneração e divisão das

sobras; X Igualitária baseada no trabalho.

Organização produtiva

predominante. NA Processo baseado no produto, com especialização horizontal do trabalho. Não há rotação de cargos.

Equipamentos e tecnologia. X Muito adequado. Imagem da organização.

NA

Organização mecanicista, com práticas que lhe conferem características da metáfora de instrumentos de dominação, pois há a presença de uma cúpula que se perpetua no poder.

Legenda: (A) Característica plenamente presente e estruturado; (B) Característica parcialmente presente ou com baixa maturidade de implantação; (C) Característica inexistente, ou com estruturação muito precária; (NA) Não se aplica avaliação para a característica.

Por fim há de se considerar duas visões para a compreensão do funcionamento dessa cooperativa: a primeira, um pouco mais crítica e negativa, pode-se entender que embora compreenda todas as fases produtivas de uma cooperativa de catadores, pelo fato da comercialização e do relacionamento externo estarem concentrados em poucas pessoas, essa cooperativa existe mais para a prestação de serviços de triagem a outrem, do que como empreendimento independente pleno.

A segunda visão, mais positiva e otimista, interpreta a concentração de poder em poucas pessoas pelo fato de elas se destacarem dentre os demais cooperados como mais preparadas para as atividades de gestão e condução estratégica da cooperativa, ou seja, assumem tal papel por mérito e necessidade da cooperativa, oferecendo resultados concretos que beneficiam todos os trabalhadores.

empreendimentos econômico

Empreendimentos Populares e Solidários (IPEPS) Desenvolvimento Trabalho

SDTI

aqueles que se autodeclararam “catadore

foram convidadas para uma palestra sobre economia solidária e cooperativismo. Depois disso

IPEPS,

cooperativas foram construídas pela prefeitura e constituídas juridicamente, cada uma contendo cerca de 20 cooperados. Até hoje

e assistência da incubadora tecnológica municipal contábil e técnica.

operação e gerar renda suficiente 30 trabalhadores na cooperativa,

demais pertencem a um novo programa de geração de renda e trabalho da prefeitura e recebem bolsa mensal pelo trabalho. Há um plano para que no final do programa, aqueles que se interessarem, tornem

dificuldades operacionais para a coleta dos materiais, segundo a presidente da cooperativa, novos cooperados somente serão aceitos caso haja capacidade operacional para tanto.

trabalhadores.

Gráfico

4.3 Estudo de Caso 3