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FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL

3 REGIME DE BENS E DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

3.2 FORMAS DE DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL

As formas de dissolução da sociedade e do vínculo conjugal encontram-se expressas no texto do artigo 1.571, do Código Civil, como segue:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina: I - pela morte de um dos cônjuges;

II - pela nulidade ou anulação do casamento; III - pela separação judicial;

IV - pelo divórcio.

§ 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente. § 2º Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial. (BRASIL, 2002).

À vista disso, a legislação civil traz hipóteses do fim da sociedade e do vínculo conjugal. Portanto, a sociedade conjugal versa sobre questão menos abrangente que o vínculo ; por isso, a sociedade conjugal não corresponde ao término do vínculo, sendo que o término do vínculo é que encerra a sociedade conjugal. Nesse sentido, Nader (2006, p. 243-244) afirma que:

Com a celebração do casamento nascem o vínculo e a sociedade conjugal. O vínculo é a relação jurídica que se instaura entre os cônjuges, enquanto a sociedade é o compromisso de comunhão de vida. Dissolvendo-se o vínculo, extingue-se a sociedade conjugal. O término desta não põe termo àquele, apenas aos deveres de coabitação, fidelidade recíproca e ao regime de bens, conforme dispõe o art. 1. 576 do Código Civil. Por força do vínculo conjugal, permanecem os deveres de mútua assistência, respeito e consideração entre os separados, além do sustento, guarda e educação dos filhos. A permanência da mútua assistência entre os deveres há de ser interpretada em termos, pois limitada a alimentos. Em decorrência, ainda, da subsistência do vínculo, os separados ficam impedidos de contrair novo casamento. O vínculo conjugal dissolve-se, no casamento válido, com a morte real ou presumida de um dos cônjuges, declaração judicial de ausência ou pelo divórcio. Dessa forma, vale citar o pensamento de Miranda (2001, p. 403), que assim esclarece: “[...] É preciso, porém, não se confundirem vínculo conjugal, que só se dissolve com a morte ou com o divórcio, e a sociedade conjugal, que é o fato da vida em comum no domicílio conjugal”.

Entretanto, existe em nosso ordenamento jurídico diversas formas de dissolução da sociedade conjugal, que estabelecem diretrizes para serem cumpridas nos casos de término do vínculo conjugal, bem como do casamento. Assim, a sociedade conjugal termina pela morte de um dos cônjuges, nulidade ou anulação do casamento, separação judicial ou, ainda, pelo divórcio, conforme disposto no artigo 1.571, do Código Civil/2002. (BRASIL, 2002).

Morte de um dos cônjuges: É aquela que faz terminar sociedade conjugal, bem como

o vínculo matrimonial, de maneira que o sobrevivente poderá convolar novas núpcias, conforme preconiza o artigo 1.571, I e parágrafo 1º, do Código Civil/2002. Desse modo, a mulher, sendo o cônjuge sobrevivente, poderá se casar após dez meses depois de sua viuvez, exceto se neste período ela dar à luz a algum filho; se o cônjuge sobrevivente for o homem, poderá imediatamente contrair as núpcias. Segundo Miranda (2001, p. 403-404):

[...] Se o cônjuge morto é a mulher, pode o marido imediatamente contrair novas núpcias; se o morto é o marido, a viúva só se pode casar após dez meses depois do começo da viuvez, salvo se, antes de terminado o referido prazo, dá à luz a algum filho (Código Civil, art. 183, XIV). Quanto aos bens, cessa, com a morte de um dos cônjuges, a comunhão, se há, cabendo ao sobrevivente a metade dos bens comuns, pois que era sua, e a outra metade aos herdeiros do defunto.

Isso posto, com a morte de um dos cônjuges, cabe ao cônjuge sobrevivente a metade dos bens comuns, adquiridos pelo casal na constância do casamento, e a outra parte pertence

aos herdeiros do falecido nos termos do direito sucessório. De um outro modo, no caso de falecimento do cônjuge por acidente sem reconhecimento e localização do corpo pelas autoridades oficiais, conforme o artigo 7º, do Código Civil/2002:

Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. (BRASIL, 2002).

Contudo, na concepção de Dias (2010, p. 296-297): “No silêncio da lei, e determinando ela que a morte presumida dissolve o vínculo do casamento, o novo casamento do cônjuge do ausente é válido no caso do seu retorno, sob o argumento de que não há nulidade sem expressa previsão legal”.

Nulidade ou anulação do casamento: As causas de nulidade podem ser decretadas

quando o casamento é contraído por enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil ou por infringência de impedimento, conforme previsto no artigo 1.548, I e II, do Código Civil/2002. Contudo, a nulidade pode ser declarada de ofício pelo juiz ou pelo ministério público e alegada por quaisquer interessados. Os impedimentos, que tornam nulo o casamento, estão no artigo 1.521 da legislação em comento, como segue:

Art. 1.521. Não podem se casar:

I. os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II. os afins em linha reta;

III. o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;

IV. os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;

V. o adotado com o filho do adotante; VI. as pessoas casadas;

VII. o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra seu consorte. (BRASIL, 2002).

Sobre o tema, disserta Nery (2013, p. 261) esclarecendo que:

O sistema aceita que casamentos nulos produzam efeitos jurídicos a bem da família. É o caso do casamento contraído de boa-fé por ambos os cônjuges – o qual produzirá efeitos aos cônjuges e aos filhos até a sentença anulatória, assim como o casamento realizado de boa-fé por um deles, que produzirá efeitos ao cônjuge de boa-fé e aos filhos, e o casamento constituído de má-fé pelo casal, que produzirá efeitos aos filhos somente.

Já o casamento anulável é aquele que contamina o ato com vícios sanáveis daquele que não tem idade mínima para se casar, assim como do menor em idade núbil sem autorização do

responsável legal; por vício de vontade; realizado por mandatário, sem que ele mesmo ou o outro contraente tivesse conhecimento da revogação da outorga; e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; por incompetência da autoridade celebrante. Os impedimentos estão previstos no artigo 1.550, I ao VI, da legislação civil:

Art. 1.550. É anulável o casamento:

I - de quem não completou a idade mínima para casar;

II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;

IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento; V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; VI - por incompetência da autoridade celebrante. (BRASIL, 2002).

Separação judicial: É aquela que dissolve a sociedade conjugal, mas conserva o vínculo

entre os cônjuges, impedindo-os de convolar novas núpcias, pois o vínculo matrimonial só termina com morte real ou presumida de um dos cônjuges ou pelo divórcio. A separação judicial põe fim a algumas obrigações no casamento, tendo como exemplo o dever de coabitação, fidelidade recíproca e comunicação de bens, conforme dispõe o artigo 1.576, parágrafo único, do Código Civil/2002, como segue: “A separação judicial põe termo aos deveres de coabitação e fidelidade recíproca e ao regime de bens. Parágrafo único. O procedimento judicial da separação caberá somente aos cônjuges, e, no caso de incapacidade, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão.” (BRASIL,2002).

Com a separação judicial termina os deveres e direitos impostos ao matrimônio, que poderá revigorar a qualquer tempo, de acordo com o artigo 1.577 do Código Civil/2002, como segue: “Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como está se faça, é lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade conjugal, por ato regular em juízo.” (BRASIL, 2002). Desse modo, os efeitos práticos são semelhantes ao divórcio, com exceção de contrair novo matrimônio.

Entretanto a separação judicial, no ordenamento jurídico brasileiro pode ser: consensual, por mútuo consentimento dos cônjuges, de modo judicial ou extrajudicial; e a litigiosa, pedida por um cônjuge contra o outro. No ordenamento jurídico brasileiro existem duas espécies de separação judicial (i) a consensual, em conformidade com o art. 1.574 do Código Civil, ou àquela por consentimento dos nubentes casados há mais de ano (nesse caso não é necessário acompanhar a motivação, porém, para ter eficácia a homologação judicial deve

ser requerida após a oitiva do ministério público, e (ii) a litigiosa, que é efetivada por ação de uma das partes, de acordo com as situações previstas. (DINIZ, 2009).

A separação judicial consensual é aquela que depende da concordância de ambas as partes, mediante acordo, requerem conjunta e simultaneamente; porém, os cônjuges devem estar casados há mais de um ano, haver o mútuo consentimento e homologação judicial, conforme informa o artigo 1.574, parágrafo único, do Código Civil/2002, como segue:

Dar-se-á a separação judicial por mútuo consentimento dos cônjuges se forem casados por mais de um ano e o manifestarem perante o juiz, sendo por ele devidamente homologada a convenção. Parágrafo único. O juiz pode recusar a homologação e não decretar a separação judicial se apurar que a convenção não preserva suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges. (BRASIL, 2002).

Alinhada a esse pensamento, Lopez (1988, p. 746) afirma que:

A separação consensual é essencialmente um acordo entre duas partes, que têm por objetivo dar fim à sua sociedade conjugal. É, portanto, negócio jurídico bilateral, pois, para que esse acordo exista e seja válido, é necessária a declaração livre e consciente da vontade dessas partes. Todavia, para que o mutuus dissensus tenha executoriedade ou gere os efeitos queridos pelas partes, necessita de um ato de autoridade, qual seja a sua homologação através de sentença judicial.

De um outro modo, na separação litigiosa não é necessário o consentimento de ambos os cônjuges, apenas um deles poderá propor a ação, atribuindo uma conduta ou um fato culposo ao outro cônjuge, conforme leciona, o artigo 1.572, do Código Civil/2002, como segue:

Art. 1.572. Qualquer dos cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao outro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento e torne insuportável a vida em comum.

§ 1° A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua reconstituição. § 2° O cônjuge pode ainda pedir a separação judicial quando o outro estiver acometido de doença mental grave, manifestada após o casamento, que torne impossível a continuação da vida em comum, desde que, após uma duração de dois anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável.

§ 3° No caso do parágrafo 2°, reverterão ao cônjuge enfermo, que não houver pedido a separação judicial, os remanescentes dos bens que levou para o casamento, e se o regime dos bens adotado o permitir, a meação dos adquiridos na constância da sociedade conjugal. (BRASIL, 2002).

Portanto, somente os cônjuges estão habilitados para a postular a separação, por isso não é permitido que pessoas estranhas formulem o pedido, pois é de caráter pessoal, salvo se um dos cônjuges for incapaz, situação em que terá o direito a um representante legal, conforme preconiza o art. 1.576, parágrafo único, do Código Civil/2002: “O procedimento judicial da separação caberá somente aos cônjuges, e, o caso de incapacidade, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão.” (BRASIL, 2002).

Destaca-se que, apesar de o Código Civil/2002 (Art. 1.573, I a VII) estabelecer os motivos de separação judicial, os entendimentos jurisprudenciais têm dispensado a comprovação dessas causas, além dos prazos mínimos de separação prévia (judicial, extrajudicial ou de fato) para a concessão do divórcio, de acordo com a Emenda Constitucional nº 66/2010. Entretanto, o tema não é pacificado na doutrina e na jurisprudência. Embora haja divergências quanto à continuidade do instituto da separação judicial no ordenamento jurídico brasileiro, a quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça manifestou entendimento no sentido de que referido instituto prevalece no ordenamento jurídico brasileiro, argumentando que a Emenda Constitucional nº 66/2010 tem eficácia imediata e direta e que revogou somente os requisitos temporais para facilitar o divórcio. (DAMIAN, 2019).

Divórcio: É uma medida jurídica, obtida pela iniciativa dos cônjuges em conjunto ou

separadamente, devendo ser comprovada a separação de fato por mais de dois anos, conforme preconiza o artigo 1.580, §2º, do Código Civil/2002, como segue: “O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada a separação de fato por mais de dois anos.” (BRASIL, 2002). Assim, o divórcio dissolve integralmente o casamento e determina o fim da sociedade conjugal e do vínculo matrimonial, conforme ilustra o artigo 1.571, IV e §1º, da legislação civil em comento, como segue: “A sociedade conjugal termina: pelo divórcio. O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.” (BRASIL, 2002).

No entanto, o divórcio é de caráter exclusivo dos cônjuges, salvo se o cônjuge for incapaz, terá então o direito a um representante legal, de acordo com o artigo 1.582, parágrafo único, do Código Civil/2002, como segue: “O pedido de divórcio somente competirá aos cônjuges. Parágrafo único. Se o cônjuge for incapaz para propor a ação ou defender-se, poderá fazê-lo o curador, o ascendente ou o irmão.” (BRASIL, 2002). Contudo, o divórcio se divide em duas espécies, podendo ser: o divórcio direto e conversão de separação em divórcio, judicial ou extrajudicial.

Divórcio direto: É aquele que não exige prévia separação judicial, nem aferição de

culpa primordial, sendo o atual padrão de divórcio no Brasil. Isso somente foi possível após aprovação da Ementa Constitucional nº 66/2010, que para facilitar e simplificar o divórcio alterou a Constituição Federal/1988 e deu uma nova roupagem ao artigo 226, §6°, como segue: “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio". Desta feita, citada emenda

estabeleceu o divórcio direto, podendo os cônjuges a qualquer momento buscar o divórcio sem precisar de causas ou motivos. (BRASIL, 1988).

Conversão de separação em divórcio: É aquela em que os separados judicialmente ou

separados de corpos por decisão judicial, podem pedir a conversão da separação em divórcio sem aguardar o decurso de qualquer prazo. Sobre o tema Dias (2010, p. 319), preleciona que: “Os separados judicialmente ou separados de corpos, por decisão judicial, podem pedir a conversão da separação em divórcio sem aguardar o decurso de qualquer prazo”.

Ademais, a Lei nº 11.441/2007 possibilitou a separação e o divórcio consensuais extrajudiciais dos casais sem filhos menores em cartório extrajudicial. (BRASIL, 2007).

3.3 EFEITOS JURÍDICOS DECORRENTES DA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO