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3 REGIME DE BENS E DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

3.1 REGIME DE BENS

Os regimes matrimoniais de bens estão relacionados aos compromissos declarados pelos cônjuges, pelos quais decidem compartilhar a vida em comum. O estabelecimento desses regimes é extremamente necessário na sociedade conjugal, pois serve não somente para administrar os bens do casal, mas também depois de sua dissolução, seja pela separação de fato, divórcio ou pela morte de um dos cônjuges. De acordo, com Farias e Rosenvald (2014, p. 01), o regime de bens é “o estatuto que disciplina os interesses econômicos, ativos e passivos, de um casamento, regulamentando as consequências em relação aos próprios nubentes e a terceiros, desde a celebração até a dissolução do casamento, em vida ou por morte” .

Para Dias (2007, p. 200),

O regime de bens é uma consequência jurídica do casamento, não existe casamento sem regime patrimonial de bens. Se os nubentes não escolhem ou se não lhe é imposto, há uma “escolha” de lei pelo regime legal. [...] Abstendo-se os nubentes de decidir sobre tais questões, o Estado faz a opção por eles e impõe o regime de comunhão parcial. Aos noivos basta pronunciar o “sim” na solenidade do matrimônio. Essa afirmativa, além de significar mútua aceitação do casal, faz incidir regas, asseguram direitos e impõe deveres.

O casamento promove a união tanto de aspectos afetivos quanto econômicos, sendo necessário que o casal escolha um regime de bens adequado para administrar o patrimônio dos dois, que passará a valer a partir do “sim” dito ao juiz de paz, conforme preconiza o artigo 1.629 do Código Civil de 2002: “O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento.” (BRASIL, 2002).

Os casamentos realizados antes de 1977 no Brasil, tinham como regime convencional o da comunhão universal; após esse período, com o advento da Lei do divórcio (lei nº 6.515/1977), passou-se a adotar também o regime da comunhão parcial de bens, abandonando a obrigatoriedade da comunicabilidade dos bens adquiridos anteriormente ao matrimônio. Aliado a esse pensamento Fachin (2003, p. 183) afirma que:

Durante muitas décadas, a legislação brasileira adotou com regime supletivo o da comunhão universal de bens. A partir da Lei do Divórcio, em 1977, esse passa a ser o

da comunhão parcial de bens [...] o regime supletivo é aplicado no silêncio das partes, atendendo a uma certa “vontade presumida” [...].

A legislação civil, no artigo 1.639 (Código Civil/2002) define que: “É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver”, (BRASIL, 2002), ou seja, o referido artigo autoriza a elaboração do pacto antenupcial para os cônjuges que escolhem o regime diferente do legal, sendo este, o regime da comunhão parcial de bens adotado no Código Civil vigente. Destaca-se que o pacto antenupcial é um contrato solene e condicional, por meio do qual os nubentes dispõem sobre o regime de bens que vigorará entre ambos, após o casamento. Solene, porque será nulo senão for feito por escritura pública; e condicional, porque só terá eficácia se o casamento se realizar (art. 1.653, CC). (BRASIL, 2002). A capacidade é a mesma exigida para o casamento. O pacto antenupcial permite a comunicabilidade de todos os bens pertencentes ao casal. (GONÇALVES, 2005).

O Código Civil/2002 traz diferentes regimes de bens a serem escolhidos pelos consortes, que regulam a esfera patrimonial do casal, que são os seguintes: comunhão parcial de bens, comunhão universal de bens, separação obrigatória de bens, separação convencional de bens e o regime de participação final nos aquestos.

Comunhão parcial de bens: Nesse regime, os bens adquiridos por cada um dos cônjuges

antes do casamento não integram o patrimônio comum, ou seja, somente serão discutidos os bens adquiridos na constância do casamento, considerando o patrimônio de ambos os cônjuges, independentemente de quem tenha comprado. Sobre o tema Dias (2007, p. 204), leciona que:

É o regime legal, o regime que a lei prefere. Não tendo os nubentes celebrado pacto antenupcial dispondo sobre as questões patrimoniais, prevalece o da comunhão parcial. Tanto na falta de manifestação dos noivos, como na hipótese de ser nulo ou ineficaz o pacto, é esse regime que vigora.

Dessa maneira, os bens adquiridos no estado civil anterior ao casamento, não são considerados patrimônio comum do casal. Também não comunicam ao patrimônio do casal os bens havidos, mesmo durante a constância do casamento, por doação como adiantamento de herança sem a contemplação do cônjuge por afinidade, e por herança em inventário. Os bens havidos nessas condições são considerados por lei exclusivamente do cônjuge que o recebeu, conforme dispõe o artigo 1.661, do Código Civil: “São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento.” (BRASIL, 2002).

Magalhães (2002, p. 234) afirma que: “a palavra-chave que define a comunicabilidade dos bens havidos após o casamento é onerosidade. Realmente, tudo o que for adquirido a título oneroso, portanto com o esforço comum, pertencerá a ambos, ainda que adquiridos em nome

de um só”. O Código Civil, no artigo 1.658, informa que: “no regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes.” (BRASIL, 2002).

Sobre o regime da comunhão parcial de bens, o Código Civil de 2002 traz a relação dos bens incomunicáveis, no artigo 1.659, como segue:

Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:

I – os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;

II – os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares;

III – as obrigações anteriores ao casamento;

IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; V – os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;

VI – os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;

VII – as pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. (BRASIL, 2002).

Percebe-se, desta forma, que se trata de direito personalíssimo, inconcebível de comunicação, pertencente exclusivamente ao cônjuge beneficiário.(VENOSA, 2012).

Por outro lado, o Código Civil de 2002, em seu artigo 1.660, dispõe, sobre os bens que se comunicam na comunhão parcial:

Art. 1.660. Entram na comunhão:

I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges;

II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior;

III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;

IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;

V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. (BRASIL, 2002).

Em linhas gerais, o regime da comunhão parcial de bens possui particularidades, proporcionando aos cônjuges segurança à vida financeira do casal e a terceiros interessados de boa-fé.

Comunhão universal de bens: É aquele em que o casal não só pretende a união pelo

casamento, mas também a união de seus bens, isto é, os bens atuais e futuros dos cônjuges, ainda que adquiridos em nome de um só deles e suas dívidas passivas. Este regime é o único do ordenamento jurídico brasileiro que permite a transferência de bens para o outro sem a obrigatoriedade de registro ou pagamento de impostos referente a transferência. Desse modo, com o ato do casamento ocorre a transferência dos bens, de um para o outro, sendo que os cônjuges tornam-se proprietários cada um da metade de toda a fusão patrimonial, inclusive dos bens adquiridos de forma onerosa, gratuita ou decorrentes de herança, assim como todos os

bens presentes e futuros, além de dívidas passivas, conforme preceitua o artigo 1.667, do Código Civil/2002, como segue: “O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas [...]” (BRASIL, 2002).

Gonçalves (2005, p. 421) salienta que o:

Regime da comunhão universal é aquele em que se comunicam todos os bens, atuais e futuros, dos cônjuges, ainda que adquiridos em nome de um só deles, bem como as dívidas posteriores ao casamento, salvo os expressamente excluídos pela lei ou pela vontade dos nubentes, expressa em convenção antenupcial (CC, art. 1.667). Por tratar- se de regime convencional, deve ser estipulado em pacto antenupcial.

Ainda sobre o tema, aduz Gomes (2002, p. 195) que: “No regime da comunhão universal os bens tornam-se comuns, assim como os que cada cônjuge possuía ao casar-se, como os adquiridos depois do casamento. Instaura-se o estado de indivisão, passando a pertencer a cada qual a metade ideal do patrimônio comum”. Vale frisar, que neste regime é necessário que os nubentes realizem o pacto antenupcial, visto que, trata-se de regime convencional.

Separação obrigatória de bens: É aquele em que o regime é imposto legalmente no

momento do casamento, sendo os noivos impedidos de escolherem o regime por algum motivo previsto. Os nubentes são impedidos de contrair as núpcias em regime distinto do apontado pela lei, sendo obrigados a se casarem pelo regime de separação total de bens, ou seja, os matrimônios que tenham a necessidade de autorização judicial terão o regime de separação obrigatória de bens como regime que vigorará na relação conjugal. Sobre o tema, Wald (2004, p. 123) define que:

Não existe liberdade plena de escolha do regime, pois a lei obriga, em certos casos, as partes a casarem no regime de separação. É o que ocorre com os que casam com a inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento como o viúvo ou a viúva que tiver filhos do cônjuge falecido, enquanto não fizer o inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros; a viúva ou mulher que anulou o casamento ou o teve declarado nulo e casa de novo antes de decorridos dez meses depois da viuvez ou da dissolução da sociedade conjugal; o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida à partilha dos bens do casal; tutor ou curador que casa com tutelada ou prestada as respectivas contas; juiz ou escrivão que casa com viúva ou órgão sob sua jurisdição, salvo licença especial).

Por exigência legal, pode-se observar no texto do artigo 1.641 do Código Civil de 2002, que discorre sobre as hipóteses de obrigatoriedade do regime matrimonial de separação de bens no casamento, conforme disciplina:

Art. 1.641. É obrigatório o regime de separação de bens no casamento:

I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas6 da celebração do casamento;

II - da pessoa maior de 70 (setenta) anos;

Nota-se que, no citado artigo, o legislador estabelece esse regime obrigatório como uma forma de punição quando há inobservância dos aspectos estipulados através do nosso Código Civil. Desta feita, para aqueles que ferem as causas suspensivas na celebração do casamento obrigatoriamente deverão adotar o regime de separação total de bens. Por fim, vale ressaltar um assunto bem polêmico, referente àqueles que possuem a idade igual ou superior a setenta anos não poderem escolher o seu próprio tipo de regime. O Estado justifica essa imposição para proteger os bens do cônjuge quando o casamento é provindo de interesse financeiro.

Separação convencional de bens: É aquele regime em que os bens moveis e imóveis

são de posse e propriedade exclusiva do cônjuge que adquiriu antes ou depois do matrimônio, ou seja, independentemente da data de sua aquisição, os bens são incomunicáveis. Dessa forma, poderá cada cônjuge dispor de seus bens, administrando como bem entender, podendo inclusive alienar sem a anuência do outro cônjuge. O Código civil/2002, em seu artigo 1.687, disciplina que: “Estipulada a separação de bens, esses permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real” (BRASIL, 2002). Nesse sentido, Gonçalves (2016, p. 494) entende que: “No regime da separação convencional, cada cônjuge conserva a plena propriedade, a integral administração e a fruição de seus próprios bens, podendo aliená-los e gravá-los de ônus real livremente, sejam móveis ou imóveis”.

Assim como os bens são incomunicáveis, as dívidas contraídas antes ou depois também são, cada cônjuge é titular de suas dívidas e das obrigações por ele contraídas, salvo se provindas de despesas domésticas. Sobre o tema Miranda (2001 apud PEREIRA, 2004, p. 239) define que:

As dívidas anteriores ao casamento não se comunicam e, pelas contraídas na vigência deste, responde cada um individualmente. Em caráter excepcional, pesam sobre os bens de um e de outro os encargos: a) provindos de obrigações por ato ilícito em que forem coautores, ou praticando este pelos filhos do casal; b) mantença do lar ou família, na proporção das quotas respectivas de contribuição; c) relativos aos atos que envolvam compromissos de um ou de outro, praticados com autorização e a outorga do consorte, respectivamente.

É importante ressaltar que é lícito realizar o pacto antenupcial, desde que fique convencionado entre os cônjuges as despesas provenientes da família, porém, fica vedado que somente um dos cônjuges quite as dívidas pertencentes ao casal ou que os bens adquiridos sejam postos somente em nome de um dos cônjuges, conforme disciplina o artigo 1.688, do Código Civil/2002, como segue: “ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do

casal na proporção dos rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial. (BRASIL, 2002).

Participação final nos aquestos: É considerado um regime misto, pois há uma fusão de

dois regimes que alternam regras –, o da separação total e o regime da comunhão parcial de bens. Ao longo do matrimônio, o casal se preocupa apenas em administrar os bens livremente, podendo aliená-los sem a autorização do outro cônjuge, salvo estipulação de pacto antenupcial realizado com a escolha de tal regime. Assim, encontra-se no art. 1.672 do Código Civil/2002 que: “No regime de participação final nos aquestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio [...] e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.” (BRASIL, 2002).

Venosa (2012, p. 342), conceitua o regime da separação final dos aquestos:

[...] Trata-se de um regime híbrido, no qual se aplicam regras da separação de bens quando da convivência e da comunhão de aquestos, quando do desfazimento da sociedade conjugal. A noção geral está estampada no art.1672: cada cônjuge possui patrimônio próprio e lhe caberá, quando da dissolução da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento. [...] sua utilidade maior, em princípio, é para aqueles cônjuges que atuam em profissões diversas em economia desenvolvida e já possuem certo patrimônio ao casar-se ou a potencialidade profissional de fazê-lo posteriormente [...].

Ao fim da relação, seja pela dissolução da sociedade conjugal ou pelo divórcio, deve- se proceder com apuração do montante dos aquestos na data em que cessou a vida conjugal, tendo cada cônjuge o direito à metade dos bens construídos na constância do casamento.