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Formato e constituição dos telejornais

Já não é novidade o facto de os telejornais se apresentarem como o principal programa informativo emitido em televisão. Mariano Cebrián Herreros, em “Informacion Televisiva: mediaciones, contenidos, expresion y programacion” (1998), destaca o papel importante atribuído aos telejornais pelos seus telespectadores. O autor refere que “o noticiário de maior

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importância e mais presente em todos os canais de televisão é o telejornal”19 (p. 477),

principalmente o que é exibido à hora de almoço e à hora de jantar, que corresponde, em Portugal, às 13 e às 20 horas, respetivamente.

Ainda que hoje o número de pessoas a ver os noticiários dos canais generalistas seja menor, o telejornal continua a ser, lembramos Arlindo Machado (2000), “antes de mais nada, o lugar onde se dão atos de enunciação a respeito de eventos” (p. 104). Assim, é relevante esclarecer que a importância atribuída a estes programas informativos se deve, a par do rápido e fácil acesso ao meio televisivo e ao facto de estes [programas] conseguirem sumariar os principais acontecimentos que marcam o dia em questão (Weaver, 1993), à pontualidade inerente ao formato consensual em que se tornou o telejornal.

Os noticiários televisivos são programas pontuais, regulares e diários: todos os dias às mesmas horas. Às 13 e 20 horas, como havia sido referido anteriormente, iniciam os telejornais em Portugal. Essa “máxima firmeza e pontualidade no cumprimento do horário das notícias

televisivas”20 acontece porque “o público já se habituou a que àquela hora em ponto se inicie

o telejornal”21 (Herreros, 1998, p. 478).

Assim, dada a valorização à pontualidade dos telejornais, não é oportuno que as estações de televisão falhem no que respeita à hora de início dos seus telejornais. Segundo o autor “não há nada pior do que ligar o telejornal à hora certa e ver que a primeira ou segunda notícia já foi

emitida”22 (p. 478). Embora com a televisão assíncrona já seja possível contornar este

problema, uma vez que o espectador pode voltar o programa ao início, Herreros (1998) considera que, na eventualidade de não o poder fazer e de existir algum atraso ou adiantamento na emissão real noticiosa, isso deixará o espectador um pouco desorientado, o que pode, até, levar à troca de canal, para que possa assistir a um telejornal desde o seu início.

O noticiário televisivo não é uma emissão uniforme. São vários os elementos que compõem o programa informativo, destacando-se, entre eles, as imagens, os textos, os sons, os vídeos, os materiais de arquivo ou os gráficos. No entanto, na opinião de Machado (2000), o composto básico do telejornal consiste em ter, essencialmente, um repórter em primeiro plano, que se dirige a uma câmara, enquanto alguns dos elementos acima mencionados, contextualizam, no pequeno ecrã, o texto noticioso. O autor defende que as “tomadas em primeiro plano

enfocando pessoas que falam diretamente para a câmera23 (posição stand-up), sejam elas

19 Tradução do texto original: “el noticiario de mayor importancia y más presente en todos los canales de

televisión es el telediario”.

20 Tradução do texto original: “máxima fijeza y pontualidade en el cumplimiento de los horarios com los

telediarios”

21 Tradução do texto original: “la audiencia ya se há habituado a que la hora en punto señalada se inicie

el informativo”

22 Tradução do texto original: “no hay nada peor que llegar a un informativo a la hora cita y ver que ya se

han expuesto la primera o segunda noticia”.

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jornalistas ou protagonistas: apresentadores, âncoras, correspondentes, repórteres, entrevistados, etc.” são o usual dos telejornais, referindo que, se isto acontecer em direto é “mais adequado ainda” (p. 104). Importa, aqui, salientar que “o telejornal é um programa

misto”24 (Herreros, 1998, p. 489), uma vez que possui partes que são produzidas em direto e

outras que são previamente gravadas e que, por isso, já são exibidas estando editadas. Contrariamente ao jornal impresso, que é organizado no espaço, os telejornais são organizados no tempo e por isso, tal como destaca Paul H. Weaver (1993), as notícias que este apresenta acabam por ser “muito mais coerentemente organizadas e coesas” (p. 297). Dada a relevância do fator tempo na produção de um telejornal, este fica impedido de ter, na sua emissão, um conjunto de notícias à lá carte25, o que obriga a escolhas informativas permanentes e uma

gestão noticiosa também ela constante. Desta forma,

(…) o noticiário televisivo é assim uma table d’hôte, uma colecção de ‘estórias’ selecionadas e organizadas de modo a serem vistas integralmente por todo o espectador, sem reduzir o tamanho ou o interesse da audiência à medida que o programa prossegue (Weaver, 1993, p. 297).

Assim, e ainda que isso possa significar ter menos notícias na emissão dos telejornais, os profissionais acabam por ter um tratamento muito mais cuidado da informação que selecionam para ser, ou não, emitida no programa. Em média, a duração de uma peça noticiosa em televisão oscila entre 1’ e 2’30’’, no entanto, isso é algo muito relativo, uma vez que “depende

da valorização que se dá a cada facto” 26 (Herreros, 1998, p. 480). Neste sentido, são o diretor,

o coordenador de redação e os editores das várias secções, os responsáveis por selecionar e valorizar cada peça jornalística, bem como para definir a sua duração e hierarquia durante a emissão. Este é o trabalho de gatekeeping que se continua a verificar nas redações.

Segundo Mariano C. Herreros (1998), existem três sistemas de valorização na escolha das notícias emitidas nos telejornais, a saber: a ordem hierárquica da informação, a duração de cada peça e o tratamento audiovisual. No que diz respeito à ordem hierárquica da informação mostra que a primeira notícia é aquela que possui maior valor, embora, como destaca o autor, haja casos em que se atribua grande relevância à última notícia do telejornal. Também Jorge Nuno Oliveira (2007) salienta este valor atribuído às notícias, referindo que o editor escolhe como “peça de abertura a informação mais forte, que seja susceptível de captar a atenção do máximo possível de espectadores” (p. 64); quanto à duração de cada peça noticiosa significa que as notícias são valorizadas mediante o tempo em que duram no ecrã e, por último, o tratamento audiovisual tem a ver com a escolha dos profissionais em decidirem exibir a notícia

24 Tradução do texto original: “el telediario es un programa mixto”.

25 Expressão atribuída ao método de organização de um jornal, que significa que este pode publicar muito

mais notícias do que aquelas que o leitor pretende ler.

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em questão, isto é, se através de um direto, de uma peça editada e/ou apresentada sem imagem.

Realizadas as escolhas editoriais, que não têm uma regra geral para ser feitas, e dependem de estação para estação televisiva, a estrutura dos telejornais apresenta um carácter idêntico, pelo menos no que concerne a Portugal. Ou seja, aquando da abertura do programa noticioso, os pivots dos três canais principais (RTP, SIC e TVI) expõem as notícias que consideram ser mais importantes, o desenvolvimento do telejornal prossegue com as peças que estavam previstas integrarem a hora informativa, pelo que, habitualmente, o tempo reservado a comentários e/ou debates é, em praticamente todas as estações televisivas, reservado para o final. Todas as informações relativamente à estrutura e organização de um telejornal são claramente

assinaladas no script27, isto é, num guião que possui as informações sobre todo a alinhamento

do programa informativo. Oliveira (2007) explica que o alinhamento é,

O espaço onde se contêm todas as indicações fundamentais para a produção de um jornal de televisão: os nomes das peças, reportagens, directos, entrevistas ou quaisquer outros materiais televisivos; a ordem por que são emitidos; a identificação do suporte de vídeo; a identificação do suporte de áudio; a respectiva duração; várias outras informações de natureza técnica, adequadas aos métodos de trabalho de cada equipa de realização (p. 62).

Mais uma vez, não existe uma regra própria para a elaboração de um alinhamento noticioso, havendo uma independência das estações de televisão na sua construção. Existem, no entanto, alguns elementos que já estão pré-definidos a essa estrutura, que são de âmbito geral, o que significa que a versão de um alinhamento pode ser igual para as três estações televisivas. Este é feito numa página que apresenta características específicas onde são inseridas informações relativamente à condução do programa, que se divide em três partes: superior, esquerda e direita. A parte superior da página – cabeçalho - apresenta informações como a data, o nome do editor ou repórter do telejornal, o nome do programa, assunto, tempo de duração e o número da página do alinhamento. Por sua vez, a parte esquerda e direita apresentam, respetivamente, indicações daquilo que o espectador vê, isto é, as imagens, e os sons.

Karen C. K. Abreu (2010) salienta que o alinhamento tem duas funções principais: guiar a leitura do apresentador do telejornal e orientar as ações dos profissionais da área técnica que colocam “no ar” o programa (pp. 8-9). A autora evidencia, ainda, dois modelos de elaboração do alinhamento propostos por Maciel (1995) e Paternostro (2002).

27 De acordo com Abreu (2010), script é o nome dado à página, eletrônica ou em papel, que serve de guião

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Figura 128 - Modelo de alinhamento de Maciel (à esquerda) e de Paternostro (à direita)

Segundo explica, o alinhamento de Maciel (1995) é o mais antigo, contudo é um modelo que possui todos os elementos obrigatórios a um guião televisivo. Já o modelo de alinhamento apresentado por Paternostro (2002) é mais recente, que traz novos campos destinados à inserção de outras informações importantes, como a duração do texto, da VT e o tempo total da peça. Embora não tenha uma linha de divisão entre o lado esquerdo e o lado direito, faz uso da mesma distribuição dos lados (p. 4).

Tome-se, de seguida, em atenção a figura 2, um exemplo real de um alinhamento do Jornal da Uma da TVI.

28 Imagens retiradas da obra “Script: a organização da produção audiovisual no telejornalismo”, de Abreu

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Através desta figura29, é possível compreender como são, realmente, estruturados e

organizados os telejornais. Oliveira (2007) esclarece que “o alinhamento de um telejornal é um documento de leitura universal”, significa isto que “os símbolos são comuns a todas as línguas, países e televisões”, mudando unicamente a informação relativamente aos conteúdos do programa (p. 63).

É possível, hoje em dia, ver-se, no modelo de um alinhamento diversos géneros jornalísticos

mencionados. Os telejornais já não são constituídos unicamente por apresentações30 ou

29 Imagem retirada da obra “Manual de Jornalismo de Televisão”, de Oliveira (2007), p. 63.

30 Refere-se à fala do jornalista para a câmara, que tanto pode ser em direto ou gravada, bem como no

estúdio ou no exterior.

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pequenas peças jornalísticas31. Vê-se, além disso, reportagens de telejornal32, grandes

reportagens33, entrevistas e debates. Mariano C. Herreros (1998) salienta que, “se tende a noticiários cada vez mais elaborados, com notícias próprias e com reportagens e análises de maior profundidade” e que estes “além de apresentarem informação concisa, tendem a

introduzir mais opiniões”34 (p. 475).

De acordo com Jorge Nuno Oliveira (2007), as estações de televisão “socorrem-se” dos diferentes géneros jornalísticos porque necessitam de “formas de enriquecer a comunicação, combatendo a monotonia formal e melhorando o ritmo dos produtos televisivos” bem como de liderarem as audiências (p. 9). “Os noticiários desencadeiam enormes batalhas entre as cadeias

de televisão para conseguir a liderança de audiência e de qualidade”35, afirma Herreros (1998,

p. 474).