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O circuito interno da informação

PARTE 2 – ESTUDO EMPÍRICO

6.3. O circuito interno da informação

Como já havíamos dito, o Departamento de Agenda detém o papel de primeiro gatekeeper, uma vez que, geralmente, é esta a primeira secção a ter contacto com a informação que chega à redação da TVI, sendo, também, a responsável por armazenar todas as informações relativas

aos assuntos de reportagem. Desta forma, e como indica Patrícia Jesus (2018)93, a Agenda acaba

por ser o cérebro da estação, uma vez que “é ali que se inicia tudo” e é “dali que é enviada [toda] a informação”.

Depois de consultarem a Agenda e saberem quais são as saídas que estão agendadas e, se possível, confirmadas para aquele dia, os editores decidem o que é que os jornalistas e repórteres de imagem vão cobrir, atribuindo a cada um um serviço. No entanto, é importante recordar que os editores têm total liberdade para agendar saídas que não tenham sido preparadas pelo departamento de Agenda, o que acontece muito quando este responsável ou outro profissional tem conhecimento de um caso de última hora, por exemplo. Os coordenadores fazem, então, uma ficha de trabalho, atribuem-na a um jornalista e a um repórter de imagem, e lá colocam todas as informações que têm, até ao momento, sobre o assunto. Pode, também, acontecer que uma ficha de trabalho seja atribuída somente a um repórter de imagem, quando o objetivo é apenas a recolha de imagem.

Regra geral, é a partir do momento em que jornalistas e repórteres de imagem chegam à redação e abrem o iNEWS que tomam conhecimento das saídas que têm marcadas para esse dia, sendo, nessa altura, que têm o primeiro contacto com a informação. Antes de ir para o

93 Membro do departamento de Agenda da TVI. Entrevista realizada no dia 30 de abril de 2018 nas

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terreno, o jornalista faz toda a pesquisa que entende ser necessária para que possa ir o melhor preparado possível e assegura-se, junto dos seus coordenadores, que todos os dados presentes na ficha de trabalho estão corretos. Desta forma, está a salvaguardar o trabalho de possíveis falhas. No entanto, é importante realçarmos que o facto de a cobertura dos acontecimentos estar agendada nas saídas em reportagem, e às vezes até já atribuída, não significa que esta seja obrigatoriamente feita. Tudo isso depende depois de uma série de fatores que cabe ao editor avaliar como, por exemplo, os meios disponíveis na redação, a prioridade do assunto,

entre outros. Embora como defende Ana Peixoto (2018)94, coordenadora-adjunta da redação do

Porto, a TVI tente cobrir tudo:

Nem que vá um buscar parte da informação a um sítio, outra pessoa monta, nós acabamos por cobrir isso. Os jornalistas acabam por funcionar de forma quase turbo. Conseguimos ir recolher aos vários sítios para depois termos tudo. Ou seja, pelo menos quando falamos de coisas importantes, em regra, nunca abandonamos uma coisa importante.

Chegada a equipa com o material recolhido, ele é, imediatamente, passado aos editores de imagem para que seja guardado nos computadores das ilhas de montagem. Posteriormente, o jornalista escreve o seu texto e assim que o conclua volta à ilha de edição para gravar o off e montar a peça. Assim que esteja concluída, os editores de imagem (no caso da redação do Porto

e das restantes delegações95 espalhadas pelo país) enviam a reportagem para a equipa da

Produção de Informação da redação de Lisboa, que, depois, é responsável por alocá-la no alinhamento. É, nesta altura, que a peça jornalística está pronta para ser visionada pelo telespectador, no entanto, antes de ir para o ar, ainda está sujeita a uma série de decisões do editor do telejornal, uma vez que é ele quem tem a decisão sobre o editor de cada editoria sobre o que quer e o que não quer para o “seu” Jornal.

As decisões do editor vão sempre ser tomadas tendo em conta a variável das audiências e por isso mesmo muitas das peças que poderão estar previamente alinhadas para entrar no bloco

informativo, rapidamente podem deixar de o estar96, basta, por exemplo, que o editor se

aperceba que determinado assunto não lhe está a trazer audiências e/ou que outros canais televisivos estão a enveredar por outros temas. As peças podem, até, ser transmitidas no preciso dia em que são enviadas para a Produção, no caso de notícias que estão na ordem do dia e que a estação televisiva tem obrigatoriamente que dar, sendo da responsabilidade dos assistentes de realização colocá-las “a rodar”, como podem cair do alinhamento do telejornal onde era suposto entrarem e ficarem em stand by até ao próximo.

Há, ainda, reportagens que são enviadas durante a semana para a Produção, mas que não têm como intenção entrar naquele dia no Jornal da Uma ou no Jornal das 8. São peças elaboradas para fim de semana, habitualmente de carácter intemporal, e por isso mesmo ficam

94 Coordenadora chefe-adjunta da redação do Porto. Entrevista decorreu no dia 30 de abril de 2018 nas

instalações da TVI no Porto.

95 Vila Real, Guarda, Leiria, Coimbra, Évora, Algarve, Madeira, Açores e Bruxelas. 96 Informação conseguida através da observação na régie informativa do canal.

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armazenadas nesta base até que o editor do telejornal decida incorporá-las no seu telejornal. É frequente, arriscamo-nos, até, a dizer em todas as redações, existirem este tipo de reportagens previamente produzidas, uma vez que a agenda de fim de semana é muito escassa, ou seja, há menos agenda política, a maior parte das instituições estão encerradas, as empresas estão fechadas, entre outros. E por isso mesmo,

durante a semana tem que se preparar notícias e informação, muitas das vezes na área mais da educação, de entretenimento (…) que se pode fazer com outro cuidado e que não tem que ser com o stresse do dia a dia num minuto e meio, em que sais às 9h da manhã e às 13h a peça tem que estar pronta. [São] coisas que se pode fazer com mais tempo, com outra calma e dar importância a determinado tipo de assuntos que de outra forma, se fosse durante a semana, nunca o teriam (Peixoto, 2018)97.

Assim, verificamos que, muitas vezes, e principalmente ao fim de semana, as notícias que os telespectadores estão a ver não foram cobertas ou produzidas naquele dia. Há um conjunto de etapas que os profissionais são obrigados a antecipar para assegurar o fluxo informativo do seu telejornal e garantir que, todos os dias, as audiências recebem em casa a melhor informação possível. Informação essa que está sujeita ao trabalho e às decisões de uma vasta equipa de profissionais, desde o editor que ordenou cobrir aquele assunto, o repórter de imagem que recolheu as imagens, o jornalista que escreveu a peça, os editores de imagem que a montaram, a produção que as recebeu, o editor do telejornal que a quis para o “seu” Jornal e os assistentes de realização que a puseram “a rodar”. Todos estes elementos possuem um papel fundamental na divulgação da mensagem informativa. Exemplo disto é o pequeno excerto que se segue, que traduz o movimento intenso da redação no início da manhã do dia 17 de abril, e que evidencia a quantidade de pessoas que pode estar envolvida só no processo de produção de uma notícia.

97 Coordenadora chefe-adjunta da redação do Porto. Entrevista decorreu no dia 30 de abril de 2018 nas

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Posteriormente, no caso específico do excerto referido, que tem a sua contextualização a partir da redação do Porto, a notícia é enviada para a redação de Lisboa e é lá que outros profissionais ‘pegam’ na mesma. Até ir para o ar, e isto caso o editor do Jornal a queira para o seu bloco informativo, esta passa por diversas fases, que, como já havia sido referido, envolve vários elementos. Por esse motivo, é essencial que a estrutura organizacional da estação televisiva esteja sempre muito bem definida, para que possibilite uma melhor sintonização entre todas as áreas envolvidas na produção e difusão da mensagem informativa.

Diário de campo, 17 de abril de 2018 Hoje cheguei cinco minutos atrasada à redação e parecia que tudo já tinha acontecido. Os profissionais estavam todos em alvoroço, desde editora, jornalistas, repórteres e editores de imagem à secretária de redação.

O Jornal de Notícias tinha avançado com uma notícia que dava conta que havia novas regras para os subsídios da segurança social e que o número de processos nos tribunais, para garantir a prestação social, tinha disparado.

A editora já tinha decidido, com a redação de Lisboa, que seria importante dar cobertura a essa acontecimento e por isso eram várias as pessoas que trabalhavam em torno do mesmo: um jornalista já estava a caminho do tribunal do Porto para falar com alguém que pudesse dar mais informações sobre o caso, a secretária de redação insistia constantemente em pedidos de entrevista a alguma associação do Porto onde os pais pudessem estar a pedir ajuda e alguém da redação de Lisboa já estava encarregue de fazer uma animação gráfica para que as novas regras fossem mais percetíveis.

(…)

Nas ilhas, dava-se continuidade à montagem de uma reportagem alargada sobre “arte urbana”, que se prevê que vá para o ar dentro de dias. Um outro editor de imagem aguardava a chegada de um repórter de imagem que tinha ido ao encontro de uma equipa de reportagem que estava a acompanhar uma visita do primeiro-ministro, para trazer o disco com as imagens recolhidos durante o período da manhã, para que ainda desse para montar uma peça para o Jornal da Uma. Enquanto isso, já o jornalista que estava no terreno tinha passado todas as informações sobre a visita ao jornalista que estava na redação, e o texto já estava pronto para ser gravado.

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Capítulo 7.

Análise e apresentação dos resultados

Tal como temos vindo a destacar em vários momentos da presente dissertação, aproveitámos a nossa presença na redação informativa da TVI para observar, de perto, o método de trabalho dos editores bem como as suas “discussões” constantes no que diz respeito ao pré-alinhamento do Jornal das 8. Todas estas observações resultaram em pequenos diários de campo, que serão expostos de seguida, assim como pequenos excertos de entrevista realizada a uma das coordenadores da redação do Norte e ao responsável máximo da informação da TVI, Sérgio Figueiredo. Para testarmos a validade das hipóteses colocadas na presente investigação e, de forma, a conseguirmos identificar quais são, efetivamente, os critérios que definem o agendamento do noticiário com maior número de audiências da TVI, o Jornal das 8, procedemos a uma análise exaustiva a 14 telejornais da estação. Esta análise resultou numa compilação de dados característicos, que serão apresentados de seguida, e que nos permitiram identificar a temática que detém maior cobertura no Jornal das 8, tanto em número de peças como em tempo dispensado, os agentes noticiosos em destaque no programa noticioso, a tendência do mesmo, entre outros.