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3.3 SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS

3.3.3 Formulário Terapêutico

Conforme diretrizes da OMS, a elaboração do Formulário Terapêutico é considerada um dos passos para a efetiva implementação de uma política de medicamentos. Atualmente, as informações que subsidiam a farmacoterapia são numerosas e a utilização destas pelos prescritores ao definirem o tratamento mais adequado para o paciente é imprescindível. Porém, as informações existentes são, na maioria das vezes, muito complexas e estão em constante processo de mudanças e atualização, o que ocasiona dificuldades na atuação do médico e outros profissionais da saúde que prescrevem medicamentos (ORDOVÁS, 2002).

Neste contexto, o Formulário Terapêutico apresenta-se como um instrumento complementar à Relação de Medicamentos selecionados, disponibilizando as informações básicas e fundamentais sobre cada um dos medicamentos padronizados, orientando e subsidiando os prescritores através de uma visão crítica do tratamento mais adequado para o paciente (MARÍN, 2003).

O Formulário Terapêutico, também conhecido como Guia Farmacoterapêutico, é geralmente elaborado pelo Serviço de Farmácia dos hospitais, resultando de um processo multidisciplinar de seleção de medicamentos e de consenso sobre a política de utilização na instituição conforme ilustra a figura 3 (AGUILAR, 1997).

Figura 3: Características da implementação do Formulário Terapêutico

Fonte: ORDOVÁS, J. P.; CLIMENTE, M.; POVEDA, J. L. Seleción de medicamentos y guia farmacoterapéutica. In: SOCIEDADE ESPAÑOLA DE FARMACIA HOSPITALARIA. Farmacia Hospitalaria. 3. ed. 2002. Disponível em: < www.sefh.es>. Acesso em 20 jan. 2004.

O desenvolvimento de Formulários Terapêuticos pode ser um dos métodos mais efetivos para a Comissão de Farmácia e Terapêutica garantir terapias racionais de medicamentos, uma vez que contribui para o uso mais criterioso, estimulando a aplicação do paradigma de condutas baseadas em evidências (SAX, 1999).

Huskamp e colaboradores (2003) avaliaram o efeito de um Formulário Terapêutico fechado em uma entidade de saúde nos Estados Unidos em relação gastos com medicamentos e verificaram que a utilização deste modificou o comportamento dos médicos na prescrição, promoveu a redução dos preços dos medicamentos e conseqüentemente diminuiu os valores gastos com a terapia medicamentosa.

Considerando a limitação e escassez de recursos financeiros no sistema de saúde, a utilização do Formulário Terapêutico caracteriza-se como uma importante

Médico Prescritor Solicitação

Serviço de Farmácia Guia

Farmacoterapêutico Comissão de Farmácia e Terapêutica - Avaliação - Seleção - Autoridade - Medicamentos - Critérios de Uso - Seguimento - Monitorização - Assessoria Farmacoterapêutica - Cumprimento

ferramenta que proporciona a melhor relação custo/efetividade na utilização de medicamentos (ODEDINA, 2002).

Spath e colaboradores (2003) realizaram uma pesquisa qualitativa com farmacêuticos em hospitais e clínicas na França, visando conhecer a influências dos aspectos econômicos na elaboração do Formulário Terapêutico e verificaram que as avaliações farmacoeconômicas são raramente utilizadas e as principais barreiras para o não emprego desta são: falta de tempo, as limitações da análise e falta de capacidade para realizar este tipo de estudo.

Entretanto, Sanchez (1996) considera que a utilização de estudos farmacoeconômicos na seleção de medicamentos e na elaboração do Formulário Terapêutico pode auxiliar na decisão de inclusão ou exclusão de medicamentos, na elaboração de Protocolos Terapêuticos promovendo a utilização de medicamentos custo-efetivos. Considera ainda que algumas estratégias podem ser adotadas para a melhor utilização de estudos farmacoeconômicos, entre elas cita a o uso de técnicas econômicas de modelagem, a utilização de protocolos de estudos farmacoeconômicos encontrados na literatura e a definição de critérios para análise destes estudos.

A utilização do Formulário Terapêutico pelos profissionais prescritores das instituições de saúde deve ser incentivada constantemente e para tornar mais fácil o manuseio e a consulta às informações disponíveis, a estrutura, formato, tamanho e texto devem ser adequados às necessidades específicas de cada hospital. Além disso, o Formulário deve estar disponível em quantidades suficientes que assegure a sua ampla distribuição (WHO, 1997).

A Organização Mundial da Saúde recomenda como conteúdo mínimo do Formulário Terapêutico as informações apresentadas no quadro 3.

Quadro 3: Conteúdo mínimo do Formulário Terapêutico

Fonte: AGUILAR, N.G.; BITTNER, R.D. Guía para el Desarollo de Servicios Farmacéuticos Hospitalarios: selección y formulario de medicamentos. OPAS/OMS, 1997

Neste contexto cabe ressaltar que o Formulário Terapêutico deve apresentar um conteúdo atualizado e respaldado cientificamente. Sua construção deve apoiar-se essencialmente em evidência científica, incorporando, em determinados casos, a opinião de especialistas. É necessário realizar extensa e crítica revisão das melhores evidências disponíveis, provenientes de amplos e prolongados estudos farmacológico- clínicos, isentos e metodologicamente corretos, desenhados para avaliar desfechos de

- Título, nome do hospital, ano de publicação, comissão ou serviço responsável pela edição;

- Índice;

- Informação sobre normas e procedimentos do hospital: a) Normas de prescrição;

b) Normas de funcionamento da Comissão de Farmácia e Terapêutica; c) Normas para utilização do Formulário Terapêutico;

d) Normas para utilização de medicamentos em pesquisa clínica

- Descrição de cada especialidade farmacêutica por grupos terapêuticos devidamente codificados

- Informação científica de todos os medicamentos incluindo: - Grupo Farmacológico ao qual pertence o medicamento a) Nome da substância ativa

b) Forma farmacêutica c) Via de administração

d) Doses usuais (máxima e pediátricas) e) Indicações

f) Duração do tratamento g) Contra-indicações

real interesse e capazes de gerar graus de recomendação de condutas terapêuticas (NOBRE, 2003).

McGettigan e colaboradores (2001) analisaram as informações utilizadas por clínicos gerais e especialistas para avaliar e prescrever medicamentos na Austrália. Participaram da pesquisa 430 médicos e constataram que 42 % dos clínicos gerais utilizam as informações sobre novos medicamentos fornecidas pelos representantes da indústria, enquanto que 18 % dos especialistas fazem uso deste material. Os autores chamam a atenção que apesar da diferença significativa entre as categorias médicas, ambos grupos superestimam a importância dos representantes da indústria farmacêutica.

A Comissão de Farmácia e Terapêutica tem papel fundamental no incentivo à utilização do Formulário Terapêutico pela equipe de saúde, devendo promover atividades educativas dirigidas principalmente ao médico visando informá-lo sobre os critérios de seleção utilizados e as vantagens terapêuticas e econômicas que o elenco de medicamentos padronizados possui quando comparado com outras alternativas terapêuticas (WHO, 2004).