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ELABORANDO A ABORDAGEM TEMÁTICA

4.4 Formulários de auto-avaliação

A proposta de trabalhar com auto-avaliação surgiu com a finalidade de desenvolver no aluno uma maior responsabilidade e autonomia referentes ao seu aprendizado. Entregamos a cada grupo uma ficha de auto-avaliação dos seminários por eles realizados (apêndice I), na qual cada componente atribuía pontuação a si e aos demais colegas do grupo. Além disso, eles atribuíam pontuação às etapas da proposta: vídeo, paradidático, explicações dos professores, seminários, palestra e avaliações. Essas etapas foram avaliadas de acordo com os seguintes critérios: relevância, qualidade do material, profundidade da discussão e desempenho dos professores.

4.4.1 Auto-avaliação dos alunos

Os alunos demonstraram dificuldade em preencher a ficha e também falta de maturidade quanto à responsabilidade que a auto-avaliação exigia. Houve casos de aparente corporativismo entre os alunos, que atribuíam nota máxima a todos os componentes do grupo mesmo quando algum deles não havia desempenhado seu papel satisfatoriamente.

Dois grupos foram chamados para esclarecer seus resultados, pois os mesmos não eram coerentes em algum aspecto com o trabalho apresentado e continham resultados contraditórios entre si. Por exemplo, houve situação em que o aluno não leu o paradidático, porém, constava na ficha que a tarefa havia sido realizada por ele de forma plena.

Ao serem chamados para uma conversa na ausência do restante da turma, os alunos atribuíram a falta de compromisso com a auto-avaliação à sobrecarga causada pelo excesso de tarefas escolares. Outros se mostraram surpresos em perceber nosso interesse pela auto- avaliação, alegando pensarem se tratar de algo sem maior importância.

Tais fatos podem evidenciar a dificuldade dos alunos em trabalhar com auto-avaliação. Essa dificuldade pode estar relacionada à imaturidade própria da idade, mas que acreditamos também estar relacionada ao fato de que o aluno esteja habituado a um modelo de ensino que centra apenas no professor a responsabilidade pela avaliação.

Talvez a ficha utilizada tenha se tornado complexa para os estudantes, com muitos campos a serem preenchidos, e isso também pode tê-los desmotivado a fazê-lo adequadamente. Consideramos que uma alternativa viável seria a utilização de fichas mais simples e que, ao menos nos primeiros trabalhos com auto-avaliação, o professor a fizesse juntamente com os alunos, esclarecendo sua importância e buscando com eles uma reflexão sobre cada item avaliado.

Contudo, ainda que com problemas, os resultados da auto-avaliação foram interessantes no sentido não só de avaliar as dificuldades encontradas, mas também por demonstrar que parte dos alunos conseguiu realizá-la de forma satisfatória, avaliando sua participação e a dos colegas nas etapas de desenvolvimento do trabalho e sendo capazes de justificar a sua avaliação no espaço destinado a comentários, críticas e sugestões. Um exemplo é o caso de aluno que teve pontuação muito baixa no item “comparecimento às reuniões do grupo”. Sua justificativa foi:

...não pode comparecer às reuniões do grupo por trabalhar à tarde...

O mesmo ocorreu com os alunos que não leram o paradidático ou não assistiram ao vídeo. Eles mesmos e os colegas atribuíram pontuação zero (não realizado) nesses itens, demonstrando a maturidade necessária à honestidade do processo.

4.4.2 Avaliação da proposta

Na avaliação da proposta, todas as atividades desenvolvidas receberam média de notas entre bom e muito bom, conforme tabela 1. No entanto, apesar de as médias de notas serem muito próximas, houve relativa variação entre as análises dos diferentes grupos.

Tabela II – Média das notas atribuídas pelos alunos às atividades desenvolvidas Atividade avaliada Média da pontuação atribuída

Vídeo 2,54 Paradidático 2,32 Explicações 2,68 Seminário 2,50 Palestra 2,67 Avaliações 2,57

Tabela II - Média das notas atribuídas pelos alunos às atividades desenvolvidas

Escala: 0 – ruim; 1 – razoável; 2 – bom; 3 – muito bom.

Apesar dos resultados próximos, a avaliação do paradidático foi notadamente a mais desfavorável.

Apesar de nossa análise no presente trabalho ser qualitativa e de não tratarmos os dados estatisticamente, chamou-nos a atenção a nota mais baixa atribuída ao paradidático por ser coerente com o fato de alguns alunos não terem lido o livro. Infelizmente, boa parte dos nossos alunos não tem muito gosto pela leitura. De forma que, pelas verbalizações de alguns deles, ficava clara sua insatisfação quanto à necessidade de ler. Muitos alegaram dificuldades financeiras em adquirir o livro que foi vendido na escola, mas, mesmo depois de colegas disponibilizarem cópias, alguns ainda não leram.

É também interessante notar a diversidade reinante na sala de aula. Foram oferecidas aos alunos diversas oportunidades de interação com os conteúdos: vídeo, leitura, palestra, seminários, exposições orais, avaliações em duplas e individuais. Embora cada aluno se posicionasse mais favorável a uma das atividades do que a outras, no geral, os resultados

foram semelhantes para cada atividade desenvolvida, mostrando a diversidade dos alunos quanto à aceitação de cada estratégia.

O fato de as etapas do trabalho não terem tido avaliação muito diferenciada por parte dos estudantes pode indicar a viabilidade de uma diversidade de estratégias metodológicas na abordagem dos conteúdos respeitando as características particulares de cada aluno, conforme sugerem os documentos oficiais. Isso significa oferecer condições para que o aluno que aprende lendo tenha a oportunidade de ler, que o que aprende ouvindo tenha a oportunidade de ouvir, que o que aprende vendo tenha a oportunidade de ver, que o que aprende escrevendo tenha a oportunidade de escrever, etc.

Consideramos que, apesar das dificuldades em trabalhar com essa estratégia, principalmente a dificuldade associada ao desenvolvimento de uma cultura de co- responsabilização do aluno pelo seu processo de aprendizado, pode ser de grande valia o sistema de auto-avaliação no ensino médio por possibilitar ao aluno desenvolver a responsabilidade e a autonomia, valores essenciais à cidadania.