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PARTE III – HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO E METODOLOGIA

8.2 Formulação de hipóteses de investigação

Como se pode deduzir da anterior secção, o debate sobre a eficiência dos hospitais SPA e SA é candente.

Uma questão preliminar relevante, que não fora ainda abordada, é de se saber como estavam os hospitais à partida (em 2002), em termos de eficiência, antes da transformação de parte dos hospitais do sector público administrativo em hospitais SA. Ou seja, como se situavam em termos comparativos os futuros hospitais SA no confronto com o grupo dos SPA?

Esta questão cuja resposta assume, para nós, natural relevância para o estudo subsequente pelo que foi estabelecida uma hipótese de investigação que permite responder a esta dúvida legítima. Releva-se, desde já, e como se verá mais adiante, no tratamento analítico efectuado, que foi utilizada somente a informação relativa ao ano de 2002 que é o último ano antes da criação dos hospitais SA.

A primeira hipótese que responderá aos nossos anseios manifestados na primeira questão de investigação, tem a seguinte formulação:

Hipótese de investigação 1 – Na escolha dos hospitais que foram objecto de transformação em hospitais SA não houve a preocupação em escolher os mais eficientes à partida.

A nossa segunda hipótese de investigação prende-se com a capacidade de melhoria de eficiência da gestão hospitalar através do modelo de transformação de hospitais públicos em hospitais com gestão privada. Costa et al. (2005) comparou o desempenho dos hospitais SPA e SA com base em três variáveis (mortalidade, complicações e readmissões), sem no entanto, discutir se, na globalidade, houve melhoria de eficiência. Com efeito, construímos duas hipóteses para avaliação desta questão de investigação que pretende avaliar qual o impacte da criação dos hospitais SA sobre a fronteira de eficiência hospitalar:

Hipótese de investigação 2 – A transformação de um número significativo de hospitais SPA em SA induziu deslocação da fronteira de eficiência técnica no sentido da sua melhoria.

Hipóteses de investigação 3 - Os hospitais transformados em SA foram mais eficientes do que os SPA.

Esta última hipótese de investigação permite averiguar se serão os hospitais transformados em SA mais eficientes, à luz dos resultados obtidos para os anos de 2003 e 2004.

A quarta questão de investigação proposta interroga sobre os ganhos de eficiência decorrentes da criação de centros hospitalares e é uma questão nunca antes tratada em termos de investigação nacional sobre eficiência da produção hospitalar, com recurso à técnica de fronteira de eficiência de produção.

Os centros hospitalares englobam dois ou mais hospitais e têm aparecido por todo o país. Em Lisboa, por exemplo, foi criado o Centro hospitalar de Lisboa em Janeiro de 2004, integrando os hospitais de S. José, Desterro e Capuchos, e, mais tarde, em Janeiro de 2006, foi criado o Centro hospitalar de Lisboa ocidental compreendendo os hospitais de Egas Moniz, S. Francisco Xavier e Santa Cruz.

A hipótese de trabalho que se segue permitirá avaliar, com recurso à metodologia da fronteira de eficiência de produção, o desempenho das unidades hospitalares isoladamente comparativamente aos hospitais agregados (centro hospitalar hipotético) através da comparação dos correspondentes scores de eficiência:

Hipótese de investigação 4 - A experiência da criação do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental ou do eventual Centro Hospitalar do Oeste (que ainda não existia na altura de redacção da tese) traduziu-se na melhoria da eficiência operativa em relação às unidades agregadas.

Por fim, e alargando o nosso âmbito de trabalho, com interesse para avaliação das metodologias quantitativas de análise de eficiência, estabelecemos ainda uma quinta hipótese de investigação.

A utilização das metodologias DEA e SFA não tem conduzido, em alguns estudos realizados, a scores consistentes entre si. Ou seja, a ordenação com base nos scores de eficiência é, nalguns casos, bastante diferente consoante a metodologia de abordagem.

É relevante, pois, tentar compreender as causas desta situação e, de certa forma, tentar concluir sobre a superioridade de uma das abordagens na análise da eficiência hospitalar, deste modo:

Hipótese de investigação 5- Os rankings dos scores de eficiência que se obtêm utilizando duas metodologias alternativas: Data Envelopment Analysis (DEA) e Stochastic Frontier Analysis (SFA) produzem resultados consistentes entre si.

No capítulo seguinte, descreveremos o processo de recolha de dados, a caracterização da amostra e ainda as variáveis utilizadas no processo de estudo empírico.

C

CAAPPÍÍTTUULLOO99––MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA 9.1 Introdução

Para responder às hipóteses de investigação formuladas executaram-se várias estimações utilizando a abordagem metodológica da fronteira de eficiência.

A fronteira foi definida com a informação dos 3 anos do triénio 2002-2004 com excepção das estimações relativas à hipótese 1, onde só se considerou o ano de 2002. Para a estimação da fronteira de eficiência construiu-se uma base de dados para este efeito.

A base de dados utilizada

Tradicionalmente a informação que é utilizada em estudos relativos à área da saúde em Portugal tem como proveniência o IGIF. A criação dos hospitais SA introduziu ruptura estatística relativamente aos dados dos hospitais que se transformaram em SA. Com efeito, o IGIF deixou de assegurar esta informação passando a mesma a ser disponibilizada pela Unidade de Missão dos Hospitais SA.

Não existe consistência total entre a informação que o IGIF disponibiliza para estes hospitais para o ano de 2002 (último ano antes da transformação) e a informação apresentada pela UMHSA nas suas publicações relativamente ao mesmo ano e aos mesmos hospitais.

No decorrer do trabalho de investigação foram estabelecidas vários contactos com IGIF que permitiram ir recolhendo informação na altura ainda não publicada, e esclarecer algumas questões relativas a consistência de dados. Foram, por exemplo, solicitados dados para definir as duas variáveis de qualidade de serviço: percentagem de partos de cesariana nos partos totais, e relação entre os casos de readmissão hospitalar até 30 dias após a alta e o número de altas registadas. Esta informação que não é editada a nível hospitalar nas publicações disponíveis envolveu alguns contactos com o IGIF que tiveram tratamento adequado e célere. Também foi estabelecido contacto com a UMHSA que se traduziu numa visita mas sem grandes consequências.

A Direcção Geral de Saúde edita anualmente a publicação “CENTROS DE SAÚDE

E HOSPITAIS RECURSOS E PRODUÇÃO DO SNS” que cobre todo o espectro hospitalar do SNS incluindo os hospitais SA. Nesta publicação estão, em princípio, ultrapassadas algumas questões de consistência que se deparavam quando se comparavam os dados do IGIF

e da UMHSA. Por isso, optou-se por considerar como fonte principal da informação, a DG Saúde funcionando as outras duas entidades como fontes supletivas para as situações em que as estatísticas da DG Saúde não apresentam dados, como é o caso do índice casemix hospitalar, ou os custos operacionais. Para estas duas situações, privilegiou-se a informação que o IGIF publica regularmente.

Uma questão que mereceu alguma ponderação, prende-se como a criação de centros hospitalares, durante o período de análise, abrangendo, naturalmente, duas ou mais unidades de hospitais já existentes. Esta situação obrigou a ponderar qual o critério a reter: a) a análise ao nível mais elementar se possível, ou b) considerar o centro hospitalar como uma única entidade.

A opção tomada foi a de considerar a informação dos hospitais que integram os centros hospitalares por se entender que esta situação permitia maior riqueza de informação para a definição da fronteira de eficiência.

A construção da base de dados envolveu a recolha de informação sobre as seguintes variáveis: número de médicos; número de enfermeiros; número outro pessoal; lotação praticada (número de camas); número doentes saídos (altas de internamento); número de consultas externas; número de episódios de urgência (total); número partos (total); percentagem de cesarianas no total de partos; percentagem de readmissões em cirurgia; índice casemix; custos operacionais. Mais adiante, apresenta-se quadro com as variáveis consideradas nas diversas estimações realizadas

No quadro seguinte apresenta-se a lista completa dos 79 hospitais que integram a base de dados construída e que permitiu realizar as estimações sobre a fronteira de eficiência.

Figura 9.1 - Lista de hospitais considerados

Sta. Maria Maior SA N. Sra. da Assunção

São Marcos Bº Lopes de Oliveira

S. José de Fafe CH Caldas da Rainha Sra. da Oliveira SA Santo André SA S. João de Deus SA HSP Gonçalves Telmo

Bragança SA Pombal

Mirandela Cândido de Figueiredo

S. Gonçalo SA São Teotónio SA

Pedro Hispano CH Cascais

P.Américo/V.Sousa SA Santa Maria

Santo António SA S. Francisco Xavier SA

IPO Norte SA Santa Marta SA

São João Curry Cabral

Joaquim Urbano Pulido Valente SA

Maria Pia Egas Moniz SA

CH.P.Varzim/V.Conde Santo António Capuchos Conde São Bento IPO Lisboa SA

N.Sra. Conceição São José

CH Vila Nova de Gaia Dona Estefânia CH Alto Minho SA Santa Cruz SA

Chaves CH Torres Vedras

CH V.Real/P. Régua SA Reynaldo dos Santos

Águeda Prof. Dr. Fernando Fonseca

José Luciano Castro Santarém

Inf.D. Pedro SA/Aveiro CH do Médio Tejo SA N. Sra. da Ajuda Garcia de Orta Visconde de Salreu N Sra do Rosário São Sebastião SA Montijo

Oliv Azeméis/S.miguel H. L.Alentejano Dr. Francisco Zagalo São Bernardo São João da Madeira José Fernandes

Amato Lusitano São Paulo

CH Cova da Beira SA Espirito Santo Arc. João Crisóstomo Santa Luzia

IPO Centro Dr Jose Maria Grande

CH Coimbra SA Faro

Univ. Coimbra Lagos

Figueira da Foz SA Barlavento Algarvio Sousa Martins