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PARTE I – CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO C

2.7 O sistema Finlandês

O sistema de saúde finlandês é um outro exemplo de um sistema de saúde do tipo Beveridge cujo financiamento assenta nos impostos. Por essa razão, constitui um caso interessante como comparador com o SNS português.

O sistema de saúde finlandês desfruta de uma característica interessante. Goza de grande aceitação junto da população finlandesa (Gross-Tebbe et al., 2005). Com efeito, cerca de 80% dos finlandeses estão satisfeitos com o seu sistema de saúde, ao passo que a média da UE é de 41,3%.

Desde finais dos anos 80, o sistema finlandês de cuidados de saúde tem conhecido tentativas de reformas ao nível da sua gestão no sentido de implementação das ideias da NPM, como por exemplo, a gestão por objectivos, gestão de processos, gestão da qualidade total, modelos de balanced scorecard, esquema de remuneração baseada na performance (Hakkinen, et al., 2002).

A competição nos cuidados de saúde na Finlândia assumiu contornos diferentes da experiência do Reino Unido. Por um lado, foram implementadas medidas para separar as

funções de comprador (financiador) dos serviços de saúde das de prestador desses serviços. Por outro lado, e como aspecto diferenciador, assistiu-se à descentralização dos serviços de saúde tendo os municípios passado a assumir essas responsabilidades. A contratualização dos serviços de saúde passou a ser feita pelos municípios tendo em vista a introdução da competição e a contenção de custos (Hakkinen, et al., 2002).

Esta tendência para a descentralização começou a manifestar-se na década de 80. Alterações estruturais nos anos 90 conduziram à descentralização dos serviços sociais e de saúde. Em 1993 o sistema de subsídio estatal foi alterado e a responsabilidade pela organização dos serviços de saúde foi transferida para os municípios.

Em 2002, cerca de 43% dos custos com a saúde eram financiados pelos municípios, 17% pelo poder central, 16% pelo seguro nacional de saúde e 24% por financiamento privado (Gross- Tebbe et al., 2005).

A crise económica na Finlândia na década de 90 colocou problemas aos municípios que os obrigou a reformas estruturais e cortes nos custos para fazer face a restrições orçamentais. Na Finlândia, o direito à saúde é universal, independente do local de residência e das condições económicas dos utentes.

De acordo com vários indicadores, os cuidados de saúde na Finlândia melhoraram consideravelmente nas últimas décadas. Alguns dos problemas de saúde mais relevantes da população finlandesa são as doenças do aparelho circulatório, os tumores malignos e as doenças da mente. As doenças do aparelho circulatório representam cerca de metade das causas de morte.

Os serviços de saúde, sob a responsabilidade municipal, são a base do sistema de saúde finlandês17. Paralelamente ao sistema municipal, serviços privados e de saúde ocupacional são também prestados à população18.

Evolução do sistema. Os cuidados de saúde hospitalares que eram insuficientes na 1ª metade do século XIX conheceram forte impulso na década de 50, tendo sido construídos 20 hospitais

17 De acordo com a lei, os serviços básicos prestados às populações, tais como, educação (excepto ensino universitário), cuidados de saúde e serviços sociais, são da responsabilidade dos municípios. A eleição dos conselhos municipais reveste-se, assim, de particular relevância. É ao conselho que cabe designar os órgãos dirigentes dos hospitais e centros de saúde.

18 Exemplo típico de prestação de serviços privados de saúde são as unidades de fisioterapia, compostas por 2 ou 3 trabalhadores. Um outro exemplo, são os médicos especialistas.

centrais nas maiores cidades. Ao mesmo tempo, os hospitais de propriedade estatal passaram para as mãos dos municípios, com excepção dos psiquiátricos.

Na década de 60, foram construídos hospitais distritais por iniciativa dos municípios. Foi também criado um esquema de seguro de saúde de âmbito nacional (National Health

Insurance- NHI) para fazer face aos elevados custos de saúde que a população tinha que

suportar.

Na década de 80, foi introduzida a figura de médico de família nalguns centros de saúde. A crise económica profunda que se fez sentir nos anos 90 condicionou o desenvolvimento do sistema finlandês de cuidados de saúde.

Figura 2.2 – Marcos na evolução do SNS Finlandês

Período Eventos Década de 40 Estabelecimento de medidas de cuidados de saúde

de apoio maternal e à criança pª tratar e prevenir tuberculose

Década de 50 Desenvolvimento sistema hospitalar

Década de 60 Introdução do esquema de seguro de saúde nacional. Aumento significativo do nº de médicos a formar

Década de 70 Lei de 1972 dos cuidados primários de saúde e criação dos centros de saúde. Introdução do sistema de planeamento de saúde nacional. Desenv.cuidados de saúde ocupacional.

Década de 80 Serviços de saúde e sociais incorporados no mesmo sistema de planeamento e de financiamento. Sistema “responsabilidade população e médico pessoal”. Início da desregulação e descentralização.

Década de 90 Aumento da desregulação e ênfase na autonomia municipal. Reformas nos serviços de administração de cuidados de saúde. Reforma de 1993 do subsídio estatal. A recessão económica não afectou manutenção serv. cuidados de saúde. Fonte: WHO regional office for Europe, Health care systems in transition - Finland

A Finlândia está dividida em 20 distritos hospitalares, cada um deles é responsável por cuidados médicos especializados. Cada município pertence a um distrito hospitalar. Em termos gerais, um distrito hospitalar compreende 1 a 3 hospitais (não psiquiátricos) e 1 a 2 hospitais psiquiátricos.

Todos os anos, os municípios negoceiam serviços hospitalares com o seu distrito hospitalar. Uma outra característica interessante é a existência de um mecanismo de igualização que permite partilhar o risco de custos de tratamentos excessivamente elevados por todos os municípios que são membros de um determinado distrito hospitalar. Este aspecto afigura-se de grande importância se se atender à dimensão, em termos populacionais, de alguns municípios, o que traria, caso o mecanismo não existisse, perturbações significativas para os respectivos orçamentos.

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