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3 CARACTERIZAÇÃO DO APL DA VITIVINICULTURA DA SERRA

3.2. Caracterização produtiva do APL da Vitivinicultura da Serra Gaúcha

3.2.3 Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos enológicos

Outro segmento que apresenta uma expressiva participação de empresas estrangeiras é o de insumos enológicos. Este segmento se caracteriza tanto no fornecimento de produtos químicos para o tratamento das videiras, como também insumos biológicos utilizados no processo de vinificação. As empresas nacionais presentes no APL são na verdade importadoras de produtos químicos e biológicos, atuando mais como representantes do que como produtores (apesar de uma das maiores empresas nacionais do segmento anuncia que possui um laboratório de biotecnologia nos moldes das grandes multinacionais do setor).

Percebe-se um considerável poder de influência dos segmentos fornecedores de insumos enológicos sobre os produtores de uva, bem com sobre as vinícolas. Como já mencionado, muitas destas empresas fazem o papel de extensionistas rurais, não apenas comercializando produtos químicos, mas repassando conhecimentos e técnicas de manejo com as parreiras. O ônus desta relação, que se estabelece em meio à ausência de organizações que supram essas necessidades, é justamente o fato de muitos produtores adquirirem muitos destes produtos químicos como sendo a panacéia de todos os seus problemas. Essa atitude de “apoio” por parte dos revendedores é fortemente reconhecida pelos produtores rurais e pelas vinícolas.

Essa relação não se caracteriza como puramente de mercado, havendo uma significativa assimetria de poder, favorecendo os vendedores de insumos. Em grande parte, isso se explica pelo fato da cadeia vitivinícola da Serra gaúcha enfrentar problemas de escala, principalmente em comparação a outras cadeias de bebidas (por exemplo, cervejas e refrigerantes).

Outra peculiaridade é a existência de um monopólio na comercialização de garrafas, ofertadas por apenas uma empresa, de origem francesa, com uma planta instalada no município de Campo Bom, cerca de 100 km de Bento Gonçalves, principal cidade do APL. As empresas de maior capacidade de produção utilizam-se das variações cambiais para poder barganhar preços com a empresa. Muitas vezes estas vinícolas adquirem mais vantagens com a importação de garrafas do que com a compra interna.

Outro fator que contribui para a manutenção e aprofundamento deste predomínio de “forças” nas relações de governança, principalmente por parte dos produtores de insumos e de garrafas, é que, em grande parte, as compras são feitas de forma isolada, o que dá um maior poder aos ofertantes destes produtos quando das decisões referentes a preços e quantidades. Iniciativas que começam a buscar uma reversão deste quadro, com uma conseqüente diminuição do poder de barganha por parte dos fornecedores, serão destacadas no próximo capítulo.

Os maquinários e equipamentos utilizados pelas vinícolas são oferecidos em larga escala no mercado. Muitas empresas preferem, para alguns tipos específicos de produtos os importados, embora, de maneira geral, a produção nacional já abasteça boa parte desse mercado. A relação entre as vinícolas e os fornecedores de equipamentos se assemelha a relação destas com os vendedores de insumos. Existe uma relação de colaboração explícita entre as vinícolas e principalmente os produtores nacionais de equipamentos.

Entre os produtores de equipamentos, alguns produtores nacionais começam a se destacar, principalmente em relação à fabricação de tipos específicos de equipamentos, como é o caso das engarrafadoras e equipamentos de filtragem, em sua grande maioria

importados da Itália ou da França. Hoje, na Serra gaúcha já há um número significativo de empresas fabricantes de equipamentos para esmagamento da uva, de equipamentos de resfriamento, de tanques de inox e prensas. Muitas destas empresas surgiram com o apoio de vinícolas locais, que necessitando de serviços técnicos de manutenção,

“abriam” suas portas para que tais empresas conhecessem seus equipamentos, gerando assim a possibilidade de se estabelecer, entre muitas empresas desse segmento, a estratégia de surgimento através da aplicação da engenharia reversa, guardadas as devidas proporções, internamente ao APL.

A história de muitas das empresas nacionais de equipamentos para vitivinicultura inicia-se com a prestação de serviços de manutenção de máquinas importadas, uma vez que no passado a totalidade das máquinas para o setor era importada, não possuindo, no entanto, manutenção local para as mesmas. Assim, é a partir do conserto de equipamentos importados que se estabelece parte desse segmento industrial nacional.

De igual modo, durante toda a década de 70, muitas empresas estrangeiras se instalaram nos municípios da Serra, como já foi mencionado. A política nacional vigente de substituição de importações impedia, em muitos casos, a compra de peças importadas, possibilitando o surgimento de uma indústria autóctone de máquinas e equipamentos para vinificação.

Uma relação diferente se estabelece com os fornecedores de insumos do chamado “custo seco” (garrafas, rótulos, cápsulas, rolhas etc.). Apesar da presença de muitas empresas estrangeiras, as empresas nacionais apresentam elevado poder de barganha, aliadas em menor escala a pequenas empresas produtoras destes insumos, com pouco poder no mercado. As rolhas de cortiça natural (dominante nos vinhos finos)

são importadas em sua maior parte de Portugal, fazendo com que as vinícolas sofram as conseqüências das variações cambiais sobre seus custos no mercado interno, além do elevado imposto de importação.

Na região do APL da vitivinicultura da Serra gaúcha desenvolveu-se, ao longo dos anos, empresas industriais e prestadores de serviços técnicos especializados na viticultura. Entre eles, podem-se citar os fabricantes de tesouras de poda, fabricantes de caixas de plástico para coleta da uva, fabricantes de sulfato de cobre e fabricantes de carretas agrícolas e pulverizadores.

Na região também ocorre a presença de importadores de barris de carvalho, além de montadores locais, que são utilizados pelas grandes vinícolas quando da importação de outras madeiras (menos nobres), utilizadas no processo de envelhecimento dos vinhos. Neste caso, importa-se a madeira e repassa-se para uma empresa local, responsável pela montagem do barril.

No que se refere ao engarrafamento e embalagem, o APL é totalmente auto-suficiente. Há na região um grande número de empresas gráficas, responsáveis pela produção de rótulos, contra-rótulos, caixas e estojos de papel e papelão. O único item que não se encontra presente na região é a garrafa, que como já foi mencionado, é produzida por uma única empresa multinacional, localizada no município de Campo Bom, no Rio Grande do Sul.