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Fotografias como documento: a reconstrução do percurso histórico através de imagens

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4. O PERCURSO METODOLÓGICO

4.4 Fotografias como documento: a reconstrução do percurso histórico através de imagens

As fotografias surgiram na pesquisa antes mesmo dos relatos orais; foram elas que reavivaram memórias, fazendo nascer narrativas e relatos; no momento em que as educadoras olhavam as fotos reconheciam nelas suas próprias histórias. Como menciona Campos (1999, p.77):

O registro fotográfico representa um fragmento da realidade social e a tarefa do pesquisador é ir além desse fragmento, isto é, situar esta visão parcial da realidade no contexto em que ela foi produzida e a partir dos interesses que norteiam o estudo.

Pensar sobre a constituição identitária das educadoras tendo como uma das fontes de análise fotografias possibilita remeter as pessoas que viveram a história a contextos que foram se transformando ao longo do tempo, as fotografias, nessa perspectiva, contribuem para que, através da memória, fatos e contextos sejam ressignificados.

A memória é sem dúvida um elemento primordial para a compreensão do presente. Na busca por fotografias que contassem a história dos berçários, um aspecto deve ser destacado no que diz respeito à forma de arquivamento e preservação das imagens, o acervo fotográfico das duas primeiras escolas municipais a implantar berçários, encontrava-se guardado em caixas, misturadas a muitas outras; não havia uma organização ou um registro que trouxesse maiores informações sobre as mesmas, além disso, segundo informou uma das diretoras, muitos registros foram descartados, sobretudo vídeos gravados em VHS. É possível dizer que não há uma preocupação em manter um registro sistematizado para preservação da memória de cada instituição. As fotos, que hoje são digitais, são utilizadas em ações formativas para reflexão e discussão da prática, para exposições e mostras culturais como forma de compartilhar com as famílias o trabalho desenvolvido. Com as novas mídias, o risco de que as memórias das instituições se percam torna-se ainda mais evidente, já que as fotos, geralmente, são apagadas ao final de cada ano letivo.

Como afirma Campos (1993), Leite e Simson (1993), as fotos, associadas aos relatos orais, se consistem em poderoso elemento desencadeador do processo de rememoração. As fotografias encontradas tiveram um papel fundamental na reconstrução da história dos berçários, e serviram como um disparador de emoções que conduziu a relatos históricos importantes; porém, sua força enquanto documento é maior que as imagens reveladas por elas, talvez sendo os únicos registros de episódios de vida nas escolas que quando reunidos compõem a história da educação de bebês do município.

A organização desse material só foi possível com a contribuição dos sujeitos da pesquisa e de outros(as) educadores(as) que conseguiram resgatar alguns momentos da história dos berçários em São Caetano do Sul. Houve, porém, limitações no uso das fotos. Muitas delas não tinham datas para uma identificação precisa dos períodos a que cada uma se referia; as memórias das educadoras foram fundamentais nesse sentido. Elas se basearam em elementos fornecidos pelas próprias imagens: ao olhar as crianças, colegas e a forma como os espaços estavam organizados, conseguiam estimar o ano em que as fotos haviam sido tiradas. Segundo Leite (2009), o retrato é um instante congelado da memória. A memória é um processo muito dinâmico, e o retrato é uma fixação de um momento. Mas a memória que se tem é a fixação de vários momentos sucessivos. Nessa perspectiva, os retratos conduziram as educadoras a uma sequência de eventos; mais do que descrever a fotografia e relatar o que acontecia naquele instante específico, as imagens trouxeram lembranças de fatos carregados de sentimentos. Uma educadora, por exemplo, relembrou a história de um dos bebês da fotografia que havia falecido ainda bem pequeno, após uma grave doença. Essas memórias remeteram à relação afetuosa que tinham com as crianças e suas famílias.

As fontes iconográficas produzem informações e exigem uma análise cuidadosa de seu conteúdo, para que essas informações possam ser recuperadas de forma satisfatória. Barthes (1978) considera que a fotografia revela o universo ideológico dos sujeitos que participaram de seu processo de produção. Para analisá- las, segundo ele, seria necessário considerar elementos de ordem social, política e cultural desses sujeitos. Ainda segundo esse estudioso, há uma ambiguidade na imagem fotográfica, visto que possui duas estruturas opostas, que não se anulariam, mas que se constituem. Essa ambiguidade está presente porque a fotografia se apresenta como uma constatação do real, mas ao mesmo tempo é carregada por

muitos significados, que se revelam partir dos elementos contidos na imagem, objetos, cenários, poses, etc., que possibilitam muitas interpretações. A fotografia, não é, portanto, um objeto estanque, ela mobiliza no outro, formas diversas de ver o mundo de acordo com ideologias, crenças e culturas.

Este documento histórico teve nessa pesquisa a função de apoio para que as educadoras pudessem relembrar antigas histórias, mas também serviu como fonte na qual foi possível observar a trajetória de práticas que revelavam as concepções que se apresentavam, nos diferentes momentos históricos. O uso das fotografias atendeu ao propósito de situar as educadoras em diferentes espaços e tempos, fornecendo elementos para analisar aspectos que se relacionavam à constituição da identidade da creche e das próprias educadoras. De acordo com Leite (2009), a fotografia é principalmente sobre a dimensão do espaço e para obter a dimensão do tempo é preciso construir esse tempo. É preciso ter várias fotografias, em vários momentos para obter a dimensão do tempo.

Por meio das fotografias foi possível percorrer um período histórico no qual a concepção que os(as) adultos tinham dos bebês se revelava na forma como organizavam os espaços, na escolha dos mobiliários, na decoração das salas, nas suas ações e em outros elementos, como por exemplo a maneira como as educadoras se vestiam. As imagens revelam que à medida em que a concepção muda os espaços também se transformam. Como fonte de análise, pode-se dizer que as fotografias caminharam lado a lado com os relatos orais, corroborando fatos narrados, complementando os depoimentos e possibilitando uma melhor compreensão da realidade pesquisada.